UMA
CANÇÃO DE AMOR (Imagem a
arte do escritor, arquiteto, professor e artista plástico alagoano Pedro Cabral) - Com o riso de Sol de
sua manhã Iaravi, ela me ensina a olhar a essência das coisas: o rumo dos
ventos, a precipitação das chuvas, o canto dos pássaros, as frutas do quintal,
as flores dos jardins, a correnteza dos rios, a queda das cachoeiras, as ondas
do mar, a altura das montanhas, a vertigem dos abismos, o mormaço do meio dia,
as sombras frescas das árvores, os grãos de areia do deserto, as pedras do
caminho, a paz dos bichos, as matizes de todas as cores, o incenso de todos os
olores, os sons de todos os tons, a textura de todas as matérias, o teor de
todos sabores, as sementes de tudo e os pés na poeira da Terra. E a rosa é mais
linda quando ela me mostra além do perfume e de suas pétalas ao olfato. E o
fruto é mais que o gosto do bago ou da drupa madura ao paladar. E as águas
macias são mais densas quando tocadas, e a distância é tão perto quando além da
visão está tão longe quão perto à palma da mão. E o sussurro de tudo é mais vivo
e real além do ouvido, porque tudo é sentido em sua totalidade, porque me
ensinou a plenitude de viver. E ao anoitecer, o seu poder de valquirya Freya ensinou-me
com seu sorriso de música e sua voz de canção, os segredos de Euterpe. E com
sua dupla flauta, ensinou-me a distinguir uma mínima de uma semimínima, uma
colcheia de uma semicolcheia, uma fusa de uma semifusa na luz do luar. E me levou
em seus braços por compassos binários aos ternários, quaternários e complexos,
a me embalar por larghissimos e adágios, andantes e moderatos, alegro e prestíssimos
e por todas as consonâncias das dinâmicas e nuanças de sonhos no brilho das
estrelas. E marcou as batidas do meu coração, ora acelerado, ora apaziguado no
meio de sua progressão harmônica e por todas as notas que brotam de sua expressão
altaneira, com todos os acordes aos borbotões de sua gesticulação mágica pra
descoberta de todos os meus sentimentos e a justapor o que é de amor ao que é
de vida e a sobrepor o que é de entrega por toda felicidade. E a sua melodia se
sobressai acima dos limites a me trazer as cenas mais sublimes e irreveláveis, a
me contar as histórias não ditas e inexpressas, ao suscitar tantas e quantas
emoções possíveis e inimigináveis, pra transformar-se em Aede e me ensinar o
canto de todas as vozes e todos os ritmos. E quando a minha cabeça na imensa
escuridão da noite densa não tem mais pra onde ir, ela me leva ao ápice dos
prazeres com o êxtase da música das esferas e todas as dissonâncias atonais e dodecafônicas
do universo, até que eu me perca de mim e no meio do caos eu me transborde no improviso
do gozo de todas as manifestações em uníssino para minha completude mais que
aquinhoada. E sou nela com tudo e todas as coisas: a comunhão plena da vida
numa canção de amor. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
Imagem:
Jazz, do artista plástico C.
Vernet.
PESQUISA
O Livro do Jazz: de Nova Orleans ao
século XX
(Sesc/Perspectiva,
2014), de Joachim-Ernst Berendt e Günther Huesmann.
EPÍGRAFE
A música expressa aquilo que não pode ser
dito em palavras e não pode permanecer em silêncio, do escritor, dramaturgo e ativista dos
direitos humanos francês, Victor Hugo
(1802-1885). Veja mais aqui e aqui.
Imagem:
a
arte da artista
plástica e pianista estadunidense Debra
Hurd.
LEITURA
O romance Todo aquele jazz (Companhia
das Letras, 2013) do escritor inglês Geoff
Dyer.
PENSAMENTO DO DIA
O riso é dela e nela o meu jazz. (LAM).
Veja mais Federico Garcia
Lorca, O gênese africano,
Gianni Guadalupi, Alberto Manguel,
Duke Ellington, Lars von Trier, Caco Galhardo, Nicole Kidman, Tatiana
Parcero & Rô Lopes aqui.
CRÔNICA
DE AMOR POR ELA
Imagem da modelo e fisiculturista Lisa Lyon (1981), do fotógrafo estadunidense
Robert Mapplethoppe (1946-1989).
CANTARAU:
VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital Musical Tataritaritatá