CATANDO NOS MANUSCRITOS AS GARATUJAS DO TEMPO - UMA: VIDA OBSCURA – Nesse
período de clausura, resolvi rever alguns livros nas estantes. Alguns volumes,
brochuras, livros que nem me lembrava que já havia lido e relido. Parei numas biografias
bastante obscuras. Além de rever as anotações que sempre fiz riscando, grifando e marcando os
próprios livros durante as leituras, fui ver dar uma passeio naquelas que já
estavam tanto em livros como levadas ao cinema. Uma delas, bastante obscura, a
da Jane Austen: Não tenho
medo de mostrar meus sentimentos e de fazer coisas imprudentes, pois acredito
que o que não se mostra, não se sente. Coisa que talvez surpreenda muito a
você, pois os seus sentimentos são tão guardados que parecem não existir
realmente... Em vão tenho lutado comigo mesmo; nada consegui. Meus sentimentos
não podem ser reprimidos. Não tenho a menor noção de amar as pessoas pela
metade, não é a minha natureza. Somos todos tolos no amor. Sou metade agonia,
metade esperança. O mais curioso é que, apesar do sucesso obtido
pela escritora, ela nunca se casou, escreveu a maior parte de seus sucessos na adolescência
e, reduzida aos afazeres domésticos, morreu aos 42 anos de idade, supostamente
envenenada. Nada pode ser lá muito apurado, a família destruiu muitas de suas
cartas, restando apenas algumas que serviram de base para as biografias
publicadas. O que ficou de mesmo foi a sua literatura, isso sim. DUAS: NO MEIO DUMAS SACADAS CERTEIRAS –
Outra me levou a refletir sobre a questão da liberdade. O que tem de papo estéril
a respeito, deixa para lá. Fui fundo, revendo meus garranchos nos alfarrábios a
respeito deste verbete. E dei de cara com o Isaac Asimov: A liberdade não
tem preço, a mera possibilidade de obtê-la já vale a pena. Se o conhecimento
pode criar problemas, não é através da ignorância que podemos solucioná-los. Apenas
uma guerra é permitida à espécie humana: a guerra contra a extinção. O maior
bem do homem é uma mente inquieta. Nada mais apropriado para este momento,
hem? TRÊS: DO POSSÍVEL AO IMPOSSÍVEL,
HAJA IMAGINAÇÃO - Realmente, para viver precisa-se de uma boa dose de
imaginação. Principalmente porque aprendi que o desespero é exatamente a ausência
dela. Então, sou como se diz no popular: vivo no mundo da lua. Mas nada que me
acrescente ou me reduza, apenas voo. O bom mesmo foi pegar nos meus caderninhos
de anotações o que viajei ainda menino nas obras de Júlio Verne: Neste mundo as
coisas que nos dão prazer andam a par das que nos afligem e desgostam. Os
obstáculos existem para serem vencidos; quanto aos perigos, quem pode se
orgulhar de fugir deles? Tudo é perigo na vida. A imbecilidade humana não tem
limite. É. E vamos aprumar a conversa, gente! © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS: A
vida é crescimento, e quanto mais viajamos, mais verdade podemos entender.
Entender as coisas que nos cercam é a melhor preparação para entender as coisas
que estão além. Independentemente da nossa cor, raça e religião, somos irmãos. A
verdade não muda porque é ou não é acreditada pela maioria das pessoas. Deus
criou o homem como um animal social, com inclinação e sob a necessidade de
viver com os seres de sua própria espécie, e também dotado de linguagem, para
ser o grande instrumento comum à sociedade. Fábulas devem ser ensinadas como
fábulas, mitos como mitos e milagres, como fantasias poéticas. Ensinar
superstições como se fossem verdades é terrível. A mente da criança aceita e
acredita, e só com grande dor e, talvez, a tragédia pode se livrar deles ao
longo dos anos. De fato, as pessoas lutam por uma superstição tanto quanto por
uma verdade, ou até mais. Desde uma superstição é tão intangível que é difícil
provar para refutá-la, e a verdade é um ponto de vista e, portanto, pode ser
alterado. Todas as religiões formais são falaciosas e não devem ser aceitas por
respeito a si mesmas. Aquele que influencia o pensamento do seu tempo,
influencia todos os momentos que o seguem. Deixe sua opinião para a eternidade.
