sábado, maio 19, 2012

TATYANA TOLSTAYA, GAUTIER, REMEDIOS VARO, AMRITA SHER-GIL &CARLO UMA ELEGIA

CARLO, UMA ELEGIA (em memória de todas as vítimas da injustiça) Imagem: O grito (1893), art by Edvard Munch- Enquanto o fabrico desenfreado e o tráfico de armas cruéis avolumam as transações transnacionais, fazendo com que um papa genuflexo vá deprecando um mundo justo para a hipocrisia desmesurada - e ele sentado no espólio substraído das riquezas dos que ficaram pobretões, abatem Carlo numa praça de Gênova. Enquanto a droga lícita do capital alimenta a ganância globalizadora dos senhores do mundo, protocolando hegemonias mundializadoras de um G8 que não define nada que possa favorecer uma paridade no planeta, apenas a ampliação do fosso abissal da desigualdade espragatando a esperança dos excluídos, estertora Carlo numa praça de Gênova. Enquanto o maior picareta carcamano recepciona as maiores economias mais produtivas do mundo, com os USA-e-nos-joga-fora fortificado com sua conservadora maneira de manipular a todos, uma pessoa morre assassinada por minuto na terra, e sucumbe Carlo na exatidão das estatísticas aterradoras. Enquanto a vida torna-se cada vez mais um pormenor na manutenção paradigmática duma mecânica estrutura hedionda; e a biodiversidade é loteada na exploração insustentável de um legado nefasto para os que virão amanhã; e o homem é escravizado pela vontade dos que querem a galáxia submetida ao seu mando; e a segregação levanta cada vez mais o muro limítrofe entre prósperos e famintos; e o dinheiro avilta a solidariedade, a cidadania e a sustentabilidade, Carlo vai se esvaindo em nome de um protesto doloroso. E se chamamos de gato ao gato e ao governante de patife, é porque não se perdoa a omissão dos insensíveis; se a terra é redonda e ainda cagam pelos quatro cantos do mundo, é porque a mentira está cultuada no tempo e no espaço; e se nada acontecesse, nada valeria nada, porque é mais fácil assistir a morte de Carlo numa praça de Gênova, que cantar uma canção uníssona pela vida. © Luiz Alberto Machado. PS:Em especial à memória do jovem anarquista italiano Carlo Giuliani (1978-2001), morto pela polícia durante as manifestações contra a reunião de cúpula do G8, realizada em Gênova, de 19 a 21 de julho de 2001.Veja mais aqui, aquiaqui

 


DITOS & DESDITOS - Um homem não deveria nunca parar de aprender, nem no seu último dia. Todos os grandes males que os homens causam uns aos outros por causa de certas intenções, desejos, opiniões ou princípios religiosos, são igualmente devidos à inexistência, porque se originam na ignorância, que é a ausência de sabedoria. Pensamento do filósofo e médico judeu Maimônides (Mosheh bem Maymon, 1135-1204), contemplado com uma estátua na praça do bairro da antiga Juderia de Córdova. Intelectual do pós judaísmo medieval, por ter sofrido perseguição religiosa dos Almôadas, foi obrigado a fingir a fé muçulmana, depois a fugir para a África. Fixado no Egito, ele legou três célebres tratados de medicina: Aforismos de Medicina, Registas de Saúde, Regras dos Mortos e um não menos célebre tratado filosófico: O guia dos indecisos. É conhecido como A Grande Águia (ha-nesher ha-gadol).

 

ALGUÉM FALOU: Você pode ir daqui para lá, mas enquanto você não estiver bem, nada ao seu redor estará. Uma vida inocente, sem medo, sem dor, sem culpa, o metro quadrado ao redor é completamente seguro, mas ... tantas abelhas entraram e começaram a fazer mel, que já tem quase um metro e chega a mais da metade do corpo . Não sei o que fazer, se continuarem estarei sepultada no mel ... Adorável forma de morrer. É difícil para mim entender o quão importante o reconhecimento do seu talento parece ter para você. Achava que para um criador o importante é criar e que o futuro da sua obra era um assunto secundário e que a fama, a admiração, a curiosidade das pessoas, etc., eram mais inevitáveis do que coisas desejadas. Pensamento da artista espanhola surrealista e anarquista, Remedios Varo (María de los Remedios Alicia Rodriga Varo y Uranga, 1908-1963).

