segunda-feira, setembro 21, 2020

NÉLIDA PIÑON, XENOFONTE, GABRIELA GELUDA & ARMANDO LÔBO, CAMPANELLA, GERALDO BARROS & ORQUESTRA POPULAR DO RECIFE

 


DIÁRIO DO GENOCÍDIO NO FECAMEPA – UMA: SABE AQUELA... O FUNDO DO POÇO & ANÁBASE - Da janela do meu quarto, a solidão. O céu é azul além da galáxia, o infinito. Não sou nada no diário do Fecamepa, este o inexorável Hades de agora em plena ebulição. Não há mais para onde ir, o fundo do poço. Não há túneis, nenhuma luz. Alguém se aproxima e não consigo identificar, sei que ronda no escuro. A voz sem portas esconde o terror lá fora, escuto e rodopio o labirinto da conversa, ele me diz de anábase e é Xenofonte: Vejo, porém, que, todos aqueles que ensinam, praticam o que ensinam a fim de edificar pelo exemplo os que aprendem, da mesma forma que os estimulam pela palavra. As palavras somem de repente, na escuridão não há corredores, degraus, azo. A sensação de calabouço, cadafalso. Falo comigo mesmo, os meus outros eus escapuliram, fugaram. Mãos à parede, delas a sentença fria, celerada. Algum lugar para onde ir, voo.

 


DUAS IDEIAS NO ESCURO, POEMÓPERA – Uma voz ecoa longínqua, pode ser sonho, nunca se sabe. Loucura ou não, uma mulher a se debater, parece. Dela a barulhada sonora do que é daqui e dagora, fanal alvissareiro e operístico, nem sei onde. Sigo bússola bacorejante que vem de lá ou acolá, alguns sopranos solasidós. Atento, espreita cega, ela chega quase imperceptível com a luminosidade de sua pele branca, como se fosse Gaia, venerável matrona e mãe dos deuses e gigantes, do bem e dos males, das virtudes e vícios, dos monstros marinhos e de todas as coisas vivas e mortas. Chegou como se fosse para minha redenção e coroada de flores invisíveis que brotam dos cabelos prateados, a me mostrar nas suas vestes negras transparentes o que dos seus seios jorram de leite à vida e do seu manto abrigo de céus e infernos. Dela uma auréola de nuvens de pássaros às revoadas e cantantes. Solfeja ela poemópera e se faz Gabriela Geluda, oh a minha vida, oh a minha vida, o meu tesouro... e a girar e gira girando a me envolver na sua apoteótica e performática expressão Penélope19, de Armando Lôbo. Ah, giro a vida e sonho. Ao final do espetáculo, olhos nos olhos, seus braços envolventes de clausura e rompante, a me dizer Nélida Piñon: O ser humano é um peregrino. É só na aparência que ele tem uma geografia. Se vive e se escreve sem rede de segurança. O escritor não deve apenas criar, mas deve também emprestar a sua consciência à consciência dos seus leitores, sobretudo num país como o Brasil. E me beija a vertigem e sou de volta o que desce para o que não há mais e são ruas dos meus sonhos no seu corpo e ela vai embora como quem leva a minha vida para nunca mais.

 


TRÊS PASSOS & A VIAGEM DE VOLTA – (Imagem: arte de Geraldo Barros) - A vida e só para valer, só vale mesmo quando inventada e reinventada todo dia, o dia todo. Sim, recomeçar, remover a casca, mudar de pele, outros arrebóis imaginados e vividos. Os passos no chuvisco do tempo miserável entre perguntas e terrores, arrebatado entre o que é permitido e não, tudo isso é nada. Em mim tudo amanhece no Hino de Akhenaton. Ouço da cidadede Campanella: o amor à coisa pública aumenta na medida em que se renuncia ao interesse particular... ninguém deve apropriar-se das partes que cabe aos outros. Aí me refaço, assim sempre fiz. Afinal, me reconstruo com essa a lição: O Sol nasce para todos. Até mais ver.

 

ORQUESTRA POPULAR DO RECIFE

A arte de um dos mais importantes grupos pernambucanos, Orquestra Popular do Recife, idealizada em 1975 pelo escritor e professor Ariano Suassuna e, inicialmente, foi regida pelo Maestro Duda. A partir de 1977, a direção artística e musical foi assumida pelo maestro, arranjador, professor e compositor Ademir Araújo, o Formiga. Dela curtindo os álbuns E o frevo continua (2007) e Olha o Mateus! (2005). Veja mais aqui, aqui & aqui.

 


 


sexta-feira, setembro 18, 2020

CÓRTAZAR, LUCIANO DE SAMÓSATA, ELISA LUCINDA, JOSÉ ROOSELVET & VIOLINOS NO COQUE

 

