Ao som dos álbuns Olho
D'água (1979), Revivência (1983), Rio Acima (1986), Ihu -
Todos Os Sons (1996), 2 Ihu Kewere: Rezar (1997), Neuneneu
Humanity - Fragments Of Indigenous Brazil (2006) e Fala de Bicho, Fala de Gente (2014), da compositora, cantora e pesquisadora Marlui
Miranda. Veja mais aqui e aqui.
TROPEÇANDO NO OBELISCO
DERRUÍDO (Notas sobre a solidão...) – Apesar de tudo havia só
os destroços do quintal no futuro abatido pelo novo efêmero presente. E tinha
pressa para voar além do espaço que me rodeava, do tempo que vivia para me
salvar da calamidade desatinada e das funduras subterrâneas donde emergiam dementadores
insones. Reduzido à mudez resistia: nunca estive em cima ou qualquer lado do
muro. Havia perdido o travesseiro do seio materno e não tinha para quem ligar porque
o dia era o meio da noite e estava na linha de frente pronto para morrer. Lamentava
Muriel Barbery: Pensei,
tenha pena dos pobres de espírito que não conhecem o encanto nem a beleza da
linguagem... Nas trincheiras quantos mortos e a crise caducou,
mas já se renovava escondida no estalo da clâmide fabricante dos interesses de
hieráticos negociantes: o quão penoso sofrer zis males por tortuosos quinhentos
tombos. Encarava o monólogo dos meus fantasmas: a quarta parede caiu reduzindo
às cinzas rabiscos misteriosos que jamais decifrei e as outras três em ruinas, o
que é que poderia fazer bisonhamente envergonhado com o grotesco letal. Ali
estava Joyce Carol Oates: O pior, entregar-se em troca de amor insuficiente... O
sangue era o vinho nos escritos do muro em que porcos-espinhos armavam ciladas
nas luzes do corredor clareando a cratera na Sibéria, a rachadura do Quênia, as
erosões costeiras, voçorocas - ninguém seria muleta e quase misantropo aos
tropeços remendava o que sobrou da queda, a ferrugem pra todo lado e Vico
mostrava a decadência e o caótico. Marionetes inquietas olhavam pro lugar errado
e a ironia de Dorothy Sayers: Os fatos são como vacas. Se você olhar na cara deles
por tempo suficiente, eles geralmente fogem... Háháhá!
Muito barulho aterrorizante pelos labirintos circulares inescapáveis: o
despertar e o velório, para onde adicções e o que durou das inquietações
frustrantes – era como quem ganhava o mundo a se perdia de si mesmo. Quase sou
levado pelo alvoroço de festa das baratas tontas com as ofertas em liquidação –
liquidado já estava nas teias das armadilhas inextricáveis: qual azimute e o vazio
gritante, deliravam os desejos pelo lugar onde as coisas da felicidade estavam
e não seria nenhum. Aprendia com os adversários perdidos entre a prescindência
e a convulsão, dilemas irredutíveis e o coisificado com os efeitos da
demolição: o que enganava e o enganado a cada milionésimo de segundo. O carrossel
da vida em alta tensão e entre extremos: o desembesto e a polícia, a razão e a
loucura, a obsolescência e os descartados, o espetáculo da confusão e as
litanias vinte e quatro horas ininterruptas, quem brigava com quem: dez mil
beijos e um milhão de tiros, a arte esmagada pela bomba que explodiu, o sonho estilhaçado
que julguei só meu e era de todos: era só a guerra e já anoitecia no dia
perdido. Até mais ver.
UM POEMA
Imagem: Acervo ArtLAM.
