segunda-feira, setembro 23, 2024

TANELLA BONI, YAEL VAN DER WOUDEN, SANDRA ROSAS & & DARELADAS – CENTENÁRIO DE DAREL

 

 Imagem: Dareladas – Centenário de Darel.

Ao som da Sonata for Viola & Piano (1919), da compositora e violista britânica Rebecca Clarke (1886-1979), inspirada no poema La nuit de Mai, do poeta francês Alfred Musset (1810-1857), na interpretação da violista japonesa Nobuko Imai e do pianista filipino Albert Tiu, no Yong Siew Toh Conservatory Concert Hall em Cingapura, 2023. Veja mais abaixo.

 

Dareladas... - A chuva lavou meus passos vida afora e o menino se fez esperança acesa para nunca ter que voltar. A imagem do lugar de antes se esvaiu retorcida no apagão das pegadas e o que havia de sereno seguiu firme pelos conflitos do que sou, jogando sementes para reflorir umbrais, como se pudesse reinventar a cidade perdida. Refiz ideias como fotomontagens: a prova não era um teste; um original na tradução dos rabiscos esquecidos pelos traços. A caligrafia de riscos não se apagou por inteiro: um esboço mais que vivo na paisagem das lembranças, que se alastravam com as multidões de anjos-máquinas e os alardes de suas pisadas. Era órfão deserdado na cena repetida dos ferros ferindo a pele, das engrenagens esmagando músculos, de britadeiras respingando o sangue da dor repisada - era como se paz desse as costas à guerra! Tudo se fizera pelos sórdidos becos, como se para lá fosse o não e por ali o sim, quando aqui tudo desconexo pelos ditos e desditos de narradores compulsivos pelas noites de Goeldi. Era como se me perdesse pelas tão fantasiosas linhas de contorno dos desenhos e identificasse o que separa e o que agrega. Era como se as hachuras fossem construídas pelo que foi vivido e o a ser feito. E as ilustrações do gestual nas gravuras reconstruíssem tudo a partir da paleta monocromática. O que havia de melhor era a emersão das silhuetas com os meneios de dança das ancas curvilíneas daquelas que são verdadeiras obras-primas da criação. Foram elas, belas e sintomáticas, que atravessaram comigo todas as labaredas das fogueiras dos dias. E dancei com o fogo porque o que ocorre dentro da gente vai pro lado de fora: inventando a própria verdade no tão denso e fragmentário repertório das memórias compartilhadas. Quando passar, tudo será passado e nada importará porque deixei o inferno para trás e dei meu terno sorriso até pra quem sequer acenasse ou desse por mim. Nunca dei adeus porque sou meteorito errante a repassar sem disfarce. Nunca precisei de esconder a escura face porque a tarde é parda e da noite virá amanhã. Nem parece que voltei, porque cheguei até aqui e não desperdicei o tempo ao vencer os simulacros às pedaladas. Foi a herança do Sol que me fez na crença de que devíamos fazer sempre todos juntos, para que tudo fosse melhor e quando será. Até mais ver.


Goeldi: Um sorriso por favor... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

Ruth Stone: Como bandos de pequenos pássaros escuros, partes ocultas do eu choram... Veja mais aqui.

Charlotte Wood: Criar é desafiar o vazio. É generoso, afirma. Fazer é acrescentar ao mundo, não subtrair dele... Veja mais aqui.

Bell Hooks: Saber como ser solitário é central para a arte de amar. Quando podemos ficar sozinhos, podemos ficar com os outros sem usá-los como um meio de fuga... Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

 

DOIS POEMAS

Imagem: Acervo ArtLAM.

QUE É O AMOR? - O que é o amor? \ Ser comido, mastigado,\ esmagado pela nuca\ pelos desejos do outro.\ O que é o amor?\ Pergunta a pele alisada\ que busca um lar.

A CIDADE QUE CAMINHO - A cidade que caminho se chama Eu. \ Embarco nela com a convicção\ de chegar ao meu destino.\ São os olhos postos na casa não construída,\ a massa na superfície das minhas mãos,\ o número que se repete nos meus sonhos,\ o corpo sobre as pontas dos meus dedos.

Poemas da escritora mexicana Sandra Rosas.

 

O GUARDIÃO – [...] Algo que parece triste tanto quanto parece amor. [...] É o que acontece quando as pessoas morrem. Elas se levam com elas e você nunca descobre nada de novo sobre elas. [...] As lembranças eram pesadas, coisas vazias no fundo de seu ser e só a irritavam: que sua própria porta pudesse ser tirada dela, que uma infância, uma juventude e uma vida vividas através daquela porta pudessem desaparecer em favor de uma única pessoa. [...] Isso a envergonhava, seu próprio reflexo. Ela tinha ideias fortes de beleza que não encontrava em si mesma: quão terno o rosto deveria ser, quão espesso o cabelo. Ela tinha pensamentos fortes sobre o que significava, importar-se demais com a beleza. Querê-la, procurá-la em si mesma. Em outro. Não eram pensamentos agradáveis [...] O que era alegria, afinal. Qual era o valor da felicidade que deixou para trás uma cratera três vezes maior que o tamanho do seu impacto. [...]. Trechos extraídos da obra The Safekeep (Avid Reader - Simon & Schuster, 2024), da escritora e professora israelita Yael van der Wouden.