DIÁRIO DO GENOCÍDIO NO FECAMEPA – UMA: SABE AQUELA... DAS IDAS E VINDAS ENTRE ÉREBROS & BÁRATROS - Olhos na madrugada, cismava sem urdidura. Deu-se de mesmo, tão esquisito: mulheres passavam e uma delas me puxou alegando que as seguissem para me proteger do Soroche de Supai. Para onde iam? Às regiões mais montanhosas e inacessíveis de Pachamama, onde os espíritos das huacas reinavam e que eu fosse com elas senão me perderia pelos confins tenebrosos e infernais de Ucui Pacha, lá onde se sofre de frio e fome e só tem pedra por alimento. Não entendia nada nem me restou alternativa, porque não era eu uma alma penada nem fantasma, encolhi o medo e, de mãos dadas, seguimos pelo caminho das trevas. De repente, senti sua mão escapulir, sozinho e tudo escureceu por bom tempo, nada se via no silêncio de tudo. Com o clarão repentino do luar, eram outras mulheres tagarelando ao meu lado e no meio das torres de pedra de Punta de las Mujeres. Não me passou pela cabeça serem elas as nove senhoras de Ah Puch e que preparavam a descida da enforcada deusa Ixtab, sob os auspícios do panteão Bolontiku. A deusa levitava e se aproximou de mim, ofertou um pedaço da casca da Ceiba pentadra que contém em seus grãos rebentos de kapok, ordenando para que eu fosse já ao Mitnal. Não entendi, era pênalti, sabia de antemão ao vê-la retirar a corda que envolvia seu pescoço, obrigando-me que a pusesse em honra dos suicidas. Era preciso inventar uma saída, o sangue fugia, quase tive um ataque tipo epiléptico para ver se me safava. Nesse instante a sensual deusa Awilix interrompeu o que seria o meu sacrifício, procedendo para elas de forma autoritária, e, em seguida, tomou das minhas mãos para segui-la pela noite da Lua, a me contar do que ocorrera comigo antes, com as incas e, agora, com as maias. Contou-me mais enquanto se disfarçava em muitas outras sedutoras auroras e crepúsculos para me espalhar por aí, e me deixou a par do horror ao vazio e do transporte dos tempos para o futuro por deuses que se sucediam noites e dias presos por uma cilha frontal, porque os dias eram seres vivos, cada um com nome e número patrocinados por uma entre as divindades. Altas horas da viagem, ela me amparava na nudez e fartura dos seus seios, a recitar Julio Córtazar: Andávamos sem nos procurar, mas sabendo sempre que andávamos para nos encontrar. Vem dormir comigo: não faremos amor, ele nos fará. Tudo ouvia até a sonolência e eu dentro dela que se derretia com a febre do meu corpo no seu. Amparado fui embalado por acalanto irreconhecível do seu corpo cheio de músicas.

 


DUAS MORTES DEPOIS (Imagem do pintor surrealista José Rooselvet)– Da primeira morte a vertigem na escada, o telhado que ruiu, o sangue na lavanderia sumida, quase nada mais existe, apenas uma rua estreita para pedestres, com a orla repleta de prédios como se monstros imóveis. Daquela vez tudo desapareceu na brancura onírica de música das esferas, talvez entre Nazcar e Machu Picchu, imagens com desenhos da pedra de Roswell noitedias pelas distâncias da escuridão cósmica. Da segunda morte, nem a lembrança da encruzilhada, não mais o poste na calçada de uma manhã nublada, à espera de uma condução inexistente. Ainda ouço a frenagem e a colisão, tudo pode acontecer do nada, só as graves vozes do coral. Ouvi um verso de Elisa Lucinda: Nesse dia, Deus deu uma saidinha e o vice era fraco. E se morro uma vez e desfaleço outras tantas a cada dia, sou grato à vida, responsável por minha sina. Não lamento o que deixei de fazer, fiz o máximo que pude e renasci menino.

 


TRÊS PASSOS PARA SAIR DO VULCÃO - (Imagem do pintor surrealista José Rooselvet) - Desci pela milésima vez, como se fosse Pessoa escrevendo cartas comerciais ou O’Neill concebendo frases publicitárias, ou como Rimbaud para tomar uma cerveja e dar uma baforadas na face do desafeto. Em todas elas exaltei os trinta e quatro cantos de Dante no meio dos nove círculos concêntricos do sofrimento e os nove caminhos e os três vales e as quatro esferas, enfim, o caos impiedosamente ordenado. Reconheci os três aspectos aristotélicos: a malícia, a incontinência e a bestialidade. Atravessei todas as galerias como se fossem ruas fumegantes e entre elas as mínimas e vistosas entrelinhas do insignificante de qualquer olhar, aprendendo o que pudesse de fecundo e necessário para o aprendizado do útil e do fútil, o momento apropriado para o que quer que fosse. Fiz a travessia do berço ao túmulo, a reconhecer dos invertebrados e protozoários, o que seria de mim depois de tudo. Sempre preferi cinzas, nunca uma sepultura, mesmo sabendo que a viagem indesejável seria qualquer jeito. Lá ouvi o Diálogo dos mortos (Athena, 1996), no qual Luciano de Samósata me contara irreverente: A vida de cada um será passada a limpo... tu vês os ricos, os sátrapas, os tiranos, agora tão rebaixados e insignificantes, reconhecidos apenas pela lamentação; isto é, que são uns poltrões e ignóbeis, enquanto ficam recordando das coisas lá de cima. Assim como a raposa para as uvas, o beijo para a amante, a traição para o humano, cada qual cumpre o seu destino. Quem não compungido se o acontecido é pouco e tornará a acontecer de outra forma e mesmo até à revelia. Todos se veem enredados em suas malbaratadas e entediadas vidas, o que me faz entender talvez alguma possibilidade de ser aquilo que eu gostaria de ser se não fosse o que sou. Até mais ver.

 

VIOLINOS NO COQUE

[...] Precisa-se. Precisa-se da voz cristalina de uma avezinha, dessas aves sem ninho, como diria o poeta, para escutar o que dizem. E ouvir a humanidade toda que está ali. A beleza do campo, a inocência brotante, a suavidade dos anhos que só Botticcelli percebeu. [...] A beleza comove. E vi ali uma flor de lótus colhida. Que se impõe e faz admirar, apesar do meio circundante.

