O SORRISO & OS ABISMOS DA VIDA – UMA: O GOSTO DE QUASE UMA ÚLTIMA
CARTA - Este um tempo de angústia: a tragédia ronda ameaçadora e
o desgoverno reitera a aflição. Longe o olhar, a solidão de quem não espera e
as horas são o que restam para viver, a esperança longínqua, o futuro distante.
Bate no peito o verso de Sylvia Plath:
Dentro de mim mora um grito. De noite,
ele sai com suas garras, à caça de algo para amar. Por mais resiliente, há
sempre um gosto de nunca mais e ela é quem ouço ecoar na escuridão: Eu falo com Deus, mas o céu está vazio. Na
boca o sabor de quase uma última carta e sorrio. DUAS: PERSISTIR É PRECISO - A urgência da hora apaga o passado,
nenhum arranhão que resista, nem quedas ou fracassos. Seguir em frente e já
glosa o mote, talvez não dê tempo para amanhecer. Não há um mínimo tempo a
perder. Ouço a voz rouca de Washington Irving: Os espíritos pequenos são
domados e subjugados pelo infortúnio; os grandes, porém, sabem como fugir à
desgraça. Os grandes espíritos têm metas. Os outros apenas desejos. Vou
como se fosse onda em mar aberto e vivo. TRÊS:
NÃO TENHO MÃOS ABANANDO, TENHO GESTOS - Do que sucumbi nenhuma derrocada
foi capaz de me deter. Quixote ou não, se não venci todos os meus moinhos de
vento, pelo menos me esquivei na hora certa e me safei de tudo até agora.
Jamais me dei por vencido, posso ter recuado, mas foi para dar um salto maior,
mesmo que tudo tenha malogrado. Do chão os ventos traziam Agostinho da Silva: Toda a
grande obra supõe um sacrifício; e no próprio sacrifício se encontra a mais
bela e a mais valiosa das recompensas. O que interessa na vida não é prever os
perigos das viagens; é tê-las feito. Tudo que passei marcado em minha
carne, a qualquer outra, terei mais para contar depois de passar por ela. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS: A pessoa cuja cabeça está inclinada e cujos olhos estão
pesados não pode olhar para a luz. Nem todos os homens (e especialmente os mais
sábios) compartilham a opinião de que é ruim para as mulheres serem educadas.
Mas é bem verdade que muitos homens tolos alegaram isso porque lhes desagradou
o fato de as mulheres saberem mais do que sabiam. Assim como os corpos das
mulheres são mais suaves que os dos homens, a compreensão deles é mais nítida. Pensamento da poeta e
filósofa italiana Cristina de Pisan
(1363-1430), que foi uma das primeiras escritoras a viver da sua arte, a criticar
a misoginia e defender o papel vital das mulheres na sociedade. As suas
primeiras baladas foram compiladas em Le livre
de cent balladés, autora do poema Roman
de la Rose (Romance da Rosa) que representava as mulheres como nada mais
que sedutoras, numa mordaz sátira às convenções do amor cortês. Já outras de
suas obras, Epistre au dieu d’Amour e
Dit de la Rose, causou debates
extensos pela representação e tratamento das mulheres nos textos literários.
HOJE EM DIA - […] Hoje é muito melhor porque sabemos que não somos
loucas; o sistema é que é louco. No meu tempo, por exemplo, não havia uma
palavra para violência doméstica. Ela era chamada “vida”. E as mulheres eram
culpadas pelo ato de seus maridos. Hoje, há abrigos para essas mulheres – e
isso é um avanço enorme. A consciência vem antes da mudança física e agora,
definitivamente, há consciência – e alguma mudança também. Mas ainda é verdade
que o lugar onde a mulher corre mais risco de morrer é em sua própria casa. [...] Dizer que as mudanças ocorrem de baixo para
cima, que devemos usar nossas vozes sempre que pudermos. Sou feliz por ser uma
escritora e ter acesso a leitores por meio dos livros e da imprensa. Faço o meu
melhor usar minha voz para refletir a voz dos que não têm esse espaço.
[...]. Trechos da entrevista (Istoé, 2017), concedida pela escritora,
jornalista e ativista estadunidense Glória
Steinem, por ocasião do lançamento de sua obra Minha vida na estrada (Bertrand Brasil, 2017), contando suas experiências
e engajamento no ativismo social entre as mulheres na Índia e o trabalho na
década de 1960, as campanhas políticas, a Conferência Nacional da Mulher, os
territórios indígenas e conexão com pessoas em um movimento para mudar o mundo.
