A arte
da atriz suíça Sofia Milos.
A VIÚVA & BAGOAS – Imagem: a atriz Sofia
Milos no filme The Sopranos
(2000). – Um salão imenso e passa uma linda mulher, seus olhos nos meus. Atravessa
toda extensão até desaparecer por trás de uma cortina grená. Confesso: fui
surpreendido por tremenda beleza. Só saí daquele estupor muito tempo depois
quando fui interpelado por um jovem estranhamente delicado: Sou Bagoas, venha. O
seu nome me era familiar, já ouvira falar, não consrguia lembrar, aquela mulher
ocupava minhas ideias tornando impossivel raciocinar direito. Acompanhei seu
trajeto que atravessou a grande cortina grená que dava para um corredor
interminável. Passamos algumas portas e, em uma delas, ele abriu e educadamente
me fez entrar: Sente-se! A minha ama quer você, mas saiba de antemão que, a
partir disso, correrá sério risco. Esteja precavido e siga apenas os meus
passos ou por onde eu indicar. Qualquer passo em falso e você será um cara
morto. Quem é a sua ama? Segredo de eunuco, só aguarde aqui, volto já, fique aí.
Ele então me deu um drinque largo e, antes de sair, apagou a luz. Bateu a porta
e não sequer poderia ver nada naquea imensa escuridão. Sei que era um quarto
sofisticadíssimo, aroma apreciável no ar. Fiquei algum tempo pensando em que
situação eu estava me metendo, não havia de ser nada, sequer sabia quem era
aquela que me queria naquele estado. Algum tempo depois, senti o seu perfume no
ar, suas narinas na minha nuca, recostada por tras da poltrona em que eu estava
sentado, permitiu que suas mãos passeassem pelo meu peito embaixo da camisa.
Sim? Psiu! Colocou seu dedo indicador entre meus lábios para que eu fizesse
silêncio, enquanto contornava o braço da poltrona e se ajoelhar no chão, entre
minhas coxas. Sussurrou para que eu fizesse silêncio e debruçando-se sobre meu
corpo, suas mãos apertando meu sexo, ao meu ouvido gemeu: Quero-0 endurecendo
na minha boca. Catou meu sexo até alcançá-lo e removê-lo aos alisados para
enrijecê-lo. E deslizou sobre meu corpo numa prestimosa felação: língua,
lábios, sobejos. Acomodou-se bem e ali se manteve em movimentos profundos e
deliciosos até que me deixou afiado e maciço servindo-lhe a gula, a ponto de
superar todas as minhas forças e levar-me ao gozo inesperado. Sugou-me ali por
inteiro e plenamente, até repousar meu membro na minha coxa esquerda às
lambidas. Quando tornei daquele sonho, não estava mais ali, novamente sozinho e
degustando do drinque. Não havia ainda me recomposto, alguém bateu a porta,
abriu-a e acendeu a luz: era Bagoas. Chamou-me e seguimos por um labirítinco
corredor, alegando que providenciara meus aposentes e que ali ficaria por mais
alguns dias. Disse-lhe que teria que resolver com o meu hotel, ao que ele
mencionou que não me preocupasse com isso, estava tudo resolvido. Depois de
muito atravessarmos por bastante tempo todo edificio, logo abriu uma porta:
Aqui o seu quarto, não saia, aguarde novas instruções. Às 19 horas trarão o seu
jantar, aguarde, aproveite sua estadia, até mais. Era um apartamento requintado,
todo mobiliado e repleto de equipamentos e roupas. A janeça enorme dava para
uma paisagem paradisíaca, sabia lá onde estava: o mar, as montanhas, o céu mais
azul que nunca. Depois da janta, deitei-me e cochilei. Só sei que ao despertar estava
muito escuro e ela estava ao meu lado, beijando os meus ombros: Não fale.
Lambeu-me, beijou-me e seus lábios encontraram os meus, ao que ela saltou em
cima e cavalgou em mim, relando sua vagina no meu pênis desacordado que logo
foi se robustecendo e tomando firmeza para que ela delirasse durante a sua
cavalgada exasperante, enquanto eu tomava conhecimento do sua assimétrica
geografia, fôrma de deusa em orgasmo e eu gozando feito um louco. Arriou-se
sobre meu corpo enquanto resfolegava, vagina inquieta mordiscando meu pênis
ainda sobrevivente. Adormecemos e ao acordar não mais ali, apenas Bagoas que
estava sentado ao pé da cama: Aguardei o seu despertar, o seu café da manhã
está servido, sirva-se. A minha ama quer que eu lhe encaminhe para esta tarde
encontrá-lo nos aposentos de férias. Apronte-se, volto em 20 minutos. Assim fiz
e foi feito. Algumas horas depois estava num balneário que jamais vira. Já anoitecia
e não havia ninguém ali. Caminhei pela praia e resolvi retornar. No meu quarto
a janta estava servida: à luz de vela. Sentei-me e comecei a jantar. Já terminando,
uma brisa fresca invadiu o ambiente e uma lufada forte apagou as velas. Sabia que
era ela que chegara. E era mesmo. Não sei quantos dias e noites ali, sei que
desfrutei de todos os prazeres naquela que jamais vira. Foi com o amanhecer que
a vi pela segunda vez. A primeira foi quando a vi atravessar o salão. Agora estava
ali, nua e linda, com a luz do Sol. Disse-me o seu nome: Annalisa. Lindo nome. E
nos amamos e rimos e contamos pela tarde inteira. À noite eu estava só e
durante a madrugada ela me acordou: Ei, sou Cheryl e quero fazer amor com você!