Trecho extraído da obra Violinos no Coque (FacForm, 2010), do médico, escritor e memorialista Waldênio Porto, contando a história de uma comunidade do Recife e a formação da Orquestra Cidadã Meninos do Coque, projeto desenvolvido pelo maestro Cussy de Almeida e reunindo 130 garotos e garotas. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.



 


quinta-feira, setembro 17, 2020

CLARICE LISPECTOR, JÚLIA LOPES DE ALMEIDA, LUÍS CRISPINO, ASTECA & NOS TEARES DA HISTÓRIA


DIÁRIO DO GENOCÍDIO NO FECAMEPA – UMA: SABE AQUELA... A PERDA & A DESOLAÇÃO ANOITECIDA - A noite instalou-se de repente, perdi a noção das horas e do lugar. O ermo me fez atravessar o rio muitas vezes e o meu rosto estava em toda parte, como se os outros em mim fossem vivos e não havia como me livrar disso. Perdi meu nome e era um caeté sobrevivente diante da bela senhora asteca, Mictlancihuatl, que tomou minhas mãos para percorrer o teatro das apavorantes torturas das nove camadas de Mictlan, e me entregou um volume impresso cujo título era A civilização dos astecas (Ferni, 1975), de Jean Marcilly, no qual pude ler a indicação expressa do iminente quinto fim do mundo: nosso sol, tendo retomado seu curso, depois que as trevas desapareceram e as águas se retiraram, está atualmente em movimento naui ollin, mas terminará seu curso num despedaçamento de toda a terra. Ela leu-me em voz alta o trecho destacado de um modo ternamente incomum, acrescentando que os infernos são a planície divina e da morte nasce a vida. A cena no palco representava o fogo no canavial de João Cabral, o fogaréu no Pantanal de Monjardim, a Amazônia em chamas e a imagem do inferno de Hieronymus Bosch. A plateia inteira em mim assistia a tudo atônito. Se muitos, na verdade, eu não era ninguém e havia perdido até a mim mesmo.

DUAS PASSADAS & O CAMINHO DO CÉU – Havia uma reunião em que todos se preparavam para encenação da peça teatral O caminho do céu (Manuscrito-Campinas, 1883), primeira investida teatral da dramaturga, escritora e abolicionista Júlia Lopes de Almeida (1862-1934). No tablado discutiam a situação atual com as outras peças da autora, tais como A herança, Doidos de amor, Nos jardins de Saul, Quem não perdoa, As urtigas, Os humildes, Laura, entre outras tantas do seu expressivo repertório, todas recolhidas da publicação A (in)visibilidade de um legado: seleta de textos dramatúrgicos inéditos de Júlia Lopes de Almeida (Intermeios/Fapesp, 2016), um estudo da socióloga e pesquisadora Michele Asmar Fanini. O debate acalorado entre atores e técnicos foi interrompido pela intervenção inopinada de um sacerdote indígena que aconselhou a todos prestarem bem atenção aos obstáculos do mundo subterrâneo, atentando inicialmente para as ondas largas do rio Chicnahuapan, que se prolongavam pelos mundos infernais até o repouso eterno da noite no nono e último mundo do Chicnahuatmictian. Os presentes se entreolharam interrogativos, ao passo que senti uma mão ao meu braço sussurrando que jamais encenariam seu texto: Quero escrever um livro novo, arrancado do meu sangue e do meu sonho, vivo, palpitante, com todos os retalhos de céu e de inferno que sinto dentro de mim; livro rebelde sem adulações, digno de um homem. Ela afugentou a todos com rispidez e zarpou dali sem se despedir. Não havia como tomar pé da situação, saí imediatamente, apressei o passo sem saber para onde ir. Fui.

TRÊS FOTOS ONÍRICAS - (Imagem: fotogravura do fotógrafo Luís Crispino) - Seria exagero considerar que me perdi na fuga pela sobrevivência, matar a fome, saciar os desejos e gozar realizações, qual nada, esqueci quem sou e folheei um dos supostos livros de Deus e não me encontrei nas suas infinitas páginas, acho que escapei delas para ruminar talvez na loucura. Crispino ao me encontrar assim diante de nada, então me disse: A ideia não é seduzir ninguém, no sentido literal, durante as fotos. Fazer uma boa foto demanda muita concentração. Não sobra espaço para isso. É claro que existe um movimento de “conquistar” quem está sendo fotografada, mas que é muito mais complexo do que a simples sedução, é mais uma “troca” que começa e termina ali, durante as fotos. E me entregou um envelope e lá estava meu coração despedaçado: a primeira, a amada nua em decúbito dorsal; a segunda, era eu desencontrado sem ter para onde ir; a terceira, Clarice n’A Paixão segundo GH: O mundo não tinha mais sentido nenhum, e o homem não me tinha mais sentido nenhum. Ao meu lado, não mais o fotógrafo, mas ela mesma que me chegou com um beijo para ensinar o que sou de todas as coisas. Até mais ver.

