A arte da atriz e modelo Agatha
Moreira
LITERÓTICA: MINHA – Eu vou a vau e se me deres
serei nau ou lobo mau ou o que quiseres com todos os talheres pro seu apetite. E
me acredite: vou à deriva! E se tiver viva me salve e seja boazinha, seja até
mais que madrinha: pro que der e vier. Seja então a mulher, nua rainha, com
todos os seus encantos, com todos os seus espantos de fadinha que é só minha...
TERRINA – Quando
essa menina chega do grotão, toda sem noção, toda cabotina, aí se mostra então
a mais fogosa bailarina - flor agreste no Raso da Catirina. Ela nem imagina e
faz que não. Solta o seu bordão de dissimulada catilina - ah, quanta possessão!
Quanta divina tesão! É a mais trelosa das traquinas no raio da silibrina! Quando
essa menina chega no porão, o seu clarão de estrela cristalina reluz no salão e
me fascina com seus olhos de esverdeada turmalina. Que bão! É a mais
revigorante vitamina! Tudo me ilumina em plena escuridão - o seu choque de luz
na retina me enche de emoção. Quando essa menina vem de sopetão: pele fina,
lábios de antemão. Carne cajuína prenhe de paixão. Logo azucrina, perde a
compleição. Logo me abomina e me passa um carão. E faz jogatina, quer passar
gamão. Enrola a cocaína, doura o canjirão. Dá um carreirão de bater em Santa
Catarina. Quando volta dobra a esquina, finge mangação. Como arisca vem guenza
canina, quer que eu cante uma canção. De preferência, Carolina – ou a com K
debaixo da lamparina. Vira Zezulina toda manhosa e me faz alisar a sua rosa,
acionar sua buzina pra me fazer prosa e sua ave de rapina toda ouriçada que ela
alada se enrosca, entroncha e se entranha mais que feminina, com a sua candura
franzina, feita meu pirão. É quando essa menina abre o coração, a terrina, ela
é bela verde quente Teresina na minha desolação. É quando ela vai sestrosa se
derretendo frochosa, toda feita cremosa margarina pra minha saboreação. É
quando ela revira o chão e se amunta granfina, fica atrepada na minha
caeselpina com toda gula de heroína da mais louca raça nordestina que manda ver
no rojão, viva São João! E esquenta a bobina, vira o caminhão, sobe e desce
repentina até grunhir feito um cão. Não findou não. Como ela não pára não, vira
logo Catarina, depois vira Severina, quando apruma a direção. Ela se ajeita
arguta. Toda ferina, ela me chupa, me exulta, sou a predileta tangerina que ela
sorve com sofreguidão. Depois toma o meu coração, tudo refina: minha alma e
minha vida, tudo ajeitado com a resina que escoa da sua mão para ser no vão da
sua cabina o universo de sua taça servida. © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais aqui.
DITOS & DESDITOS – De todas as taras sexuais, não existe
nenhuma mais estranha do que a abstinência. Pensamento do
escritor, dramaturgo, tradutor, desenhista, humorista e jornalista Millôr
Fernandes. Veja mais aqui.
MULHERES NEGRAS – [...]
na organização da família ioruba, que é
polígama, contrariamente ao conceito que pessoas mal-informadas fazem, as
mulheres usufruem uma maior liberdade que a que se dá nas uniões monogâmicas.
Na grande casa familiar do esposo, elas são aceitas como progenitoras dos
filhos, destinadas a perpetuar a linhagem familiar do marido. Mas elas nunca aí
são totalmente integradas, deixando-lhes esse fato uma certa independência.
Após o casamento, elas continuam a praticar o culto de suas famílias de origem,
embora seus filhos sejam consagrados ao deus do cônjuge [...]. Trecho
extraído da obra A contribuição especial
das mulheres ao candomblé do Brasil: Culturas Africanas (Unesco, 1986), do
etnólogo e fotógrafo franco-brasileiro Pierre
Verger (1902-1996).
NAS PROFUNDEZAS DO BOSQUE - [...]