 

OUTRA QUE ALGUÉM FALOU: O duplo significado foi dado para se adequar à inteligência diversa das pessoas. As aparentes contradições têm o objetivo de estimular o aprendido a um estudo mais profundo. Pensamento do polímata cordovês Averróis (Abu Alualide Maomé ibne Amade ibne Maomé ibne Ruxide, 1126-1198), que foi contemporâneio de Maimônides e tornou-se um dos mais ilustres filósofos da Idade Média que estudou a obra de Aristóteles.

 

A ARTE MUDÉJAR E AS CIDADES DO LUXO & PRAZER - A palavra mudéjar prende-se à raiz árabe dajana que tem dois sentidos: Fixar-se em um lugar e domesticar-se. Uma arte pura com características particulares. Conta-se que Ibn Khaldun mencionara: Não seria digno de um homem honrado construir sua prosperidade sobre a infelicidade de outrem. Foi lá que, segundo Roger Peyre, em sua Histoire des Beaux-Arts, tornou-se o lar comum de judeus, mouros e cristãos. Foi lá que foi construída a civilização da qual a arte mudéjar constitui o último efeito. Esta arte exprime não só o gosto dos vencedores pela civilização dos vencidos, mas também e sobretudo a extraordinária simbiose que permitiu misturar, durante séculos, a civilização cristã e muçulmana, a fusão da arte árabe, visigótica e bizantina até o desabrochar da arte mudéjar. O CASO DE MDINAT AL-ZAHBRA, A CIDADE DE LUXO E PRAZER – Em 936, Abd al-Rahman III ordena a construção de uma fantástica cidade de luxo e de prazer, em homenagem a sua favorita. O harém possui uma enorme multidão de mulheres, jovens e velhas, de servidores esclavões e de eunucos. Registrou Abou I’Mahâsin que se trabalhou nesta obra por 16 anos e que absorviam um terço da renda da Espanha, com mais 1 mil operários nos canteiros, assistidos um por 12 operários não-especializados que colocavam por dia 6 mil blocos de pedras, mais 4 mil colunas, cujo arquiteto deste complexo é Maslama bem Abd-Alá e o príncipe herdeiro, o futuro Al-Hakan II. Esta fabulosa cidade situada sobre o vertente da sierra, a noroeste de Córdova, ocupava um terreno retangular de 1 mil e r00 metros por 750 metros. Córdova era a capital das ciências, com o historiador Ibn Haiyan, o moralista e poeta Ibn Hazm, o geógrafo El-Bekri, o médico Abaul-Kasim cujo Tratado de ciência médica e de cirurgia, foi um dos primeiro incunábulos. Eles são mais poetas que guerreiros. O Rei-poeta preferiu ser cameleiro na África do que guardador de porcos em Castela, quando ali caiu nas mãos dos cristãos e o rei-poeta preferia estar entre grosseiros Berberes, desprezados e temidos, que se haviam lançado em brutais expedições sobre a Espanha. O REI-POETA – O maior poeta de Sevilha, El-Mo’tamid (Maomé ibne Abade Almutâmide, 1040-1095), preferiu ser cameleiro na África do que guardador de porcos em Castela. ALHAMBRA – Teve início em 1231, acabou em 1338. Era uma grande cidade que reunia todos os pródigos da arquitetura muçulmana, a cidade dos sonhos, de luz e de mistério, onde reinava a tradicional inscrição “Só Alá é poderoso”. Sobre ela, Teófilo Gautier compôs o poema: Alhambra! Alhambra! Palácio que os gênios / edificaram como um sonho e encheram de harmonia. / Cidadela de ameias festonadas ou desabadas / onde, à noite, ouvem-se mágicas sílabas / quando a lua, através dos mil arcos árabes /semeia os muros de trevos brancos. Veja mais aqui e aqui.

