O
TRÂMITE DO VISINVISÍVEL (Imagem:
Sem título – 2012, acrílica sobre
papel, 29cm x 21cm, da poeta e artista visual Elaine Pauvolid). - Abro os olhos e sou
tudo o que vejo: luzes, cores, sons, emoções. Antes disso, tudo era possível. Agora,
não mais. Ocupo um lugar que divido com tudo e todas as coisas. Antes não havia
tempo ou espaço, nem ontem, agora ou amanhã. Agora eu tenho medidas,
perspectivas, limitações. Não posso ocupar o que é de outro, sou elo de
argamassa no amálgama, complemento da completude, fragmento do total. Estou aqui,
sou daqui, dali, dacolá, alhures. Pouco sei de qualquer lugar, nem daqui, nem
dali. Só que sou e vou, descobertas, revelações. Longe de mim tudo existe e eu
não sei. Medro o que perscruto, revelo-me integrante de tudo e nada sou. Transformo-me,
cresço-me em mim para ser pro todo. Sou mutável no que é permanente, incluso
que se parece excludente, envolto no que é envolvente: sou o específico da
generalização, distinção do que não se distingue, e ser racional não é só o que
sou, sou mais. Deduzo e induzo: posso ser muito mais, ou não. Apenas cinco
sentidos, é muito pouco, tudo é maior que apenas isso. A rosa não é só o que
vejo e cheiro e toco e sinto. É semente que brotou, fez-se caule, galhos,
folhas e flores. Não só, muito mais. Há muito mais, eu não sei, mas há. O pato
já nasce sabendo nadar, o pássaro já nasce sabendo voar. Tenho de aprender. Meu
cérebro só sabe o que for programado. Afora isso nada sei. Só sei que sou muito
mais que mãos espalmadas, olhos atentos, olores, odores, concreto,
sabores, coração pulsante, sentimentos à flor da pele. Sou mais que fabricante
de excrementos e passos claudicantes e desejos nos sonhos. Sou mais que o
queimor solar na pele, o giro da Terra e de todos os ventos, a vida na hora e o
cálculo do futuro. Sou mais que o poder porque sou poder. Sou mais que a morte
porque morro a cada segundo. Sou claroscuro, além da fronteira do longe e do
perto, do próximo e o distante. Sou visinvisível que reflete, refrata. Vejo e
sinto na escuridão além das medidas referenciais, cores matizadas, sons
audíveis. E se vejo, sou visto. Sou onde estou e não estou, só deforma a forma.
Minha essência intacta se agiganta ou se apequena conforme minha própria
evolução ou não. Renovo-me a cada morte e sou sempre vivo no curso da vida. A
chama me leva ontem, hoje e amanhã até o inequacionável. Sem temores, me apronto
para destruir meus conceitos, convicções, concepções, e me despojo de qualquer
fanatismo, sectarismo e de tudo de mim mesmo. Sou uma interrogação ambulante
até que me faça o caminho, a verdade e a vida. Então fecho os olhos e tudo
volta a ser possível. Só assim eu sou. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais
aqui.
Imagem:
a arte do pintor,
gravador e ilustrador francês Paul-Émile Bécat (1885-1960). Veja mais
aqui.
Curtindo
o álbum (9 cds+1 dvd) Das
Solo-Klavierwerke (Capriccio Phoenix, 2011), do compositor e pianista russo Alexander Nikolayevich Scriabin
(1872-1915), na interpretação da pianista sueca radicada na Alemanha, Maria Lettberg. Veja mais aqui, aqui e aqui.
LEITURA
Leitura do
livro Quadrigrafias (Uapê, 2015), dos
escritores Elaine Pauvolid, Márcio Catunda, Tanussi Cardoso e Ricardo
Alfaya. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
PENSAMENTO DO DIA
Quando por uma cagada de sorte uma coisa
vingar dando certo na sua vida, não vá só ficar mordendo as orelhas com o riso
no coarador! Lembre-se: a vida não é novela; e, depois do final feliz, tem
sempre outro dia e tudo volta pro que era antes. Tome tento e se avie! (LAM).
POEMIUDINHO
Imagem:
arte de Berenice Barreto.
AUTORRETRATO
Viajeiro
nato, caio na estrada
Cada
veia no asfalto, olhos a mil
Eu
sou Brasil, meu autorretrato.
(LAM).
Veja mais aqui.
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CRÔNICA
DE AMOR POR ELA
Nu, do pintor, gravador e ilustrador
francês Paul-Émile Bécat (1885-1960).