O DESNAMORO DE BINHA E PABINHO PICAPAU – Imagens da artista visual e arte-educadora Edna Sikora. - Pabinho – na verdade, Pablo Picasso da Silva na
Certidão de Nascimento, o pai nem sabia quem era, mas um dia ouviu alguém mencioná-lo,
achava o nome lindo de morrer: Vai ser o nome do meu próximo filho! E foi. Por
isso Pabinho pros familiares. Já pros pariceiros, era Picapau pra lá e pra cá,
coisa que o deixava chateado -, estava em apuros: já beirava os vinte anos e
nada de conseguir namorada para chambregar. Esse cara parece que queima a
rodela! Isso é misógino, mesmo! Que porra é isso? Esses que não são muito
achegados, sabe? Ah, é. Ele puto da vida com essas insinuações. Precisava fazer
alguma pra não cair nessa. De primeira, arrumou um emprego de ajudante de consertador
de fogão, ajeitando na limpeza, posição, reposição de peças e coisa e tal – não
era lá essas coisas, pelo menos, era trabalho, o que já diminuía nas chaturas
de ser reprimido pelos pais acusando-o de vagabundagem: Esse traste num toma
jeito, nem emprego arruma, qual mulher vai querer uma lástima dessas? Ele comia
arroiado. Já os da patota, de soslaio, desconfiavam que ele só queria tirar
bandeira, provocações no pau da venta. Ocupado com os afazeres, foi se
especializando na função de ajudante disso e daquilo, a ponto dele próprio
entrar no mercado, oferecendo os préstimos laborais de Faz-tudo: conserto de
panelas, penicos e o que fosse de latas e flandres, frascos e ferros, couros e
plásticos, solados e alinhavados; gambiarra na energia, desentupimento de pias
e vasos sanitários, desatolamentos em geral e por aí vai. Fosse bico, era com
ele. Por causa disso, conheceu Sebastianita, a Binha pros achegados, uma
empregada doméstica duma ricaça. Por meio dos ajeitamentos mais atenciosos, foi
premiado pela simpatia dela a requerer recorrentemente dos seus préstimos lá na
residência da baronesa. Indo e vindo, emplacou xaveco: Você tem perfil na rede?
Fizeru um pra eu, mas nem sei direito como acessar. Ele não teve dúvidas,
esperava a folga dela no sábado de tardinha, para ensiná-la e aprumar namorico.
Queria agora ver quem insinuaria que ele andava dando o frosquete por não se ajeitar
com mulher alguma até então. Queria era mesmo desfilar com ela, o que não era
possível porque a moça era para lá de recatada e ainda não dava muita trela pro
sabido, toda desconfiada: Tô só olhando pros seus pés. Ele lá saçaricando de
todo jeito e ela só na retranca. Um domingo desse, ele deu de presente um
aparelho celular pra ela se conectar, ensinando-a coisas da tecnologia. Foi tiro
e queda: ela deitou-se cheia de amores pras bandas dele. Entraram na moda,
perfis e identificação de quase relação séria. Papo vai, papo vem, ela viu o
nome dele na página: Pablo Picasso. Nome bonito, hem? Culpa do meu pai. Não demorou
muito o mar de rosa dele. Em conversa com as amigas logo soube que ele era o maior
barbazul. Como é que é? Só vive solto nos galinheiros. Ah, ele me paga. E
pagou. Um dia lá a patroa chama por ela aos gritos: Binha, me socorra! Espane esses
livros que vou ali e volto já. Ela começou a limpar, tudo com nome de Picasso. Cachorro
da moléstia! Era o que conseguia ler de tanta raiva. Vixe! O cara é famoso e me
enrolando. Ela ficou injuriada, só podia ser carta dele que a senhora encadernou.
Piorou mais quando ela pegou um volume que falava dos amores dele: Peguei-lo no
flagra, enrolão! Não leu nada, nem teve coragem, mas pelos títulos, já tinha
certeza se tratar de um farsante. Aí a senhora retornou e foi logo convocando
para recolocar os exemplares nas estantes: Binha, me ajude a colocar essas
coisas na estante. Aí ela sapecou: Não sei como a senhora guarda uma trepeça
dessas, pelo nome eu já desconfiava que era um safado imprestável. Como? Isso é
um sem-vergonha! Hoje mesmo vou dar um bilhetazul pra ele. A madame curiosa,
exigiu explicações. Contando tintim por tintim, a senhora caiu às gargalhadas:
E num que é mesmo! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja
mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio
Tataritaritatá especial
com a música do pianista e arranjador Cesar
Camargo Mariano: São
Paulo Brasil, Octeto, Ponte das Estrelas & Álbum de estúdio & muito
mais nos mais de 2 milhões & 600 mil acessos ao blog & nos 35 Anos
de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja
mais aqui e aqui.
PENSAMENTO DO DIA – [...] A
forma de dizê-lo pode parecer esquisita, mas de fato nós não experimentamos o
mundo tal como nos parece que o experimentamos. Aquilo que experimentamos acerca
da realidade está submetido a uma espécie de artimanha ou truque da organização
autorreferencial do nosso sistema nervoso. Toda ação ou reação sobre a
realidade é mediada pelas estratégias do sistema vivo e auto-organizativo que somos.
