domingo, dezembro 21, 2025

JANNA LEVIN, DAISY ZAMORA, LISA JAKUB, CERÚLEO ESCARLATE & FRANCISCO JULIÃO

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Dentro da oficina do mestre João do Pife de Caruaru adquiri meu primeiro instrumento e assim comecei a aprender. Trouxe o instrumento pra casa, que meu pai me deu de presente porque era próximo do meu aniversário. E como a gente mora aqui no bairro do Salgado, bem próximo a casa do João do Pife, sempre eu estava lá, chamava as amizades e aperreava o “vein” pra ele me ensinar a tocar pife e foi assim que eu aprendi e tenho muito a aprender ainda...

Pensamento ao som do álbum Sem Pergaminho (2025), primeiro álbum musical autoral da artista independente, musicista, pifeira, luthier, compositora, professora e produtora Vitória do Pife, que idealizou o projeto Passarinho Passarada (2019), levando música como forma de educação para as crianças do bairro do Salgado, em Caruaru – PE. É integrante Orquestra de Pífanos de Caruaru & Maestro Mozart Vieira, da banda Forró Agarradim e da Banda de Pífanos Zé do Estado, além de fundar a Banda de Pífanos Caruaru Camaleão

 

A vida segue caminhos tortuosos... - Já era tarde da noite quando Zeca Biu, aos bocejos, sentiu frio. Estava muito chateado com o imbróglio de suas demandas diárias, comendo seu juízo. Viu-se cansadíssimo e resolveu jogar tudo pro ar, ora, ora. Melhor deitar e descansar, obtemperou. Assim o fez e logo regalou-se à costumeira cama com seu cobertor abafa-banana, ajeitando os travesseiros molambentos, aos suspiros, aí dormiu emborcado, roncou estirado de papo pro ar e, aos peidos trovejantes, muito sonhou. Despertou determinado a ir num zoológico para dar cabo do pandemônio que virara seu quintal – os incomodados vizinhos, ameaça da polícia, as chaturas e perrengues, perigava ser enxotado num sabia pra onde. Estava tão firme no seu propósito de quase passar despercebido que não estava em sua cama, ali não era seu quarto e viu-se fora de sua casa, numa noite do ocaso da Lua. Oxe, que fuleragem é essa, ondéqeutô! Abriu bem os olhos, levantou as pestanas, acionou o faro, aprumou as ouças, ligou as orelhas e perscrutou: vozes. Na verdade, duas: um casal combinava, não dava para identificar o quê. Ficou sintonizando, ia pra lá, não, distanciava-se; pra cá, sim, aproximava-se, vozes mais nítidas. Tateou, topadas e sustos, quase ao vivo, mas sem conseguir enxergá-los, ousou no caliginoso: Boa noite, por acaso poderiam me dizer onde estou? Num oásis, respondeu-lhe uma voz masculina. E pra seu espanto deu pra ver de relance numa centelha ínfima: um mascarado de camelo falante. Essa é boa: que marmota é essa, saíram de um baile de máscara, foi? Não, somos nós – era uma voz feminina e um novo escândalo: fantasiada de zebra, também falante. Agora deu, pronto, devo ter endoidado: que pinoia é essa, hem? Responderam com outra indagação: Nunca leu Shakespeare? Ué, o que tem o cu com as calças? Somos humanos! Eita! Aí aboticou as vistas: Não eram e tinha certeza, parecia uma daquelas disforias de espécie, uma teriantropia ao contrário, ou que licantropia braba era essa, será? Então, uma fogueira foi acesa e ele começou a falar: Sou Alain, filho do tapeceiro Josamur. Muito jovem me apaixonei pela bela filha do Sultão e era correspondido. E por não ser abastado e vindo de família muito humilde, fui ameaçado e, como insisti, condenado à morte. Por causa do nosso idílio, o pai dela tentou por diversas vezes me matar. E numa de suas investidas, mais uma vez me desvencilhei e, com o desalmado golpe, ele matou a própria filha. Daí a minha fuga pelos 4 cantos do mundo, até ser amaldiçoado por bruxaria e me tornei o que sou: um camelo e me chamam agora de Bonifácio, suposto neto de Zorol da Somália, que, por sua vez era filho de um dos guardiões do paraíso, os voadores de Zohar do Paraíso no Avesta. Peraí! Como é que é? Ouviu tudo de novo e Zeca Biu amiudou na conferência: de fato, era mesmo um bicho feio com cabeça de alce, orelha de burro, cílios longos e grossos, patas de cavalo, pernas de avestruz, rabos de espanador, teimoso, cuspidor, estava com uma bateria nas costas; não, melhor, duas, pense num desengonçado, hem, Esopo, tão desajeitado de ganhar o opróbrio por não ter sido criado por Deus, mas, como disse Millôr: por um grupo de trabalho. E continuou a narração: Eu me perdi duma caravana, depois de atravessar os desertos de Gobi, da Arábia, o Saara e Kalahari; fui parar no Rajastão para ser trocado nas feiras de Pushkar e Bikader e, depois de muitas idas e vindas, de lá me passei pelos 35 camelos do homem que calculava, fui o preguiçoso de Rudyard Kipling e quase fui capturado pruma expedição que ia pro Ceará - na verdade foram 14 dromedários de Argel para Pedro II, numa comissão científica que incluía o poeta e etnólogo Gonçalves Dias. Não tivesse me desviado duma comitiva que ia pro Atacama, entre o Chile e o Peru, daí nenhuma cáfila, nem dromedários, iamas, alpacas ou vicunhas que aparecessem, findei como um desertor errante pelo semiárido, atravessando Seridó, Gilbués, Irauçuba e o sertão de Cabrobó. Até passei pelos Lençóis Maranhenses e o Jalapão de Tocantins, coisas até bonitas de se ver. Chorei muito de solidão, sabia: os camelos também choram! Zeca Biu ainda com um pé atrás e zis pulgas rondando suas orelhas, perquiriu agudamente e constatou: É mesmo, parecia mais que o bicho estava ao relento e contou que era bastante resistente e servil, carregando pesadíssimos fardos em marchas pelos desertos, doido por cevada e andava melancólico pela vaia que levou ao se meter numa competição com um salafrário dum macaco numa dança, razão pela qual foi execrado pelo reino animal e, ainda por cima, amaldiçoado por fugir atravessando o buraco de uma agulha, um vitupério para Jesuisis, e com um lamento: Virei provérbio buriata da Sibéria à Turquia: porque se julgou grande, desgraçou o exército! Mas, saiba: sou a primeira das 3 metamorfoses do espírito do Zaratustra de Nietszche. Ah, entendi o ditado: sábio feito um camelo! E dizem que sua lágrima é antídoto! Foi então que puxando o fim da conversa, mencionou haver descoberto a sugestão de Cecília Meirelles: o camelo mastiga a sua solidão. E regurgitei para descobrir meu próprio deserto entre zumbis hiperativos incluídos e trapos humanos excluídos da Rolnik, assim, exercia o meu vazio: camelos também dançam! Vixe! Pra minha sorte, não fosse o charme das minhas formosas bossas, não teria encontrado esta bela senhorita que me acompanha. Aí Zeca Biu disse pra si mesmo: Essa é boa: deu zebra! Segura a peta que vem mais patranha! Mesmo inarredavelmente incrédulo, para ele a coisa seguia um tanto convincente: Quero ver mesmo aonde é que vai dar! E enquanto o camelo assoprava a fogueira e pondo mais incensos pra queimar, ela começou a contar: Sou Dinazade, o mesmo nome da irmã de Sheherazade com as suas mil & uma noites, porém, só o nome, pois, sou filha de um oleiro etíope muito severo e religioso. Por causa de um namorico com um jovem bonito eritreu, nem meus pais nem os dele aprovavam o enlace e, inflamados pela fúria, fui vítima da mais perversa feitiçaria de um praticante de Zangbeto, que era, na verdade, pra me proteger e deu tudo errado: transformaram-me numa equídea de Grevy e agora me chamam de Zecora, supostamente nascida em Equestria, entre muitas outras e cada uma com o padrão do Alan Touring. Agora sim, posso assegurar: zebras também existem, viu! E aprendi com as hienas a desconfiar das arapucas e passei a andar com o rebanho milhares de quilômetros na migração, atrás de água e comida. Sentia-me protegida pela manada, prosperávamos em ambiente hostil que fosse. Corríamos pelas savanas e, se dependesse de mim, o leão morria de fome; se viesse me atacar, me defendia com minha patada letal: Quero é ver predador resistir. E passei a bramir e também latir, roncar, guinchar e miar, tanto como alerta, como pros rituais de acasalamento. Era tudo verdade, constatou ali mesmo Zeca Biu: a listrada quadrúpede solípedes girava as orelhas em qualquer direção, dormia em pé de dia, alerta total; deitava-se de noite, sob a vigilância dos pares; era desconfiada e temperamentalmente reativa. E mais: a mamífera ungulada corria como uma praga e era celebrada em Botsuana, ornamentava as oferendas na Tailândia e muito prestigiada pelos xamãs e zulus: o equilíbrio entre opostos. E sob o seu símbolo invocava-se a energia espiritual para cura e orientação, a sua pele representava proteção, força e poder. E ela continuou plangente: Fui capturada e levada com outras para um tal de Walter Rothschild, que me treinou para puxar carruagens. Ele não sabia: não sou para montar, nem me sujeito a carregar nada nem ninguém. Fugi e virei pilhéria nos versos do Clive Blake: nasci com código de barras. Pode isso? Fui louvada nas paisagens dos safaris de Hemingway, quando na verdade, vivia o perigo da única hestória de Chimamanda, porque sabia Mia Couto: o racismo inventava a raça. O bom que não tenho úlceras! Mas o lume da pedra me feriu na cerimônia dos ritos de passagem de Paula Tavares. Depois de muitas andanças erráticas, finalmente encontrei este cavalheiresco senhor: foi o glifo na minha garupa que flechou seu coração com o feitiço da nossa paixão. U-la-lá! Quase de mentira, porém verossímil. Zeca Biu impressionou-se: Dava prum enredo maior que o cordel do Pavão Mysterioso. Hum? Estava enfim afeiçoado por ambos. E o que parecia a mais insolente aldrabice duma doidice onírica, atravessou os limites da fábula e invadiu a sua realidade. Ainda hoje Zeca Biu insiste: Não é caraminhola não, viu? Estão lá no meu quintal pra quem quiser comprovar! Até mais ver.

