sexta-feira, outubro 11, 2013

NICOLA GRIFFITH, BERTA LUCÍA ESTRADA, RITA RUDNER, DEAVERE SMITH & FILHA DA DOR

 


O DIA DE LUTO: QUEM MANDOU A CARTA-BOMBA... – à memória de Lyda Monteiro da Silva (1920-1980) – Nascida em Niterói, aquela menina jamais poderia prever que a alegria de adolescente a levaria a uma tragédia horrorosa. Com apenas 16 anos de idade, ingressou como funcionária da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Seguindo carreira ocupou depois o cargo de Diretora do Conselho. Era a mais antiga funcionária da OAB, chegando a atuar como secretária do então presidente do Conselho Federal da instituição. No início da tarde daquela quarta-feira fatídica de 27 de agosto, durante o expediente abriu uma carta e lá estava ela vítima do atentado promovido pela Operação Cristal, de extremistas do Centro de Informação do Exército no atentado à OAB, no Rio de Janeiro, durante a ditadura militar brasileira. Os envolvidos eram os mesmos do atentado do Riocentro, durante as comemorações do Dia do Trabalho, no ano seguinte. Com o braço decepado e outras mutilações foi levada às pressas ao hospital, não resistiu. Ações semelhantes ocorreram na Câmara Municipal do Rio e na sede do jornal Tribuna da Luta Operária, do Partido Comunista do Brasil. Uma outra carta-bomba foi desativada na Associação Brasileira de Imprensa, pelo presidente da instituição, Barbosa Lima Sobrinho. Sabia-se: o que se queria era interromper o processo de abertura no país rumo a democracia. O atentado terrorista teve por consequência a determinação deste dia como o Dia Nacional de Luto dos Advogados. Mais de 6 mil pessoas no sepultamento do Cemitério de São João Batista, no Rio. O atentado continua encoberto pelo manto da impunidade. E ela mais uma no rol das Filhas da Dor. Veja mais aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Esteja mais do que pronto. Esteja presente em sua disciplina. Lembre-se do seu presente. Seja grato pelo seu presente e trate-o como um presente. Valorize-o, cuide-o e transmita-o. Use seu tempo para se banhar nesse presente. Mova sua mão pela tela. Vá a museus. Transforme isso em uma obsessão... O que você é irá aparecer, no final das contas. Comece agora, todos os dias, a tornar-se, em suas ações, suas ações regulares, o que você gostaria de se tornar no esquema maior das coisas. Passamos muito tempo brincando sobre as palavras, quando as verdadeiras conversas abertas podem muito bem ser nossas ações. Eu me preocupo com nossa retórica. Pensamento da dramaturga e atriz estadunidense Anna Deavere Smith.

 

ALGUÉM FALOU: Ninguém está realmente feliz com o que está em sua cabeça. Pessoas com cabelos lisos querem cacheados, pessoas com cabelos cacheados querem lisos e pessoas carecas querem que todos sejam cegos. Bem, a velha teoria era “casar com um homem mais velho porque eles são mais maduros”. Mas a nova teoria é que “os homens não amadurecem – casam com uma jovem”. Pensamento da comediantescritora estadunidense Rita Rudner. Veja mais aqui.

 