 

O FUTURO TEM UM ENCONTRO COM O AMANHECERSorria e acumule o tempo que está chegando o vento tem um sentido o redemoinho também sorria para o tesouro. Poema extraído da obra The Future Has an Appointment with the Dawn (University of Nebraska Press, 2018), da filósofa e escritora marfinense Tanella Boni, autora de obras como Tolerância (1997), Escritos e saberes (1998), Internet, tempo e tradição oral (2001), entre outros. Numa entrevista concedida ao Mots Pluriels (fevereiro de 2002), ela explanou acerca da temática Exílio, violência e morte ambiental – como resistir e envolver-se com a sua arte?, observando que: […] nas “democracias” onde vivemos, matamos, torturamos, violamos mulheres que se atrevem a sair às ruas para expressar as suas ideias, massacramos... Tudo isto não é novo em África. Num tal clima, temos tempo para pensar livremente, para fazer investigação, teatro, cinema, arte numa palavra, para escrever? Para fazer sugestões em redações? Para quem escreveremos? vamos fazer arte? Os cérebros estão sujeitos à tirania de um pensamento único, aos discursos marciais dos detentores do poder político, ao controle dos partidos políticos sobre os meios de comunicação; o pensamento livre é praticamente inexistente. O pensamento crítico é uma joia rara. Não há debate de ideias. Existem apenas preconceitos. […] Os cérebros vão embora porque a vida é impossível. Basta visitar as nossas universidades e os nossos laboratórios para se convencer! Um pesquisador não tem como ficar “visível” em casa. Os resultados das pesquisas muitas vezes ficam nas gavetas. Se ele escreve ensaios, o intelectual aqui tem dificuldade de ser publicado e ouvido. E aí os preconceitos da sociedade contra ele são tantos que ele acaba se desgastando antes do tempo. Muitos intelectuais morrem jovens em África, poder-se-ia perguntar porquê. Morremos física ou simbolicamente: acabamos fazendo como todo mundo. “Juntamo-nos” ou “cantamos”, como disse em “Vida de Caranguejo”, em 1990. Existem outras alternativas? Talvez ir para o exílio? [...] Não posso dizer o que me mantém na Costa do Marfim. Afinal, é o meu país. Foi aqui que nasci e continuamos sempre ligados ao nosso país. Posso dizer também que sou um “cidadão do mundo”, viajo muito, sou convidado para inúmeros eventos internacionais, participando frequentemente em grandes debates sobre o futuro da humanidade. [...]. Veja mais aqui.

 

DARELADAS – CENTENÁRIO DE DAREL

[...] Um dia sai para um lanche com colegas de trabalho, e resolvi abandonar o emprego, porque decidira que desejava mesmo era ser artista. [...] No meu entender, o ilustrador não deve procurar competir com o fotógrafo, mas se deixar contaminar pelo texto de tal modo que consiga alcançar aos níveis onde o leitor comum nem sempre consegue chegar [...] Sou rigoroso e exigente comigo mesmo, como ilustrador, pintor, litógrafo; sempre procedo dessa maneira [...] Sou ilustrador, sempre fui, de jornais e revistas, e muitas vezes perdi o emprego por ser um artista que se liga no que há de subjetivo no livro [...] Assim eu sou, como artista e como pessoa. [...].

Trechos da entrevista do gravador, pintor, desenhista, ilustrador e professor Darel Valença Lins (1924-2017), concedida ao editor José Mario Pereira, em 25 de abril de 2012, e publicada na Veja (9 de dezembro de 2017), coluna do Augusto Nunes. (Imagens: Leitoras de Darel). Veja mais aqui e aqui.

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COMITÊ DE CULTURA EM PERNAMBUCO NA MATA SUL

Nos dias 24 e 25 de setembro o Comitê de Cultura em Pernambuco promoverá Formação em Elaboração de Projetos com Foco na PNAB, em Palmares, detinada aos profissionais da cultura local e dos municípios de Joaquim Nabuco, Água Preta, Xexéu, Catende e Bonito. No dia 24, a partir das 8h, o encontro se dará na Biblioteca Fenelon Barreto, dando andamento ao Programa Nacional dos Comitês de Cultura. No dia 25, também a partir das 8h, acontecerá no Centro Municipal de Formação Douglas Marques. O evento de mobilização é gratuito e aberto ao público.

 

UM OFERECIMENTO:

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SANTOS MELO LICITAÇÕES

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Tem mais:

Livros Infantis Brincarte do Nitolino aqui.

Poemagens & outras versagens aqui.

Diário TTTTT aqui.

Cantarau Tataritaritatá aqui.

Teatro Infantil: O lobisomem Zonzo aqui.

Faça seu TCC sem traumas – consultas e curso aqui.

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VALUNA – Vale do Rio Una aqui.