Ele tem lá seus motivos para ‘ligar’ ou desconsiderar tais ou quais níveis
entre si [...] Enquanto organismo
vivo, somos também um sistema perceptivo e cognitivo. Em cima do que nos advém
‘de fora’, construímos ativamente a nossa imagem do real. Somos criadores do
‘nosso mundo’, inventores do ‘nosso mundo’, fabuladores e sonhadores do ‘nosso
mundo’, transformadores do mundo real porque, em primeira instância,
transformadores do nosso próprio ‘mundo interno’ mediante uma fantástica
evolução intra-organísmica. Nossos órgãos, e assim também nosso cérebro/mente,
são órgãos evolutivos, cuja lei suprema é a adaptabilidade. Não há no mundo
para nós a não ser mediante a ‘nossa leitura’ do mundo, corporalizada no sistema
auto-organizativo que somos [...]. Trechos extraídos Reencantar a Educação – rumo à sociedade aprendente (Vozes, 1998),
do educador e teólogo pioneiro da Teologia da Libertação, Hugo Assmann (1933-2008). Veja mais aqui e aqui.
CONHECIMENTO – [...] Quando
falamos de conhecimento em qualquer domínio particular é constitutivamente o
que consideramos como ações – distinções, operações, comportamentos,
pensamentos ou reflexões – adequadas naquele domínio, avaliadas de acordo com o
nosso próprio critério de aceitabilidade para o que constitui uma ação adequada
nele [...] as teorias filosóficas não
são libertadoras. Ao contrário, teorias filosóficas constituem domínios
restritivos e imperativos, nos quais aqueles que as adotam negam a si mesmos e
aos outros qualquer reflexão sobre os princípios, noções, valores, ou
resultados desejados, em torno de cuja conservação elas são construídas ou projetadas.
[...]. Trechos extraídos da obra Cognição,
ciência e vida cotidiana (UFMG, 2001), do neurobiólogo chileno e criador da
teoria da autopoiese e da biologia do conhecer, Humberto Maturana. Veja mais aqui e aqui.
PAIS & FILHOS - [...] O niilista é uma pessoa que não se curva diante
de nenhuma autoridade, que não admite nenhum princípio sem provas, com base na
fé, por mais que esse princípio esteja cercado de respeito. [...] Somos gente do tempo antigo, acreditamos que,
sem princípios, sem princípios aceitos, como você diz, com base na fé, não se
pode dar nem um passo, nem mesmo respirar. Vous avez changé tout cela. [...] Antes foram
os hegelianos e agora os niilistas. Vejamos como os senhores vão viver no
vácuo, no espaço sem ar. [...] Não,
meu caro, tudo isso é leviandade, frivolidade! E o que são essas mistérios as
relações entre homem e mulher? Nós, fisiologistas, sabemos que relações são
essas. Estude a fundo a anatomia do olho: de onde em esse olhar enigmático [da
mulher por quem Pável se apaixonara anos atrás], como você o chamou? Tudo isso
é puro romantismo, fantasia, podridão, belas artes. É muito melhor irmos
examinar o besouro. [...] Atrevo-me a
dizer que todos me conhecem como um homem liberal e amante do progresso; mas
exatamente por isso respeito os aristocratas... autênticos. [...]. Lembre-se, prezado senhor, dos aristocratas
ingleses. Eles não abriram mão nem de uma migalha de seus interesses e por isso
mesmo respeitaram os direitos dos demais. [...]. Os pulmões de um tuberculoso não se encontram nas mesmas condições que
os pulmões da senhora [referindo-se à personagem Ana Sergueiêvna, por quem
Bazárov, contradizendo seu racionalismo, se apaixonaria], embora sejam
igualmente constituídos. Conhecemos aproximadamente as causas das enfermidades
do corpo; e as doenças morais advêm da educação precária, de todas as bobagens
que, desde a infância, atulham as cabeças das pessoas, em suma, da situação
revoltante da sociedade. Corrijam a sociedade e não haverá doenças. – E o
senhor supõe – disse Ana Sergueiêvna – que, quando a sociedade for corrigida,
não haverá mais tolos nem pessoas más? [...]. Sim, entendo; todos terão um baço exatamente igual. – Exatamente isso,
nobre senhora. [...]. Trechos extraídos da obra Pais e Filhos (Cosac e Naify, 2004), do escritor, tradutor e
dramaturgo russo Ivan Turguêniev
(1818-1883).
ALUNA - Conservo-te o meu
sorriso / Para, quando me encontrares, / Veres que ainda tenho uns ares / De
aluna do paraíso... / Leva sempre a minha imagem / A submissa rebeldia / Dos
que estudam todo o dia / Sem chegar à aprendizagem... / - e, de salas
interiores, / por altíssimas janelas, / descobrem coisas mais belas, / rindo-se
dos professores... / Gastarei meu tempo inteiro / Nessa brincadeira triste; / Mas
na escola não existe / Mais que pena e tinteiro! / E toda a humana docência / Para
inventar-me um ofício / Ou morre sem exercício / Ou se perde na experiência...
Poema extraído da obra Flor de Poemas (Nova Fronteira, 1986), da escritora, pintora, professora e jornalista Cecília
Meireles (1901-1964). Veja mais aqui.
A ARTE DE EDNA SIKORA
AGENDA
Setembro
amarelo – prevenção ao suicídio: valorização da vida & muito mais na Agenda
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Ascenso & Vou danado pra Catende, Walter Benjamin, Toni Morrison, Luís Buñuel, Costa Porto, Manoel Bentevi, Adriana Asti, Adriana Janacópulos,
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