O DESMATELO DE AFREDO & MAMÃO - Imagem: arte do poeta e professor Alvaro Posselt - Desde que começaram a trabalhar na loja do
Marquito Ladeira, Mamão e Afredo tornaram-se amigos de ferro e fogo, formando
uma dupla que se davam por Batman & Robin, Faísca & Fumaça, gaiúdo e
corneado, um pelo outro, indo e voltando, a dupla inseparável: Deus fez e o diabo
ajuntou. Nada haveria que separasse esses dois pariceiros, carne e unha,
arrochados. Em nome dessa amizade, não abriam nem prum trem que ousasse
enfrentá-los, pois se tivessem de morrer, que morressem por uma única causa, ou
seja, um pelo outro, os dois torrados, lascados, fulminados, espragatados,
fodidos e mal pagos, mas juntos. Tanto é que depois de racharem salário,
comida, vestes e dedadas, de muito cavalo-mago e pileques homéricos, fizeram
ambos um trato com talho nos dedos da mão, juntaram um no do outro e selaram um
pacto de sangue: amigos para sempre, seja em que circunstância for. Pudesse
cair chuva de canivete, enchente do estopô calango, briga da boba torreiro,
trupé da peste rodeira, o que fosse, lá estariam, irmanados, um a favor do
outro, contra o que aparecesse de infortúnio ou intriga ou o que porra que
desse de revertério. A coisa ia bem entre eles, toma lá dá cá, vai e volta,
esse é meu que também é seu, fizeram-se de irmãos que nunca tiveram, só iam
pros cantos se fossem os dois, mijavam juntos para não terem nenhuma suspeita, isso
até o dia em que Afredo botou as butucas sobre a formosura de Galbidizia, mais
conhecida por Dizinha, ah, uma paixonite de fazer um buraco no bucho dele e do
coração querer sair pela boca: o cabra roía apertado de paixão pelos cotovelos,
cornos e espinhaço. Dia desses Afredo embonecou-se com a domingueira e já
saindo todos nos trinques: Pronde vai, Afredo? Vou me encontrar com Dizinha.
Quem? Dizinha, rapaz, tô namorando pra noivar! Aquela chupona de rola? Respeite
que falei namoro e quero casar com ela. Aquela bundeira, já arregacei minha
pomba muitas vezes no caneco dela! Num brinque que ela será minha esposa!
Pronto, bastou isso e se estranharam pela primeira vez, mordidos cada qual pro
seu lado. Ao se encontrarem, já ensaiavam briga: Você tá com ciúmes, Mamão! Eu
quero lá aquela puta safada? Respeite! E a turma do deixa disso permitia apenas
os desaforos, nada de se agarrarem em luta livre. E juravam desavença, até de
morte. O tempo passou, Afredo namorou, noivou e, ao invés de casar, se juntou
com Dizinha num emancebamento bom sob promessa futura de contrair matrimônio de
verdade, não antes uns trocentos arranca-rabos com Mamão, de saírem os dois
bastante estropiados. Pois tá. Um dia lá, boquinha da noite de sábado, Afredo
vai pra casa: Amor, cheguei! Do susto, o estuque não aguentou! Teibei! Arriaram
lá de cima e caíram plantados no meio da sala nus, Mamão e Dizinha. Sem ter o
que fazer no meio daquele espalhafato, Mamão olhou pro amigo e disse: Eu num
disse a tu, Tomé corno da porra! E saiu na maior carreira do jeito que estava, fazendo
poeira e deixando o tempo ruim pra trás. Coitado do Afredo, de olhos
esbugalhados, não acreditava no que via de sua amada. Ah, o casamento, pelo que
sei, parece que foi adiado para não sei quando. Como assim? Ué, eu lá sei!
Diziam: eles que são brancos que se entendam. © Luiz Alberto Machado.
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RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio
Tataritaritatá especial
com a música da maestrina e violinista inglesa Rachel
Podger:
Bach Violin Partita nº 2, Brecon Baroque Festival, Chiacona de Antonio Bertali
& La Stravaganza de Vivaldi & muito mais nos mais de 2
milhões & 600
mil acessos ao
blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir
é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui e aqui.
DITOS & DESDITOS – [...] Nas
aulas verbalistas, nos métodos de avaliação dos conhecimentos, no chamado
“controle de leitura”, na distância entre o educador e os educandos, nos
critérios de promoção, na indicação bibliográfica, em tudo, há sempre a
conotação digestiva e a proibição ao pensar verdadeiro. [...]. Trecho
extraído da obra Pedagogia do oprimido
(Paz e Terra, 1983), do sociólogo e pedagogo Paulo Freire (1921-1997).
