DUAS: O QUE FIZ, TAL SÍSIFO, NADA MAIS - Aos dez anos de idade,
montado num bigode ralo e topetudo de nariz empinado, comecei a trabalhar
depois de ter desafiado meu pai numa conversa, como se fosse, claro, de homem
para homem – e eu ainda uma criança, avalie. Ele aquiesceu e me fez primeiro de
carimbador, depois de copista, datilógrafo, serviçal recadista e por aí, aboletado
num birô do cartório, sob a tutela mandonista de um tio que virou para mim pior
que Uriah Heep de Dickens. Claro, escapulia,
dava salto solto, virava e mexia. Ele lá, inexorável. Ansiava altos voos e, embora
traumatizado e com um complexo de inferioridade aviltante, me redimia com Susanne Langer: Para termos novo conhecimento, precisamos adquirir um mundo inteiro de
novas questões. De escriturário nunca passei disso, mas ousei que só. Aprendi
desaprendendo e o que nem se ensinava. Assim fui, haja catabís, tantos percalços
indeléveis. Mais fui, voo.
TRÊS: DAVA DE POETAR, NEM TANTO! - Enfim, de tudo um tanto
incólume, quando não ao rés do chão, rasteiro escondido na poeira. Lá estava. Tanto
me estrepei de findar estirado, dores até no retrato e lembranças repisadas. Hoje
antes penso duas, três, até dez, cem, de novo, aí, lá pras tantas, caio na ação
mais sem jeito. Cheguei até a poetar por isso, mas Sarah Kofman advertiu: Dialética e reflexão
desempenham o mesmo papel para o filósofo e verso para o poeta. Poetar, então, não
era, apenas versejador porque se a vida fosse um filme e rodasse para trás, nem
assim seria diferente do que gorou, seria de novo outro fora e ficaria por isso
mesmo. Nunca lamentei de nada nem perdido, já levantei pronto para outra, cada
vez mais para o Tao: o coração da palavra, o poema no sexo: a vida! Até
amanhã. © Luiz Alberto Machado. Direitos
reservados. Veja mais abaixo e aqui.

O TEATRO
DE CONCHA
MÉNDEZ
Eu gostaria de ter vários sorrisos avulsos e um vasto
repertório de maneiras de me expressar. Então, sozinha, você não me deixou, que
eu estou comigo mesma e é o suficiente para mim, como sempre fui. E se eu olhar
para a sombra onde a luz se dissolve, também tenho medo de dissolver e entre as
sombras ficarei confusa para sempre. Como último retrato, nossos olhos
impressos brilharão. A vida é um cervo irremediavelmente ferido, que flechas
lhe dão veneno e asas.
CONCHA MÉNDEZ - A arte da poeta, dramaturga e roteirista espanhola Concha Méndez (1898-1986),
que pertencia ao grupo Sinsombrero e autora de peças teataris como El ángel
cartero (1929), El personaje presentido (1931), El pez
engañado (1933), El carbón y la rosa (1935), Las
barandillas del cielo (1938), El solitario (Amor) (1941), entre
outras. Veja mais aqui.
A FOTOGRAFIA DE CHARLS SCHENK
PERNAMBUCULTURARTES
Espero que o extermínio da juventude negra, que não é só física, não
caia sobre o meu trabalho, para que outras mulheres que venham depois acreditem
e achem possível viver do que se gosta e do que se sabe fazer. É por elas que
estou aqui.
A arte da cantora Una, que é filósofa de
formação e se lançou em 2013 como Aninha Martins e lançou o seu primeiro álbum,
Esquartejada (Independente, 2019), resultado de seis anos de pesquisas em
um campo eclético, que vai da MPB ao punk rock, reflexões intimistas, uma
pitada de niilismo e um humor sabido.
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O Bom
Pastor: as histórias e os afetos, organizado por Karina Vasconcelos aqui.
Agruras
da lata d’água, do poeta, compositor e intérprete Jessier Quirino aqui.
A música de Ozi dos Palmares aqui.
Sabedoria ou mediocridade?
Diálogos no reino encantado das águias, do filósofo e historiador Reginaldo
Oliveira aqui.
Água,
Vida Água, do poeta e ativista cultural João de Castro aqui.
A mora
de ferro aqui.
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