Era um peixe pequeno, um peixinho, como o
comprimento de meio dedo, com escamas prateadas e nadadeiras delicadas,
branquiadas, espelhadas e trêmulas. Um olho de peixe redondo e arregalado ao
máximo mirou os dois por um instante como se sugerisse a Maia e Mati que todos
nós, todos os seres vivos sobre este planeta, pessoas e animais, aves, répteis,
larvas e peixes, na realidade todos nós estamos bem próximos uns dos outros,
apesar de todas as muitas diferenças entre nós: pois quase todos nós temos olhos
para ver formas, movimentos e cores, e quase todos nós ouvimos vozes e ecos, ou
pelo menos sentimos a passagem da luz e da escuridão através da nossa pele. E todos
nós captamos e classificamos, sem parar, cheiros, gostos e sensações. Isso e
mais: todos nós sem exceção nos assustamos as vezes e até mesmo ficamos cansados,
ou com fome, e cada um de nós gosta de coisas e detesta outras, que nos
inspiram temor ou aversão. Além disso, todos nós sem exceção somos sensíveis ao
extremo. E todos nós, pessoas répteis insetos e peixes, todos nós dormimos e
acordamos e de novo dormimos e acordamos, todos nós nos empenhamos muito para
que fique tudo bem para nós, não muito quente nem frio, todos nós sem exceção
tentamos a maior parte do tempo nos preservar e nos guardar de tudo o que
corta, morde e fura. Pois cada um de nós pode ser amassado com facilidade. E
todos nós, pássaro e minhoca, gato menino e lobo, todos nós esforçamos a maior
parte do tempo em tomar o máximo cuidado possível contra a dor e o perigo, e
apesar disso nós arriscamos muito sempre que saímos para correr atrás de
comida, atrás de uma brincadeira e também atrás de aventuras emocionantes. E
assim, disse Maia depois de refletir sobre esse pensamento, e assim no fundo é
possível dizer que todos nós sem exceção estamos no mesmo barco: não apenas
todas as crianças, não apenas toda aldeia, não apenas todas as pessoas, mas
todos os seres vivos. Todos nós. E ainda não sei bem dizer se as plantas são um
pouco nossos parentes distantes. [...]. Trecho extraído da obra De repente, nas profundezas do bosque (Cia.
das Letras, 2007), do escritor e pacifista israelense Amos Oz. Veja mais
aqui e aqui.
SOPRO - Preste atenção / Mais às coisas que aos Seres / À voz do Fogo, fique
atento, / Ouça a voz das Águas./ Ouça através do Vento / A Savana a soluçar / É o Sopro dos ancestrais / Os que morreram
jamais se foram / Eles estão na Sombra que se ilumina / E na sombra que se
enegrece. / Os Mortos não estão sob a Terra / Eles estão na Árvore que balança,
/ Estão na Madeira que geme, / Estão na Água que dorme, / Estão na casa, estão
na multidão / Os mortos não estão mortos. / Preste atenção / Mais às coisas do
que aos Seres / À voz do Fogo, fique atento, / Ouça a voz das Águas. / Ouça
através do Vento / A Savana a soluçar / É o Sopro dos ancestrais / Que jamais
se foram / Que não estão sob a Terra / Que não estão mortos. / Os que morreram
jamais se foram: / Estão no Seio da Mulher, / Estão na criança que chora / E na
brasa que inflama. / Os Mortos não estão sob a Terra / Eles estão no Fogo que
se apaga, / Estão nas Ervas que choram, / Estão na Rocha que range, / Estão na
Floresta, na Cabana, / Os Mortos não estão mortos. / Preste atenção / Mais às
coisas do que aos Seres / À voz do Fogo, fique atento, / Ouça a voz das Águas.
/ Ouça através do Vento /A Savana a soluçar / É o Sopro dos ancestrais / Todo
dia ele refaz o Pacto / O grande Pacto que prende, / Que prende à Lei nosso
Destino, / Aos Atos dos Sopros mais fortes / O Destino de nossos Mortos que não
estão mortos, / O pesado pacto que nos liga à Vida, / A pesada Lei que nos ata
aos Atos, / Dos Sopros que morrem / No leito e às margens do Rio, / Sopros que
se movem / Na Rocha que range e na Erva que chora / Sopros que permanecem / Na
sombra que ilumina e se enegrece, / Na Árvore que balança, na Madeira que geme
/ E na Água que corre e na água que dorme, / Sopros mais fortes que tomaram / O
Sopro dos Mortos que não estão mortos, / Dos Mortos que não partiram, / Dos
Mortos que não estão mais sob a Terra. Poema do poeta senegalês Birago Diop (1906-1989).
A arte da atriz e modelo Agatha
Moreira
PADRE BIDIÃO – Esta é a reunião do que já foi publicado do eminentíssimo haríolo do povo do planeta Terra, Padre Bidião, contando como seu deu a revelação para que fosse de ser instaurada a Igreja Bindiônica do Final dos Tempos. Para os fiéis, simpatizantes e antipatizantes, eis o Padre Bidião.
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Nas
voltas que o mundo dá, Carlos Drummond
de Andrade, Jane
Duboc, François Ozon, Catherine Abel, Sheila Matos, Valeria Bruni Tedeschi, Niceas Romeo Zanchett & direito ao meio ambiente saudável aqui.
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Vinicius de Morais, Choderlos de Laclos, Pier Paolo Pasolini,
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Todo dia é dia da mulher - entrevista com
uma viúva autônoma, Sandra da Silva, de Arapiraca – Alagoas aqui.
Entrevista com a costureira Jqueline, a
musa da semana de Minas Gerais aqui.
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Público & Nênia de Abril: o canto do cidadão aqui.
Entrevista com Clélia, uma estudante de
Cacoal – Roraima aqui.
Literatura
de Cordel: O papé da rapariga, de Bob Motta aqui.
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CRÔNICA
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Sacerdotisa da Igreja Bidiônica do Final dos Tempos
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