Foi a única jornalista que conseguiu se infiltrar na Playboy sem que fosse
descoberta, para escrever um artigo sobre a situação degradante das moças que
tinham seus direitos trabalhistas violados. Entre as suas obras estão A revolução interior – um livro de
autoestima (Objetiva, 1992) e Memórias
da transgressão (Rosa dos Ventos, 1997).
A POESIA DE NATÁLIA CORREIA
COSMOCÓPULA – I - Membro a pino / dia é macho / submarino / é
entre coxas / teu mergulho / vício de ostras. – II - O corpo é praia / a boca é
a / nascente / e é na vulva que / a areia é mais sedenta / poro a poro vou / sendo
o curso de / água / da tua língua / demasiada e / lenta / dentes e unhas / rebentam
como / pinhas / de carnívoras plantas / teu é meu ventre / abro-te as coxas e /
deixo-te crescer / duro e cheiroso como o / aloendro.
A EXALTAÇÃO DA PELE - Hoje quero com a violência da dádiva interdita. / Sem
lírios e sem lagos / e sem gesto vago / desprendido da mão que um sonho agita.
/ Existe a seiva. Existe o instinto. E existe eu / suspensa de mundos
cintilantes pelas veias / metade fêmea metade mar como as sereias.
O LIVRO DOS AMANTES – I - Glorifiquei-te no eterno. / Eterno dentro de
mim / fora de mim perecível. / Para que desses um sentido / a uma sede
indefinível. / Para que desses um nome / à
exatidão do instante / do fruto que cai na terra / sempre perpendicular
/ à humidade onde fica. / E o que acontece durante / na rapidez da descida / é
a explicação da vida. II - Harmonioso vulto que em mim se dilui. / Tu és o poema
/ e és a origem donde ele flui. / Intuito de ter. Intuito de amor / não
compreendido. / Fica assim amor. Fica assim intuito. / Prometido. VI - Aumentámos
a vida com palavras / água a correr num fundo tão vazio. / As vidas são
histórias aumentadas. / Há que ser rio. / Passámos tanta vez naquela estrada / talvez
a curva onde se ilude o mundo. / O amor é ser-se dono e não ter nada. / Mas
pede tudo. VII - Tu pedes-me a noção de ser concreta / num sorriso num gesto no
que abstrai / a minha exatidão em estar repleta / do que mais fica quando de mim
vai. / Tu pedes-me uma parcela de certeza / um desmentido do meu ser virtual / livre
no resultado de pureza / da soma do meu bem e do meu mal. / Deixa-me assim
ficar. E tu comigo / sem tempo na viagem de entender / o que persigo quando te
persigo. / Deixa-me assim ficar no que consente / a minha alma no gosto de
reter-te / essencial. Onde quer que te invente.
NATÁLIA CORREIA - A poesia da escritora, dramaturga, jornalista, tradutora e
ativista social portuguesa Natalia
Correia (1923-1993), autora de obras como Eros de Passagem (Campo das
Letras, 1997), entre outras, e que atuou na defesa dos direitos das mulheres,
tendo sido condenada pela publicação da Antologia da Poesia Portuguesa Erótica
e Satírica, em 1966, considerada ofensiva dos costumes e processada pela
publicação da obra das Três Marias, Novas cartas portuguesas, de Maria Isabel
Barreno, Maria Velho da Costa e Maria Teresa Horta. Veja mais aqui, aqui e
aqui.
A ARTE DE OLGA KLIMOVA
Pondo a mente de lado e confiando no
fluxo da criação, ouvindo a pintura e o próprio subconsciente, sem tentar
controlar o que está acontecendo e deixando ir - todas são habilidades muito
úteis, não apenas durante a pintura, mas na vida.
OLGA KLIMOVA - A arte da artista visual
russa Olga Klimova que reflete em
sua obra sua arte visionária e suas profundas experiências místicas, como tentativa
contínua de se reconectar com esse nível mais profundo de consciência, enquanto
compartilha seu estado feliz de ser um com o mundo. Criou o WizArt Visions, em
Nova York, um estúdio de design e produção de cenografia e que já desenvolveu
vários cenários, instalações de tecido, U.V. pinturas e cenários para a cena de
festivais. Veja mais aqui.
PERNAMBUCO ART&CULTURAS
VICENTE
DO REGO MONTEIRO
A arte
do pintor, desenhista, escultor, professor e poeta Vicente do Rego Monteiro
(1899-1970) aqui e aqui.
Festival
de Artes Psicodélicas e Astrais (FARPA) aqui.
O túnel
amaldiçoado de Pirangi aqui.
&
OFICINAS ABI – 2º SEMESTRE 2020