 

Stephenie Meyer: Para mim, é importante ser livre e saber que estou agindo por mim mesma. Faço as coisas porque quero, e isso é importante. Você quer ser você mesmo... Quando se pode viver para sempre, para que se vive?... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

Ana Maria Machado: Hoje sabemos que somos nada. Que a vida é o lampejo do cisco. Que o que amamos é infinitamente precioso... Ler é um direito de cada cidadão, não é um dever... Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

Patricia Churchland: A humildade nos convida a nos aceitarmos como somos; não precisamos ter importância cósmica para sermos verdadeiramente significativos... Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

 

CELEBRAÇÃO DO CORPO

Imagem: Acervo ArtLAM.

Amo este meu corpo que viveu a vida, \ seu contorno de ânfora, \ sua suavidade aquosa, \ a profusão de cabelos que coroa meu crânio, \ a taça de cristal do meu rosto, \ sua base delicada que se ergue graciosamente dos ombros e clavículas. \ Amo minhas costas, \ adornadas com estrelas desbotadas, \ minhas colinas translúcidas, \ fontes do meu seio que dão o primeiro sustento da espécie. \ Projeções estriadas, \ cintura móvel, \ recipiente pleno e quente do meu ventre. \ Amo a curva lunar dos meus quadris \ moldada por gestações alternadas, \ a vasta e ondulante redondeza das minhas nádegas; \ e minhas pernas e pés, alicerce e suporte do templo. \ Amo o punhado de pétalas escuras, \ o velo oculto que guarda o misterioso limiar do paraíso, \ a cavidade úmida onde o sangue flui e a água viva brota. \ Este meu corpo doente, \ que supura, tosse e transpira, \ secreta humores, fezes e saliva, \ e se cansa, se exaure e definha. \ Corpo vivo, elo que assegura a infinita cadeia de corpos sucessivos. \ Amo este corpo feito da mais pura argila: \ semente, raiz, seiva, flor e fruto.

