segunda-feira, setembro 30, 2024

MARIA RAKHMANINOVA, ELENA DE ROO, TATIANA LEVY, ABELARDO DA HORA & ABYA YALA

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som dos álbuns Triphase (2008), Empreintes (2010), Yôkaï (2012), Circles (2016), Fables of Shwedagon (2018), Bright Shadows (2019), Sama (2020), Circles Live (2021) e S.H.A.M.A.N.E.S (2022), da baterista e compositora francesa Anne Paceo.

 

Poema das estrelas noite afora... – Sou a inquietude das águas e recolho a poesia sorridente das estrelas na boca da noite. Tudo é tão diferente ao meu redor: agora persistem séculos esquecidos e quase desconheço a festa pelo alarido da tragédia. Tudo é tão distante e quase não há outro lado depois da descoberta. Prossigo, quem sabe onde possa respirar tranquilo, com meu cambalear claudicante às passadas nos ponteiros de relógios invisíveis e a marcação da vitalidade à decadência dos dias pela dança das ruínas do futuro, pelos escombros do passado, porque o presente tornou-se um gatilho imprevisível. As mensagens da má notícia propagam o tiro no alvo da sorte: o sangue escorreu no Barro Branco. O que são crianças pedintes e adultos estirados pelos semáforos da hora... Nenhuma violência se justifica: o lamentável expediente da guerra! Onde há ganância, a vida estrangulada. A zoada dos que querem chamar toda atenção, só aleivosia e escárnio; e nada é mais importante que a grana acumulando posses e sonhos nos meios suntuosos da soberba: o coração vive apenas do decote e o servilismo pro abuso, todos querem a vida do outro pra si. Meus olhos se foram com as lágrimas; minhas mãos, com o que perdi; meus pés, no que andei; e meu coração não tinha para onde ir porque meu corpo sacrificado sequer soube se haveria depois. O amor não se explica e escuto os sussurros da alma de todos que sou. Outros clamores ecoam insones: estão tão longe e os sinto ainda aqui bem perto. Um só segundo vale a vida inteira: apenas uma vírgula antes do silêncio. Até mais ver.

 

Malika Mokeddem: Eu acho que não há nada verdadeiro além de misturas. Todo o resto é hipocrisia e ignorância... Veja mais aqui.

Annie Leibovitz: Todos nós pegamos o que nos é dado e usamos as partes de nós mesmos que alimentam o trabalho... É um passaporte para pessoas, lugares e possibilidades... Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

Stella Stevens: Fiz o melhor que pude com as ferramentas que tinha e as oportunidades que me foram dadas... Veja mais aqui.

 

DOIS POEMAS

Imagem: Acervo ArtLAM.

MEU TIPO DE DIA: Eu gosto de um dia com um apito ventoso \ que arranca suas palavras uma rajada tempestuosa \ de um dia que golpeia, \ empurra e grita em seu rosto \ Um com uma explosão gelada para chicotear e picar \ suas bochechas que derruba, \ tropeça e trapaceia empurrando você \ para trás como um scrum de rúgbi \ Então grita por trás rugindo um vendaval \ chamando seu nome enquanto você corre, corre, corre \ com um mergulho para a linha.

PALAVRAS: Algumas palavras são simplesmente agradáveis \ como manteiga de maçã verde e gelo de limão azul \ ou travesseiros macios e musgosos \ por salgueiros sussurrantes e árvores de tamarindo \ em uma brisa quente de verão \ elas cantam na sua língua \ sem razão para ser algumas palavras \ apenas zumbem como o gato no seu joelho.

Poemas da premiada escritora neozelandesa Elena de Roo.

 

VISTA CHINESA - [...] A parte que tinha morrido era o meu corpo, e o meu corpo era o que estava mais vivo, gritando com a boca escancarada, os dentes à mostra. [...] Naquele momento em que quase morri, eu morri. [...] É desesperador quando a palavra não cola na imagem. Toda fenda é exasperante, mas esta dói no corpo. Eu tenho vontade de sair gritando, por favor, me deem a palavra certa, aí alguém diz, não existe, as palavras certas nunca existem, mas eu não acredito nisso, eu acho que para toda coisa existe uma palavra certa e se a gente falar falar falar uma hora a gente encontra. [...] Eu precisava tanto da presença das pessoas como da ausência delas. [...] Nunca vamos saber o que a vida teria sido se não fosse o que é. [...] Ouvi o silêncio, o deles e o meu. A certeza de que, por mais que eu falasse, nunca conseguiria expressar o turbilhão que havia dentro de mim, me trouxe também a certeza da solidão. A certeza de que somos sozinhos, não só eu, todos nós. [...] A loucura chega de uma vez ou vai chegando aos poucos?, isso é uma coisa que eu nunca entendi, se o louco nasce louco, se vira louco de um dia para outro ou se vai aos poucos virando louco, e quando é que a gente percebe que está ficando louca, ou que está quase lá, ou será que a gente nunca percebe, se a gente pergunta é porque ainda não é louca, eu me pergunto todos os dias se enlouqueci ou se estou enlouquecendo. [...]. Trechos extraídos da obra Vista Chinesa (Todavia, 2021), da escritora portuguesa Tatiana Salem Levy.

