Ao som da Sonata
for Viola & Piano (1919), da compositora e violista britânica Rebecca Clarke (1886-1979), inspirada no poema La nuit de Mai, do poeta francês Alfred
Musset (1810-1857), na interpretação da violista japonesa Nobuko Imai
e do pianista filipino Albert Tiu, no Yong Siew Toh Conservatory Concert
Hall em Cingapura, 2023. Veja mais abaixo.
Dareladas...
- A chuva lavou meus passos vida afora e o menino se fez esperança acesa para nunca
ter que voltar. A imagem do lugar de antes se esvaiu retorcida no apagão das
pegadas e o que havia de sereno seguiu firme pelos conflitos do que sou, jogando
sementes para reflorir umbrais, como se pudesse reinventar a cidade perdida. Refiz
ideias como fotomontagens: a prova não era um teste; um original na tradução
dos rabiscos esquecidos pelos traços. A caligrafia de riscos não se apagou por
inteiro: um esboço mais que vivo na paisagem das lembranças, que se alastravam
com as multidões de anjos-máquinas e os alardes de suas pisadas. Era órfão
deserdado na cena repetida dos ferros ferindo a pele, das engrenagens esmagando
músculos, de britadeiras respingando o sangue da dor repisada - era como se paz
desse as costas à guerra! Tudo se fizera pelos sórdidos becos, como se para lá
fosse o não e por ali o sim, quando aqui tudo desconexo pelos ditos e desditos
de narradores compulsivos pelas noites de Goeldi.
Era como se me perdesse pelas tão fantasiosas linhas de
contorno dos desenhos e identificasse o que separa e o que agrega. Era como se as
hachuras fossem construídas pelo que foi vivido e o a ser feito. E as
ilustrações do gestual nas gravuras reconstruíssem tudo a partir da paleta
monocromática. O que havia de melhor era a emersão das silhuetas com os meneios
de dança das ancas curvilíneas daquelas que são verdadeiras
obras-primas da criação. Foram elas, belas e sintomáticas, que atravessaram
comigo todas as labaredas das fogueiras dos dias. E dancei com o fogo porque o que
ocorre dentro da gente vai pro lado de fora: inventando a própria verdade no tão
denso e fragmentário repertório das memórias compartilhadas. Quando passar,
tudo será passado e nada importará porque deixei o inferno para trás e dei meu
terno sorriso até pra quem sequer acenasse ou desse por mim. Nunca dei adeus
porque sou meteorito errante a repassar sem disfarce. Nunca precisei de
esconder a escura face porque a tarde é parda e da noite virá amanhã. Nem parece
que voltei, porque cheguei até aqui e não desperdicei o tempo ao vencer os
simulacros às pedaladas. Foi a herança do Sol que me fez na crença de que devíamos
fazer sempre todos juntos, para que tudo fosse melhor e quando será. Até mais
ver.
Goeldi:
Um sorriso por favor... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
Ruth Stone:
Como bandos
de pequenos pássaros escuros, partes ocultas do eu choram... Veja mais aqui.
Charlotte Wood: Criar é desafiar o vazio. É
generoso, afirma. Fazer é acrescentar ao mundo, não subtrair dele... Veja mais aqui.
Bell Hooks:
Saber como ser solitário é central para a
arte de amar. Quando podemos ficar sozinhos, podemos ficar com os
outros sem usá-los como um meio de fuga... Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
DOIS POEMAS
Imagem: Acervo ArtLAM.
QUE É O AMOR? - O que é o amor? \ Ser comido,
mastigado,\ esmagado pela nuca\ pelos desejos do outro.\ O que é o amor?\ Pergunta
a pele alisada\ que busca um lar.
A CIDADE QUE CAMINHO - A cidade que caminho se
chama Eu. \ Embarco nela com a convicção\ de chegar ao meu destino.\ São os
olhos postos na casa não construída,\ a massa na superfície das minhas mãos,\ o
número que se repete nos meus sonhos,\ o corpo sobre as pontas dos meus dedos.
Poemas da escritora mexicana Sandra Rosas.
O GUARDIÃO
– [...] Algo que parece triste tanto
quanto parece amor. [...]
É o que acontece quando as pessoas morrem. Elas
se levam com elas e você nunca descobre nada de novo sobre elas. [...] As lembranças eram pesadas, coisas vazias no
fundo de seu ser e só a irritavam: que sua própria porta pudesse ser tirada
dela, que uma infância, uma juventude e uma vida vividas através daquela porta
pudessem desaparecer em favor de uma única pessoa. [...] Isso a
envergonhava, seu próprio reflexo. Ela tinha ideias
fortes de beleza que não encontrava em si mesma: quão terno o rosto deveria
ser, quão espesso o cabelo. Ela tinha pensamentos
fortes sobre o que significava, importar-se demais com a beleza. Querê-la,
procurá-la em si mesma. Em outro. Não eram pensamentos
agradáveis [...] O que era
alegria, afinal. Qual era o valor da felicidade que deixou para trás uma
cratera três vezes maior que o tamanho do seu impacto. [...]. Trechos extraídos da obra The Safekeep (Avid
Reader - Simon & Schuster, 2024), da escritora e
professora israelita Yael
van der Wouden.