Poema da premiada poeta, radialista e editora nicaraguense Daisy Zamora, autora de obras como Tierra de Nadie, Tierra de Todos (2007), The Violent Foam (Curbstone, 2002), Life for Each (Katabasis, 1994), Clean Slate (Curbstone, 1993) e Riverbed of Memory (City Lights, 1992). Ela foi combatente da Frente Nacional Sandinista de Libertação, foi diretora de programação e voz da clandestina Rádio Sandino, e tornou-se Vice-Ministra da Cultura após o triunfo da revolução.

  

PARA SER COMPLETAMENTE HONESTO – [...] Vivemos em uma cultura onde alguém pergunta " como vai?"  e a outra pessoa responde "estou bem". É uma troca automática. Vivemos em um mundo de selfies totalmente filtradas, fotos do Facebook escolhidas a dedo, emoções reduzidas a emojis. Parece seguro e fácil navegar nessas águas mornas e rasas dos relacionamentos, onde não arriscamos nada. Não aprendemos nada. Nunca nos tornamos vulneráveis e perdemos a oportunidade de criar um relacionamento mais significativo. [...] Quando finalmente nos abrimos sobre como realmente nos sentimos, é tentador pedir desculpas logo em seguida, porque parece muito vulnerável, muito honesto. Sentimos culpa por ter essas emoções não tão positivas — mas isso faz parte da experiência humana. Tristeza, decepção e perda são inevitáveis. Observo o mundo ao meu redor e, a cada manhã, parece haver notícias de mais sofrimento. Existem problemas reais, enormes e profundamente preocupantes. Muitos de nós estamos sofrendo e muitos de nós não falamos sobre isso. Mas falar sobre isso é o que mais precisamos. Quando uma amiga me perguntou como eu estava — ela realmente perguntou, olhando profundamente nos meus olhos — eu me joguei em seus braços e desabei em lágrimas no vestiário da academia de ioga. Depois, fiquei tentada a me desculpar pelo meu colapso em público, pela exposição tão aberta das minhas emoções verdadeiras. Mas eu não me arrependi. Então eu enviei isso para ela. E com essa demonstração de gratidão e um emoji de coração, curei um pouco do meu próprio coração. Tudo isso com total honestidade. [...]. Trecho de texto escrito pela escritora, professora e atriz canadense Lisa Jakub, autora dos livros You Look Like That Girl: A Child Actor Stops Pretending and Finally Grows Up (2015) e Not Just Me (2017), nos quais defende que: Nunca é tarde demais para mudar de ideia e se tornar quem você nasceu para ser. Nossa mente pode ser realmente poderosa e capaz de inventar um milhão de razões pelas quais você não pode mudar. Ela pode dizer que não é lógico, ou que as coisas estão assim há muito tempo, ou que é muito difícil, ou o que as pessoas vão pensar. Mas, às vezes, é mais importante viver de acordo com a intuição e o coração do que com a razão... Não há problema em decidir que ser feliz vale mais do que se formar em direito, ou casar com o namorado(a) do ensino médio só porque ele(a) foi legal, ou ser ator porque você acha que é incapaz de fazer qualquer outra coisa. Nunca é tarde demais para assumir o controle do seu destino e dar uma contribuição diferente ao mundo...

 

GUIA DE SOBREVIVÊNCIA A BURACOS NEGROS[...] Buracos negros são uma dádiva, tanto física quanto teoricamente. São detectáveis nos confins do universo observável. Ancoram galáxias, fornecendo um centro para a nossa própria galáxia em espiral e, possivelmente, para todas as outras ilhas de estrelas. E, teoricamente, oferecem um laboratório para a exploração dos confins da mente. Buracos negros são o cenário fantástico ideal para desenvolver experimentos mentais que visam as verdades essenciais sobre o cosmos. [...] Imagine-se um astronauta sozinho no espaço. Nenhum planeta à vista. Nenhuma nave espacial. Nenhuma estrela distante. Nenhuma fonte de luz. Imagine o terror latente, o silêncio do espaço, a estranha sensação de flutuar, a escuridão indescritível entre a profusão de estrelas. [...] Um buraco negro puro é espaço-tempo vazio — sem átomos, luz, cordas ou partículas de qualquer tipo, escuras ou brilhantes. É espaço vazio — ou, na linguagem da física, o vácuo. [...] Os arquitetos originais da mecânica quântica insistiram nessa conservação como um princípio filosófico que merecia respeito. Eles construíram a mecânica quântica para salvaguardar operacionalmente a informação. [...]. Você envia mensagens em vão para ninguém. Mas envie-as mesmo assim. Suas epifanias estão perdidas para sempre na singularidade catastrófica. Mas envie-as, por favor, seus atos de desafio. [...]. Trechos extraídos da obra Black Hole Survival Guide (Bodley Head, 2020), da cosmóloga e professora estadunidense, Janna J. Levin, autora de obras tais como Black Hole Blues and Other Songs from Outer Space (2016), A Madman Dreams of Turing Machines (2007) e How the Universe Got Its Spots: Diary of a Finite Time in a Finite Space (2002). Grande parte de seu trabalho se concentra na busca de evidências que apoiem a proposta de que nosso universo possa ter um tamanho finito devido à sua topologia não trivial, tratando sobre buracos negros e teoria do caos. Veja mais aqui.

 

LIGAS CAMPONESAS & GOLPE DE 1964

[...] Saio desta peleja como entrei nela: pobre [...] Não me deixo conduzir pelas circunstâncias. Prefiro debruçar-me sobre a História para a longa viagem. Por isso, empunho bandeiras. Mas como sou um ser concreto, existo, vivo. Vivo para mim e para o outro, o próximo e o distante. Parto deste princípio para fazer política. [...] Dei um golpe de misericórdia no meu próprio mito. Já era tempo. Passada a refrega, busco a palavra exata. [...] E não encontro. Que aceitem, por favor, a elegância do meu silêncio. [...] A virtude se escondeu envergonhada. E o que se pôs em evidência foi a glória efêmera, alicerçada no sentir do maior contar da língua. [...]