Era ela e parecia mesmo com aquela do The
ladies man (2000), não havia como perder tempo, era ali mesmo que eu me
realizaria naquela carne sedutora. Com a alvorada, nem sinal dela: o canto mais
limpo. Só retornando alta noite para me dizer que era Célia Amonte e que precisava
de mim para ser feliz. Indubitavelmente era aquela encantadora de Passionada (2002). E pela primeira vez
ela estava na aurora do meu dia, vestida qual odalisca e se dizendo pronta para
me fazer feliz. Levou-me até o terraço, encostou-se ao muro para me mostrar a
beleza da paisagem. Não resisti: ela era a mais bela que tudo ali. Investi
firme, agarrei-lhe o tronco, passei as mãos aos seios, senti que remexia e mais
se arrepiava com meus beijos em suas costas. Levantei-lhe a saia longa, mãos na
sua intimidade já sem calcinha e me servi de sua gostosura ali mesmo, e mais
empurrei e mais queria, e mais umbiguei e mais fodia, ela entregue e toda minha
no prazer dos prazeres. Gozo mútuo e deitei sobre seu ombro: Quem é você,
afinal? Sou viúva e estou prometida a um homem poderoso que você não deve saber
nunca quem é, nem meu nome nem nada, e você é o meu Charlie, aquele que mudou a
minha vida e que me faz feliz. Tudo que quiser de mim será feito e acertado com
Bagoas, nada mais que isso. Agora me beija que eu quero amar como nunca mais. E
quando quiser lembrar de mim, diga apenas: sim. E eu sim, Sofia! E logo estarei em seus braços
para sempre. © Luiz Alberto Machado. Direitos
reservados. Veja mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS – Acarrete ou não nova pesquisa científica, a tecnologia é um ramo da
filosofia moral, não da ciência. Pensamento do escritor,
dramaturgo, filósofo anarquista e psicoterapeuta estadunidense Paul Goodman
(1911-1972).
ALGUÉM FALOU: Poderíamos nos perguntar: para que serve a
história das mulheres? E a resposta viria simples: para fazê-las
existir, viver e ser. Pensamento da historiadora Mary Del Priore. Veja mais aqui.
BAGOAS – Bagoas era
o nome usado por eunucos na Grécia Antiga. A história registra um que trabalhou
com Mentor de Rodes para ascender para mestre do Império Aquemênida,
tornand0-se ministro confidencial do rei
Artaxerxes III, da Pérsia, por volta do século IIIaC, durante a conquista do
Egito. Tornou-se rico com a venda das escrituras sagradas saqueadas dos templos
egipcios aos sacerdotes. Era o conselheiro do rei e, mesmo assim, assassinou a
ele e os demais filhos, exceto Asnos que colocou no trono. Depois de assassinar
Asses, fez rei o herdeiro colateral, Dario III. Mais tarde ao tentar
envenená-lo, o rei o fez beber o próprio veneno. Já o historiador grego
Plutarco comenta que Alexandre o Grande acusou Bagoas ao imperador Dario III, como
um dos organizadores do assassinato de Filipe da Macedônia. Há mais uma outra
que Bagoas seria um eunuco persa que viveu pelo terceiro século antes de Jesus,
e sua história foi resgatada pela escritora Mary Renault, na obra The
persian boy (1972), contando que ele foi emasculado pelo imperador Dario,
mantendo relacionamento homossexual e tornando-se o amante preferido de Alexandre,
o Grande. Veja mais aqui.
A TEMPESTADE DE LIA – [...] Na noite
que passei sendo interrogada pelo capitão Guimarães [...] todas as perguntas eram em torno do
sequestro do embaixador alemão, cujos planos estavam comigo, e que foi feito
igualzinho [...]. Mas eu vivia um
pandemônio tão grande, que nem tinha me dado conta. Como poderia imaginar que o
pessoal tinha feito a mesmíssima ação, com o mesmo embaixador, tudo igual? [...]
