sexta-feira, fevereiro 02, 2018

ÍTALO CALVINO, BUEY, LEMINSKI, RIPPER, ANGERICH, URASHIMA, ANNA MARIA MAIOLINO & ANA PELUSO

UMA & OUTRAS MUITAS E TANTAS COISAS DE TUDO E NADA – Imagem: arte da série Vida afora (1981), da gravadora, pintora, escultora, desenhista e artista multimídia italiana Anna Maria Maiolino. - Uma coisa: o barulho da cidade acorda a manhã e ouço o apelo geral das compulsões emocionais nos braços avexados para não perderem a hora que eu não sei, com suas ânsias no trânsito de todas as inquietações e buzinas e alto-falantes berrantes de promessas e salvações pros insaciáveis prazeres que se dissipam e o indesejável na careta dos preços nas vitrines e gôndolas de supermercados remarcando tudo dos olhos na cara e afugentam pássaros que gorjeiam pra placidez de alhures, onde se salve da guerra e corram o risco dos canos e pipocos dos caçadores com suas arapucas pras gaiolas das varandas na prisão da vida de quem não sabe o que é viver pela hora da morte. Duas coisas: a vida passa enquanto um dragão sonhava pesadelos formidáveis de cabeças-de-fósforos acesas e apagadas, enquanto próceres preventivamente não toleravam sua presença com astúcias ostensivas em pleno baile das caveiras animadas entre gênios incompatíveis, e um anão raptado jurasse inocência enquanto ejetava pelo esguincho de uma baleia raivosa entre os que usam da brincadeira só para evitar chateação de uma autoridade ad hoc que pede um comprimido pra dor de cabeça porque uma cabeça-de-prego incomodava nas nádegas da ideia calculada que não vinga, a dar uma coisa e fosse outra estupenda graça suplementar, pela qual um anjo da guarda insinuasse pensar em outras coisas, como o summum bonum, se não era dado a outras modernices que medram coisas de antanho e tudo se parecia novidade quando não vetusto de todo tempo passado e vindouro. Três coisas: o tempo urge nas entranhas e quema nas tripas a fácil previsão que ninguém previu da múltipla herança biológica que sou e todos somos, as influências ambientais e as insignificâncias de todas as grandezas lembradas e esquecidas, porque o noticiário é da hora e todos os olhos na mesma direção e é só o que podem ver da tragédia, mesmo que tudo seja iminente ao redor e não enxergam nada daqui, só o de longe estampado na telinha da hipnose geral, porque aqui tudo é indiferente, é dia-a-dia sem graça pela imunidade da indignação e do saco cheio com a rotina do cotidiano. Outras coisas: Quantas vezes eu mergulhei nesse mar de estupidez e tão cretino quanto passei por combustões e mudanças sobre chamas torturantes a me obrigar cambalhotas e saltos soltos pra nó em pingo d’água, tirando leite do chão batido, no meio de quantos desejos perturbadores anunciando a felicidade urgente e eu perdido pelas adversidades implacáveis e seus augúrios, dicórdias, sinecuras, apetites, paixões, anelos, a festa dos opostos e opostos dos opostos nas portas do umbral ilógico, tudo sempre paradoxal e eu boquiaberto porque ninguém está nem aí e eu perdido no meio desse turbilhão caótico em que ninguém é de ninguém e sei lá que mais. Outras & muitas tantas coisas: ah, peraí, deixa rolar pra lá, eu paro por aqui, saio desse pandemônio, preciso viver e respiro fundo, desço desse vexame, saio da poluição a contaminar gente e bicho e o que mais vier, e enquanto tudo borbulha no caldeirão desse inferno, inspiro e expiro procurando ar puro nem que seja lá pras tantas das léguas, e domino a mim mesmo para ir além do bem e do mal, a par de tudo isso, sei muito bem pra onde devo ir, porque meus olhos sabem de perto, meu coração voa longe, sinto a música do universo e a afinidade entre eu e outro e todos e tudo. O sorriso irradia a chama do milagre da vida, sou-me alquimista e queima em mim a energia candente da vida e dela participo pleno de paz, a sentir o amor recíproco e altruísta ao me descobrir pedra perdida, flor a desabrochar, ventos e ondas, terra e céu, no limiar da revelação dos segredos da natureza e do universo. Sempre soube que a vida é outra coisa além da loucura econômica e de se matar pra ter e ser, sabia e sei. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá é dia de especial com o compositor, professor e regente João Guilherme Ripper: Canntiga e Desafio & Jogos Sinfônicos; e a pianista argentina Martha Angerich: Concerto nº 1 in E minor, op. 11, de Chopin, Libertango de Astor Piazzolla & Concerto nº 3 de Rachmaninoff; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] quem é cada um de nós senão uma combinatória de experiências, de informações, de leituras, de imaginações? Cada vida é uma enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objetos, uma amostragem de estilos, onde tudo pode ser continuamente remexido e reordenado de todas as maneiras possíveis. [...]. Trechos extraídos da obra Seis propostas para o próximo milênio (Vozes, 2000), do escritor italiano Ítalo Calvino (1923-1985). Veja mais aqui.