Trechos extraídos da obra Francisco Julião, as Ligas e o Golpe Militar de 64 (Comunigraf, 2004), do jornalista e escritor Vandeck Santiago, narrando sobre as utopias de um homem desarmado, a trajetória do advogado, escritor e político Francisco Julião (Francisco Julião Arruda de Paula – 1915-1999), líder político do movimento camponês das Ligas camponesas, sobre as quais relata: Não fundei a Liga - ela foi fundada por um grupo de camponeses que a levou a mim para que desse ajuda. A primeira Liga foi a da Galileia, fundada a 1º de janeiro de 1955 e que se chamava Sociedade Agrícola e Pecuária dos Plantadores de Pernambuco. Foi um grupo de camponeses com uma certa experiência política, que já tinha militado em partidos, de uma certa cabeça, que fundou o negócio, mas faltava um advogado e eu era conhecido na região. Foi uma comissão à minha casa, me apresentou os estatutos e disse: 'existe uma associação e queríamos que você aceitasse ser o nosso advogado'. Aceitei imediatamente. Por isso o negócio veio bater na minha mão. Coincidiu que eu acabara de ser eleito deputado estadual pelo Partido Socialista e na tribuna política me tornei importante como defensor dos camponeses. Julião é autor de livros como Cachaça (1951), Irmão Juazeiro (1961), O que São as Ligas Camponesas (1962), Até Quarta, Isabela (1965), e Cambão: La Cara Oculta de Brasil (1968), no qual expressa: [...] Se o coração não se agita, o sangue não circula e a vida se apaga. [...] Manda o médico que se agite certos remédios no momento de toma-los. O crime não está em agitar, mas em permanecer imóvel. [...]. Veja mais aqui & aqui.

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CERÚLEO ESCARLATE, DE TCHELLO D'BARROS

Foi recentemente lançado no Rio de Janeiro, o livro Cerúleo Escarlate (Lítteris, 2025), do escritor, jornalista, roteirista e curador Tchello d'Barros. A obra apresenta uma seleção de contos adaptados de seus roteiros de curtas e longas, sendo esta sua primeira incursão na área ficcional, já que tem diversos títulos publicados na área da poesia e da poesia visual. As histórias dialogam com temas que vinham sendo abordados em seus precedentes livros de poesia: um arco temático sobre Amor e Morte, relações humanas, vida amorosa (das diatribes ao sublime) e aspectos inusitados do mundo da arte. O autor realiza ações literárias pelo Brasil e mundo afora, além de seus textos constarem diversas coletâneas, antologias e didáticos. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

ITINERARTE – COLETIVO ARTEVISTA MULTIDESBRAVADOR:

Veja mais sobre MJ Produções, Gabinete de Arte & Amigos da Biblioteca aqui.


 


domingo, dezembro 14, 2025

YANICK LAHENS, VENEZIA MAY, SOPHIA KIANNI & FACILITA GONZAGA!

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Chegou a hora de nos adorarmos, de dizermos isso em voz alta, chegou a hora de criarmos memórias... O amor, como eu, parte em uma jornada. Um dia eu o encontrarei. Assim que eu vir seu rosto, eu o reconhecerei imediatamente... É preciso tanto, e tantas lágrimas, para ter o direito de amar... Cada besteira que você fizer nesta vida, você terá que pagar por ela... Use suas falhas, use seus defeitos; então você vai ser uma estrela... Não peço desculpas pela falta de cronologia nas minhas lembranças, pois um incidente evoca outro, então eu as anotei... Não me arrependo de nada!...

Pensamento recolhido da obra The Wheel of Fortune: The Autobiography of Edith Piaf (Chilton, 1958) & ao som do album Edith Piaf: 25 chansons (1982), da cantora e atriz francesa Édith Piaf. Veja mais aqui & aqui.

 

