sexta-feira, abril 24, 2020

AGLAJA VETERANYI, NAOMI KLEIN, SARAH LUCAS, SIMONE TEODORO & ORIDES FONTELA


DAS ESFERAS DO TRIVIAL – UMA: É VIVENDO QUE SE APRENDE - Meus pensamentos são desproporcionalmente maiores que o meu tamanho, acho, claro, um batoré troncho e buchudo superando a pequenez. Isso desde menino inventando história para brincar e aparecer. Talvez seja essa a razão das dificuldades em encaixá-los adequadamente. Ou mania de grandeza desarrazoada. Destá. A vida e os livros muito me ensinaram, não sou lá entre os bons e os piores aprendentes, talvez um pouco abaixo da média. Mas me esforço e gosto de descobertas, aprendizados constantes, corro atrás. Comigo o ensinamento da maravilhosa educadora Esther Pillar Grossi: Aprender é estar vivo. Fazer pergunta significa saber algo e estar aprendendo, porque não há resposta sem pergunta. Aprender é curtir a graça da vida. E eu curto essa graça a cada dia, principalmente nesses momentos de clausura compulsória, ocasião que ela aconselha: Que durante esse isolamento, cultivemos o calor da maior solidariedade, para que dele renasça uma nova humanidade, não mais desigual como a de agora. Também espero uma nova humanidade depois que tudo isso passar, porque aprendi: você é o que pensa. E eu penso sempre maior que eu mesmo. Assim voo aprendiz e aprendendo. DUAS: PARA ALÉM DA ESTATURA – Como havia dito, desde menino, sempre pensei muito além da minha idade e medida, talvez de forma descabida, mas ousada, inventando até o disforme ou impossível. Achava graça, morria de rir – como ainda hoje me rio das minhas leseiras que se parecem estupendas quando, na verdade, são meras invencionices – ou serão estultices minhas, hem? Avalie. Lembro ainda jovem quando li o saudoso Hélio Jaguaribe: O homem é uma busca individual de sentido, no âmbito de um cosmos destituído de qualquer sentido. O homem é um primata transcendente; a transcendência é inerente à natureza humana (e mais dele aqui e aqui). Culpa dele, isso me dava uma corda, ainda dá, vou por aí transcendendo. TRÊS: DOS MORALISMOS PARA PORNOGRAFIA & OBSCENIDADE - Transcender de mesmo é preciso com a patetada lá do Planalto Central, com seus conceitos moralistas e fajutos que se impõe ditando lá, na maior confusão do que é lícito ou certo, do que é obsceno ou pornográfico, quando, deveras, são despautérios e cotoveladas! Minha nossa! Acho que a ministrada coisonária não bate bem lá da bola ou são tão estúpidos que não dá nem para levá-los a sério. O que eles propagam são minimamente dislates os mais impensáveis. O que fizeram da minha utopia, hem? Pois bem, a respeito disso vou de José Saramago: Não é a pornografia que é obscena, é a fome que é obscena. Doutra forma, a Andrea Dworkin observa que: Pornografia é a sexualidade essencial do poder masculino: de ódio, de posse, de hierarquia, de sadismo, de dominância. Pois é, a trupe coisada ou é obscena ou tão incompetente que chega a ser pornográfica! E como aprendi com Plutarco que: A mente não é uma vasilha para ser enchida, mas um fogo para ser acendido, da minha parte, eu digo: só há pornografia ou obscenidade onde há preconceito, repressão, discriminação. Vou ali tentar salvar a minha insanidade mental. Até segunda-feira! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] minha cidade se sentiu como a cena de um crime. E os criminosos estão se fundindo com a noite, fugindo da cena. Não, não estou falando dos rapazes de preto que quebraram janelas e incendiaram patrulhas policiais. Estou falando dos chefes de Estado que destruíram as redes sociais de segurança e queimaram empregos bons em meio a uma recessão. Confrontados com os efeitos de uma crise criada pelos estratos mais abastados e privilegiados, decidiram cobrar a conta dos habitantes mais pobres e vulneráveis de seus respectivos países. De que outra forma podemos interpretar o comunicado final do G-20, que nem sequer inclui um mísero imposto sobre os bancos ou as transações financeiras [...] mas diz aos governos que cortem seus déficits pela metade até 2013? Trata-se de um corte enorme e importante, e devemos ser muito claros quanto a quem pagará a conta: estudantes que verão uma deterioração adicional em sua educação enquanto suas mensalidades aumentam; aposentados que perderão seus benefícios duramente ganhos; trabalhadores do setor público cujos empregos serão eliminados. E a lista continua. Cortes desse tipo já começaram em muitos países do G-20 e estão a ponto de piorar. Reduzir pela metade, por exemplo, o déficit projetado dos EUA, sem impor um aumento fiscal substancial, significaria um corte fenomenal de US$ 780 bilhões. Os cortes estão ocorrendo [...]. Trechos de Cobrando do povo pela crise dos banqueiros (Uol Noticias, 2010), da escritora, jornalista e ativista canadense, Naomi Klein que no Diálogo interconvicções: A multiplicidade no pano da vida (IHU, 2020), assinalou que: A Doutrina do Choque é uma estratégia política que consiste em usar crises em larga escala para promover políticas que sistematicamente aprofundam a desigualdade, enriquecem as elites e minam os demais [...] Isso é o que essa espécie de economia de o-ganhador-leva-tudo faz com nosso cérebro. Estamos vendo em tempo real que estamos muito mais interconectados entre nós do que nosso brutal sistema econômico nos faz acreditar. [...] Quando se está em um sistema que se sabe que não está cuidando das pessoas e não está distribuindo recursos de maneira equitativa, então sua parte de ‘monopólio’ se iluminará [...] Podemos pensar que estaremos seguros se tivermos bons cuidados médicos, mas se a pessoa que faz nossa comida, que entrega nossa comida e empacota nossas caixas, não pode sequer pagar pelo teste, e muito menos ficar em casa, pois não recebe licença médica, não estaremos a salvo. [...] Portanto, leve em conta isso e pense em como, em vez de acumular e pensar em como pode cuidar de si e de sua família, pode passar a compartilhar com seus vizinhos e controlar as pessoas mais vulneráveis [...]. Veja mais aqui.

