AQUELE
TORNEIO DE CHIMBRA (SERÁ
O BRASILSILSILSIL?)– Naquela manhã, maior sensaboria. Cansados de coçar o saco,
sacaram peleja: futebol, vôlei, basquete? Não. Porrinha, baralho, dominó? Não.
Empurrões, dedadas, estranhamentos: um torneio. Qual? Pulhas, cuspe,
quebra-de-braço? Não. Corrida de saco, do ovo, jerico? Não. Campeonato de
chimbras. Aí, deu. Regras: pode isso; aquilo, não; exceto, nada. Na seca, ou
vai, ou racha. As etapas: mata-mata, oitavas, quartas, semifinal, final,
revanche, melhor de três e a nêga. Concordes, cada qual seus mijados. E o juiz?
Eita! Só da final em diante. Acertado. E vieram as berlindes de Tolinho, as
bolitas de Bestinha, as bilas de Biritoaldo, as balebas de Robimagaiver, as
bilobas de Zé Bilola, as biroscas de Doro, os bolíndris de Rolivânio &
Penisvaldo (ou é Penisvaldo & Rolivânio? Tanto faz, cara dum, cu do outro).
Afredo queria arrancar as bolas dos colhões pra jogar. Vixe! Como não conseguiu,
deram-lhe umas bolebas e foi-se pra jogada. – Que porra é essa? Era Mamão que chegou
com uma bola de boliche e foi barrado, findou com umas bolegas. – Ô cara mais
sem noção! Era Ocride, também foi barrado: queria jogar com um côco. Não podia,
ora. Armou-se duns bugalhos arranjados de última hora. E lá estavam bolas de
gude de todos os tipos: aopacos, leitosas, boticões, bigolhões, bigolões,
bolichões, até umas trazidas de Portugal, as baleias e as bazucas. Zé Peiúdo
mesmo quase mata tudo do coração: chegou armado dumas rolimãs, cada uma maior
que a outra. Assim não dá! Ajeita aqui, acomoda ali. Inicia o prélio, jogadores
a postos, mandaram ver na peleja. A primeira, era o mata-mata As primeiras
eliminações: Mamão e Afredo Bocoió se estranharam e queriam trocar cavalo-mago.
Tava proibido, tão fora! E começou o teitei. Ocride veio com uma soca-tempero cheia
das munições e mandou bala nas cabiçulinhas! Danou-se! Depois de tapas na cara,
chutes na bunda, deixa disso, os ânimos exaltados deram baixa. Recomeça a
guerra no jogo. Vieram as demais etapas com círculo, estrela, triângulo,
biribinha, meia-lua, bolicross, covinhas e, fechando as oitavas e as quartas, a
7, 14 e 21. Cada qual sua tota afiada pras semi-finais. Ia tudo indo muito bem
não fosse Mamão com uma bala de canhão: - Vou explodir tudo! Maior risada. É
que não viram que ele estava com uma marreta para detonar e foder tudo!
Diplomacia de plantão, demoveram os obstáculos e Mamão pôde dar suas tacadas.
Foi eliminado de novo e saiu puto da vida: - Isso é uma róbaieira! O nhenhenhém
recomeçou e tome tempo. Lá pras tantas, tudo apaziguado e, entre os desclassificados,
escolheram o Doro pra ser o juiz das disputas a partir de então. – Agora o
negóço é sério! E foram aos trancos e barrancos pra final, no confronto dos
Zés: Corninho e Peiúdo. O resto só na torcida, peruagem e mangação. O negócio
ficou tão sério que levaram pro pessoal: tudo na base da munheca, na força do
muque. Cada qual seu grito de guerra! Era a hora do vamos ver: - Quem tiver
tutano que s’aguente. Estava armado o circo. E inventaram jogadas: com um pé
só, de cu pra lua, subindo a colina, descendo a ladeira. Findo o jogo: Zé
Corninho ganha a final. Vem a revanche: Peiúdo empata. Na melhor de três: deu
Corninho. Era a hora do tudo ou nada: a nêga. E foi prorrogação e pros
pênaltis. Corninho sagrou-se campeão. A comemoração misturou-se com a desordem
antagonista. Peiúdo, não satisfeito, denunciou armação: - Fui sabotado. E começou
o puxa-encolhe: segurada de beca, emendada de bigodes e a contenda foi pros
tapas. Segura aqui, atiça ali, depois de uns safanões, a batalha foi pro
tapetão: inventaram juridiquês. Os rivais arregimentavam os a favor, era a hora
da persuasão. Uns firmes, decidiram logo o lado que iam; os indecisos – muitos
por sinal -, esperavam a ação mágica: propina. Ou molhava a mão, ou ficavam
naquela do não tô nem aí. Doro, o juiz, diligente, autoritário, imparcial, deu
por decisão a vitória pro Corninho, o campeão. Zé Peiúdo recorreu, invocou júri
imparcial: confirmada a sentença. Aí Peiúdo usou dos artifícios, encostou-se no
Doro e mostrou dez: - Ora, sou um hômi. Vinte: - Isso é conversa que se chegue?
Trinta: - Hômi-seu-minino! Cinquenta: - Peiúdo é campeão. Pronto, o circo pegou
fogo. O corruptor armou das suas e saiu comprando um a um do júri. Voto
enchendo o caçuá, a coisa empretava e Corninho só coçando a cabeça.
Convocações, sessões extraordinárias, confabulações, votações secretas,
resultado: Zé Peiúdo é o campeão. Não tinha mais a quem recorrer, era a última
instância. Eita, Zé Corninho ganhou, mas não levou. – Todo castigo pra corno é
pouco -, largaram pilhéria. Liso, esgotado todos os seus recursos, ficou amuado
e contentou-se: - Agora, só na outra. Choveu no molhado. Isso é o Big Shit Bôbras do Fecamepa! Isso é Brasilsilsilsilsilsil! E vamos aprumar a conversa! © Luiz Alberto Machado. Direitos
reservados. Veja mais aqui, aqui e aqui.
Imagem a arte do artista
multidisciplinar do Modernismo português, José
de Almada Negreiros (1893-1970). Veja mais aqui.
Veja mais Brincarte do Nitolino, Buda,
Edmund Husserl, Basílio da Gama, Edmond Rostand, Steve Howe, Bertha Pappenheim
& o caso Anna O, Sergei Semenovich Egornov & Anne Brochet aqui.
CRÔNICA
DE AMOR POR ELA
Imagem: arte de Almada Negreiros