Olha a hora! Lá vai ela... - O frio de junho no reino do presente contínuo de Ftinoporão. Ainda é cedo e a preocupação transcende o cansaço, entre a vigília e o estupor, o insistente choro de um bebê na vizinhança, queimando nas vísceras da madrugada. Lá fora o galo cantou alhures e era como a obrigação de pôr as coisas em dia: quem tem contas pra pagar jamais poderá dar-se ao luxo de folga – logo quem sempre errava na conta e o cálculo se perdia no prazo encurtado, sabe-se lá como. Foi preciso o ânimo de Ferusa e os gemidos de uma gata no cio: difícil é segurar a onda contra o aluamento fortuito noutras elucubrações. Afazeres sumários davam conta da goteira no teto, o pingado na pia e cadê velas e fósforos, a luz apagou subitamente, ampliando as trevas proutras fantasmagorias. É preciso fechar as janelas, um chuvisco demorado alagava o ataque dos insetos que picavam e isso dói e como! E Anatole escondia Auge sob carregadas nuvens e me trazia a lembrança de Laura que lia Virgínia e vivia sufocada pelas circunstâncias das cenas da Dalloway de Marleen Gorris e as frustrações repisadas como em The Hours de Cunningham. Mas, que dia é mesmo hoje? Precisava fechar a torneira, a vasilha enchia a esborrar pra todo lado. A chaleira esquentava no fogão e era só uma semana como outra qualquer. Sim, nublada manhã de Quimão, os encharcados escondiam Talo e não mais brotavam esperanças, nem poderiam, impediram Carpo emergir de Damia e coibiram Auxo e Auxesia, inviabilizações extemporâneas. Nossa! Como podia, a ventania escancarou a porta, ah, emporcalhava tudo e as intrometidas rãs invadiam pro atrapalho do chocho matinal de Acte. Já chuva torrencial anunciando o atraso da saída de casa, difícil assim encarar tumultos e lodaçais, como se sucumbisse ao noticiário: a zoada das tevês, o som violento dos filmes de ação; a liberdade perdida e dela a infância – quebrou o pé pulando muro; a adolescência destruída – cortou-se aparando flores no jardim, o primeiro beijo na esquina, a festa do dia 8, as risadas espalhafatosas e ela se confundia aos buracos e desníveis das calçadas empoçadas, quase voçorocas, prest’enção, doido! Um tombo, nada demais. Segura! Os vazamentos são os mijos da Terra. Será? E o horror destampava a panela cozinhando ódios e mágoas. Parecia trágico sorrir se havia violência iminente – o déjà vu de sempre, a sensação vicariante e as bravatas desmioladas traziam as muitas faces de Virgínia, desde a madrugada. E via Clarissa carregando seu fardo e, com isso, intuía: a gente quer mesmo mais que o impossível, além do extremo, dane-se tudo! E ela evocava peremptória de que estou devendo e muito à Ginastique, quase obeso aos estorvos. Chegava Mesembria insinuando Eiar, enquanto reaparecia Acte sinalizando o estômago carente no meio do caminho e só dava direito à metade de quase nada, para valer-me entre a sanidade e a loucura. Ainda pra onde, vai saber, ardido pelas trapaças e percalços; a censura velada aplacando futuro; e se tudo era meio, como festa/tragédia, riqueza/pobreza, assassinatos, corrupção, precisava mesmo era agarrar a sorte pelos chifres e segurar firme Euporia, quem dera. Assoviava então o tempo passava tapiando o calor esbaforido, o suor pingando testa abaixo e a resignação com as peçonhas recônditas nos olhares vistosos, aquilo tudo mais parecia matagais tomando conta de quintais tão bonitos, terrenos baldios com arame farpado amarrado direito, coisa, hem, pra desvalido: tudo ao tempo vagava e era preciso divergir do exagero - se ganhou o que perdeu, ou era uma vez o ganhado, recombinava o olho no alvo e a mira, o inédito da coisa. Bulhufas! Nem adiantava tapar os ouvidos, evitando o diverso da ventura. E soerguia os trunfos duma insólita mania inglória que vinha desde antes e lá longe acenava remoques. Só podia e valia agora, o imediato; descuido, a vida troçava, danada! Precaver-se aos desembestos, doido varrido, e se esmorecia além do mais com as escolhas, o antes do depois, já era. Convviria precauções e atinava de governança desajeitada com os desacertos: prazeres e pesares. Larga de ser desatento, manzanza! Pensando que o céu é perto? Era comigo, fundo respirado contando até 10 e 20 e 100... – e não era pra nada, como quem jogasse Leão no bicho e desse papalégua, arre égua! É um sinal, será, se avie. Mas, teco! Parece mais aquele mato morrido pela pisada, jamais o ar da graça de Ortosia, porque Disse foi subjugada desde que invocaram Eunomia e se escafederam evadidas. Quase nem sabia do sorriso de Hesperis atarantando a melancolia de Disis, passando a limpo o que fiz de tudo e era nada, noves fora zero e sem café da manhã nem mesmo almoço, e Acte já cobrava o jantar. Refazia a rota estiada de volta como num asco de Teros pelas muitas faces de Virgínia orbitando abantesmas inusitados. Como embaraçado de todo passava batido outra vez, o regaço já prestes e a porta emperrava, a vidraça quebrada, embassou o tempo e quem podia incriminar, se não adiantava maldizer a própria caricatura: dei-me ao aloprado, parece, a careta por conta da mosca na sopa, babau! Uma hora dessas e o grilo cricrilava infinito, com a imposição de Ninfe e a latrina podre, a inhaca de comida estragada, maior catinga de aprisionado na própria obscuridade e data alguma delatava o impostor: se puxasse pelo adágio não ia adiantar nada; se subisse nas tamancas para rodar à baiana, muito menos: só perdia a compostura. Melhor, digitígrado, sair de fininho, murcho. Esse negócio de trancar rua e arrasar quarteirões são coisas de causa perdida de quem não tem a menor noção dos estrupícios. O que era de gosto não só esfolava o peito como deixoava pereba arranhando no couro. E findasse, sei lá, com um tapa-olho daqueles murros bem dados, da roncha na vista inchada, da pestana à bochecha, nada atraente. Melhor seguir em frente maneirando no rebolado, pisando firme o traçado como quem dava triunfal volta por cima, não ligando pra cheleléu, caboeta ou pariceiro, sal grosso no revertério: Saia logo desse atoleiro e pega o bigu que seja na sorte, trepeça! Tem gente que só atina aos empurrões, tropeços do muito pelos catombos: não se afrouxe, nem dê mole, não! Segura a touca como puder, não vestindo alegria com amarguras, nem como a flor em vão despetalada:  fechar a boca é dar-se por si. Já era tarde, ligou, véspera de viagem: quando foi a última vez? A incompletude pinicando quando era pra relaxar com Musique e na libação de Esponde, celebrando ignota Vênus/Afrodite e o domínio distante de Eros, pelo saboreado de Oporá nos júbilos de Teoria, afinal, também sou filho do Universo e ela, oxe, reaparecesse na veneta escapando das cenas de Daldry, porque estava prestes a hora de dormir e não havia nenhum rio Ouse por perto e podia se livrar daquela que desceu o rio como Alfonsina Storni se lançou ao mar... Suspeitávamos ciosos: ninguém ficará pra semente. Todos morremos disso ou daquilo, hora certa; quando não, todo dia. Pra quê se descascar todo se a chuva caia e lavava, o Sol enxugava, assim ia e a doidice sempre comum para todos - só o bicho humano é duro de lascar e o incompreensível era porque dava-se quando a ligeira hestória se alongava e não dava outra: era a morte pertinho sem cochilado, enquanto esquecíamos a pacífica Irene, aos pinotes em pé de guerra, com Elete genuflexa e não se falava mais nisso, ora. Ademais os sonhos sumiram pelos degraus infinitos do horizonte: quem foi, faz tempo; quem vai, apraza; não esqueça de se lembrar: entender-se consigo mesmo e já. Eu mesmo virei a página: escolhi viver - a vida inventada e a se reinventar moto contínuo. Até mais ver.

 

Agnès Varda: O ato de decidir olhar, de decidir que o mundo não é definido por como as pessoas me veem, mas por como eu as vejo... A felicidade é uma fruta linda que tem gosto de crueldade... Veja mais aqui, aqui & aqui.

Blanca Varela: Deixei a porta entreaberta \ sou um animal que não se resigna \ a morrer a eternidade \ na escura dobradiça que cede \ um pequeno ruído na noite \ da carne \ sou a ilha que avança sustentada \ pela morte ou uma cidade \ ferozmente cercada \ pela vida \ ou talvez não sou nada \ só a insônia \ e a brilhante indiferença dos astros \ deserto destino inexorável o sol dos \ vivos se levanta reconheço essa porta \ não há outra gelo primaveril e um \ espinho de sangue no olho da rosa... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

Nazik al-Mala'ika: Nunca saberemos quais mistérios as dobras da vida escondem... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

SE MOISÉS FOSSE FILIPINO

Imagem: Acervo ArtLAM.

