DITOS & DESDITOS: Estamos
sendo duramente apresentados a uma das formas do incompleto das nossas vidas,
na figura desse vírus avassalador. Estamos em perigo! Freud diferenciava - em
um texto escrito há exatos 100 anos, Além do Princípio do Prazer - três formas
distintas de reagir ao perigo: Angústia, Medo e Terror. Cito-o:
"Angústia" designa um estado como de expectativa do perigo e
preparação para ele, ainda que seja desconhecido; "Medo" requer um
determinado objeto, ante o qual nos amedrontamos; "Terror" se
denomina o estado em que ficamos ao correr um perigo sem estarmos para ele
preparados, o terror enfatiza o fator surpresa. A atual pandemia nos
aterroriza. É como se vivêssemos um combate de guerrilha. Nosso inimigo é pequenininho,
sabemos da sua existência, mas não temos ideia de como, quando e aonde ele vai
nos atacar. Ele nos surpreende dolorosamente. Não é correto diagnosticar os
efeitos psíquicos dessa pandemia como uma histeria. Ela é um terror. As reações
a esse terror é que podem assumir matizes variáveis, entre outros: histéricos,
obsessivos, perversos, paranoicos, psicóticos. Em uma situação dessas, cada
pessoa vai escarafunchar em seus sintomas de base e os expressa. O histérico
pode dramatizar excessivamente esse momento, ou fazer o contrário, ficar
indiferente (La belle indifférence). O obsessivo encontrará justificativa para
suas manias de limpeza, de distância, de rituais, ou pode hipertrofiar a
arrogância do 'comigo ninguém pode', do 'eu sou imbatível'. O perverso terá
dificuldade em disfarçar seu prazer sádico. O paranoico consolidará suas
teorias persecutórias. O psicótico se verá tomado de sentimentos
desagregadores. Em ocasiões desestabilizadoras, como dito, a pessoa recua e
hipertrofia seus sintomas mais habituais. É um mau tratamento do terror. O que
podemos almejar? Um duplo movimento: de um lado, no que é passível de
compreensão, ganhar terreno sobre o terror invasivo transformando-o em um medo
racional e objetivo. É o trabalho que médicos e profissionais de saúde estão
fazendo. Que ninguém pense que do terror virá uma grande alegria. Bobagem. Se
vier o medo, já teremos um caminho mais trilhável. Por outro lado, uma vez que
o incompleto e a surpresa não vão desaparecer, é de se esperar um aumento da solidariedade
humana, no momento em que um vírus desmascara nossa fragilidade constitutiva
comum. O 'eu preciso de você' é universal e não local. O que pode nos
preocupar? Que esse momento de confiança no laço social seja abalado pelo
desprezo de uma civilização que nos maltrata com suas respostas ruins, no
limite, com a possibilidade da fome e da morte. Aí, se isso ocorrer, o terror
se consolidará. Artigo Que
terror! - não temos ideia de como, quando e aonde ele vai nos atacar (HSM, maio 2020), do do médico psiquiatra e
psicanalista Jorge Forbes. Veja mais aqui.
OUTROS DITOS
Eu gosto de
acordar de manhã e pensar: ‘Quem eu quero ser hoje?’... Acho que só uma mulher
entende o corpo de outra mulher... A ideia do que é uma feminista mudou tanto
que precisa haver uma nova palavra para isso...
Pensamento da
escritora e designer de moda inglesa, Trinny Woodall.
A ASTROFÍSICA
DE JO DUNKLEY
[...] Cem
anos atrás, se você fosse uma astrônoma, não usaria telescópios porque era
considerado muito físico e talvez você se sujasse... [...] Eu não tinha
a mínima ideia sobre astronomia, só achava que era uma maneira divertida de
resolver problemas, e aí, na universidade, comecei a perceber o quão estranha e
mágica a astrofísica podia ser... [...] Descobrir que algo estava errado
e que precisávamos encontrar uma nova teoria... é como a emoção máxima.
[...] Então, continuei, mas não tinha o grande sonho de ser astrônomo, nem
mesmo professor. Não achei que acabaria no meio acadêmico. [...] Conhecemos
muito bem o nosso próprio sistema solar, mas quando pensamos em todas essas
estrelas com seus próprios planetas e em como eles podem ser... Alguns serão
rochosos, alguns serão bolas de gás, alguns poderão ser habitáveis.
Provavelmente, se você perguntasse à maioria dos astrônomos, a maioria deles
pensaria que alguns desses planetas terão a chance de abrigar vida. [...].
Trechos da
entrevista concedida ao The Saturday Paper (2020), pela professora e astrofísica
britânica Jo Dunkley (Joanna Dunkley), que investiga as origens do
universo aplicando radiação cósmica de fundo em micro-ondas e utilizando o Atacama
Cosmology Telescope, o Simons Observatory e o Large Synoptic Survey Telescope
(LSST).
EDUCAÇÃO
PSÍQUICA MENTAL
A transformação
é lenta, é dureza, é trabalho. Só você pode fazer... O que chamamos vida talvez
seja uma coisa muito mais caótica do que gostaríamos. É uma sucessão
contingencial de encontros, desencontros, eventos, erros e acertos; a eterna
batalha entre o caos e a ordem. Buscamos ordenações, e isso é muito importante,
mesmo que sejam ficcionais. O simbólico não é nem verdadeiro nem falso, mas uma
ferramenta de ancoragem, de ordenação... A lógica do ideal é sempre estar longe
do eu, mostrar que aquilo que você tem não dá a completude imaginada, sempre é
sofrimento, é incompletude. O que te move é a cenourinha na frente do burrinho.
Cadê a totalidade? Você não conseguiu aquilo que idealizou. É preciso mais um
ano para reprojetar e ter gás para continuar o movimento...
Pensamento da psicóloga
psicanalista, professora e escritora Maria Homem (Maria Lucia Stacchini
Ferreira Homem), autora do livro No limiar do silêncio e da letra (Boitempo,
2012) e coautora dos livros Coisa de menina? (Papirus, 2019) e Lupa
da alma (Todavia, 2020).
CRÔNICA DE AMOR
POR ELA:
Quando ela é
mar rompendo meus limites, sou mergulho voluntário pra me afogar nela.






