A arte do pintor canadense Paul
Peel (1860-1892).
UNA DOS AMBULANTES DE DEUS - A
vida: o Una, rebotalho de águas mansas. Alguns dias ficava calmo, sereno,
levado na correnteza quase sem pressa. Ninguém precisava nem se tocar de sua
presença, nem quando amanhecia, nem de tarde, nem de noite, nem na madrugada.
Uma companhia invisível, só lembrada quando a carestia reinava e buscava-lhe
para saciar a fome e a sede. Noutros, quando dava a invernada abundante, era a
sua irrefreável fúria inundando segredos e adjacências citadinas, lavando tudo:
as paixões, as misérias e a fé. Marcando presença indomável. De repente, uma
nesguinha de nada, menor que o menor dos brejos, menor que as valetas miúdas,
fiapinho tênue se valendo do encontro dos pedregulhos para chacota dos incólumes
que não se atreviam desafiá-lo, coitado, que riem de seu assoreamento até
findar-lhe insepulto. Nada não, passa. Ainda é a essência de algumas
experiências exclusivas, inuptas, verdadeiramente ímpares, na oportunidade de
remontar-se memórias, ver-se peixe, ou pedra funda, ou alga, ou redemoinho, ou
carreirão pro mar. Fizera-se pelo escoamento dos dias e noites nas corredeiras,
levando pela correnteza até onde pudesse dar, desconhecendo se um caudaloso
Amazonas, um movimentado Reno, um sinistro Mississipi, um avexado Volga, só
testemunhando a vida, alegrias e revertérios, despropósitos e pusilanimidades,
afogamentos e navegações alheias. De certeza, não seria nenhum Tâmisa, nem
Sena, nem Tejo, era a minha sina pelas turbulências menores, nos redemoinhos perto
do areial, na sede da nascente, na distância do leito, na entrega da foz. Lá,
todos os fantasmas de doidos, desvalidos e autóctones emergiam das entranhas
mais profundas para mostrar-se que a beleza maior escorria pelos cabelos de
Iemanjá, descia como estrelas cadentes por seus belos seios, deslizava por seu
ventre e alcançava o feliz idôneo que mergulhasse a coragem de viver no meio de
um o Nilo que testemunhara toda abastança e toda decadência. Era como se
pudesse ser um São Francisco descendo de São Bento, atravessando Catendes,
alagando Palmares com Águas Pretas pelos Barreiros até alcançar nas Várzeas o
Atlântico de seu chegar, carregando por séculos e milênios reminiscênias de
embarcações furtivas de origem francesa, holandesa, portuguesa; refugiando
negros quilombolas, assistindo índios caetés e carregando a verdadeira história
dos fatos nas mensagens de suicidas com cartas de amor no interior de garrafas;
nos acaris, nos caritos, nas cundundas; no jangadeiro que saía de uma margem à
outra sem a menor pressa de ver que o tempo passou e já ficou quase tarde para
viver; no voluntário que timbungasse com as nojeiras de antanho e se safasse
são e salvo, pronto e invulnerável; na lágrima dos que sofrem com as lâminas do
passado e não sabem do presente e muito menos enxergam futuro algum; na
manchete estampada num jornal velho que repisa o momento presente que não
consegue sair do mesmo lugar de sempre; no remorso mantido à custa de tanta
ignomínia; no fedor da nobreza brega que se arrasta energúmena; no urinol
repositário de todas as maledicências; nos adultérios consentidos, nas
bancarrotas escandalosas, nas reputações arranhadas, riscadas e borradas que
andam com o pau da venta em pé de empáfias nas lufadas das infâmias e de
astuciosos ardis nas adiposidades de rapapés fingidos; na demência de ver que a
vida é outra coisa além deste marasmo que judia ao lado do chocante das
banalidades e trafegam nas catacumbas da honra; na ferrugem da coragem que se
expressa no legado pobretão; de herdeiros acéfalos e indigentes nos saques dos
famintos, das ticoqueiras, dos bóias-frias nômades, dos calungas, do
mané-gostoso, do nego-bom, dos cardumes, dos lixeiros, dos desejos não
correspondidos nos esgotos, nas fotos do lambe-lambe, nas molduras encardidas,
nas gavetas cabalísticas, nas jantes inexoráveis da erosão descabida e na
demência dos que não conseguem viver de solidariedade. Por mim, não posso
esquecer que sempre fora este o meu batismo e a minha mais vã crença de
voluntário ambulante de deus. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja
mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
DITOS & DESDITOS – [...] evocar uma lembrança episodicamente ―não importa o
quanto ela seja importante― não é como olhar uma fotografia num álbum. A
recordação é um processo criativo. Acredita-se que aquilo que a mente armazena
é apenas uma porção nuclear da memória. Ao ser recordada, essa porção nuclear é
então elaborada e reconstruída, com subtrações, adições, elaborações e
distorções [...]. Trecho extraído da
obra Em busca da memória:
o nascimento de uma nova ciência da mente (Companhia
das Letras, 2009), do neurocientista austríaco Eric Kandel. Veja mais aqui.