Marnie me conta que é nadadora \ que desde que se lembra, \ flutua em águas de enchentes \ que às vezes, quando isso acontece, imagina-se como o bebê Moisés \ flutuando pelo Nilo, \ à espera de uma rainha que a encontre. \ Sob um telhado de metal ondulado enferrujado \ pelas torrentes devastadoras, \ o único refúgio para ela e suas filhas pequenas, \ ela me mostra seu equipamento de natação: \ sua roupa de mergulho para dermatite de contato, \ as cicatrizes de cortes de vidro emoldurando seus olhos \ como um snorkel, seus pés enrugados que, segundo ela, são quase palmados. \ Ela me diz: \ Quando há enchentes na região metropolitana de Manila \ todos os anos e você tem sete anos, \ você fica feliz. \ As aulas acabaram e tudo o que você pensa é em pular na água vermelho-tijolo, \ lutar na lama com a filha da vizinha, \ pular, brincar de sapo para se pendurar nas cestas de basquete \ que você finalmente consegue alcançar. \ Há baratas agarradas à gola da sua camisa, \ ratos se enterrando nos seus bolsos \ e você se imagina como a arca de Noé. \ Mas quando Manila sofre com enchentes todos os anos \ e você se torna mãe de duas filhas de sete anos, \ aprende a guardar tudo o que é precioso em seu corpo. \ Marnie dorme com os pulsos presos \ às tranças das filhas, \ passaportes enfaixados no sutiã esportivo, \ os membros da família tatuados em sua caixa torácica \ — uma filha, um peixinho dourado; outra, um crocodilo — \ todos são animais aquáticos. \ É assim que ela se acalma ao acordar sufocada por seus sonhos, \ sabendo que elas podem nadar. \ Ela imagina suas cicatrizes se transformando em guelras \ e finalmente começa a respirar. \ Quando Manila sofre com enchentes todos os anos, \ você aprende a guardar tudo o que é precioso em seu corpo. \ E qualquer outra coisa que você memorize, \ como a realidade anual dos filipinos na região metropolitana de Manila \ é a luta desesperada para subir do colchão ao telhado, carregando \ uma cadeira \ um bebê, \um bule de chá, uma urna, \ enquanto observam um furioso Faraó líquido \ engolir tudo o que possuem, \ liberando seu mar de homens \ e escravizando-os em sua própria terra. \ Mas Marnie ainda me diz que é nadadora, \ me diz que desde que se lembra, \ flutua em águas de enchente, \ me diz que às vezes, quando isso acontece, \ imagina-se como Moisés \ diante do Mar Vermelho \ e, desta vez, consegue abri-lo.

Poema da ecopoeta e artista singapurense Venezia May.

 

BANHO DE LUA - [...] Ela poderia ter escutado por horas essas palavras arrancadas da avalanche de dias. Porque o tempo gasto conversando assim não é tempo, é luz. O tempo gasto conversando assim é água que lava a alma, o anjo da guarda. [...]. Trecho extraído da obra Bain de lune (Sabine Wespieser, 2014), da escritora haitiana Yanick Lahens, também autora de Moonbath (Deep Vellum Publishing, 2017), no qual expressou que: […] Perdoar, de imediato, naquele instante, com o ódio ardendo como um coração na mão? Não, eles não conseguiam. Porque o ódio fazia você se sentir bem por dentro. Confortava como a fé em Deus. Eles não tinham tempo para julgar. Estavam matando. […]. Sobre o seu país ela afirma: Apesar da pobreza, das convulsões políticas e da falta de recursos, o Haiti não é um lugar periférico. Sua história o transformou em um centro.

 

A CRISE CLIMÁTICA É UMA CRISE DE DIREITOS HUMANOS - [...] Alguns governos e líderes empresariais dizem uma coisa, mas fazem outra. Em que linguagem precisamos colocar os dados climáticos para você agir? Por favor, diga-nos. Porque eu tenho que acreditar que a única razão pela qual você não está tomando medidas climáticas no ritmo e escala necessária é que você não tem a informação. Porque se você tivesse a informação e estivesse apenas fingindo agir que seria imperdoável. Ou nas palavras do secretário-geral, isso seria mentir. Pare de mentir. [...] O que me deu esperança foi ver todos aqueles jovens, que se importam tanto que vieram até o Egito para serem ouvidos. E ser o veículo para comunicar esse entusiasmo. Ter uma plataforma como essa para comunicar como os jovens se sentem para as pessoas que podem implementar e mudar. É um grande passo em frente para a inclusão significativa da juventude. [...] Há tanto trabalho para fazer na alfabetização climática. Veja o painel intergovernamental de referência sobre mudanças climáticas, relatório climático do IPCC. [...] A maioria das informações científicas é em inglês. Essa não é a língua principal para a maioria das pessoas do mundo. O pote de dinheiro ainda está vazio. Somente quando virmos compromissos tangíveis – quando virmos o financiamento começar a ser distribuído – é que eu acho que esses acordos têm sido um sucesso. [...] A crise climática é uma crise de direitos humanos. [...] Tem havido má gestão governamental da água. O que está acontecendo no Irã é uma revolta histórica, liderada por mulheres. A crise climática – particularmente a seca – exacerba a instabilidade no Oriente Médio. Contribui para as lutas de poder e os conflitos. Todas essas coisas estão ligadas. Os direitos humanos são agravados pela crise climática. E a crise climática tem um efeito desproporcional na nossa metade da população. As estatísticas mostram que 80% dos refugiados climáticos – as pessoas que são deslocadas – são mulheres. Um dos meus maiores focos é a moda sustentável A moda rápida é um grande problema para a geração Z. Essas empresas têm como alvo mulheres jovens. Precisamos alavancar a tecnologia para encontrar soluções. Para tornar a moda de segunda mão mais acessível. Estou trabalhando nisso com amigos de Stanford. [...] Trechos da entrevista (CIWEM - The Chartered Institution of Water and Environmental Management, 2023), concedida pela ativista estadunidense Sophia Kianni, que defende: O medo do fracasso é o que impede que as pessoas se envolvam. Precisamos de ativistas climáticos mais imperfeitos. (National Wildlife Federation, 2023).