Pensamento da filósofa neoplatônica, Hypatia
de Alexandria (350-415 d.C.). Veja mais aqui, aqui e aqui.
O BRASIL IRRESPIRÁVEL - [...] Eu contagio no local que eu ocupo
socialmente. Não sou desterrada. Não sou refugiada. Qual é a minha condição? Quando
eu não consigo mais dar aula e nem retornar ao meu país, qual é a minha situação?
Basicamente são homens ressentidos, de 30 a 40 anos, ligados a grupos de
extrema direita, neonazistas e incels (celibatários involuntários que atrelam o
fracasso de suas vidas amorosas a uma suposta banalização das relações
sexuais). Enxergam a ascensão de mulheres e LGBTs como afronta à masculinidade
e não costumam deixar rastros nem indícios de uma célula de articulação do
movimento. Orientadas por uma lógica religiosa messiânica, as políticas
anunciadas pelo governo e a ministra colocam em risco os direitos das mulheres.
Embora eu mantenha a minha sanidade com a condição de que são bravateiros, eu
não posso arriscar a vida de estudantes na minha condição. Temos que encontrar
um caminho, além do penal, de provocação do Estado. Assim como outros
defensores dos direitos humanos, não posso me permitir a cruzar limites sob o
risco de virar mártir. É um perigo constante defender posições no país que mais
mata ativistas dos
direitos humanos. Não saí do Brasil porque fui ameaçada, mas para proteger
outras pessoas. Se as ameaças fossem somente contra mim, eu jamais sairia. Mais
do que nunca, mesmo à distância, eu sigo fazendo meu trabalho. Não vão me calar. Trecho
do desabafo da antropóloga, professora universitária, pesquisadora, ensaísta e
documentarista brasileira, Debora Diniz,
que desenvolve projetos de pesquisa sobre bioética, feminismo, direitos humanos
e saúde. Ela é pesquisadora do Centro de Estudos Latino-Americanos e Caribenhos
na Brown University e foi contemplada com o prêmio internacional acadêmico, Dan
David Prize, por sua atuação em prol da igualdade de gênero. Veja mais aqui.
QUEM SOU EU?
Quem sou
eu? Que importa quem? / Sou um trovador proscrito, / Que trago na fronte
escrito / Esta palavra — Ninguém! — / Amo o pobre, deixo o rico, / Vivo como o
Tico-tico; / Não me envolvo em torvelinho, / Vivo só no meu cantinho: / Da
grandeza sempre longe, / Como vive o pobre monge. / Tenho mui poucos amigos, / Porém
bons, que são antigos, / Fujo sempre à hipocrisia, / À sandice, à fidalguia; / Das
manadas de Barões? / Anjo Bento, antes trovões. / Faço versos, não sou vate, / Digo
muito disparate, / Mas só rendo obediência / À virtude, à inteligência: / Eis
aqui o Getulino / Que no pletro anda mofino. / Sei que é louco e que é pateta /
Quem se mete a ser poeta; / Que no século das luzes, / Os birbantes mais
lapuzes, / Compram negros e comendas, / Têm brasões, não — das Kalendas, / E,
com tretas e com furtos / Vão subindo a passos curtos; / Fazem grossa
pepineira, / Só pela arte do Vieira, / E com jeito e proteções, / Galgam altas
posições! / Mas eu sempre vigiando / Nessa súcia vou malhando / De tratantes,
bem ou mal / Com semblante festival. / Dou de rijo no pedante / De pílulas fabricante,
/ Que blasona arte divina, / Com sulfatos de quinina, / Trabusanas, xaropadas,
/ E mil outras patacoadas, / Que, sem pinga de rubor, / Diz a todos, que é Doutor!
/ Não tolero o magistrado, / Que do brio descuidado, / Vende a lei, trai a
justiça / — Faz a todos injustiça — / Com rigor deprime o pobre / Presta abrigo
ao rico, ao nobre, / E só acha horrendo crime / No mendigo, que deprime. / -
Neste dou com dupla força, / Té que a manha perca ou torça. / Fujo às léguas do
lojista, / Do beato e do sacrista — / Crocodilos disfarçados, / Que se fazem
muito honrados, / Mas que, tendo ocasião, / São mais feroz que o Leão. / Fujo
ao cego lisonjeiro, / Que, qual ramo de salgueiro, / Maleável, sem firmeza, / Vive
à lei da natureza; / Que, conforme sopra o vento, / Dá mil voltas num momento.
