Imagem: Acervo ArtLAM.
Ao som dos álbuns
Summertime (1981), Abolerado Blues (1983), Na Trilha do Cinema
(1997), Uma Canção Pelo Ar... (2003), Angenor (2008), A Dama
Indigna (2011), Soledade (2015) e Um Copo de Veneno (2020), da
cantora e atriz Cida Moreira. Veja mais aqui.
REINO DAS PEDRAS
NA LENDA DOS SONHOS – Onde estive quase nem sei ou nem me lembro. Uma ou outra paisagem por
redenção - sobrava sucumbente, retornos persecutórios. Perdi-me mais de mil vezes,
tão costumeira errância: o horizonte sugeria zis caminhos, era o que eu tinha para
ir e voltar, recomeço entre perdições, quantos trajetos ainda por perseguir. Por
onde fui estouvado desapareci: tortuosas vias do que se quisera não ter por
destino. Mas, era. E foi por um fio: escapei de trapaças por escoadouros
lodosos, por muitas passei: vagos instantes vivenciados, tatuados na pele,
estigmas antes indeléveis agora não mais – salvo por um quase pequeno
testamento: rio de lágrimas esquecidas pelo fogo nas veias, cabeça aos ventos. O
que não tivera foi de muito e além, minguantes precisões que sumiam ao primeiro
sorriso – e isso bastava para me levar no sonho dos voos de Santos Dumont:
Quantas vezes as coisas me foram provadas impossíveis!
Agora estou acostumado, espero. Mas, naquela época, isso me incomodava. Ainda
assim, perseverei... Sabia: O Sol nasce para todos! A mim, apenas, invenção de asa. Sozinho tantas vezes, outras não muitas davam momentos em que me via
envolvido, quem dera de novo e sempre, pelas mãos na dança de Angel Vianna.
Era o prêmio na minha solidão e ela Ann Brashares: Hoje é o amanhã com o
qual nos preocupamos ontem... Sabe qual é o segredo?
É tão simples. Nós nos amamos. Somos legais um com o outro. Você sabe o quão
raro isso é?... E mais aquiescia com o efêmero batom dos lábios dela felatriz nos
meus, lambiam minha boca e eu vivia a sua vida: o Brasil era meu falo na sua
vulva. E se nada mais restasse, bem queria, o coração pulsava poupando pesadelos
no ermo da noite, atravessando a lenda dos sonhos no reino das pedras. Era o
bastante, apesar de pouco: nela todas as formas viviam e dali o presente ensolarado
era a maior dádiva ou dúvida, um triz valia a pena. E como: aprendi a valia do
segundo. Até mais ver.
EPÍLOGO
Parei de
escrever sobre os mortos \ e bebi ao escrever sobre os mortos \ para passear
pelo bairro da minha infância. \ Tudo é para alugar. Ou à venda, por dez \
vezes o valor que vale. \ Palmeiras são plantadas em frente a um mural \ de
palmeiras sob a Ocean Park Bridge. \ Na pintura, os cavalos de metal de um
carrossel estão se soltando \ e correndo pela praia. Por que eu não saí \
minhas iniciais no cimento \ na frente do apartamento dos meus pais nos anos
oitenta? \ Nikki teve a ideia certa em 1979. \ Passo por uma quadra de
basquete, onde homens jogam \ sob as pontas fluorescentes do cigarro da noite.
\ Eu poderia ter sido qualquer uma de suas esposas, \ em casa, enchendo
diferentes quartos em diferentes casas \ com úteros esperançosos. Concordando
com a cor da tinta \ amostras com suas mães em mente. \ Aposto que suas esposas
deixam seus gatos saírem \ para caçar à noite como premonições de futuros
filhos. \ Eles vão se preocupar, olhar pela janela da frente, \ rezar para que
o privilégio não traga más notícias para casa, \ como a cabeça murcha de uma
garota negra em mandíbulas nascentes. \ Sem falar na coruja que está aqui há
anos. eu o ouço \ quando estou tentando escrever sobre as mortes que admirei. \
Eu o ouço quando o eu vestido não reconhece mais \ o nu. Ouço-o enquanto
escrevo e cago e durmo \ onde dormem as sete guitarras da minha mãe. \ Eu o
ouço na casa de meus pais, \ suas paredes cobertas com meus muitos rostos, \
vestígios de décadas de complacência. \ Meu bairro de infância é um santuário
para o meu sucesso, \ e eu sou um carro com uma bomba dentro, pronto \ para
parar na frente dele e parar \ de fingir.