 

FACILITA, GONZAGÃO: TATARITARITATÁ

Comadre Joana sempre reclamou \ Da mini saia que a filha tem \ O namorado se invocou também \ E certo dia pra ela falou \ Tua saia, Bastiana, termina muito cedo \ Tua blusa, Bastiana, começa muito tarde \ \ Mas ela respondeu, oi facilita \ Pra dançar o xenhenhém, (oi, facilita) \ Pra peneirar o xerém, (oi facilita) \ Pra dançar na gafieira, (oi facilita) \ Pra mandar pra lavadeira, (oi facilita) \ Pra correr na capoeira, (oi facilita) \ Pra subir no caminhão, (oi facilita) \ Pra passar no ribeirão, (oi facilita) \ Tataritaritátá (oi facilita ) \ Pra brincar na cachoeira (oi facilita) \ Rã rã rã rã rãrã (oi facilita) \ Pra dançar na gafieira, (oi facilita) \ Pra correr na capoeira, (oi facilita) \ Pra mandar pra lavadeira, (oi facilita)...

Música do compositor, bibliotecário e professor Luiz Ramalho (1931-1981), inserido no álbum Luiz Gonzaga (Odeon, 1973), do cantor, compositor e multi-instrumentista Luiz Gonzaga (Luiz Gonzaga do Nascimento – 1912-1989), o Rei do Baião. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

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domingo, dezembro 07, 2025

ADÉLIA PRADO, CLARICE LISPECTOR, JAMIE MARGOLIN, RICARDO AIDAR & ARTE NA ESCOLA

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Nunca senti que ser mulher me tenha impedido de algo ou que tenha feito qualquer diferença... Tem muito a ver com o papel da mulher na família e com o que também carregamos e assumimos... Se você sabe que é isso que realmente quer fazer, porque é difícil entrar nesse mercado, persista e persista....

Trechos da entrevista (Classic FM, 2017) ao som das trilhas sonoras de The Cider House Rules (1999) e Chocolate (2000), da compositora britânica Rachel Portman (Rachel Mary Berkeley Portman). Veja mais aqui.

 

Fábula das cores coevas... - Era Julie introspectiva inaugurando o amanhecer, a imensidão azul do céu no teto do quarto; a lâmpada apagada, o Sol e as estrelas. No seu desamparo de viúva, o pensamento invasivo de uma cena: um troglodita à saída de uma caverna se deslumbra ao avistar um ser - como se visse o Sol da primeira manhã, ou o raio primevo rasgando o céu do seu mundo. Não era, mas muito lhe apetecia. Era ela e os olhos dele cheios de ternura. Arrebatado, ele então demonstrou sua afeição exibindo sua musculosa virilidade, ao suspender uma enorme fraga sobre a cabeça e, logo em seguida, às mesuras jogou-a contra ela, como se dissesse: toma, segura! Coitada, era o modo da aptidão dele para o amor. Não! Viu-se ali esmagada pela brutalidade de todas as milenares coações punitivas das leis de deuses estúpidos, cultuadas por sacerdotes cretinos e implementadas legalmente dos pais para os maridos detentores do Código de Hamurabi, das Leis de Manu e de toda insensata legislação dos humanos. Ao mesmo tempo, viu-se invadida por lembranças e a enredaram às tramas, as quais negou o quanto pode: foi tomada pela insolência de Antígona e enfrentou a si mesma e a todos. E teve raiva por que viu-se Hypátia tombando diante da fanática fúria cristã. E barganhou por ser apenas uma costela inútil e portadora do pecado de Eva, só para ganhar tempo. E se deprimiu porque era Juliette na pele do sofrimento Claudel. Não adiantava chorar, lamentava-se questionando o quanto era livre se estava diante de tantos flagelos seculares. Despertou assustada aceitando, enfim, seu pesadelo: adotou o nome de solteira, a sua vulnerável armadura, a luta contra o chão e a silenciosa depressão, a sanidade recuperada. Não dispunha de corrimão ou mãos solidárias. Sofria: a filha morta, as perdas, a vida esvaziada. Dispôs-se a se safar das armadilhas, sobrevivente do azul triste da queda absoluta. Estava disposta até a matar, se fosse preciso, um mero alívio, não fazia nada, a não ser revolver-se a si própria na sua autorreclusa estagnada, quando precisava escapar do passado, desligar a tomada. Aí fechou os olhos: a sinfonia inacabada, a liberdade vazia era o fundo de um poço azul. Já era Dominique prisioneira numa cela branca de um dia nublado. Novas rememorações a tomaram e, no meio delas, viu-se Joana d’Arc entre vozes ocultas e condenada pela Inquisição. Viu-se Ana Bolena executada inexoravelmente. Viu-se Isabella Morra sob golpes dos irmãos. Viu-se vagando nas trevas da caça às bruxas, súcubus às fogueiras e na perseguição da imposta culpa judaico-cristã às pecadoras da boceta maldita; o suicídio de Dandara, Francelina Maria degolada, e todos olvidavam de Olympe de Gouges porque prosperava o Código Napoleônico. Viu-se Bridget Cleary abatida pela misoginia, enquanto formava coro entre histéricas loucas com suas doenças insanas. E repassava a sua vida entrecortada por golpes históricos levando-a surpreendida pela vingança de Karol, humilhado perdedor, parvo apaixonado. Ah, havia perdido a química, não o queria mais: a Polônia jamais seria França, o amor e o ódio, o desejo e a fome, o desigual e a infelicidade de abrir mão do amor, a punição severa e a constatação em riste: o ama. E nesse sentimento ali o branco de todas as cores, juntas, iguais. Fechou-se em si e já era Valentine: o sangue da memória, as paixões, o mundo e as ilusões. Atordoada por atropelar uma cadela desamparada de um cínico e amargo juiz aposentado – na verdade, um espião da vida alheia. E assim o julgamento de Rosa Luxemburgo condenada, de Olga capturada, de Sharon Tate grávida, de Dian Fossey na cabana, das feiticeiras da Papua-Nova Guiné, das crianças e mães do Congo, dos feminicídios de Ciudad Juárez; de Dorothy Stang na floresta, da Chiara Páez espancada e a revolta #NiUnaMenos, o protesto sufocado de Marisela Escobedo: estão matando muitas mulheres! E as manchetes jornalísticas coetâneas: vereadora é abatida a tiros, juíza é morta pela polícia, militar assassinada pelo marido soldado, dona de casa esfaqueada pelo cônjuge, professora é alvejada por pai de aluno, servidoras são trucidadas por colega de trabalho, psicóloga estrangulada por suposto paciente, deputada é escalpelada em matagal, miss é tragicamente morta por perseguidor, e todas não menos humilhadas, estupradas, perseguidas, vilipendiadas, lançadas do alto de edifícios, queimadas vivas e forçadas ao silêncio eterno da matança, de penas infligidas por homicidas autoritários, extremistas, fundamentalistas, toscos com seu deus odioso e enlouquecido carrasco: o machismo mata! E corrói a humanidade. Então ela precisava rever as suas boas intenções diante da barbárie, temia e os seus medos estavam por trás dos acontecimentos, seus receios esgarçando elos esfarrapados que se reagarravam uns aos outros pelos horrores das coincidências e nada disso nunca foi nem será por acaso, tudo se repete, o eterno retorno. E sangrava com a mão escondida, o semblante trancado, o olhar indiferente de existir quando queria viver, com a sua amabilidade nos relâmpagos da boca e o coração atormentado: a injustiça é a maior escuridão das leis lesadas. Era o xadrez da morte: a vida não era só uma trilogia de Kieslowski - a dança letal era a desgraça ocidental, entre o medo e a metáfora: a confluência de devires e absurdos, as contradições e o paradoxo. Até mais ver.

