sexta-feira, abril 08, 2016

AQUELE TORNEIO DE CHIMBRA

AQUELE TORNEIO DE CHIMBRA (SERÁ O BRASILSILSILSIL?)– Naquela manhã, maior sensaboria. Cansados de coçar o saco, sacaram peleja: futebol, vôlei, basquete? Não. Porrinha, baralho, dominó? Não. Empurrões, dedadas, estranhamentos: um torneio. Qual? Pulhas, cuspe, quebra-de-braço? Não. Corrida de saco, do ovo, jerico? Não. Campeonato de chimbras. Aí, deu. Regras: pode isso; aquilo, não; exceto, nada. Na seca, ou vai, ou racha. As etapas: mata-mata, oitavas, quartas, semifinal, final, revanche, melhor de três e a nêga. Concordes, cada qual seus mijados. E o juiz? Eita! Só da final em diante. Acertado. E vieram as berlindes de Tolinho, as bolitas de Bestinha, as bilas de Biritoaldo, as balebas de Robimagaiver, as bilobas de Zé Bilola, as biroscas de Doro, os bolíndris de Rolivânio & Penisvaldo (ou é Penisvaldo & Rolivânio? Tanto faz, cara dum, cu do outro). Afredo queria arrancar as bolas dos colhões pra jogar. Vixe! Como não conseguiu, deram-lhe umas bolebas e foi-se pra jogada. – Que porra é essa? Era Mamão que chegou com uma bola de boliche e foi barrado, findou com umas bolegas. – Ô cara mais sem noção! Era Ocride, também foi barrado: queria jogar com um côco. Não podia, ora. Armou-se duns bugalhos arranjados de última hora. E lá estavam bolas de gude de todos os tipos: aopacos, leitosas, boticões, bigolhões, bigolões, bolichões, até umas trazidas de Portugal, as baleias e as bazucas. Zé Peiúdo mesmo quase mata tudo do coração: chegou armado dumas rolimãs, cada uma maior que a outra. Assim não dá! Ajeita aqui, acomoda ali. Inicia o prélio, jogadores a postos, mandaram ver na peleja. A primeira, era o mata-mata As primeiras eliminações: Mamão e Afredo Bocoió se estranharam e queriam trocar cavalo-mago. Tava proibido, tão fora! E começou o teitei. Ocride veio com uma soca-tempero cheia das munições e mandou bala nas cabiçulinhas! Danou-se! Depois de tapas na cara, chutes na bunda, deixa disso, os ânimos exaltados deram baixa. Recomeça a guerra no jogo. Vieram as demais etapas com círculo, estrela, triângulo, biribinha, meia-lua, bolicross, covinhas e, fechando as oitavas e as quartas, a 7, 14 e 21. Cada qual sua tota afiada pras semi-finais. Ia tudo indo muito bem não fosse Mamão com uma bala de canhão: - Vou explodir tudo! Maior risada. É que não viram que ele estava com uma marreta para detonar e foder tudo! Diplomacia de plantão, demoveram os obstáculos e Mamão pôde dar suas tacadas. Foi eliminado de novo e saiu puto da vida: - Isso é uma róbaieira! O nhenhenhém recomeçou e tome tempo. Lá pras tantas, tudo apaziguado e, entre os desclassificados, escolheram o Doro pra ser o juiz das disputas a partir de então. – Agora o negóço é sério! E foram aos trancos e barrancos pra final, no confronto dos Zés: Corninho e Peiúdo. O resto só na torcida, peruagem e mangação. O negócio ficou tão sério que levaram pro pessoal: tudo na base da munheca, na força do muque. Cada qual seu grito de guerra! Era a hora do vamos ver: - Quem tiver tutano que s’aguente. Estava armado o circo. E inventaram jogadas: com um pé só, de cu pra lua, subindo a colina, descendo a ladeira. Findo o jogo: Zé Corninho ganha a final. Vem a revanche: Peiúdo empata. Na melhor de três: deu Corninho. Era a hora do tudo ou nada: a nêga. E foi prorrogação e pros pênaltis. Corninho sagrou-se campeão. A comemoração misturou-se com a desordem antagonista. Peiúdo, não satisfeito, denunciou armação: - Fui sabotado. E começou o puxa-encolhe: segurada de beca, emendada de bigodes e a contenda foi pros tapas. Segura aqui, atiça ali, depois de uns safanões, a batalha foi pro tapetão: inventaram juridiquês. Os rivais arregimentavam os a favor, era a hora da persuasão. Uns firmes, decidiram logo o lado que iam; os indecisos – muitos por sinal -, esperavam a ação mágica: propina. Ou molhava a mão, ou ficavam naquela do não tô nem aí. Doro, o juiz, diligente, autoritário, imparcial, deu por decisão a vitória pro Corninho, o campeão. Zé Peiúdo recorreu, invocou júri imparcial: confirmada a sentença. Aí Peiúdo usou dos artifícios, encostou-se no Doro e mostrou dez: - Ora, sou um hômi. Vinte: - Isso é conversa que se chegue? Trinta: - Hômi-seu-minino! Cinquenta: - Peiúdo é campeão. Pronto, o circo pegou fogo. O corruptor armou das suas e saiu comprando um a um do júri. Voto enchendo o caçuá, a coisa empretava e Corninho só coçando a cabeça. Convocações, sessões extraordinárias, confabulações, votações secretas, resultado: Zé Peiúdo é o campeão. Não tinha mais a quem recorrer, era a última instância. Eita, Zé Corninho ganhou, mas não levou. – Todo castigo pra corno é pouco -, largaram pilhéria. Liso, esgotado todos os seus recursos, ficou amuado e contentou-se: - Agora, só na outra. Choveu no molhado. Isso é o Big Shit Bôbras do Fecamepa! Isso é Brasilsilsilsilsilsil! E vamos aprumar a conversa! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui, aqui e aqui.


Imagem a arte do artista multidisciplinar do Modernismo português, José de Almada Negreiros (1893-1970). Veja mais aqui.

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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Imagem: arte de Almada Negreiros
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