NOS TEARES DA HISTÓRIA
[...] emergiu as reflexões associadas à intenção social e à valorização da arquitetura, a partir dos seus usuários, que passam a qualifica-la enquanto lugar [...].
Trecho extraído da obra Nos teares da história: entre fábrica e escola, uma restauração (CEHM, 2015), da professora e pesquisadora Juliana Cunha Barreto, tratando sobre a interpretação histórico-documental dos fios de tecidos da história de Pernambuco, a arquitetura da tecelagem, a declaração de significância e as leis de proteção, a Escola Técnica Estadual, as soluções arquitetônicas, entre outros assuntos. Veja mais aqui, aqui e aqui.


quarta-feira, setembro 16, 2020

RIMBAUD, TUNGA, MERRIT MOORE, ENEIAS & MANI MANDIOCA



DIÁRIO DO GENOCÍDIO NO FECAMEPA – UMA: SABE AQUELA... ENTRE ANDAÇOS & ENLEVOS ÀS DESORAS - Cantoconto, sou a solidão de Eneias. Também tenho horror a todos os ofícios e não usarei as mãos para manchar a alma, vivo em toda parte. Dos meus antepassados, todos mortos sepultados no ventre e estou só. Eu sei, só os covardes estão vivos, porque o meu povo está inspirado pela febre e pelo câncer, o vício estúpido e a podridão, são todos calamidades. Não exponho meus desgostos e traições, não sei para onde nem por que vou. Agora mesmo a primavera se confunde com outono, os mil amores crucificados como se o inverno fosse o conforto e eu perdi a noção de tudo. Escrevo silêncios, sofismas mágicos e alucinadas palavras inumeráveis, a alquimia do verbo. Tal Rimbaud: é evidente que sempre fui de uma raça inferior: Não posso compreender a revolta. Minha raça não se rebelou jamais, a não ser para a pilhagem: como os lobos que atacam o animal que não mataram. Meu navio a sorte inventa e não há como atracar com a desilusão dos sonhos. Persigo o voo, sozinho.

DUAS DE MANI – A primeira, do escritor, etnólogo e folclorista José Vieira Couto de Magalhães; a segunda, das Estórias e lendas de Goiás e Mato Grosso; afora a das Lendas dos índios do Brasil (São Paulo, 1946), de Herbert Baldus; a da Antologia das lendas do índio brasileiro (RJ, 1957) e a reunida no Dicionário do folclore brasileiro (Global, 2001), do saudoso Câmara Cascudo. Todas dão conta da menina de cujo corpo nasceu a mandioca, Manihot utilíssima, euforbiácia, nome que provêm de Mani-óca, casa de Mani, uma lenda da raça Tupi. Aquela da jovem índia que apareceu grávida e o chefe, indignado por seu orgulho maculado, insistiu na punição do responsável. Ela, inflexível, dizia nunca ter tido relação alguma. Nove meses depois nascia uma menina branca e lindíssima, fato que gerou bastante surpresa na tribo e noutras nações vizinhas. A menina teve o nome de Mani e andava como falava precocemente. Morreu ao cabo de um ano, sem ter adoecido e sem dar mostras de dor. Foi enterrada dentro da própria casa onde brotou uma planta inteiramente desconhecida. A terra fendeu e cavaram reconhecendo o corpo de Mani. Então, comeram a mandioca que passou a fazer parte da culinária brasileira desde então.

TRÊS PRAS QUATRO – Imagem: arte da premiada bailarina e física quântica estadunidense, Merrit Moore. - A dança quântica e ela baila nua no meu coração como uma balzaquiana rainha que sabe que não há preferência exclusiva, basta o melhor de si no empenho e dedicação, o que preenche minhas ocas elucubrações e faz ainda mais feliz meu coração. Ensinou-me pacientemente: É preciso um cérebro criativo pra ter novas ideias no laboratório. E é preciso um cérebro analítico para saber seu centro de massa no estúdio de dança. É no seu bailado que os dias escorrem pelas tardes e noites para que a vida sorria e faça o viver uma experiência para lá de aprazível. Até mais ver.

A ARTE DE TUNGA
A arte do escultor, desenhista e artista performático Tunga - Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão (1952-2016), que foi o primeiro brasileiro a ter uma obra exposta no icônico Museu do Louvre, em Paris, e possui obras em acervos permanentes de museus como o Guggenheim de Veneza, entre outros. Para criar seus trabalhos, ele investigava áreas do conhecimento como literatura, psicanálise, teatro, ciências exatas e biológicas, utilizando em suas esculturas e instalações os mais inusitados elementos para construção de suas narrativas carregadas de simbolismo. A sua obra é retratada no vídeo Tunga: 100 redes e tralhas (1997), de Roberto Moreira, no livro Tunga: Barroco de Lírios (Cosac & Naify, 1997) e a caixa Tunga (2007), constituída de sete volumes de diferentes formatos com textos, fotografias e vídeos, documentando a sua trajetória. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.


terça-feira, setembro 15, 2020

BOCAGE, RUBEM ALVES, BETH FORMAGINI, NICOLINA VAZ & DEYSON GILBERT



DIÁRIO DO GENOCÍDIO NO FECAMEPA – UMA: SABE AQUELA... DOS UMBRAIS DE MIM... - O meu país arde como se o meu povo fosse o desespero dos acrófobos à beira do abismo, no cortejo de Paddy Digman do Joyce e eu pseudOdisseu errasse à procura de uma das sete vidas de Tirésias para reencontrar a Ítaca perdida, o meu Paraíso de Milton. Essa a coragem do passo adiante quando tudo é precipício na fumaça sem maçaneta, arrimo, apoio ou paredes: o rio de sudorese excessiva e a tremedeira no sorvedouro nas pontes dissolvidas para tudo despencar no frio da barriga perambeira. Desnudo no sonho o rei entre meras catábases por aclives íngremes, não olho para baixo nem posso voltar porque tudo ficou para trás com o pânico larófobo, porque caio para o báratro com o inútil instinto de sobrevivência de Ícaro sem paraquedas, alpinista nas cataratas do inevitável tropeço pelas escadas de nuvens. E ouço os versos do Soneto infernal de Bocage: Dizem que o rei cruel do Averno imundo e seja isto já; que é curta a idade, e as horas de prazer voam ligeiras... são os fios que se soltam na minha eterna corda bamba pelo meio-fio entre a vida e a morte. Ainda vivo, voo.