/ O que sou, e como penso, / Aqui vai com todo o senso, / Posto que já veja
irados / Muitos lorpas enfunados, / Vomitando maldições, / Contra as minhas
reflexões. / Eu bem sei que sou qual Grilo, / De maçante e mau estilo; / E que
os homens poderosos / Desta arenga receosos / Hão de chamar-me Tarelo, / Bode,
negro, Mongibelo; / Porém eu que não me abalo, / Vou tangendo o meu badalo / Com
repique impertinente, / Pondo a trote muita gente. / Se negro sou, ou sou bode
/ Pouco importa. O que isto pode? / Bodes há de toda a casta, / Pois que a
espécie é muito vasta. / Há cinzentos, há rajados, / Baios, pampas e malhados,
/ Bodes negros, bodes brancos, / E, sejamos todos francos, / Uns plebeus, e
outros nobres, / Bodes ricos, bodes pobres, / Bodes sábios, importantes, / E
também alguns tratantes... / Aqui, nesta boa terra / Marram todos, tudo berra;
/ Nobres Condes e Duquesas, / Ricas Damas e Marquesas, / Deputados, senadores,
/ Gentis-homens, veadores; / Belas Damas emproadas, / De nobreza empantufadas;
/ Repimpados principotes, / Orgulhosos fidalgotes, / Frades, Bispos, Cardeais,
/ Fanfarrões imperiais, / Gentes pobres, nobres gentes / Em todos há meus
parentes. / Entre a brava militança / Fulge e brilha alta bodança; / Guardas,
Cabos, Furriéis, / Brigadeiros, Coronéis, / Destemidos Marechais, / Rutilantes
Generais, / Capitães de mar-e-guerra, / — Tudo marra, tudo berra — / Na suprema
eternidade, / Onde habita a Divindade, / Bodes há santificados, / Que por nós
são adorados. / Entre o coro dos Anjinhos / Também há muitos bodinhos. — / O
amante de Syiringa / Tinha pêlo e má catinga; / O deus Mendes, pelas contas, / Na
cabeça tinha pontas; / Jove quando foi menino, / Chupitou leite caprino; / E,
segundo o antigo mito, / Também Fauno foi cabrito. / Nos domínios de Plutão, / Guarda
um bode o Alcorão; / Nos lundus e nas modinhas / São cantadas as bodinhas: / Pois
se todos têm rabicho, / Para que tanto capricho?
/ Haja paz, haja alegria, / Folgue e brinque a bodaria; / Cesse pois a
matinada, / Porque tudo é bodarrada!
QUEM SOU EU? – Poema do escritor, jornalista, rábula e
orador Luís Gama (1830-1882),
considerado o Patrono da Abolição da Escravidão do Brasil e que conquistou
judicialmente a própria liberdade, atuando na advocacia em prol dos cativos.
Sua obra foi reunida no volume Luiz Gama e suas poesias satíricas (Cátedra/INL,
1981), por Júlio Romão da Silva. Veja mais aqui e aqui.
A DANÇA DE MARIA TAGLIONI
A arte da bailarina
sueca Marie
Taglioni (1804-1884), a Condessa de Voisin da era do balé
romântico, uma figura central na história da dança europeia. Veja mais aqui.
PERNAMBUCO ART&CULTURAS
A dança exige dedicação e disciplina. Tenho compromisso e exigência com
cada aluno. Mas lembro que a dança sempre permite mais. A dança não tem limites.
FÁTIMA
GUIMARÃES & BALLET ENDANÇA
A arte
da coreógrafa e professora Fátima
Guimarães, criadora do Espaço Endança, que tem por objetivo a formação em
Ballet Clássico, baseada na metodologia Vaganova.
A poesia
de Vernaide Wanderley aqui.
A música
de Irah Caldeira aqui.
(Des)encantos
modernos: histórias da cidade do Recife na década de vinte, de Antonio Paulo Rezende aqui.
O cordel
de Jorge Filó aqui.
A arte
de Fernando Alves aqui.
&
OFICINAS ABI – 2º SEMESTRE 2020