Ao som dos álbuns Frost As Desired (Gridley, 2002), Girl Inventor (Gridley, 2012) e Christmas Harp (Goldenlane, 2016), da harpista, compositora, cantora e atriz estadunidense Erin Hill.
TRÍPTICO
DQP: - O pêndulo na roda do tempo... - O tempo passa e a cada passo o
passado se refaz vivo: sou imigrante na cidade dos desumanos. Exorbito de tudo porque
me refugiei no quarto escuro e era preciso que eu estivesse lá com paradeiro
perdido nas paredes vivas, revelando silêncios que vazavam por meus poros no
feixe das rotinas e mais vozerio difuso das visitas, os soluços e ressonâncias,
como se motejassem da minha ausência. E não foi sem aviso que Raduan Nassar me advertiu: Misturo coisas quando falo, não
desconheço esses desvios, são as palavras que me empurram, mas estou lúcido... Quantas vezes nem conto fiquei sozinho neste mundo pelas alturas,
insetos e degraus, na minha vida pródiga de quem perdeu colheitas e mananciais,
o que sou de incorrigível nas águas inflamáveis do tempo. Se tudo me mostra
almas mofadas apodrecidas entre ossuários e carcaças, errabundo a cada passo me
distancio cada vez mais da cidade e me permito ao menos romper a roda das
dimensões porque outros sábados virão...
Apesar
de doído, desesperança jamais... - Imagem:
arte da desenhista, gravadora e pintora Isa Pontual. - Os pássaros chilreiam no que fora manhã quase tarde e a terra girou cada
vez mais rápido no meu voo multívago pelo inverno quente, verão frio afora,
quase nem dá pra ver a escatológica derrocada. Não tive meu contento ainda mais
misericordioso sou pela confraria dos enjeitados e tendo que enfrentar a
escória da cloaca infecta dos olhos atrofiados - cenho e sobrolho dos filhos de Caim, verdadeiras estátuas
andantes, manequins de gelos móveis, sentimentos de gesso, o frio de ossos
sepulcrais de mármore do Paternon, a casca dos insensíveis, a carapaça anêmica
pros reveses no estigma da insônia, os que tanto querem e são secos no sono da
memória, enquanto tudo definha e se precipita e sou jogado no granito ao norte
da Guatemala. María Fernanda Ampuero me avisa: Voltar, todos sabem, é impossível. Depois dos abraços e das
lágrimas vem o verdadeiro reencontro, estar frente a frente com eles quando já
somos outros, enfrentá-los quando não sabemos quem são... Onde está agora aquele
sentimento para ter perdido a fé na humanidade, outra vez seria lá longe como
sempre quase invisível crueldade, mas que um dia pudesse maior que o desespero
de jamais alcançar. Nada comedido
sei a historia de cada um encomendando as horas...
A
lâmina da paixão... - Imagem:
arte da artista finlandesa Polina Kharlamova. - Saí de mim e fui dar uma volta, deambulante iterativo, pálin! Um cometa
rasgou a galáxia com a velocidade de superluminais: era noite de Onã e o trem
passou fumegante, a escuridão e o silêncio. De distante e misteriosa nuvem apareceu
a Lua da Loba que saiu da rota e vagava como uma luz intraglomerada pelo espaço
intergaláctico. Esfreguei as vistas e era ali a estrela Polaris como se fosse a
irmã do lado, que me parecia severa quando não áspera desde a minha mais tenra
idade, agora reaparecida como se tivesse sido ejetada pelo arroto gigantesco de
um buraco negro supermassivo. Não cruzei os braços, nem virei as costas, estava
surpreso, deveras. Ela havia chegado do inverno marciano pelas ondas
gravitacionais com um zumbido do fundo do universo, pois estava na constelação
de Ophiuchius e de lá pra cá viera trazendo às mãos uma opala marciana, um Cystisoma
- uma pulga-de-areia marítima, um cristal alaranjado kyawthuita do Mogok de
Mianmar, pianitas e outros cristais hexagonais vermelh0-escuros e outros
rosados. Queria me impressionar e conseguiu, não pela parafernália que mostrou,
mas por dizer que a neblina fantasmagórica são almas perdidas. Insistiu no
relato e concluiu: Maktub. Mais disse Henrietta Swan Leavitt: Uma vez que as variáveis estão provavelmente quase à
mesma distância da Terra, seus períodos estão aparentemente associados à
emissão real de luz, conforme determinado por sua massa, densidade e brilho da
superfície... Não entendi nada e me tomou de assalto ao expor o escaravelho no seu ventre nu. Era como
se invadisse por meus gânglios e interstícios para me levar flutuante para a
copa de uma árvore frondosa. Estava nua e convidativa, brincava com meu sexo
como se fosse uma estrela quark só para me dizer Cecilia Payne-Gaposchkin: Sua recompensa será a ampliação
do horizonte enquanto você sobe. E se você conseguir essa recompensa, você não
fará outro... O que dizia era como se raspasse a pele com a pedra esfolando a carne para sangrar com as nossas
diabruras versáteis. Estava dominado e traquinamos trocando o dia pela noite e
sucessivamente, ouvindo-a dizer que era Masha
Amini quando um fuselo voou e me ofertou as pétalas do prazer. Depois do
gozo ressuscitava Anna Laura Costa
para me dizer Alessando Manzoni: As palavras fazem um efeito na boca e outro nos ouvidos... E se desfez em minhas mãos para
se tornar a réplica da amada Indrani do viúvo Tapas Sandilya, a Alma de Kokoschka. Com as minhas mãos vazias queria só revê-la não mais uma vez apenas,
nada mais, e no calor da hora olhares recíprocos recitar o poema do Torquato Neto na música de Edu Lobo: Adeus, vou pra não voltar... Até mais ver.