domingo, outubro 09, 2022

SYLVIA PLATH, SANTIAGO KOVADLOFF, CARBONELL & POWER PAOLA

 

 Ao som do álbum Revelation (Sortie Automne, 2014), do trio Dreisam, formado pela flautista/saxofonista Nora Kamm, pelo pianista Camille Thouvenot e pelo baterista/percussionista Zaza Desiderio.

 

TRÍPTICO DQP: - Uma fábula do balaio oniricaleidoscópico... - Escapando aqui & ali & acolá, voo pelos mata-burros e mato sem cachorro, pelas paredes surdas ao desabafo do que odeio para me salvar. Tenho comigo os ecos hesitantes de Valery, relido O manual de falhas de Ignácio de Loyola Brandão, a perseguir d’O tempo de vidro de Samarone Lima n’O angu de sangue de Marcelino Freire. Um total de cenas descosidas & disparatadas, plasmadas dos sonhos de quem deu partida para uma chegada improvável, mais morto do que vivo e fazendo contas ainda com o ovo no cu da galinha. Tenho comigo as rainhas da alma de Puschkin e me assustei com o truísmo dum tatu peba que me contou que o Boitatá se alimentava dos olhos dos mortos. No frigir dos ovos, roubaram mesmo meu silêncio. E Wittgenstein me dizia: Acerca daquilo que não se pode falar deve-se silenciar. Ademais, na minha cabeça repetia Santiago Kovadloff: O que significa ouvir o silêncio se não ouvir o que não pode ser dito? É por isso que se pode dizer que o ruído triunfa, mais do que onde se ouve, onde não se deixa ouvir. Ora, ora. Tinha mais: dentro de mim muito mais que Sylvia Plath: Sou habitada por um grito. / Toda noite ele voa / à procura, com suas garras, de algo para amar. Com essa barulhada toda sigo abalado, confesso e vivo cantando e contando hestórias...

 


Pedra do Rodeador – Imagem do artista visual Mané Tatu. - Pratrasmente o Fecamepa é um despautério, maior esculhambação! Quem diria que havia gente assim escondida atrás dos volantes ou birôs, e se achando os melhores e de bem. Ah, não. Fugi disso. Ontem mesmo fui pro lugar do encanto e lá ouvi vozes e tons invisíveis. Cruzei sem-terras com fitas azuis e verdes às mãos dos que eram braçais da escravidão e que formavam o ajuntamento da sesmaria do sítio, feito prosélitos do Bom Jesus da Lapa, os Procuradores de Jesuisis. No semblante aguardavam juntamente com sabidos e ensinados o retorno do Sebastião de Alcácer Quibir para o reino da felicidade. E toda parentela seguia atraída pela riqueza e negócios para comandar o mundo e corrigir as coisas erradas do Ribeira, dos Bezerros, dos cariris velhos, dali mesmo do futuro próspero arraial: Reino do Paraíso Terreal. E isso enquanto os conversos no oratório com santos louvores para devoção do terço e da santa pedra. Eu que tinha vindo do outro lado distante, fugindo de estranhas e complicadas tramas doutros de face desfeita e voz de vento que estavam prontos para aniquilar o arraial sebástico com as fogueiras do Bonito e nem sabia, fiquei pasmo e à toa. Ah, não, eu já me escondia deles porque sabia que por trás dos disfarces grotescas criaturas com um grande elenco de trapalhadas inconvenientes com o raro talento de desmanchar reviravoltas e a enorme capacidade de desancar toda sorte de coisas com suas eutanásias dolosas na cartada final, os bem-aventurados de Joel Silveira: o mal de Deus é que ele exagera muito quando quer agradar a alguém... Logo os que se achavam cara-pálidas amargos e odiados, e do outro lado, santa ingenuidade. Quando se trata de coisa dessa natureza, nunca se sabe. O tempo é esse de hoje, mas como se fosse outro dantanho. Taí onde estou sempre: no meio de trapaceiros e flagelados.

 


Garimpagem da fronteira... – Imagem da cartunista colombiana Power Paola. - Sigo adiante, o caótico e o fragmentário dos palimpsestos, como se me comovesse demais depois do terceiro gole. É que o que urdi me levou ao desesperador erro de cálculo e me senti como um cacho de pitomba condenado ao ostracismo. Quantas versões para minha morte: desapareci tragado por outra dimensão verbivocovisual e lá estava lindamente Power Paola: O que eu quero da vida? Em todas as histórias há apenas histórias... Levantou-me como se eu não tivesse deus porque estava estendido no chão, fraturas expostas, sutura alguma, as minhas melancolias e as mercadorias felizes. Fez-se parelha e foi muito bom tê-la caminhando ao meu lado. Caiu a ficha de tudo que vivi - aprendi com o mundo e o dia-a-dia para achar o ponto de equilíbrio de Sivuca: Não ter nada e, ainda por cima, nem dever a ninguém. E me senti com o teor prismático da experiência: sou eu todo retorcido. Vambora, até mais ver.

 


A função do professor não é ditar pensamento, mas ensinar a pensar...

Pensamento do jornalista e pedagogo espanhol Jaume Carbonell. Veja mais Educação & Livroterapia aqui & aqui.

 



LAUREN ELKIN, AKSINIA MIHAYLOVA, VANESSA NAKATE & BRENDA BAZANTE

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