UMA
OU OUTRA COISA QUE EU SEI DE MIM
– Não fosse o vento revirando folhas, sonhos, temores, remorsos e esconjuros,
não seria eu uma corrente de rio que se rebela da correnteza. E como tal, sou esse
coração Brasil anômalo e desconfigurado no banco dos réus, a depor pro
fisiologismo dos retrocessos históricos, o que mais se parece com o processo
kafkiano no passo de gambero de Eco.
E como a grande maioria esmagadora, vou apenas com meu discernimento confuso e
nenhuma outra imunização, enfrentando a insalubridade desse tempo pós-moderno e
as pestilências emergentes fabricadas no descaso, nos laboratórios e nos
partidos políticos, tendo, por socorro, um simples cuidado todo à base de
antibiótico e meizinhas, a ponto de imaginar a cara de quem sem ter saída
alguma sapeca o tal do fazer o quê. Entre tratamentos e intermitentes recaídas,
ainda tenho que enfrentar a indiferença e apatia dos glamourizados do reino da
mediocridade, com todos os seus valores vazios, banalizações xiques,
exibicionismo canhestra, carnavalizações e perplexidades pelas deformidades
tantas, ferimentos muitos, pactos descumpridos e desfeitos nos confrontos com
os tentáculos e opróbrios das tolices com suas válvulas de escape, parecendo
mais que de tanto se esforçar pra subir no pau de sebo e alcançar o servil
cordão da segurança contra os próprios abismos, perceber que mesmo sabendo que
cada dia não é nada igual ao outro, mas que pela completa falta de imaginação e
do desespero de não caber em si, vive só de repetir a história de um passado
que sequer sabe que passou. Coisa de quem por conta das próprias tensões e
ambiguidades, aprendeu apenas a acender vela pra todas as crenças e até nenhuma.
Pudera, com a precipitação da ansiedade enrustida por todos os medos e temores disfarçados
nos boatos, que não são apenas frágeis e inúteis alertas para levar ao pânico
na maior paranoia, de ficar sem saber o que fazer e a um passo da
irracionalidade, saco o xeque mate a cada momento, e me certifico que só dá
mesmo pra dizer: fazer o quê, hem? Nem de longe dá pra imaginar o quanto isso
mascara a verdadeira tragédia. Por isso voo tão paradoxal quanto incoerente, corrente
rebelada dentro da correnteza. Pouco me importa, eu vivo. Metamorfose
ambulante: dizer, desdizer, redizer. Melhor dizendo: nem dizer! Só esperando
alguém abrir as comportas do coração, depondo o personagem, de férias da lógica
e do racional, recitando o Poema em linha
reta, de Pessoa. Vai? Então, eu escuto, fala! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais
aqui.
Imagem:
La ville de Paris, do pintor do Abstracionismo e Cubismo
francês Robert Delaunay (1885-1941).
Curtindo
box Mensagem (2 dvds & 3 cds),
com os poemas do
filósofo e poeta português Fernando
Pessoa (1888-1935), musicados por André Luiz Oliveira interpretados por
grandes nomes da MPB, como Milton Nascimento, Caetano Veloso, Elba Ramalho,
Gilberto Gil, Gal Costa, Belchior, Mônica Salmaso, Edson Cordeiro, Ná Ozzetti, Zeca
Baleiro, Zizi Possi, Renato Teixeira, Zélia Duncan, Fagner, entre outros. Veja
mais aqui.
PENSAMENTO DO DIA
Quando a gente força a barra, é melhor
tirar o pé da jaca, senão a roela fica remoída e a coisa fica deslizando de
jeito que nem disco de embreagem dum mandú. Pense nisso. (LAM).
POEMIUDINHO
RIO UNA
Desdinfância
sou Rio Una
Adulteza
difusa nas linhas das mãos
No
voo feito de mar da minha vida.
Veja
mais aqui.
Veja mais Brincarte do
Nitolino & o projeto de extensão Infância, Imagem e Literatura: uma
experiência psicossocial na comunidade do Jacaré – AL, István Mészarós, Hipermnestra, Charles Darwin, Montserrat
Caballé, Raul Pompeia, Chico Anysio, Pedro Almodóvar, Antonio Salieri, Robert Delaunay & Pierre Le Gros aqui.
CRÔNICA
DE AMOR POR ELA
Imagem: Sleeping woman, by Anikeev Sergey.