Foi o sequestro mais rápido da história
[...]. Libertaram todo mundo rapidinho,
porque o acordo [técnico-científico] estava em jogo. O pessoal atirou no que
viu [a possibilidade de realização do sequestro] e acertou no que não viu [a
pressão existente pela relação bilateral Brasil-RFA] [...]. Trechos
extraídos da obra A história de Lia, Maria do Carmo Brito (Record, 2003), da escritora Martha Vianna, contando a história da
socióloga e ex-guerrilheira Maria do Carmo Brito, que possuía o codinome Lia na
clandestinidade. Ícone da presença feminina na luta armada brasileira, ela foi
presa, torturada e banida do país em 1970, retornando em 1979 por força da Lei
da Anistia. Veja mais aqui e aqui.
COLAR DA POMBA – [...] Meu amor por ti, que é eterno por sua própria essência, / Chegou a seu
apogeu, e não pode minguar nem crescer. / Não tem mais causa nem motivo que a
vontade de amar. / Deus me livre que algum outro te conheça! / Quando vemos que
uma coisa tem sua causa em si mesma, / Goza de uma existência que não se
extingue jamais; / Mas se tem em algo distinto. / Cessará quando cesse a causa
de que depende. [...] Tocante
ao feito de que nasça o amor, na maioria dos casos, é pela forma bela, é
evidente que, sendo a alma bela, suspira por tudo o que é belo e sente
inclinação pelas imagens perfeitas. Quando vê uma delas, ali se mantém fixa. Se
logo distingue por trás desta imagem alguma coisa que lhe seja afim, se une a
ela e nasce o verdadeiro amor; mas se não distingue atrás dessa imagem nada
afim a si, sua afeição não passa da forma e fica no apetite carnal. Em todo o
caso, as formas são um maravilhoso meio de união entre as partes separadas das
almas. [...] Pelo amor, os avarentos
se tornam desprendidos; os intratáveis desenrugam o cenho; os covardes se
tornam valentes; os ásperos se tornam sensíveis; os ignorantes se tratam; os
desalinhados se esmeram; os sujos se limpam; os velhos se portam como jovens;
os ascetas rompem seus votos; e os castos se tornam dissolutos. [...] ao muçulmano deve bastar abster-se das
coisas proibidas por Deus Honrado e Poderoso, que possa cometer em uso de seu
livre arbítrio e daquilo que se há de pedir contas no dia da ressurreição; mas
se em um agradar a formosura e se o amor se apoderar de outro, é uma coisa natural,
que não está mandada, nem velada, porque os corações estão nas mãos d’Aquele
que os governa e só estão obrigados a conhecer e perceber a diferença que há
entre o que é pecado e o que não é, e crer com firmeza no que é verdadeiro. O
amor é uma espécie de natureza, e o homem só tem poder sobre os movimentos
livres de seus órgãos. [...] Fui muito íntimo das mulheres e conheço tanto seus
segredos, que apenas não há quem os saiba melhor, pois me criei no seu colo e
cresci em sua companhia, sem conhecer ninguém a não ser elas, e sem tratar com
homens até chegar à idade da puberdade, quando a barba começou a cobrir meu
rosto. Elas me ensinaram o alcorão, me recitaram não poucos versos e me
instruíram a ter uma boa caligrafia. Desde que cheguei ao uso da razão, ainda
na tenra infância, não me empenhei mais, nem usei mais a inteligência em outra
coisa que saber o que as preocupa, em estudar o que as diz respeito, e como
chegar a esses conhecimentos. Logo, não me esqueci de nada do que nelas vi. Por
causa disso, nasceu em mim uma imensa desconfiança das mulheres, chegando a ser
algo natural em mim, e a má impressão que tenho delas, que se tornou congênita
em minha alma. [...] Portanto,
para aquele que conheça Quem é seu Senhor e o valor de Sua benevolência e de
Sua cólera, hão de ser breves os efêmeros prazeres e as curtas vaidades do
mundo. Claro, se também nos fez ameaças, cuja única notícia nos provoca
arrepios e derrete nossas almas, e nos anunciou promessas que superam nossas
maiores esperanças? Como poderá ser roubada a obediência a este Rei Excelso?