DUAS CENAS DE FILMESDepois de ter assistido o documentário Memória para uso diário (2007), da premiada cineasta Beth Formagini, tive a oportunidade de ainda ver o documentário Angeli 24 horas (2011), que trata sobre a obsessão pelo trabalho do cartunista Angeli e o seu dilema de artista, como também o premiado Xingu Cariri Caruaru Carioca (2016), que trata a respeito das origens e evolução do pífano na história do Brasil. Ela é formada em História, especializou-se em documentário na Universidade de Roma, foi presidente da Associação Brasileira de Documentaristas no Rio de Janeiro e trabalhou na produção e pesquisa de alguns filmes de Eduardo Coutinho. Foi dela que captei: Estamos infelizmente dominados. Se não discutirmos isso, entraremos de novo nesse período vivido no passado. Espero que a juventude de agora não volte a experimentar aquilo tudo. Tenho esperança de que as pessoas resistam, que se imponham. Esse é o alerta de que precisamos fazer alguma coisa aqui e agora, vambora.


TRÊS CONTAS NOS DEDOS SEGUINDO - (Imagem: escultura de Nicolina Vaz) – Ah, os meus dias, eram ventanias de tempestades terríveis com o esquecimento e nenhuma vontade de errar pela vida dentro de um odre de poderosos ventos e aberto para festa das sereias enlouquecedoras que me deixaram boiando num pedaço de madeira mar afora, para que findasse mendigo no meu próprio reinado em ruínas. Assim as funduras insondáveis da solidão e ao me deparar com as inscrições da tabuleta chinesa no meio dos antros do cabo Averno: Ande com calma na estrada escorregadia, pois nela se embosca o demônio do desastre. Eu sabia, um pé na frente e outro atrás, todos os caminhos levavam ao inferno. É como se do fundo do Érebo surgissem todos os pálidos espectros da minha convivência de ontens, com os seus castigos do julgamento e a minha veneranda mãe a testemunhar minha tribulação pela escuridão de charcos umbrosos. Presenciava tudo e quedava de terror como quem havia sido expulso do éden para invocar a musa, porque só havia em mim a imagem de Penélope a me esperar distante quase sem esperança, a tecer sua manta com as palavras de Rubem Alves: Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses. A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente. Vivo agora e voo pra ela. Até mais ver.

A ARTE DE DEYSON GILBERT
A arte do artista Deyson Gilbert, que é graduado em Artes Visuais pela Universidade de São (USP), fundador e editor da revista Dazibao e que já participou de mostras e exposições no Brasil e exterior. Veja mais aqui.


segunda-feira, setembro 14, 2020

GLORIA ANZALDÚA, FRANK ZAPPA, VICTORIA BORISOVA, RICHARD SENNETT, RODOLFO LEDEL & LUIZ QUEIROGA

  DIÁRIO DO GENOCÍDIO NO FECAMEPA – UMA: SABE AQUELA... CATÁBASE... - Milhares de mortos nublaram o meu sorriso e a vida o meu país nas trevas, era Frank Zappa me dizendo: a estupidez é o elemento básico do universoNão havia como prever Fecamepa tão medonho e estou só como se fizesse a trilha de Lidenbrock dos manuscritos do alquimista Saknussem na viagem de Verne ao som de Wakeman, a descer pela cratera do vulcão islandês Sneffels para não sei onde. Na verdade, parece mais no aqui e agora, baixava ao inferno e não foi a minha primeira vez, nem a última, porque sou argonauta e, tal Orfeu solitário, mereço Eurídice. Lá que é aqui, a ninfa Estige era um rio do Hades e logo me veio o barqueiro Caronte carregado das almas que abandonavam seus sonhos, desejos e deveres no Aqueronte. Ele fez a vez do psicopompo e me revelou: o inferno não é onde estou, mas onde você está que era o paraíso Hy-Breazil. Não sabia e ainda estou vivo.


DUAS VEZES VIVO MUITO MAIS!  - (ao som da Symphony nº 1 – The Triumph of heaven, de Victoria Borisova Ollas – Imagem art by Rodolfo Ledel) - Tem horas que voo na vida. Noutras, ela me leva. À espera do Sol e da hora de ir para não mais voltar, penso e sou o homem de Jung na raça de Vasconcelos Calderón enquanto Gloria Anzaldúa me dizia o verso do Útero sem túmulo: Padeço de um mal: a vida, / enfermidade recorrente / que me purga da morte. E era ela, luz&ar, nua e linda do inopinado como se rufassem todos os tambores da paixão com uma orquestra atacando a overture da sinfonia dos seus encantos para me embriagar pela indelével dança do amor e me fizesse de uma vez por todas esquecer pretéritos e crástinos porque tudo era agora e não mais que isso valesse a pena viver eternamente. Sou duas vezes vivo nela e muito mais.


TRÊS MIL VEZES A VIDA! - (Imagem art by Rodolfo Ledel) - Com a colagem das três decepções em cima da bucha & a resiliência em dia, persigo a vida e persevero, mesmo que o potencialmente perigoso asteroide Apolo 2020 QL2 mude de rota, errante de rumo e faça a danação de vez numa colisão que seja para que se diga que era só o que faltava este ano, enquanto Richard Sennett ironizasse a invisível tragédia que vige ao nosso redor: Não há mais o medo de violência entre "tribos", o que acontece é mais sutil, é um recuo em relação ao outro, como se o outro simplesmente não existisse. Nem me dera conta, muito embora soubesse da indiferença de todos apagando toda capacidade de indignação e nos desumanizando. Acabei de crer: indubitavelmente o inferno é aqui, só pode ser mesmo. Até mais ver.