A POESIA DE AGLAJA VETERANYI
MÃE - Uma vez uma mãe. Disse para o braço: Filho. /Cortou o próprio braço. / Foi à cozinha e preparou para o braço canja / de galinha. Dizia: Filhinho. Come tudo! A mamãe fez / muita sopa. Isso! Isso! / Depois da comida ela pôs o braço na cama. Cobriu- / o. Cantou o braço até o sono. 
1 CARTÃO-POSTAL - A filha / come as velas de aniversário / não / A mãe / Você é como seu pai! / O pai / fica 20 anos fora / envia depois de 20 anos / 1 cartão postal / telefona depois de 20 anos / 1 vez / canta para a filha depois de 20 anos / 1 canção infantil / A filha / envia para a mulher do pai / 1 a 2 saudações / Depois de 20 anos / o pai volta / e morre / 1 vez.
AGLAJA VETERANYI - A poesia da escritora romena Aglaja Veteranyi (1962-2002). Veja mais aqui & aqui.
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A POESIA DE SIMONE TEODORO
AMOR - Quando a torneira da pia estourou, Ana, eu perdi o controle e soquei o espelho do banheiro respingado de pasta de dente. / Tudo era jorro. Sangue, água e ódio, por muito tempo represados / Passei o ano embalsamando carne morta, Ana. Salgando as vísceras pra esconder o mal cheiro / Ana, eu sei: teu bonde parou de súbito, como um coração. Entraste no inferno e no amor com a lucidez de quem sabe que morre. / Entraste na pior escuridão, a que aterroriza com a visão aumentada do pulsar das coisas / Dentes de cego e chicletes, tua crise / Meu inferno, Ana: um romper de cascas, como o massacre de ovos em tua sacola de compras / Meu inferno: profusão de canos furados, desordem de águas incontroláveis, que ardem a respiração se me atingem as narinas e que devagar / me matam / me matam
COM LICENÇA, COM LICENÇA POÉTICA - Tenho apenas minhas mãos / e um tesão maior que o mundo / A vontade de amor / sempre me paralisou o trabalho / Sou anjo esbelto e safado / Solidão me come por dentro / diariamente / Tenho minhas mão / Sou mulher desdobrável / Eu sou
LITANIA PARA QUANDO DESCARRILAREM OS ASTROS - Eu te supunha / asa / hélice / um retalhar de quedas / Eu te sonhava / rito e rio / e te queria ajustada / a meu dia de chuva / e a minha saudade de árvores / Por equinócios e solstícios vários / te gozei / em poro e pelo / Mas eu era a puta / eu era a puta / e você tinha / a pedra / e a estaca / Por equinócios e solstícios vários / nos esfaqueamos / com furor igual / ao de quando o desejo / nos delirava / por equinócios e solstícios vários / Até que o sal / do mar da mágoa / vestiu a ardência / nossas carnes rasgadas
SIMONE TEODORO - A arte da poeta Simone Teodoro, autora das obras Movimento em falso (2016), Distraídas astronautas (2014) e Também estivemos em Pompeia (2019). Ela é mestre e doutoranda em Literatura Brasileira pela UFMG e possui textos publicados em revistas e jornais, tais como Mallarmargens, Germina, Incomunidade, Suplemento Literário de Minas Gerais e no Jornal O Relevo. Ela também edita o blog Cálida Poesia. Veja mais aqui.

A ARTE DE SARAH LUCAS
Se este mundo é tudo o que existe; se é só isso, dadas as infinitas possibilidades, por que então é tão tosco?
A arte da artista visual inglesa Sarah Lucas, que possui uma proposta de trabalho artístico com emprego frequente de trocadilhos visuais e humor obsceno, incorporando fotografia, colagem e objetos encontrados. Veja mais aqui.

PERNAMBUCULTURARTES
A obra da poeta Orides Fontela (1940-1998), autora das obras Transposição (1969), Helianto (1973), Alba (1983), Rosácea (1986), Trevo (1969-1988), Teia (1996), Poesia Reunida (2006) e Poesia completa (2015). O documentário Orides: A um passo do pássaro (2000), dirigido por Ivan Marques, conta com diversos trechos de entrevistas feitas com a poeta na década de 1990. A sua biografia, O enigma Orides (Hedra, 2015), do jornalista e professor Gustavo Castro, conta com 22 poemas inéditos descobertos pelo autor, além de sua história. Veja mais aqui & aqui.
A música de Quinteto Violado aqui & aqui.
A arte de Tereza Costa Rego aqui & aqui.
O cordel de José Vila Nova aqui.
O pum da batata aqui.
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Jurema aqui & aqui.


PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

  Imagem: Foto AcervoLAM . Ao som do show Transmutando pássaros (2020), da flautista Tayhná Oliveira .   Lua de Maceió ... - Não era ...