Ao som do álbum Ressemântica (2022), da violeira,
violonista, arranjadora, pesquisadora e arteducadora Laís de Assis.
PERDI A VEZ DO ÚLTIMO
PEDIDO... - Estava à procura de um amigo para fazer meu último
pedido, muito embora soubesse de antemão que não os tenho desde o tempo em que
todos estavam vivos. Hoje em dia é coisa mais rara. Escrevi a carta e, como
ainda não o encontrei, perambulei pelo mundo afora e voltei: onde nasci não
mais existe. A casa demolida, o rio escondido e desconheço todos que moram por
ali. Sinto que foi naquele lugar, sim, sigo pela rua revivendo tudo. Da minha
casa ao rio bastavam passadas. Até ouço agora a voz de outrora da minha mãe
desesperada, às carreiras, para me afastar da beira do rio - para ela a minha
maldição. É que prestes a dar à luz, uma enchente repentina. Quase nasci
afogado, não fosse a prestimosa ação da minha avó materna: nasci entre um rio e um sorriso de mulher... Todas as minhas fugidas não dava outra: era
para a beira do rio. Tinha um pavor atormentado com coração de Jesus pendurado
na viga da casa na sala e não entendia o fato de nascer já condenado carregando
o pecado original e, por isso, deveria reverenciá-lo por salvar a mim e toda
humanidade. Era a única forma de me manter vivo e em paz: cultuando a sua
imagem – diziam, reiteravam. Desobedecia, claro, razão pela qual as tramas da
vida pros meus desvios, o perdedor, sujeito apenas à subalternidade que tanto
negara. Liberto, não mais e por aqui estou: procurando amigos e só encontrava
dissimuladas que fingiam ajuda, quando não mais atrapalhavam o meu já tão tortuoso
caminho e sem que pudesse jamais chegar a lugar algum, mudando de casa, fugindo
do não sei o quê - hestórias que foram exaustivamente contadas. Acho mesmo que
estou sonhando e não consigo sair dessa. Devo mesmo ter enlouquecido no abandono.
Tanto pior, a apetência e a avareza entre devotos e ímpios, sempre tangenciando
o apático e os desatentos, sem vínculos afetivos, muito menos conectividade
social. Mergulhei no medo de ficar só e a rua é outra, não mais aquela. Talvez
tenha morrido e nem me dera conta ainda transitando insone errante pelos
lugares mais estranhos que me dão a sensação da mais íntima familiaridade. Talvez
estes sejam os meus fracassos em ser livre, independente pelos labirintos das
armadilhas. Resta-me apenas uma lápide sem nome nem epitáfio, completamente
esquecido – e com a recomendação de que se alguém ousasse lembrar, fosse ali
incontinenti rechaçado imediatamente. Quero apenas morrer em paz, porque sou
ontem e amanhã agora. Até mais ver.
Kafka:
Eu preciso
da solidão para a minha escrita; não como a de um ermitão — isso não seria o
suficiente — mas como a de um homem morto... Sim, o homem é de afligir de
tristeza, porque em meio à subida constante das massas ele fica cada vez mais
solitário, de minuto em minuto... Veja mais aqui.
Alina Paim: Não corte voltas quando não forem como você
queira, nem tudo está de acordo com a nossa vontade. Às vezes a vida inteira
corre à revelia de nosso desejo, e por isso não deixamos de enxergar as coisas
como são em toda sua intensidade e em toda sua significação... Veja mais
aqui.
Ione Skye: Qualquer coisa menos que extraordinária é uma
perda de tempo... Veja mais aqui.
HAIKU
Imagem: Acervo ArtLAM.
Estou meio \ sonhando, meio \ na neve\ Metade do
meu corpo está sonhando e metade do meu corpo está na neve\ coelho de verão \ morrendo
de fome \ e sonhando\ Coelho de verão morrendo de fome e sonhando\ ainda viva \
a libélula secando \ em uma pedra\ Uma libélula seca ainda viva na pedra\ borboleta
de outono \ eu poderia matá-la \ com um dedo\ Borboleta de outono \ O que pode
ser morto com um único dedo \ matar é feio, \ borboleta de inverno\ Uma
borboleta de inverno feia demais para matar\ caixões na neve \ empilhados como
blocos de construção\ Coloque-os um em cima do outro como blocos de caixão na
neve\ decepção \ pela manhã à noite \ na noite dos insetos\ Decepção pela
manhã, à tarde, à noite dos insetos\ sob nuvens brancas \ com um caranguejo
sombrio\ Há um caranguejo da depressão sob as nuvens brancas.\ Minha febre alta
é um feijão vermelho \ roxo profundo\ A febre alta tende a ser flores de feijão
roxo\ queda de neve \ nos olhos de um pássaro \ é um milagre\ Neve caindo nos
olhos de um pássaro é um milagre\ minha alma \ meus seios e outono \ em meus
braços.\ O outono está em meus braços, tanto na minha alma quanto nos meus
seios\ campo nevado \ a onisciência do corvo \ em roxo\ Para o onisciente
Murasaki do corvo do campo nevado\ uma mariposa-falcão de asas prateadas \ esvoaçando
e girando \ completamente apaixonada! \ Eu me apaixonei pela mariposa celestial
