AS MULHRES
AMADAS – The kiss (1907-1908), do
pintor simbolista austríaco Gustav Klimt (1862-1918). - Sou o crepúsculo na tarde azul da Áustria para que elas
sejam flores na paisagem campestre de Bauerngärten e no cenário dourado de todos
os jardins dos céus e da terra, todas elas desabrochando da art nouveau para
serem amadas e eternizadas por todos os tempos e espaços. É da candura e
fortaleza delas a se mostrarem com suas curvas de verdadeiras joias seminuas e
provocantes, com suas túnicas de estampagem africana que são as armadilhas de
sedução num mundo conservador. Ah é de uma delas que recolho o beijo nos braços
de Emilie Flöge e me insinuo pelas madeixas das ruivas pré-rafaelitas e pela
geografia das sereias dos mais profundos mares perdidos, até sentir-me senhor
da nudez fatal da dominação de Judith no palácio de Nínive expondo a cabeça do
general assírio que sou eu vencido aos seus encantos e feitiços. É nelas que
sou herança da ouriversaria para expressá-las nuas nos painéis da
Universidade, tudo queimado pela perseguição nazista aos judeus, cinzas
redescobertas ao vento de todas as direções. Elas em mim resistem e renascem Danae,
Adele Bloch Bauer, Serena, Mada, Fritza, Adele, as de Toulouse e aquelas entre
morangos bizantinos com suas almas ao som Schubert, muitas, todas, entre quatro
paredes e na orgia da cor, para amá-las no universo de dourada vida, no floral
que emana de seus corpos, no tom pastel que me encanta e nas pinceladas
impressionistas que as revivem na viúva Úrsula, em Gertrud Loew e as que
emergiram no sanatório da convivência com Mahler e Wittgenstein, e habitam nuas
e recolhidas no atelier intacto com milhares de rascunhos e em desenhos e
quadros preservados que resistiram até sucumbir à apoplexia. © Luiz Alberto
Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS:
[...] As
potencialidades e os processos criativos não se restringem, porém, à arte. [...]
O criar só pode ser visto num sentido
global, como um agir integrado em um viver humano. De fato, criar e viver se
interligam. [...] Criar é,
basicamente, formar. É poder dar uma forma a algo novo. [...] O ato criador abrange, portanto, a
capacidade de empreender; e esta, por sua vez, a de relacionar, ordenar,
configurar, significar. [...] Nós nos
movemos entre formas. Um ato tão corriqueiro como atravessar a rua – é impregnado
de formas. [...] As formas de
percepção não são gratuitas nem os relacionamentos se estabelecem ao acaso.
[...] Nessa busca de ordenações e de
significados reside a profunda motivação humana de criar. Impelido como ser
consciente, a compreender a vida, o homem é impelido a formar. Ele precisa
orientar-se, ordenando os fenômenos e avaliando o sentido das formas ordenadas;
precisa comunicar-se com outros seres humanos, novamente através de formas
ordenadas. [...] Ainda vinculado aos
mesmos padrões coletivos, ele se desenvolverá enquanto individualidade, com seu
modo pessoal de agir, seus sonhos, suas aspirações e suas eventuais realizações.
[...]
Trechos extraídos da obra Criatividade e processos de criação
(Vozes, 1997), da pintora, gravadora, desenhista, ilustradora, professor
e teórica de arte brasileira nascida na Polônia, Fayga Ostrower (1920-2001).
Veja mais aqui e aqui.
A ARTE DE GUSTAV KLIMT
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