LUIZ QUEIROGA, O HUMILDE IMENSO
Eu num tenho bicicreta / num tenho jipe, nem carro, nem caminhão / mái, no meu jegue, nas estrada eu disparo / e até já me apelidaro, Fittipardi do sertão. / O meu jumento deixa muita gente zônza / eu já quis corrê em Monza / e ía fazê figura / mái, reparei que o bicho tem até buzina / mái num usa gasulina / e lá num tem capim gordura. / Prá passa marcha a gente aperta nas urêia / o jumento se aperrêia e voa feito um avião / cum uma isporada ele rônca na trasêra / deixa tudo na puêra, meu jumento é campião!
Fittipárdi do sertão, extraído da obra Luiz Queiroga, o humilde imenso – o criador do Coronel Ludugero (Autor, 2006), da cantora e pesquisadora Mêvinha Queiroga, reunindo a biografia e textos de Lula Queiroga, José Mário de Austragésilo e Lúcio Mauro, Luiz Maranhão Filho, além de depoimentos de Arnaud Rodrigues, Carlos Fernando, Maciel Melo, Brivaldo Franklin – Zé do Gato, José Teles, Luciano Jacinto, Detto Costa, Jorge de Altinho, Coroné Caruá, entre outros. Veja mais aqui.



quinta-feira, setembro 03, 2020

HELEN KELLER, ELEANOR HIBBERT, ABDIAS DO NASCIMENTO, MARY SHELLEY, JIŘÍ RŮŽEK, FLORENCE NIGHTINGALE & MAÍRA ERLICH


DIÁRIO DO GENOCÍDIO NO FECAMEPA – UMA: SABE AQUELA... DE ESBORRAR PASSANDO DA CONTA!?! - Gentamiga, vamos colocar um papo aqui na roda. Seguinte, o Fecamepa evoca uma simplicíssima reflexão: suponhamos que um certo desgoverno Coisonário, fictício que seja, aliciasse a todos com rebuço das suas desastrosas paixões obcecadas pelo poder e suas tempestades emocionais em que a mentira sobrepuja a verdade, o Estado sobre a Justiça, a guerra e a morte sobre a vida, o ódio sobre o amor e, disso, assim mesmo, fosse detectada um tanto de intriga, ódio e difamação. Sim, desse jeito mesmo e nos bastidores armasse de tudo sob sigilo ultrassecreto, sonegasse informações, escondesse dados, extinguisse conselhos civis, insultasse a imprensa, os outros poderes e a inteligência da população; enrolasse e levasse nas coxas as questões atinentes ao desemprego, a pandemia e a crise econômica, dificultasse a aposentadoria, enfraquecesse o SUS para que a saúde fosse tratada por qualquer coisa sob manobras e subnotificações; o meio ambiente e todos os ecossistemas passassem a ser torrados por fogaréu geral, com liberação de agrotóxicos e explosão dos índices da violência nas áreas rurais e urbanas; privatizasse para atender interesses das elites em detrimento da população; produzisse doidices polêmicas e desequilibradas no território familiar, da mulher e dos direitos humanos; provocasse relações internacionais com protocolos aviltados e desconformes; perdoasse dívidas do agronegócio e evangélicos, entregasse a Base de Alcântara, fomentasse o fascismo e práticas totalitárias, interferisse em todo aparelho estatal, propagasse notícias falsas aos montes, tivesse ligação íntima com as milícias e desenvolvesse uma gestão para lá de desastrosa que redundasse num sem número de denúncias-crimes requerendo o impeachment e outras tantas mais além de tudo, isso no campo da suposição, será que poderia ser real mesmo ou eu estou ficando doido de ver isso no aqui agora? Sério, em que lugar do mundo se sustentaria e estaria de pé mandando e desmandando? Acredito que qualquer um diante disso daria uma de Mary Shelley e, de queixo caído, diria: Contemplei o coitado... o desgraçado monstro que eu havia criado. E, com certeza seguiria o mote dela, acrescentando como glosa: O mundo precisa de justiça, não de caridade. Então vem sempre aquela voz me dizer que: o começo é sempre hoje. Com certeza, qualquer desgraça pouca não é só bobagem, e que nunca é tarde para se faz alguma coisa concordando imediatamente com Florence Nightingale: É necessária uma certa dose de estupidez para se fazer um bom soldado. Quanto mais um capitão que deu baixa em condições de extremo desatino! Será que estou fazendo a leitura certa da realidade ou estou inventando? Ora, ora, já não passou da hora da gente cobrar providências mais enérgicas? Sei não, ora, ora. Faço a minha parte mais que indignado, de luto pelos milhares que já se foram e na luta para tirar da minha frente situação tão calamitosa. Vamos simbora, gente! Ah, já ia me esquecendo: vem aí as desventuras do Capitão Cloroquina, o anti-heroi Coisonário, aguardem. 