Veja mais aqui e aqui.
PROPOSTAS PARA O SÉCULO XXI - [...] não estou aqui para falar em futurologia, mas
de literatura. O milênio que está para findar-se viu o surgimento e a expansão
das línguas ocidentais modernas e as literaturas que exploraram suas possibilidades
expressivas, cognoscitivas e imaginativas. Foi também o milênio do livro, na
medida em que viu o objeto-livro tomar a forma que nos é familiar. O sinal
talvez de que o milênio esteja para findar-se com frequência com que nos
interrogamos sobre o destino da literatura na era pós-industrial. Não me sinto
tentado a aventurar-me nesse tipo de previsões. Minha confiança no futuro da
literatura consiste em saber que há coisas que só a literatura com seus meios
específicos nos pode dar. Quero pois dedicar estas conferências a alguns
valores ou qualidades ou especificidade da literatura que me são
particularmente caros, buscando situá-los na perspectiva do novo milênio. [...] Cada vez que o reino do humano me parece
condenado ao peso, digo para mim mesmo que à maneira de Perseu eu devia voar
para outro espaço. Não se trata absolutamente de fuga para o sonho ou
irracional. Quero dizer que é preciso mudar de ponto de observação, que preciso
considerar o mundo sob uma ótica, outra lógica, outros meios de conhecimento e
controle. As imagens de leveza que busco não devem, em contato com a realidade
presente e futura, dissolver-se como sonhos... No Universo da literatura sempre
se abre novos caminhos a explorar, novíssimos ou bem antigos, estilos e formas
que podem mudar nossa imagem do mundo... Mas se a literatura não basta para me
assegurar que não estou apenas perseguindo sonhos, então busco na ciência
alimento para minhas visões das quais todo pesadume da minha vida tenha sido
excluído. [...]. Trechos extraídos da obra Seis
propostas para o próximo milênio (Vozes, 2000), do escritor italiano Ítalo
Calvino (1923-1985). Veja mais aqui e aqui.
A LITERATURA E O FAZER LITERÁRIO – [...] Os
fatos que substanciam esta narrativa foram tirados do nosso amargo cotidiano. O
autor não teve a preocupação de alinhá-los cronologicamente, nem se absteve de
descrever situações brutais, que mostram muito bem o grau de desumanização a
que chegamos. [...]. Trecho
extraído da obra Lúcio Flávio, o passageiro da agonia (Civilização Brasileira, 1973), do escritor e roteirista José Louzeiro (1932-2017), que no artigo Mataram
a moça e caçaram o livro (Folha de S. Paulo, 13
jan. 1980), assinalou que: [...] Mas nós
temos dois caminhos na nossa literatura. Quando eu digo nós, incluo toda a América
Latina. Ou nós polarizamos a literatura ou a literatura se elitizará de uma vez
por todas. [...]. Veja mais aqui.
CANTARES GALLEGOS - Nasci quando as plantas nascem, / no mês das
flores nasci, / numa alvorada docinha, / numa alvorada de abril./ Por isso me
chamo Rosa, / Rosa do triste sorriso, / com espinhos para todos / e sem nenhum
para ti. / Desde que te quis, ingrato, / tudo acabou para mim, / que para mim
eras tudo, / minha glória, minha vida. / De que, pois, te queixas, Mauro? / De
que, pois, te queixas, dize, / se sabe que eu morreria / por te comtemplar
feliz. / Duro cravo me encravaste / com este teu maldizer, / com este teu doido
pedir / que não sei que quer de mim, / pois te dei tudo que pude, tão avarenta
de ti. / O meu coração te envio / e a chave para o abrir; / nada mais tenho
para dar-te, nem tens mais que me pedir. Poema da
escritora espanhola Rosalia de Castro
(1837-1885). Veja mais aqui.
A ARTE DE ALVARO POSSELT
A arte do poeta e professor Alvaro Posselt. Veja mais aqui.
AGENDA
Feira do Livro de
Porto Alegre – de 1º a 18 de novembro
de 2018, na Praça da Alfândega, Centro Histórico – Porto Alegre (RS) & muito
mais na Agenda aqui.
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&
Eterno aprendizado, Fernando Pessoa, Neurofilosofia, Marilena Chauí,
Ralf Waldo Emerson, Amanda Sage, Princípio fundamentais de Filosofia, Márcio Montarroyos, Ana Rucner, Roberto Szidon & Natalia Gutman aqui.