HILDA – [...] Ela gostava de passar o tempo nos limites das coisas - no limite da multidão, no limite da piscina, no limite do bosque - onde todos devem passar, mas nenhum pertence. [...] Sempre saiba o que eles querem ouvir - não apenas o que todos sabiam que queriam ouvir, mas o que eles nem ousavam nomear para si mesmos. Mostre-lhes o padrão. Dê-lhes permissão para fazer o que quiserem o tempo todo. [...] Você é como um pedaço afiado e brilhante de uma estrela. Muito nítido, muito brilhante, às vezes, para o seu próprio bem [...] Ela os conhecia pelas capas grossas de tecido, pelos cabelos e barbas caídos e pelas vozes anglicanas: palavras tamborilando como maçãs derramadas sobre tábuas de madeira, redondas, ricas, vibrantes. Como as palavras de seu pai, de sua mãe e de sua irmã. Totalmente diferente do britânico rápido como uma lontra de Onnen ou do brilho líquido escuro do irlandês. Hild falou cada um com cada um. Maçãs com maçãs, lontra com lontra, brilho após brilho, embora apenas quando a mãe não estivesse presente. [...]. Trechos extraídos da obra Hild (Picador, 2013), da escritora e professora inglesa Nicola Griffith, autora da frase: Escrever um romance bonito e equilibrado, onde enredo, personagem e cenário e ritmo e estrutura narrativa e imagens e, acima de tudo, a história funcionar em harmonia e proporção verdadeira é difícil.

 

A SENHORA MAL NEGA A LÂMPADA QUE ILUMINA A NOITE - Crânios da NN \ pendurados no manto da senhora lilás \ sombras da guerra \ Sombras dos desaparecidos \ Ela não ouve os gritos das mães vira as costas para eles os mergulha no desespero \ -Na escuridão eterna - nega-los amanhã \ Eternas mães em caminhos sem luz a senhora malva \ nega-lhes a lanterna que ilumina a noite \ As bacias de seus olhos não choram mais eles deixaram suas órbitas no último crepúsculo \ que lhes mostrou os corpos desmembrados dos filhos perdidos \ da guerra desaparecido nas profundezas da história incalculável \ O furacão do esquecimento afogou as brasas da memória em cisternas de cianeto \ disfarçados como queimadores de incenso sacrossantos \ cheiro camuflado de amores-perfeitos e flores de parede \ O cheiro da morte invadiu a paisagem \ fraturou ele desintegrou-o em milhões de partículas \ deixou para trás o cheiro de cânfora madeira queimada \ Pira \ Fogo \ Chamas acariciam o céu. Poema da escritora, drmaturga e critica literaária e de arte colombiana, Berta Lucía Estrada.

 


O CABOCLO, O PADRE E O ESTUDANTE

Um estudante e um padre viajavam pelo sertão, tendo como bagageiro um caboclo. Deram-lhe numa casa um pequeno queijo de cabra. Não sabendo como dividi-lo, mesmo porque chegaria um pequeno pedaço para cada um, o padre resolveu que todos dormissem e o queijo seria daquele que tivesse, durante a noite, o sonho mais bonito, pensando engabelar todos com os seus recursos oratórios. À noite, o caboclo acordou, foi ao queijo e comeu-o.

Pela manhã, os três sentaram à mesa para tomar café e da qual teve de contar o seu sonho. O frade disse ter sonhado com a escada de Jacob e descreveu-a brilhantemente. Por ela, ele subia triunfalmente para o céu. O estudante, então, narrou que sonhara já dentro do céu à espera do padre que subia. O caboclo sorriu e falou:

- Eu sonhei que via seu padre subindo a escada e seu doutor lá dentro do céu, rodeado de amigos. Eu ficava na terra e gritava: - Seu doutor, seu padre, o queijo! Vosmicês esqueceram o queijo. Então vosmicês respondiam de longe, do céu: - Come o queijo, caboclo! Come o queijo, caboclo! Nós estamos no céu, não queremos queijo. O sonho foi tão forte que eu pensei que era verdade, levantei-me, enquanto vosmicês dormiam, e comi o queijo.

LUIS DA CÂMARA CASCUDO (1898-1986) – historiador, antropólogo, advogado, professor e jornalista potiguar, dedicado ao estudo da cultura brasileira e pesquisador das manifestações culturais brasileiras. É autor do Dicionário do Folclore Brasileiro (1952), Geografia do Brasil Holandês (1956) e das memórias O tempo e eu (1971), entre outras importantes obras.

Fonte:
CASCUDO, Luis da Câmara. Contos tradicionais do Brasil. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/Edusp, 1988.

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