prateada.\ Gaguejando em \ uma árvore na colina \ corvo de verão \ Um corvo de
verão gaguejando entre as árvores da colina\ antes que você perceba, \ até as
mudas \ crescem orelhas, línguas\ Antes que você perceba, há muitas orelhas e
línguas nas mudas.\ Como a lua de verão dos cabelos brancos do imperador \ A
lua de verão está nos cabelos grisalhos do imperador \ trazendo para casa \ um
crisântemo selvagem \ para cada um dos meus inimigos\ Traga de volta tantos
crisântemos selvagens quantos inimigos \ Buracos do cosmos do jardim \ perfurados
em suas gargantas \ Eu me pergunto se Akizakura está morrendo de emoção com um
buraco na garganta. \ caindo em um poço profundo \ enquanto ainda dormia \ asas
de borboleta\ A asa de uma borboleta cai em Fukai enquanto ele dorme.\ subindo
em palafitas, \ esqueço \ o nome do primeiro-ministro\ O nome do
primeiro-ministro esquecido ao subir em palafitas\ O lago japonês cheirava \ vivo
ou morto, \ dobrando seus corpos \ O cheiro dobra seu corpo tanto na vida
quanto na morte.\ por causa de seus olhos negros, \ ratos são mortos\ O rato é
morto por causa de seus olhos roxos.\ enquanto espero por alguém \ eu chamo o
gatinho\ Dê um nome a um gatinho enquanto espera por alguém\ açafrão– \ o filme
de ontem \ matando alguém \ Açafrão e filmes matam pessoas de ontem \ suspenso
no ar \ minha luva \ e um cisne\ Minhas luvas e um rato pairando no ar\ o
interior do caixão \ mesmo que eu esteja morto aqui \ cheira bem\ Cheira como
se eu pudesse morrer aqui no caixão.\ Me sinto tão só \ quando escrevo meu nome
\ na madrugada de verão ! \ Quando escrevo meu nome, me sinto sozinho no início
do verão.
Poema da premiada escritora e editora japonesa Uda
Kiyoko.
O PIOR PADRINHO
- […] Há espaço para diferentes tipos de grandeza. Mesmo que
você chore fazendo isso. Caramba, especialmente se você chorar fazendo isso. [...] Mas eu quero companheirismo, a segurança de saber que alguém
está me apoiando, a habilidade de confortar e ser confortado. Amizade. Férias.
Talvez até filhos um dia. Alguém sólido. Previsível. Uma pessoa que não precisa
de paixão e faíscas para construir um relacionamento duradouro. Não sei se
algum dia encontrarei esse indivíduo — e isso me deixa extraordinariamente
triste. [...] Olha, há diferentes maneiras de se chegar a um desfecho, e
uma delas pode ser deixar alguém infeliz só para satisfazer sua alma mesquinha.
[...].
Trechos extraídos da obra The
Worst Best Man (Avon, 2020),
da escritora estadunidense Mia Sosa, que na sua obra The Wedding
Crasher (Avon, 2022), expressa que: […] Sabe, eu acho que quanto mais algo é importante para nós, mais sentimos que
perderemos se não der certo. Então nos convencemos a não querer a coisa [...] Meu instinto não é olhar para ele e dizer "meu, meu,
meu". Tudo o que consigo pensar é: "Querido, eu sou sua, sua, sua.
[...] Algumas pessoas plantam raízes; outras espalham sementes e deixam que
outros cuidem do crescimento. [...]. Veja mais aqui.
AGROTÓXICOS &
COLONIALISMO QUÍMICO – [...] Estamos sendo contaminados em uma grande medida. O
Brasil é um dos maiores consumidores mundiais de agrotóxicos e o maior
importador mundial de agrotóxicos. Dos dez agrotóxicos mais vendidos no Brasil,
três são proibidos na União Europeia (UE) porque são cancerígenos, ou porque
são teratogênicos, quer dizer, provocam malformação fetal, ou porque provocam
infertilidade, ou desregulação hormonal, ou mal de Parkinson [...] Trecho extraído da
obra Agrotóxicos e colonialismo químico (Elefante, 2023), da geógrafa Larissa Bombardi. Veja mais aqui.
IMPRÓPRIO POÉTICO
Onde começa inverno de que poema se ceva?
\ Enxames de chaminés... ou de galáxias? \ Quantas gotas de fôlego náufrago
gasta... até que último sopro afogue? \ Pássaro de pedra no vácuo voa? \ Tudo
para delírio ou trabalho dos lírios. \ Nada ao vão e a seus fundos desvãos. \
Num lapso de ética, futuro solapa. \ Num ípsilon de ótica, tudo expia ou
sublima. \ Tanta pelúcia me alucina.
Ecos cônicos patéticos – monósticos quase
absolutos, poema extraído da obra Impróprio poético (CriaArt, 2024), do poeta e
advogado Vital Corrêa de Araújo. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
&
MÃE DA TERRA
Arte do bibliotecário e artista visual João
Paulo de Araújo, co-autor da obra Tungando a vida (CriaArt, 2024). Veja
mais abaixo e também aqui.
UM OFERECIMENTO:
NNILUP CROCHETERIA
Veja mais aqui.
&
SANTOS MELO LICITAÇÕES
Veja detalhes aqui.
&
Tem mais:
TUNGANDO A VIDA
Livros Infantis Brincarte
do Nitolino aqui.
Poemagens & outras
versagens aqui.
Diário TTTTT aqui.
Cantarau
Tataritaritatá aqui.
Teatro Infantil: O
lobisomem Zonzo aqui.
Faça seu TCC sem
traumas – consultas e curso aqui.
VALUNA – Vale
do Rio Una aqui.
&
Crônica de
amor por ela aqui.