Poema da premiada
poeta estadunidense Amber Tamblyn, co-fundadora do movimento Time’s
Up.
HISTÓRIA
DE UM POVO – [...] A memória dos oprimidos é algo que não pode ser tirado, e para essas
pessoas, com tais memórias, a revolta está sempre um centímetro abaixo da
superfície. [...] O grito do pobre nem sempre é justo, mas se você não o
ouvir, nunca saberá o que é a justiça. [...]. Trechos extraídos da obra A People's History of the United States (Harper Perennial. 2015), do historiador, cientista
politico, ativista e dramaturgo estadunidense Howard
Zinn (1922-2010), autor do texto: Ser esperança em tempos difíceis não é apenas um
romantismo tolo. Baseia-se
no fato de que a história humana é uma história não apenas de crueldade, mas
também de compaixão, sacrifício, coragem, bondade. O que escolhemos enfatizar
nesta história complexa determinará nossas vidas. Se vemos apenas o pior, isso destrói
nossa capacidade de fazer algo. Se nos lembrarmos daqueles tempos e lugares - e são tantos - onde as
pessoas se comportaram magnificamente, isso nos dá energia para agir e, pelo
menos, a possibilidade de enviar esse pião de um mundo em uma direção
diferente. E se agirmos, por menor que seja, não teremos que esperar por algum
grande futuro utópico. O futuro
é uma sucessão infinita de presentes, e viver agora como pensamos que os seres
humanos devem viver, desafiando tudo o que há de ruim ao nosso redor, é em si
uma vitória maravilhosa... O seu pensamento pode ser expresso nas frases: O problema
não é a desobediência, o problema é a obediência... Não há bandeira grande o suficiente para cobrir a
vergonha de matar pessoas inocentes.
AS IDADES DE LULU - [...] A
autopiedade é uma droga muito pesada. [...] Feliz é um adjetivo complicado,
extraordinário demais. Se for repetido, perde valor, em vez de ganhá-lo. [...]
A beleza é um monstro, uma divindade sangrenta que deve ser apaziguada com
sacrifícios constantes. [...] Não há queda mais dura do que a queda de
um orgulhoso, nem um estupor semelhante ao que experimenta um orgulhoso ao
cair. Tampouco existe, ou pelo menos desconheço, estímulo tão feroz quanto
aquele que cerra os dentes de uma arrogância rancorosa. [...] Fiquei
sentado de joelhos. Ele colocou os braços em volta de mim e me beijou. O mero
contato de sua língua reverberou por todo o meu corpo. Minhas costas
estremeceram. Ele é a razão da minha vida, pensei. Era um pensamento antigo,
banal, formulado centenas de vezes em sua ausência, violentamente rejeitado nos
últimos tempos, por ser pobre, mesquinho e patético. [...] Apenas um
instante depois, todas as coisas começaram a oscilar ao meu redor. Pablo se apossou
de mim, seu sexo passou a fazer parte do meu corpo, a parte mais importante, a
única que eu era capaz de apreciar, entrando em mim, cada vez um pouco mais
fundo, abrindo e fechando-me em torno dele ao mesmo tempo. mim, senti sua
pressão contra a minha nuca, como se minhas entranhas estivessem se desfazendo
em seu rastro... [...]. Trechos extraídos da obra Las edades de Lulu (Planeta, 2015), da escritora espanhola Almudena
Grandes Hernández (1960-2021). Veja mais aqui e aqui.
TUNGANDO A VIDA
Entre os
dias 07 e 11 de agosto, na Biblioteca Fenelon Barreto, em Palmares – PE,
acontecerá a SEMANA TUNGA, com exposições, instalações, instaurações, oficinas,
palestras e pocket show, toda programação em homenagem ao artista Tunga -
Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão (1952-2016). Uma realização
do Neia - Gabinete de Arte, Amigos da Biblioteca e Tatataritaritatá (TTTTT) –
Apoio: Instituto Tunga (RJ), Usina de Arte & Semed-Palmares. Veja mais
aqui, aqui e aqui.