O FUTURO TEM UM
ENCONTRO COM O AMANHECER – Sorria e acumule o tempo que está chegando o vento tem um sentido o
redemoinho também sorria para o tesouro. Poema extraído da obra The
Future Has an Appointment with the Dawn (University of Nebraska Press, 2018), da filósofa e escritora marfinense Tanella Boni, autora de obras como Tolerância (1997), Escritos
e saberes (1998), Internet, tempo e tradição oral (2001), entre
outros. Numa entrevista concedida ao Mots Pluriels
(fevereiro de 2002), ela explanou acerca da temática Exílio, violência e morte
ambiental – como resistir e envolver-se com a sua arte?, observando que: […] nas “democracias” onde vivemos, matamos,
torturamos, violamos mulheres que se atrevem a sair às ruas para expressar as
suas ideias, massacramos... Tudo isto não é novo em África. Num tal clima,
temos tempo para pensar livremente, para fazer investigação, teatro, cinema,
arte numa palavra, para escrever? Para fazer sugestões em redações? Para quem
escreveremos? vamos fazer arte? Os cérebros estão sujeitos à tirania de um
pensamento único, aos discursos marciais dos detentores do poder político, ao
controle dos partidos políticos sobre os meios de comunicação; o pensamento
livre é praticamente inexistente. O pensamento crítico é uma joia rara. Não há
debate de ideias. Existem apenas preconceitos. […]
Os
cérebros vão embora porque a vida é impossível. Basta visitar as nossas
universidades e os nossos laboratórios para se convencer! Um pesquisador não
tem como ficar “visível” em casa. Os resultados das pesquisas muitas vezes
ficam nas gavetas. Se ele escreve ensaios, o intelectual aqui tem dificuldade
de ser publicado e ouvido. E aí os preconceitos da sociedade contra ele são
tantos que ele acaba se desgastando antes do tempo. Muitos intelectuais morrem
jovens em África, poder-se-ia perguntar porquê. Morremos física ou
simbolicamente: acabamos fazendo como todo mundo. “Juntamo-nos” ou “cantamos”,
como disse em “Vida de Caranguejo”, em 1990. Existem outras alternativas?
Talvez ir para o exílio? [...] Não posso dizer o que me mantém na Costa do Marfim.
Afinal, é o meu país. Foi aqui que nasci e continuamos sempre ligados ao nosso
país. Posso dizer também que sou um “cidadão do mundo”, viajo muito, sou
convidado para inúmeros eventos internacionais, participando frequentemente em
grandes debates sobre o futuro da humanidade. [...]. Veja mais aqui.
DARELADAS – CENTENÁRIO
DE DAREL
[...] Um dia sai
para um lanche com colegas de trabalho, e resolvi abandonar o emprego, porque
decidira que desejava mesmo era ser artista. [...] No meu entender, o
ilustrador não deve procurar competir com o fotógrafo, mas se deixar contaminar
pelo texto de tal modo que consiga alcançar aos níveis onde o leitor comum nem
sempre consegue chegar [...] Sou rigoroso e exigente comigo mesmo, como
ilustrador, pintor, litógrafo; sempre procedo dessa maneira [...] Sou
ilustrador, sempre fui, de jornais e revistas, e muitas vezes perdi o emprego
por ser um artista que se liga no que há de subjetivo no livro [...] Assim
eu sou, como artista e como pessoa. [...].
Trechos da entrevista
do gravador, pintor, desenhista, ilustrador e professor Darel Valença Lins (1924-2017),
concedida ao editor José Mario Pereira, em 25 de abril de 2012, e
publicada na Veja (9 de dezembro de 2017), coluna do Augusto Nunes. (Imagens: Leitoras
de Darel). Veja mais aqui e aqui.
&
COMITÊ DE CULTURA EM
PERNAMBUCO NA MATA SUL
Nos dias 24 e 25 de
setembro o Comitê de Cultura em Pernambuco promoverá Formação em Elaboração de
Projetos com Foco na PNAB, em Palmares, detinada aos
profissionais da cultura local e dos municípios de Joaquim Nabuco, Água Preta,
Xexéu, Catende e Bonito. No dia 24, a partir das 8h, o encontro se dará na
Biblioteca Fenelon Barreto, dando andamento ao Programa Nacional dos Comitês de
Cultura. No dia 25, também a partir das 8h, acontecerá no Centro Municipal de
Formação Douglas Marques. O evento de mobilização é gratuito e aberto ao público.
UM OFERECIMENTO:
NNILUP CROCHETERIA
Veja mais aqui.
&
SANTOS MELO LICITAÇÕES
Veja detalhes aqui.
&
Tem mais:
Livros Infantis Brincarte
do Nitolino aqui.
Poemagens & outras
versagens aqui.
Diário TTTTT aqui.
Cantarau Tataritaritatá
aqui.
Teatro Infantil: O
lobisomem Zonzo aqui.
Faça seu TCC sem
traumas – consultas e curso aqui.
&
VALUNA – Vale
do Rio Una aqui.