ENSAÍSMO - […] ainda que não fosse
a verdade, não teria menos solidez que ela.
[...] procura compreender-se de outra
forma; com inclinação para tudo o que o multiplique interiormente [...] Mais tarde, [...] isso se transformou em Ulrich numa idéia que já não ligou à incerta
palavra hipótese, mas, por determinadas razões, ao conceito singular de ensaio.
Mais ou menos como um ensaio examina um assunto de muitos lados em seus vários
capítulos, sem o analisar inteiro [...] ele
acreditava ver e tratar corretamente o mundo e a própria vida. [...] Na natureza de Ulrich havia algo que agia de
modo distraído, paralisante e desarmante, contra toda a ordem lógica, contra a
vontade clara, contra os ordenados impulsos da ambição; também isso se ligava
ao nome que ele escolhera: ensaísmo [...] pois um ensaio não é a expressão secundária nem provisória de uma
convicção que em melhores condições poderá ser considerada verdade ou
reconhecida como erro [...] mas um
ensaio é a forma única, e irrevogável, que a vida interior de uma pessoa assume
num pensamento decisivo. [...] O
autor é mais modesto e menos solícito do que supõe o título. Não apenas estou
convencido de que aquilo que vou dizer é falso, como também o é aquilo que irão
dizer em contrário. Mesmo assim, é necessário começar a falar disso; a verdade,
num objeto como este, não está no centro, mas sim em torno, como um saco que, a
cada nova opinião que se enfia nele, muda de forma mas ganha em consistência.
[...] Não se trata de outra coisa a não
ser de um mal-entendido, uma confusão entre entendimento (Verstand) e alma. Não
é que tenham os muito entendimento e pouca alma, mas que tenhamos pouco entendimento
nas questões da alma, [...] não
agimos nem pensamos acerca do nosso eu. Nisso reside a essência de nossa
objetividade; ela relaciona as coisas entre si [...] A objetividade não funda, assim, nenhumaordem humana, mas sim objetiva
[...]. Trechos extraídos da obra O homem sem qualidades (Nova Fronteira, 2006),
do romancista e dramaturgo austríaco Robert
Musil (1880-1942). Veja mais aqui.
SONETO – Tenho na
alma um segredo e um mistério na vida: / um amor que nasceu, eterno, num
momento. / É sem remédio a dor; trago-a pois escondida, / e aquela que a causou
nem sabe o meu tormento. / Por ela hei de passar, sombra inapercebida, / sempre
a seu lado, mas num triste isolamento, / e chegarei ao fim da existência
esquecida / sem nada ousar pedir e sem um só lamento. / E ela, que entanto Deus
fez terna e complacente, / há de, por seu caminho, ir surda e indiferente / ao
murmúrio de amor que sempre a seguirá. / A um austero dever piedosamente presa,
/ ela dirá lendo estes versos, com certeza: / “Que mulher será esta?” e não
compreenderá. Poema do poeta e dramaturgo francês Félix Arvers (1806-1850).
A arte do pintor canadense Paul
Peel (1860-1892).
Gentamiga, estou azuadíssimo com o zoadeiro no meu pé do maluvido. A turma não pára de me azucrinar para trazer o resultado da Musa Tataritaritatá do ano passado.Vixe!
Primeiro, foi que eu achei de deixar a cargo do Papa Berto I da ICAS – Besta Fubana e do Duque de Jaraguá Carlito Lima, todo o certame.
Ocorre que, os dois embeiçadores contumazes daquela que matou o guarda, nem começando a reunião inaugural do concurso, tomaram uma de arrearem decilitrados trocando as pernas bicadinhos da silva e arengando com todo mundo porque defendem que não foram os cientistas nem ninguém além dos bêbados que ensinaram primeiro que a terra gira em torno do sol. Fodeu, Maria-preá. Deixei-los lá trocando as bolas.
Segundo, acontece que estou completamente arrependido de delegar poderes. Essa é uma prática que aqui no Brasil ninguém está acostumado ainda não. Culpa do nosso atraso secular, né?
Pois bem, achei de delegar poderes pra turma do Big Shit Bôbras.
Repare só a merda que deu e depois me diga se não é de se arrepender até o último pentelho do quiba. Vamos lá.
O chabu começou quando foi constatado que houve mais votantes que votos. Como é? Quando se conferiu direito, tinha mais voto que votante. Trocando em miúdos: simplesmente a conta não batia. Besteira, né? Nada!