A NOTÍCIA QUE ELA NÃO
DÁ A ELE (TODO MUNDO ESTÁ NOS MATANDO) – O atirador caminha \ pelo
estacionamento, \ casualmente, como se estivesse pegando \ Kool-Aid e pão. O
atirador \ caminha casualmente como seu colega de trabalho \ que leva o almoço
para o parque \ e aproveita o sol nos ombros \ e o café branco com leite. \ O
atirador se move e se move \ e se move como se não fosse um estranho \ , não
nesta terra, ele se move \ como se não fosse dono de seu corpo, \ mas ele é
dono da terra em que seu corpo \ anda, ele não é sangue e músculo, \ mas ele é
uma ideia, uma ideia sobre o seu \ sangue e músculos e o meu corpo, \ o
pistoleiro deve ter alguém \ que o ame, que \ alguns dias tire a arma dele e
chore, \ ele diz, Branco não atira branco \ no outro pistoleiro curvado \ perto
do carro, segurando um revólver \ tão casualmente que ele o guarda casualmente \
no porta-luvas, por \ segurança. O atirador não atira \ no atirador. Os sem
armas são \ baleados casualmente— \ tênis brancos \ no estacionamento, tênis
brancos \ de mulher...\ ela calça antes de ir \ buscar Kool-Aid e pão e anda \ casualmente
com seus tênis brancos, até que \ o branco caia sobre ela, um \ choque branco e
quente de branco, tão casualmente vem.
Poema da premiada
escritora estadunidense Ada Limón,
autora de livros como The Carrying e Bright Dead Things.
O MENINO BIZARRO &
AS MOSCAS - [...] Nós o chamávamos de Cantinflas porque o nome dele era
Mário Escuro. Mas não havia nada de cômico nisso, nem era amigável. Ele era um assassino de
aluguel do bairro, um dos piores que existem, Por seis latas de cerveja ele
trazia a cabeça de quem você quisesse, e por algum dinheiro extra ele mandava
para alguém. Avançar [...]. Trechos extraídos da obra Chico Bizarro y las
moscas (Calla Canalla, 2000), da escritora paraguaia Mónica Bustos, que é autora do poema Correntes
Ininterruptas: medo de nunca ser domesticado fortalezas me
acorrentaram o \ único lugar onde posso ir agora é uma loucura já faz mais de
20 anos fazendo esse tempo \ trancado em minha mente corpo a cela no mesmo
lugar onde caí pela primeira vez.. \ aos 17 eu dei minha lealdade minha \ amo
minhas lágrimas, minha alma, meu sangue em troca, \ ele me deu vergonha, dor,
vício e dor, \ a única coisa que ele deu aos nossos filhos \ foi seu
sobrenome... posso não ter estabilidade ou mesmo a capacidade de ficar longe
das coisas \ que estão me matando, mas eu não me curvarei a ninguém, \ exceto
ao pai e seu filho \ quebrando essas correntes, pensei que NUNCA SERIA FEITO...
É também autora das obras León Muerto (2003),
Complejo de Bustos (2004), El club de los que nunca duermen (2012)
e Novela B. (2013).
O MUNDO DO AVESSO
- [...] eu sou um sistema cibernético individuado, você também, assim como o
computador no qual eu escrevo [...]. Trecho extraído da obra O mundo do avesso: Verdade e
política na era digital (Ubu,
2022), da filósofa Letícia
Cesarino,
que em entrevista
concedida à jornalista Liz Nóbrega, no Desinformante (Dez, 2022) expressou: A
ideia é propor uma perspectiva alternativa para olhar o papel da tecnologia não
só nos processos políticos, nos processos de produção de verdade em geral, no
qual se inclui também os processos políticos, mas através de paradigmas que
observam esses fenômenos em sua causalidade mais sistêmica e estrutural. Essa
proposta não trabalha com essa dicotomia, que está mais no senso comum, ou
seja, ou a tecnologia é um canal neutro e a fonte dos problemas é uma raiz
social, política, histórica, mas tampouco ver a tecnologia como causando, por
exemplo, a ascensão da extrema-direita de forma unilateral, como algumas
interpretações, por exemplo, do evento da Cambridge Analytica, como se aqueles
que manipulam os algoritmos tivessem um controle total sobre o usuário que está
imerso naqueles ambientes. Então a ideia é trazer realmente uma perspectiva
tecnopolítica, olhar a política na tecnologia também, ou seja, existem vieses
técnicos embutidos no design dessas tecnologias, dessas arquiteturas
algorítmicas, que nos ajudam a entender porque o fluxo do processo
sociopolítico está indo numa certa direção e não em outra, ou seja, é um tipo
de causalidade que olha mais para a questão das probabilidades, das abordagens
e causalidades indiretas, aquelas causalidades circulares também que são
bastante típicas das tecnologias cibernéticas. Diferente de outras
infraestruturas técnicas, os agentes cibernéticos são máquinas que tomam
decisões, e essas decisões interferem muitas vezes de forma subliminar, oculta,
no direcionamento do comportamento humano também. Ou seja, a gente propõe, de
certa forma, abrir a caixa preta da tecnologia para tentar inferir como ela
influencia no comportamento social e humano. [...].