 

Mayim Bialik: Eu não quero dizer que tudo acontece por uma razão, mas todos os dias estão alinhados ao lado do outro por uma razão. O melhor que você pode fazer é fazer cada dia bem com bondade e como uma boa pessoa... Veja mais aqui, aqui & aqui.

Michèle Lamont: Penso que as reivindicações de reconhecimento devem ser levadas muito a sério pelos decisores políticos e cientistas sociais. Ainda temos que entender como a desigualdade e a estigmatização se articulam umas com as outras... Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

Sophie Kinsella: Pensando bem, o que é mais importante? Roupas ou o milagre de uma nova vida?... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

ANTES DO NOME

Imagem: Acervo ArtLAM.

Não me importa a palavra, esta corriqueira. \ Quero é o esplêndido caos de onde emerge a sintaxe, \ os sítios escuros onde nasce o “de”, o “aliás”, \ o “o”, o “porém” e o “que”, esta incompreensível \ muleta que me apóia. \ Quem entender a linguagem entende Deus \ cujo Filho é Verbo. Morre quem entender. \ A palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda, \ foi inventada para ser calada. \ Em momentos de graça, infrequentíssimos, \ se poderá apanhá-la: um peixe vivo com a mão. \ Puro susto e terror.

Poema da poeta, professora, filósofa e escritora Adélia Prado (Adélia Luzia Prado de Freitas), destacando-se o texto Erótica é a alma, da autora: Todos vamos envelhecer... Querendo ou não, iremos todos envelhecer. As pernas irão pesar, a coluna doer, o colesterol aumentar. A imagem no espelho irá se alterar gradativamente e perderemos estatura, lábios e cabelos. A boa notícia é que a alma pode permanecer com o humor dos dez, o viço dos vinte e o erotismo dos trinta anos. O segredo não é reformar por fora. É, acima de tudo, renovar a mobília interior: tirar o pó, dar brilho, trocar o estofado, abrir as janelas, arejar o ambiente. Porque o tempo, invariavelmente, irá corroer o exterior. E, quando ocorrer, o alicerce precisa estar forte para suportar. Erótica é a alma que se diverte, que se perdoa, que ri de si mesma e faz as pazes com sua história. Que usa a espontaneidade pra ser sensual, que se despe de preconceitos, intolerâncias, desafetos. Erótica é a alma que aceita a passagem do tempo com leveza e conserva o bom humor apesar dos vincos em torno dos olhos e o código de barras acima dos lábios. Erótica é a alma que não esconde seus defeitos, que não se culpa pela passagem do tempo. Erótica é a alma que aceita suas dores, atravessa seu deserto e ama sem pudores. Aprenda: bisturi algum vai dar conta do buraco de uma alma negligenciada anos a fio. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

UMA REVOLTAQuando o amor é grande demais torna-se inútil: já não é mais aplicável, e nem a pessoa amada tem a capacidade de receber tanto. Fico perplexa como uma criança ao notar que mesmo no amor tem-se que ter bom-senso e medida. Ah, a vida dos sentimentos é extremamente burguesa. Texto extraído da coleção Clarice Lispector: crônica para jovens (4 vols., Rocco, 2011), da escritora e jornalista Clarice Lispector (Chaya Pinkhasivna Lispector – 1920-1977). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

A CRISE CLIMÁTICA NÃO EXISTE NO VÁCUO - [...] Cada coisa linda que vejo é como um triste lembrete de tudo o que estamos perdendo. É doloroso porque você sabe que está indo embora. [...] Sempre foi uma realidade aterrorizante para mim, algo pairando sobre toda a minha vida. [...] Eu vejo um lugar bonito, mas é agridoce porque está sendo destruído e não vai estar lá quando eu crescer. [...]. Trecho da entrevista (BBC/LifeGate Daily, 2019), concedida pela ativista climática estadunidense Jamie Margolin.

 

ARTE NA ESCOLA:

NÓS CRIAMOS O MUNDO, SÓ ESQUECERAM DE CONTAR.

Numa iniciativa das professoras Fátima Portela e Luciana Flávia, os alunos do 6º ao 9º, da Escola CAIC José do Rego Maciel, de Palmares (PE), apresentaram no último dia 27 de novembro, a culminância do projeto Afro-Indígena, com a temática “Nós criamos o mundo, só esqueceram de contar”.  A exposição contou com apresentações da linha do tempo com a história e arte afro-indígena, leituras, capoeira e um destaque para a obra Quarto de Pensão, da escritora Carolina Maria de Jesus. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

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VERNISSAGE RICARDO BERTACIN AIDAR

Ocorreu neste domingo, 07 de dezembro, a abertura no Espaço RGAOBE – Arte Ofício e Bem Estar, em São Paulo, da vernissagem do artista plástico e engenheiro civil Ricardo Bertacin Aidar. Ele participou com suas obras da publicação Dareladas (CriaArt, 2024), é integrante do Gentamiga Ateliê (SP) e participa da plataforma Ubqub (SP). Veja mais aqui, aqui & aqui.

 

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JANNA LEVIN, DAISY ZAMORA, LISA JAKUB, CERÚLEO ESCARLATE & FRANCISCO JULIÃO

    Imagem: Acervo ArtLAM . Dentro da oficina do mestre João do Pife de Caruaru adquiri meu primeiro instrumento e assim comecei a aprende...