TRÍPTICO DQP – Veneno Bento... – Inspirado ao som do recém-lançado álbum
homônimo (Projeto Mucambo/CO.MO, 2022), de Armando Lôbo. - Nenhuma pegada e a rodagem sou eu na pisada de quem se perdeu pelas
paragens do Catimbau dum sonho de Samico e não sei onde mais as curvas dos
ventos. É só a poeira no vestido da mulher com seu manto vermelho, e se eu não
sei quem é, segue ao meu lado e meus passos por onde houver caminho. Não sei se
a Fera do Sol na seca da minha cabeça de voo matagreste pro litoral, e é para
lá talvez o galope porque foi um sonho de Luiza na miragem de Marcela que dançava
branca com Isaac no que restou de açude ali e acolá. Ouço o poeta aboiar lá
longe para animar o gibão do fantasma vaqueiro que comigo perseguia o regaço no
chão batido, como se o lengotengo fosse Romero altivo no que foi Raimundo de Lua&Barbalho
e o lamento das horas, porque apagaram as lendas que as nuvens choraram noutro
lugar. É só o abismo no dedilhado das violas e se disparo veloz é a voz de
Surama que carpe incelenças porque vou subir até satori, onde Sue solfeja com se
fosse um coral de fêmeas. Levo aboiado no peito e a disparada segura para
driblar tocaias & hybris, morena ou cabocla, a salvação na alquimia da
zabumba. Preciso já a garganta seca, se não há veneno bento não há vida, fica
tudo incolor até que o diabo apareça no fundo da garrafa com episódios da vida
de Block e sirva de unguento para salvar
a noite de todos os dias e as coisas tais como são. O gole de nenhum castigo ou
recompensa, à custa do que sou, sem engano ou tédio, ouvindo Luís Jardim: O que há de bom em nós é herança da criança que
fomos. E as cores são muitas na
festa do amanhecer.
Todo ápice cambaleia... – Inspirado no livro homônimo e inédito
de Vital Corrêa de Araújo. - A beira
do abismo é redonda e a poesia em queda livre no que não sabia de Heisenberg: O Universo não é apenas mais estranho do que
pensamos, é mais estranho do que podemos pensar. A eternidade é inútil, o infinito é pequeno, quem não
desmoronou, quem não soterrado pelas circunstâncias imprevistas. Quando eu vi a
equação de Torricelli era a minha
maçã de Newton e eu só queria o pomo
da imortalidade de Idun, ledo engano. Nem adiantou ter feito o décimo primeiro
trabalho de Hércules, as maçãs
douradas do Jardim das Hespérides foram escondidas por Afrodite porque sou Sísifo e fadado à queda de Camus. Não sabia que a banana era a musa paradisíaca de Lineu, tudo porque desci ao inferno de Rimbaud como se fosse Galileu no alto da Torre de Pisa.
Quanto equívoco e era eu a árvore envenenada de Blake, sonhando com as da Ilha de Avalon onde foi forjada
Excalibur. Para quem perdido, só restava a estrofe final da Felicidade do poeta Nobel italiano V.
Aleixandre (1898-1984): Canto o céu feliz, o azul que se desponta, / canto
a felicidade de amar doces criaturas, / De amar o que nasce sobre as pedras
limpas, / agua, flor, folha, sede, lâmina, rio ou vento, / amorosa presença de
um dia que sei existe. Precisava desse
dia, acaso existisse e talvez o que não sabia, porque me perdi por quantos parágrafos e tantos se opuseram
ao que fiz ou deixei de fazer, feitos que nem lembro e imputam o que nada
elucida, ah, chutei as evidências centrípetas e os segredos suspensos nos
livros, aliás, pus tudo de lado para depois, era só do que me servia, a esperança
nos tendões do amanhã.
A salvação de Pítia... - Imagem: arte da artista visual
ucraniana Julia Bondar. - O que fiz
ou deixei de fazer? Mandei meu ego dar uma volta no quarteirão e fui trocar de
alma. Sim. A primeira que encontrei foi a dela: a camponesa consagrada pitonisa
de Apolo na dança das chamas e eu mais que dionisíaco como se buscasse a árvore
Bo entre o nascimento e a morte. Era uma jovem delgada que aspirava um fumo
aromático das folhas de louro e da farinha de cevada queimada num altar jamais
visto e me fez passar pelo oikis até o adyton que ficava no subsolo, para se agachar na frente de um túmulo
no que se podia saber da fonte de Cassotis. Depois do ritual explicou-me que
tudo foi feito para oficiar como se eu fosse um deus insular. Logo se
entusiasmou só porque fui sorteado pela promancia e consagrou a mim a sua
virgindade sob o império de Piton. Era bom para quem errou demais da
conta e me serviu purificada depois dos
ritos preparatórios na fonte de Castália que brotou ao pé das Fedríades. Nem deu
para piscar o olho e ela logo se arranchou nua com seu sexo no meu a dançar com
tremores e convulsões agitadas, enquanto no êxtase dos lábios frases desconexas
aravam meu coração e aliviavam o jugo da fatalidade, e temperavam de piedade o
frio rigor das velhas leis e ensinavam a não desesperar. Depois do gozo
extraordinário, ela me deu o talismã de ônfalo – a pedra sagrada encerrada em
uma rede fita de lã branca, o umbigo do mundo. Fiquei maravilhado e lá para as
tantas, já saciada de mim, disse-me Augustina Bessa-Luís: Só se
pode sentir a evidência das coisas até um certo ponto: além disso, ou nos
rebaixamos ou nos aproximamos do sentimento superior que nos liberta. De fato,
o verdadeiro estado de liberdade é o de ultrapassar a imaginação. Era a cantiga da nova hora e o universo dentro de mim. E lá
fui eu além do tempespaço sem ter que me valer da angústia do amanhã. Até mais
ver.
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