A patrulha do Doro apresentou o resultado de que foram apurados 11 mil 966 votos e meio. E meio? Sim, porque o do Afredo Bocoió se conta pela metade.
Não confiando nesse resultado, instaurei uma comissão de sindicância para conferir tudo porque o negócio aqui é sério mesmo. Resultado: foram computados 37 mil 655 votos e votantes. Vixe! O triplo da contagem do Doro.
Foi aí que mandei tirar a prova dos nove. Resultado: apurou-se simplesmente 15 mil 263 votos. Nem um, nem outro. Coisa de louco.
Tirando o dito pelo não dito, nem valia eu querer mais nada. Mas, mesmo assim, fui verificar e para se ter uma suavezíssima idéia do rolo todo, só Padre Bidião votou sozinho por ele e por seus mais de 20 clones (menos um, aquele do caso Nardoni, lembra?).
Afora isso tinha de tudo: defunto que votou 10 vezes, apenado que surrupiou voto, político que corrompeu eleitor, neguinho que vendeu o voto, escrutinador adulterando resultado, juiz anulando tudo, uma baboseira geral.
Assim, também, não se salvando ninguém, cada um puxou a sardinha pro seu frasco, votando mais de uma vez e fazendo descaradamente boca-de-urna, propaganda enganosa e boataria braba, tudo em nome da preferida de cada um dos enjeitados.
Aí, meu, primando pela decência e lisura do projeto, afinal eleição é uma coisa que não dá para segurar a onda, resolvi tomar as rédeas e eu mesmo tentei desembrulhar essa paranoiada toda. Fiz o que devia ser feito, chamei tudo na grande, dei uns bregues, sentei porrada na tuia de votos e disse que quem mandava na mercadoria toda era eu e fim de papo.
Então, chamei uma bateria duma escola de samba dessas de uns 800 batedores de bombo e fechei a conta.
Pronto, tudo enretado e nos eixos, agora, em homenagem às nossas distintas mulheres, finalmente, o resultado da MUSA TATARITARITATÁ!!!
Em primeiríssimo lugar, Maurren Maggi, a nossa ourinada atleta com 2132 votos.
Em segundo lugar, empatadas:
a cantora, interprete e compositora Karyme Hass,
a poeta, ensaísta e professora Maria Esther Macial,
a atriz Marcya Harco,
e a cantora, poeta e compositora Dhara todas com 2.101 votos.
Em terceiro lugar, empataram também:
A atriz, jornalista e escritora Tammy Luciano,
a cantora, dançarina e atriz Syla Syeg,
a atriz, poeta e autora teatral Alê Cavagna,
a cantora e compositora Ruthe London,
e a cantora Irah Caldeira, cada uma com 2099 votos.
Em quarto lugar apareceram a poeta e escritora Suzana Mafra,
a poeta, escritora e advogada Mariza Lourenço,
a cantora, compositora e bailarina Tatiana Cobbett,
a poeta, atriz e cantora Clauky Saba,
a poeta, escritora e advogada Valeria Tarelho,
a artista plástica Ana Luisa Kaminski
e a cantora e compositora Jozi Lucka com todas elas tendo individualmente 2.001 votos.
Em quinto lugar aparecem a atriz, apresentadora e colunista Claudia Cozzella,
a cantora e compositora Maria Dapaz,
a cantora Rogeria Holtz,
a cantora e compositora Monique Kessous,
a cantora e compositora Di Mostacatto,
a cantora e compositora Drica Novo,
a fotografa Andreia Kris,
a cantora Silvili,
a poeta, pedagoga e produtora cultural Catarina Maul,
a poeta Greta Benitez,
a cantora e compositora Bee Scott,
a cantora e compositora Rosana Simpson,
e a atriz Maria Dvorek que obtiveram 2 mil votos cada uma delas.
Aqui a nossa homenagem a todas as mulheres maravilhosas aqui representadas!!!
E a partir de 02 de março participe da MUSA TATARITARITATÁ.
Veja
mais sobre:
De
segunda pra terça, Herbert de
Souza – Betinho, Carlos Byington, Hesíodo, William Etty, Jaques Morelenbaum, Luiz Nogueira, Meca
Moreno, &Armando Lemos aqui.
E mais:
Zé
Corninho, o pintudo mais gaiúdo do mundo aqui.
As
máximas do Sexus de Henry Miller aqui.
A
primavera de Ginsberg aqui.
A arte
musical de Irah Caldeira aqui.
O cordel
O assassino da honra, de Caetano Cosme da Silva aqui.
A
organização, a psicologia e o comportamento humano aqui.
Palestras: Psicologia, Direito & Educação aqui.
CRÔNICA
DE AMOR POR ELA
CANTARAU:
VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital Musical Tataritaritatá