 

DENÚNCIA DA TRADIÇÃO ANTIGA - [...] Na manhã de 24 de fevereiro, o dia em que a guerra começou, fui trabalhar como de costume. Naquele dia, eu deveria dar uma palestra sobre estética. Entrei no auditório e percebi que simplesmente não conseguia respirar. Não conseguia dar uma aula — pela primeira vez em 15 anos. Ficou claro que nenhum dos estudantes sabia de nada ainda. A maioria deles, infelizmente, não lê mídia independente. Eu me dirigi ao público: 'Caros colegas, infelizmente, hoje é um dia terrível.' Eu disse a eles em termos gerais o que eu sabia. As quatro primeiras fileiras da plateia choraram. Aquela palestra acabou sendo meu canto do cisne, mas eu não percebi isso na época. [...] A universidade lentamente, mas seguramente, pisou no caminho da propaganda e do apoio a cada movimento do regime. Logo, os alunos começaram a ser tirados da sala de aula para aulas de propaganda política, censurados e verificados quanto à lealdade. [...] Percebi que não podia mais trabalhar em tal ambiente e não queria. Decidi pedir demissão. No entanto, a lei exigia que eu trabalhasse mais duas semanas. Os alunos me disseram que os líderes estudantis foram solicitados a relatar como eu estava usando mal minha posição. [...] Ultimamente, minhas pinturas me mantiveram ativa: sou formada em arte e posso vender minhas obras. Mas trabalhar em instituições de arte contemporânea como artista agora também é difícil por causa da censura. [...] Às vezes eu lavo o chão. As pessoas me provocam sobre isso, mas nunca fiquei envergonhada por isso. Quando eu estava escrevendo minha tese de doutorado, fiz muita limpeza, já que gastei todo meu salário em impressões. Eu poderia ter conseguido alguma ajuda financeira, mas sempre que eu me inscrevia, os superiores me faziam escrever "não" na pergunta "Você está escrevendo uma tese de doutorado?" Eles simplesmente não acreditavam que eu escreveria minha dissertação e a defenderia. Nenhum acadêmico está separado do que está acontecendo no país. [...] A sociedade está derrotada, esmagada e dividida. Ela continuará morrendo e perdendo seu povo. Mas talvez algumas pessoas tenham uma nova experiência de ativismo social por meio dessa experiência de pesar, e um novo underground se formará. Mas duvido que isso seja possível sob o poderoso regime atual. Com tudo tão sem esperança, é claro que estou pensando em ir embora. Mas então de novo: se alguém tomou conta da minha casa, por que eu deveria ser a única a ir embora? [...]. Trechos do artigo Uma antiga tradição soviética está de volta: a denúncia (RAAM, 2022), da filósofa e cientista social russa Maria Rakhmaninova, que passou a ser abominada por seu posicionamento contra a invasão russa à Ucrânia, que foi demitida da universidade, reacendendo uma antiga prática: a denúncia de pessoas que não são politicamente confiáveis.

 

CENTENÁRIO DE ABELARDO DA HORA

[...] Eu fui preso mais de 70 vezes. Inclusive fui preso no golpe militar, que eu fui Secretário de Educação de 5 prefeitos do Recife… Eu era da direção do Partido Comunista, quando lançamos a candidatura de Arraes a prefeito do Recife. [...] A minha arte, desde o começo, é feita de amor e solidariedade. A solidariedade eu dedico inteiramente ao povo sofredor, e à sua capacidade criativa. A capacidade criativa do povo, não é? E o amor eu dedico às mulheres. Eu faço uma série de mulheres em várias posições, dedicando à mulher grande parte da minha obra, e o meu amor é todo dedicado à mulher, através das minhas esculturas. A solidariedade que eu faço em defesa do povo, influenciado pelo povo e pela criação popular, e pela vida popular. [...].

Trecho da entrevista Diálogo literário: Abelardo da Hora, Abelardo de toda a gente (Vermelho, 2010), concedida pelo escultor, desenhista, gravurista, pintor, ceramista, professor e poeta Abelardo da Hora (1924-2014), ao jornalista e escritor Urariano Mota. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

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ESCUELA LIVRE ABYA YALA – CURSOS

A Escuela Livre Abya Yala está com inscrições abertas para diversos cursos destinados aos indígenas de todo continente. Os cursos são: Visão Indígena – Produção de vídeo, ministrado por Yala Payayá e Nazareno Presentado; Os diferentes gêneros literários & formas diferentes de amar, por Luiz Alberto Machado e Mariela Tulián; Ilustração – memórias de amor para o futuro, por Horopakó Desana e Haylly Wichí; Diagramação de projeto, por Horacio Montes de Oca Ayala e Kadu Tapuya; e Comunicação com identidade, por Nazareno Presentado e Yala Payayá. Realização: Thidêwá & Red Abya Yala. Maiores informações aqui.

 

UM OFERECIMENTO:

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Tem mais:

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Poemagens & outras versagens aqui.

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Crônica de amor por ela aqui.


 


HAN KANG, SOUMAYA MESTIRI, AURITHA TABAJARA & MARIANNE PERETTI

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Francis Hime: Concerto para Violão e Orquestra (2011), Mi Alma Mexicana (2010), Travieso C...