A CIÊNCIA & O SER HUMANO – [...] A ciência é provavelmente o melhor que temos do ponto de vista epistemológico, ou seja, do ponto de vista do conhecer, mas ao mesmo tempo é a mais perigosa das atividades humanas do ponto de vista da moral. O principal perigo reside na meljhor ciência, no que chamamos de tecnociência, ou seja, precisamente no que nos proporciona o melhor conhecimento da estrutura da matéria, do universo da vida. Quanto mais sabemos da estrutura da matéria e da vida e melhor aplicamos esse conhecimento para melhorar a vida do ser humano, maior é o perigo da desumanização. [...]. Trecho extraído de Sobre tecnociencia y bioética: los arboles del paraiso (Bioética, 2008), do filósofo e ensaísta espanhol Francisco Fernandes Buey (1943-2012).

O MITO DE URASHIMAConta-se que Urashima pescava há três dias, mas não conseguia apanhar nenhum peixe. Subitamente percebeu que uma tartaruga qie, capturada, logo se transformou numa formosa donzela. Ela pediu-lhe que fechasse os olhos e o conduziu para uma ilha maravilhosa, situada no meio do amor, onde o solo se achava cheio de pérolas e jóias pendiam das árvores. A jovem levou Urashima para seu palácio onde fizeram muitas festas. Urashima, apaixonado pela formosa e misteriosa jobem,esqueceu todo o seu passado. Depois de três anos, começou a sentir saudade de sua terra, do seu povo, da sua antiga vida. O amor da divina princesa já o cansara e esta consentiu que ele partisse. Ofereceu-lhe um cofrezinho e suplicou-lhe que jamais o abrisse, pois se o fizesse ficariam separados por toda a eternidade. Urashima fechou os olhos e quando os reabriu estava em sua terra natal. Em vão procurou os parentes e amigos; tudo estava mudado. Ouviu numa aldeia, a lenda de um tal Urashima que há mais ou menos trezentos anos mergulhara no mar e nunca mais aparecera. Desesperado, abriu o cofrezinho. Dele saiu uma nuvem de fumaça que penetrou em seu corpo. Urashima compreendeu que jamais veria a princesa do mar. Voltou-se em direção da ilha misteriosa inutilmente. O infeliz Urashima correu como um louco. Sua pele branca se tornou enrugada, seus cabelos tornaram-se grisalhos e ele morreu chamando a formosa princesa. Extraído da obra A Fisherman of the Inland Sea (HaperPrism, 1994), da escritora norte-americana Ursula K. Le Guin.

O QUE PASSOU, PASSOU?Antigamene, se morria / 1907, digamos, aquilo sim / é que era morrer. / Morria gente todo dia, / e morria com muito prazer, / já que todo mundo sabia / que o Juizo, afinal viria, / e todo mundo ia renascer. / Morria-se praticamente de tudo. / De doença, de parto, de tosse. / E anda se morria de amor, / como se amar morte fosse. / Pra morrer, bastava um susto, / um lenço no vento, um suspiro e pronto, / lá se ia nosso defunto / para a terra do pés juntos. / Dia de anos, casamento, batizado, / morrer era um tipo de festa, / uma das coisas da vida, / como ser ou não ser convidado. / O escândalo era de praxe. / Mas os danos eram pequenos. / Descansou. Partiu. Deus o tenha. / Sempre alguém tinha uma frase / que deixava aquilo mais ou menos. / Tinha coisas que matavam na certa. / Pepino com leite, vento encanado, / praga de velha e amor mal curado. / Tinha coisas que tem que morrer, / tinha coisas que tem que matar. / A honra, a terra e o sangue / mandou muita gente prauqele lugar. / Que podia um velho fazer, / nos idos de 1916, / a não ser pegar pneumonia, / deixar tudo para os filhos / e vira fotografia? / Ninguem vivia pra sempre. / Afinal, a vida é um upa. / Não deu pra ir mais além. / Mas ninguém tem culpa. / Quem mandou não ser devoto / de Santo Inácio de Acapulco. / Menino Jesus de Praga? / O diabo anda solto. / Aqui se faz, aqui se paga. / Almoçou e fez a barba, / tomou banho e foi no vento. / Não tem o que reclamar. / Agora, vamos ao testamento. / Hoje, a morte está difícil. / Tem recursos, tem asilos, tem remédios. / Agora, a morte tem limites. / E, em caso de necessidade, / a ciência da eternidade / inventou a crônica. / Hoje, sim, pessoal, a vida é crônica. Extraído da obra La vie em close (Brasiliense, 1991), do escritor, critico literário, tradutor e professor Paulo Leminski (1944-1989). Veja mais aqui.

A ARTE DE ANA PELUSO
A arte da poeta, ilustradora e artista plástica Ana Peluso.

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A ARTE DE ANNA MARIA MAIOLINO
A arte da gravadora, pintora, escultora, desenhista e artista multimídia italiana Anna Maria Maiolino.
 

PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

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