DUAS DO TEATRO EXPERIMENTAL DO NEGRO – Nossa! Vamos pras cenas. Primeiro: que o ator, escritor, dramaturgo, artista plástico, professor universitário e ativista dos direitos humanos e civis das populações negras, Abdias do Nascimento (1914-2011), que era militar e foi perseguido, preso diversas vezes e, inclusive, expulso do exército por sua atuação no combate à discriminação racial. Segundo: que este autor criou em 1944, o Teatro Experimental do Negro, promovendo apresentações teatrais, além de convenções e congressos para debates acerca das questões raciais brasileiras, combatendo o mito da democracia racial ocorrida nos anos 1960 e, consequentemente, não resistindo aos embates, o teatro foi extinto por dificuldades financeiras em 1961. O depoimento acerca de tudo isso está no texto Teatro Experimental do Negro: trajetórias e reflexões (Estudos Avançados, 2004), oriundo da peça teatral homônima de 1959, em que ele expressa: Era previsível, aliás, esse destino polêmico do TEN, numa sociedade que há séculos tentava esconder o sol da verdadeira prática do racismo e da discriminação racial com a peneira furada do mito da “democracia racial”. Mesmo os movimentos culturais aparentemente mais abertos e progressistas, como a Semana de Arte Moderna, de São Paulo, em 1922, sempre evitaram até mesmo mencionar o tabu das nossas relações raciais entre negros e brancos, e o fenômeno de uma cultura afro-brasileira à margem da cultura convencional do país. Por conta disso, se faz necessário mencionar que o autor possui diversas obras, a exemplo de Race and ethnicity in Latin America - African culture in Brazilian art (1994); Brazil, mixture or massacre? essays in the genocide of a Black people (1989); Racial Democracy in Brazil, Myth or Reality?: A Dossier of Brazilian Racism (1977); O Quilombismo (Vozes, 1980); O Genocídio do Negro Brasileiro (Paz e Terra, 1978), entre outros publicados no Brasil e no exterior, além de filmes que vão desde O homem do Sputnik (1959), Cinco vezes favela (1962), Cinema de Preto (2005) e de documentários sobre sua trajetória. Homenagem feita e justa nestes tempos obscuros de execrável racismo. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

TRÊS DECEPÇÕES EM CIMA DA BUCHA & A RESILIÊNCIA EM DIA - Imagem do fotógrafo tcheco Jiří RůžekApesar de tudo, nunca esmoreci. Situação aversiva que fosse, nunca baixei o badalo. Escapava fedendo, arriava aos farrapos e, no outro dia, pronto para outra e novinho em folha. Isto quer dizer que enverguei de quase torar de sobrar os farelos, mas depois de ter morrido um tanto de vezes, ressuscitava. Foram tantas mesmo que perdi a conta, já me acostumei a dormir entre escombros e acordar como se fosse a primeira vez e nada tivesse acontecido antes. Nunca esqueci Helen Keller: Nunca se pode concordar em rastejar, quando se sente ímpeto de voar. Ah, mas tem os que atrapalham e como tem! Não só jogam do contra, como impedem ou fazem de tudo para que não se consiga o que quer que seja. E se conseguir, dizem que botam o olho gordo daquilo se perder, quebrar ou emperrar na hora. O que me ofereciam de figa, simpatias e protetores curiosos, oxe, meio mundo de tranqueira para me proteger dos agouros dos maledicentes. Na minha, só me valia dos ditos daquela escritora britânica Eleanor Hibbert (1906-1993) com seus trocentos pseudônimos: Realmente acredito que existem algumas pessoas que odeiam contemplar a felicidade dos outros. Nunca se arrependa. Se for bom, é maravilhoso. Se for ruim, é experiência. Foi disso que aprendi a levar tudo como lição. Se não deu, aprendi, mesmo cônscio do fracasso recorrente. Ora, foi muito aprendizado, enormes aprendizagens. Trocando em miúdos, vivi plenamente, nada a reclamar. Até mais ver.

A FOTOGRAFIA DE MAÍRA ERLICH
Gosto de enxergar a fotografia como algo muito além de ser só um registro, a fotografia tem muitas oportunidades de ser algo maior, mais profundo e transformador para muita gente. Você produzir uma foto que faça uma pessoa repensar todo o mundo dela eu acho isso um poder incrível.
A arte da premiada fotógrafa Maíra Erlich. Veja mais aqui & aqui.


quarta-feira, setembro 02, 2020

SHAKESPEARE, BALZAC, ALDIR BLANC, CITTABELLA & COISAS DO RECIFE


DIÁRIO DO GENOCÍDIO NO FECAMEPA – UMA: SABE AQUELA... O REINO DE DUAS CARAS - O Fecamepa vai firme e forte, mesmo com a censura do Nassif & outra aqui e acolá, o reino do imbrochável Coisonário segue mitômano e peçonhento, a comandar a patetada ministerial desqualificada: uma Doidamares endemoninhada (gente, sei que ela é infeliz, mas alguém tem que dá uma picada aprumada para derreter o queijo dela; sei que quem for precisará estar munido de uma bravura indômita, vez que ela não é tão feia, mas é do mal, carece de antídoto e muita coragem, periga virar depois uma besta fera do estopô calango, destá); um MalthusGuedes que para se manter bailando desvairada para os ricos, precisa matar os pobres; o suspeitíssimo boiadeiro dendroclasta SavoRiconarola abrindo a porteira da destruição dos ecossistemas; e outros tantos desclassificados alienígenas que afundam a patriamada na desgraça cloroquínica & outros quetais inventados nos costados endoidecidos deles, enquanto chafurdam na punheta coletiva dos seus mandos, mudando a geografia e até o alinhamento dos planetas na sua sanha estupidológica, para fabricar a sua pseudologia absolutista. Sabia, a história se repete, já advertira Balzac que, como sempre, para cada caso: Há duas histórias: a história oficial mentirosa, que se ensina, a história ad usum Delphini; depois, a história secreta, onde estão as verdadeiras causas dos acontecimentos e que é uma história vergonhosa. No caso do aldrabão dos coisominions, como diria Macbeth de Shakespeare: uma história contada por um idiota, cheia de ruído e de furor e que nada significa. Agora, Brasil, durma com um barulho deste!!! Vambora, gente!