 

KYS – [...] Ela se senta em galhos escuros e grita tão selvagem e lamentavelmente: ky-ys! ky-ys! - e ninguém pode vê-la. Um homem vai para a floresta, e ela fica na nuca dele: pule! e os dentes na espinha dorsal: crunch! - e com uma garra ele sentirá a veia principal e a quebrará, e toda a mente sairá da pessoa. [...] Como se o mar azul estivesse no sul, e no mar houvesse uma ilha, e na ilha houvesse uma torre e nela houvesse um leito dourado. No sofá está uma menina, um cabelo é dourado, o outro é prateado, um é dourado, o outro é prateado. Aqui ela desenrola sua trança, desenrola tudo, mas quando ela desenrola, então o mundo acabou. [...] E os olhos daquele Pássaro Pauline são meia face, e a boca é humana, vermelha. E ela é tão bela, Princesa Pássaro, algo que ela não tem de si mesma: o corpo é coberto por uma pena branca entalhada, e a cauda está a sete metros de distância, como uma rede de vime, pendurada como renda de renda. Bird Paulin vira a cabeça, se examina e se beija tudo, amada. E nenhuma das pessoas daquele pássaro branco nunca sofreu nenhum dano, não, e nunca terá. Um homem. [...] Trechos extraídos da obra Kys (Eksmo, 2000), da escritora russa Tatyana Tolstaya, que aborda questões políticas, ideológicas, filosóficas, sociais, ideológicas e outras questões de larga escala. Dela também a obra O Alpendre Dourado e outras histórias (Difel, 1992), reunindo contos, entre eles os trechos: [...] A depressão atormentava Ignatiev todas as noites. Pesada, desconcertante, de cabeça baixa, sentava-se na beira da cama e pegava-lhe na mão - uma enfermeira triste para um doente incurável. E passavam horas em silêncio, de mão dada. [...] A Árvore da Vida é o esquema da construção do Mundo e que, à sua imagem, o corpo humano é o esquema da construção de nosso devir. O corpo é, ao mesmo tempo instrumento, nosso laboratório e nossa obra para atingir nossa verdadeira estatura, que é divina [...].

 

OVELHA - Erupção vulcânica ao pell, / nem o raó l’anul·la nem l’arronsa modéstia nem o excitou nem a vontade l’ofega. / O velho meva é tão voraço / Quanto você usa para comparar? / para l’alegria radiante, inaturável, alegria desenfreada saber que aí estou algum outro chá. Poema da poeta espanhola Cèlia Sànchez-Mústich, também autora do poema Dedicação: Para você, a linguagem que desejo minhas primeiras dúvidas: zetas brincalhonas ao corte do dente, jotas entregues e garganta firme por dentro, cascalho de vogais ásperas, redondo como o amor de uma mãe. E a debulha de seus verbos esculpir o silêncio. Para você, mesmo que eu não convide você para entrar em meus poemas.

 

A arte daa artista indiana Amrita Sher-Gil (1913-1941).

 

ZINE TATARITARITATÁ FECOM – Já está circulando o ine Tataritaritatá que será distribuído na Feira do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecom), entre os dias 25 e 27 de maio, das 16 às 22hs, no estande da CDL/SMC.


Nessa edição está sendo destacado o desenvolvimento do projeto CDL/Criança e outras atividades envolvendo o trabalho com meu personagem infantil Nitolino.


Também está destacado no zine as comemorações de 30 anos de arte cidadã e dos lançamentos previstos no projeto Tataritaritatá.


Por fim, está destacado o lançamento do livreto Faça seu TCC sem traumas, bem como das consultas e orientações online e presenciais acerca de trabalhos acadêmicos.


Veja mais sobre:
Sanha, a história da cançãoBronislaw Malinowski, Wolfgang Amadeus Mozart, Paul Gustave Doré, Sharon Bezaly, Anna Wakitsch, Lendas Africanas, Jaci Bezerra, Silvio Rabelo, Bertrand Bonello, Clara Choveaux, Ivoneide Lopes, Ju Mota & A história de dois moços e quatro moças aqui.

E mais:
Ginofagia da chegada dela pro amor aqui.
Gestão Tributária aqui.
Mandonismo da paixão aqui.
Atos ilícitos & excludentes de ilicitude aqui.
Ela, a incógnita do prazer aqui.
A fibra na dieta alimentar aqui.
Todo dia é dia da mulher aqui.
Fecamepa aqui e aqui.
Palestras: Psicologia, Direito & Educação aqui.
Livros Infantis do Nitolino aqui.
&
Agenda de Eventos aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Art by Ísis Nefelibata
Veja aqui, aqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra: 
 Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
Veja  aqui e aqui.



MARIA RAKHMANINOVA, ELENA DE ROO, TATIANA LEVY, ABELARDO DA HORA & ABYA YALA

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Triphase (2008), Empreintes (2010), Yôkaï (2012), Circles (2016), Fables of Shwedagon (2018)...