ATIVISMO AMBIENTAL - Quero causar um
impacto da maior maneira possível. Antes que percebêssemos, éramos milhares de
pessoas nas ruas todas as semanas, em todos os noticiários, reivindicando a
agenda política e forçando os nossos líderes a ouvir e a intervir... Comecei o meu ativismo climático muito localmente,
tentando mudar a política belga. Mas muito em breve percebi que o nosso sistema político não foi moldado
para ser capaz de fazer isso. Eu própria estou a lutar contra a política belga com tudo o que posso, mas ela é
irresponsável, infantil, ignorante e não enfrenta de forma alguma a crise
climática de uma forma séria. Estamos a trabalhar em projetos como o acordo
comercial UE-Mercosul, as metas climáticas da UE, fazer com que os meios de
comunicação social registem os orçamentos de carbono… Mas em todos estes
fatores, a Bélgica está completamente atrasada. Quem tem consciência da
urgência da situação não conseguiria ser otimista. Corremos em direcção a ondas de calor, secas,
fome, milhões de refugiados climáticos, países habitáveis… e ninguém se
apercebe. Eu tenho esperança. Acredito que ainda podemos reverter isso. Temos muito pouco tempo para fazer isso. E é por isso que precisamos que todos se rebelem e
avancem, para literalmente lutarem pelo nosso futuro. Pensamento da estudante e ativista belga Anuna De
Wever, uma uma das principais figuras da Fridays for
Future.
RECIFE EM DEZEMBRO, CÉSAR LEAL
Ao morno céu de dezembro \ a vida passa
flotando \ e o sol se oferta ao Recife \ e às dunas da praia atlântica. \ O
calor inventa nuvens \ de alaranjados suores \ sobre a fadiga às janelas \ e
dorme nos escritórios. \ Há luzes nas avenidas, \ nas praças, nos sky sings \
doando seu triste às cores \ que há no ritmo da tarde. \ Telhados de tantos
séculos, \ céu veloz sobre a cidade, \ todo o Recife incendiado \ entre as
chamas do Natal. \ Velhas e tantas igrejas \ tantas pontes inventadas \ sobre
as pontes, velozmente \ passa a vida em disparada. \ Soberbo perfil de touro, \
burgo velho enfeudalado: \ - eis o Recife, um vasto império \ por mocambos
coroado.
Poema do poeta, jornalista, professor e
crítico literário Cesar Leal (1924-2013), autor de livros como Os
heróis (Bagaço, 2008), Alturas (1997), O arranha-céu e outros
poemas (1994) e Os cavaleiros de Júpiter (1968), entre outros. Veja
mais aqui, aqui, aqui e aqui.
UM OFERECIMENTO:
NNILUP CROCHETERIA
Veja mais aqui.
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SANTOS MELO LICITAÇÕES
Veja detalhes aqui.
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Tem mais:
Livros Infantis Brincarte
do Nitolino aqui.
Poemagens & outras versagens aqui.
Diário TTTTT aqui.
Cantarau
Tataritaritatá aqui.
Teatro Infantil: O
lobisomem Zonzo aqui.
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