Como pode desejar um deleite passageiro, sem que seja passageiro o arrependimento
que se forma, nem se acabem as consequências que arrasta, nem cesse a afronta
do que o comete? Até quando durará esta pertinência, havendo ouvido o
exortador, e quando já parece que o camelo nos atrasa o caminho da eterna
mansão, seja esta o céu ou o inferno? Não é um manifesto equivocado teimar em
semelhante coisa? [...] Milagre é que um ânimo como o meu tenha podido
sequer lembrar-se de alguma coisa, conservar algum rastro e evocar o passado,
depois do ocorrido e do que me sobreveio. Pois você sabe bem que minha cabeça está
transtornada e destroçado está meu ânimo por causa da situação que me encontro:
desterrado de meu lugar, distanciado de minha pátria, assediado pelo destino,
em desgraça com os poderosos; padecendo deslealdade dos amigos, circunstâncias
adversas, mudanças de sorte, perdas de fortuna, privado de meus próprios bens
herdados, despossuído do que juntaram meus pais e avós, errante por essas
terras, sem dinheiro, nem poder, pensando sempre como levar adiante minha família
e meus filhos, desesperado por regressar a casa dos meus, joguete do destino, e
à espera do que decidam os decretos de Deus. [...] Um dos atributos do amor é conter a língua; o
amante negará tudo caso seja interrogado, fingirá grandes
demonstrações de força e parecerá extremamente contido, um solteiro convicto.
Com isso, o segredo sutil se revelará. As chamas da paixão que lhe ardem
no peito serão vislumbradas em seus gestos e na expressão dos olhos;
rastejarão, lentas, mas determinadas, a céu aberto, como o fogo em meio ao
carvão ou a água por entre o barro seco. Nos primeiros estágios, é possível
ludibriar aqueles desprovidos de maior sensibilidade; uma vez que o Amor tenha
se estabelecido com firmeza, contudo, isso será completamente inviável. [...] Às vezes, a razão para tal reticência é o
desejo do amante de evitar ver-se marcado aos olhos de seus colegas; ele
professa que o galanteio é um sinal de frivolidade, e portanto (diz ele) foge
do amor e nada quer com ele. Mas esta não é de forma alguma a abordagem
correta; ao bom muçulmano basta se abster das coisas que Deus proibiu, das
quais, se decidir fazer, terá que prestar contas no Dia da Ressurreição. Mas
admirar a beleza e ser dominado pelo amor é uma coisa natural que não se inclui
nos mandamentos e proibições divinas; todos os corações estão nas mãos de Deus,
para deles dispor como Ele quiser, e tudo que se pede a eles é que devem saber
e considerar a diferença entre certo e errado, e crer firmemente no que é
verdadeiro. O Amor em si é uma disposição inata; o homem pode apenas controlar
os movimentos de seus membros, [capacidade] que adquiriu por esforço decidido.
[...] Ó minha alma, aja firmemente, esforça-te e
esqueça a perseguição à paixão e toda a lassidão que ela causa. Empenha-te rumo
à tua salvação e desdobra teus esforços para liberar-te dos males da paixão.
Talvez conseguirei vencer, escapar de sua empresa e de sua chama. Ó tu que
gracejas quando o destino lhe é adverso, não temes suas mordazes calamidades?
De todas as exortações que te foram prodigalizadas, retenha somente as
singulares vicissitudes que o destino te mostrou. Esqueça a morada da gloria
transitória e do ganho que engana quem o faz. Jamais alguém se debateu no
interior desta morada sem que suas paredes não tenham rudemente repelido aquele
que tentava rompê-las. Aquele que tem de Alá um verdadeiro conhecimento
encontra asilo seguro e seu coração instala-se no abrigo da grande proteção
divina. Um reino efêmero não é absolutamente como um reino eterno e a
verdadeira piedade não é absolutamente como a piedade adúltera. O homem que
teme a Alá não é como o libertino e a verdade nada tem em comum com a mentira.
se estamos ao abrigo do castigo, se absolutamente não tememos a terrível cólera
de Alá. Se não temos medo de seu fogo que foi criado para todos os homens de
palavra criminosa e perversa. Nós não seriamos menos obrigados a obedecê-lo, a
reprimir os mensageiros da paixão. A renunciar sinceramente a permanecer aqui
embaixo e a censurar severamente aquele que pressupõe aqui ficar. Pois nós
vimos o que o mundo faz de seus adeptos: ele faz deles o que a chama faz da
madeira. [...]. Trechos do poema El
Collar de la Paloma
(Alianza, 2008), do poeta Ibn Hazm de Córdoba (994-1064), uma epístola
do séc. XI que é um tratado sobre o amor e os amantes, possui 30 capítulos, os seis primeiros tratam da gênese da
paixão amorosa. Depois capítulos que tratam sobre correspondência epistolar,
guarda e divulgação do segredo, da separação, da fidelidade e traição; e o capítulo
final, Méritos da Continência. É considerada uma obra-prima da literatura
árabe-andalusa e se propõe a retratar o que é o amor por meio de exemplos de
mulheres que subvertem a ideia de que no seio do Islã sua voz e sexualidade
estariam silenciadas ou negadas.