DUAS CRATERAS E NÃO É NA LUA - Aqui a coisa está empenada demais, verdadeira Cittabella: se a gente escapa da abissal pandemia, despenca no desgoverno. Não dá outra, ou lá ou loa e muitos. Revivemos aquela remota e ignota Cidade dos Buracos, antes tida como de localização desconhecida, agora comprovadamente aqui, tenho certeza e bato no peito: Brasilzilzilzilzil. A respeito alerta a escritora e tradutora italiana Lia Wainstein (1919-2001), no Viaggio in Drimonia (Milão, 1965), que precisamos, a exemplo dos habitantes de Cittabella, nos familiarizar com as diferentes espécies de buracos. Os mais comuns e menos preocupantes são do tamanho de uma caçarola. Os redondos, com bordas denteadas, resultado de um súbito colapso da camada superior – cor de berinjela – que repousa sobre uma camada mais mole, marro-terrosa. Observa ela que Quando chove, os buracos se transformam em pequenas poças lodosas, onde não é raro encontrar uma pobre borboleta com as asas presa na lama. Os habitantes de Cittabella caminham enfiando os pés nos buracos, de maneira desajeitada, ou dando passos largos e cuidadosos para não quebrar as bordas. Adverte, porem, que, por ordem de perigo, vêm certos buracos enormes e profundos que podem facilmente engolir duas casas. Ensina a escritora que O povo de Cittabella é conhecido por seu modo de andar peculiar: caminham sempre como se estivessem procurando alguma coisa. Fazem isto por vários motivos: porque estão num bairro cujos buracos não lhes são familiares; ou porque estão procurando (sobretudo para satisfazer suas famílias ansiosas) por algum primo do interior recém-chegado e que parece ter desaparecido; ou porque o cocheiro perdeu mais uma junta de cavalos. Neste último caso, é melhor desistir logo da busca, pois essa tarefa é raramente coroada de sucesso. Lições estas inestimáveis para quem vive driblando constrangedoras situações aversivas como estas que mergulhamos já faz uns cinco anos e, desde março, em dose dupla. Vamos nessa, ora se.

TRÊS PINOTES & UMA ATITUDE ESTOICA - Outrora quisera mais tempo para viver, hoje não mais, idade indefinível, dúvidas além da conta. Não tenho mais jeito, a experiência do silêncio me livra hoje de bons bocados e mais nada para fazer, nem um minuto a mais nem a menos. Recolho as raízes do meu chão, estão em mim no meio dos detritos que sobraram de espécies que se podiam chamar de humanas, ramagem por meus ossos, músculos e o que aperta e dói aqui, o que se ausenta e sinto falta. Este memento mori, não apenas jogos de palavras, coisas que nem se sabe e feitas assim do nada, e disso tento tirar todo proveito para redimir as omissões de antes, desavergonhado compasso escancarado às grandes ventanias do destino. Sigo pálpebras atentas para a descoberta no que encontro e no que perdi, ouvido no ar e nenhum comedimento. Sei que o que é primário não será nunca secundário, embora deixe tanto para depois, a posteriori, sensatez indefesa para judiciosa reflexão. Tenho o temperamento generoso em alta densidade geográfica, sempre procuro algum olhar perdido na minha notoriedade precária senão prejudicada, criada no dedo e sempre assim solícito, pudera, reputação carente na minha militância ginocrata, porque sei que ao encontrá-la ela bailará linda Frances Charlotte Greenwood nua e eclipsada no meu corpo para alcançar minha alma e me fazer recitar Lamas do saudoso Aldir Blanc: Ter coragem de olhar / pela última vez / e mentir calmamente: / quem sabe?... Talvez... / como se a última vez / ficasse pra outra vez... e me salvará como se não houvesse mais jeito de morrer, a saber que sou juiz que não me interrogo lá muito bem, apesar de rigoroso e um tanto polido, perdoará a rir comigo da minha própria careta. Até mais ver

COISAS DO RECIFE
[...] A cidade acordava com os pregões dos vendedores ambulantes, os chamados balaieiros, que ofereciam de tudo; frutas, verduras, peixes, guloseimas, quinquilharias e serviços, desde o conserto em panelas e bacias até amolação de facas e tesouras. Muito pregões eram familiares a vários bairros da cidade, alguns alegres e zombeteiros, outros pungentes e nostálgicos: “Eu tenho a lã de barriguda para travesseiro”, gritava com voz arrastada o mulato já avançado em anos. O outro, mais moço, anunciava em tom festivo para assanhar a meninada: “Chora menino pra chupar pitomba!” [...].
Vozes tipos da cidade: o ambulante do desaforo, extraído da obra Coisas do Recife (Bagaço, 2004), do jornalista Fernando Menezes, contando sobre as equinas, assombrações, escola de cinema, referência cultural, artes plásticas, usos e costumes, música, vozes e tipos, brinquedos populares e a cozinha pernambucana. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
 

ANNE CARSON, MEL ROBBINS, COLLEEN HOUCK & LEITURA NA ESCOLA

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som do álbum Territórios (Rocinante, 2024), da premiada violonista Gabriele Leite , que possui mestrado em...