A SOLIDÃO DE
DENISE... - Sua família emigrou pro Reino Unido e a infância de Ilford era
reflexo da prisão domiciliar dos pais: estrangeiros inimigos que traziam para Essex
os problemas étnicos. Era a primeira guerra e as suas células se desenvolviam à
sombra da sabedoria paterna. Educada em casa já guardava o desejo desde os 5
anos de idade: ser escritora. Estudou balé, piano, francês e arte. Nenhuma identidade
a fazia sentir excluída: não era judia, nem alemã, nem galesa nem inglesa – era
especial e já sabia: Antes dos dez anos que eu era uma pessoa-artista e
tinha um destino... O pai protestava contra Mussolini pela invasão da Abssínia;
a mãe fazendo campanha para a Liga das Nações; a irmã no palanque contra a falta
de apoio à Espanha; todos empenhados em favor dos refugiados alemães e
austríacos, essa a sua condução pela política humanitária desde menina, quando vendia
o Dayly Worker de casa em casa nas ruas de Ilford Lane. Aos 12 anos
escreveu seu primeiro poema e depois enviou alguns deles para Eliot e recebeu uma
carta incentivadora. Foi então servir como enfermeira civil em Londres durante
o Blitz. Aos 17 anos publicou seu primeiro poema e, logo depois, o livro: The
Double Image. Casou-se e foi pros Estados Unidos onde naturalizou-se depois
para publicar Here and Now – a influência de Black Moyntain &
William Carlos Williams. Vieram então Overland
to the Islands e With Eyes at the
Back of Our Heads. Tornou-se editora do The Nation, abrindo
espaço para feministas e ativistas de esquerda, publicando The Jacob's
Ladder e O Taste and See: New Poems. É a hora da Guerra do Vietnã, a
morte de sua irmã e The Sorrow Dance, com o engajamento à War
Resisters League e o Writers and Editors War Tax Protest. Recusou-se a
pagar impostos em protesto contra a guerra, inspirada na desobediência de Thoreau.
Passou a integrar o coletivo anti-guerra RESIST, conclamando os indivíduos
a se tornarem defensores da mudança, ao vincular a experiência pessoal à
justiça e reforma social. E vieram Relearning the Alphabet, To Stay
Alive – poemas com uma coleção de cartas anti-Guerra do Vietnã,
noticiários, entradas de diário e conversas. Depois Footprints, The Freeing of the Dust, Life in the
Forest e a Collected Earlier Poems 1940–1960. Sozinha dedicou-se
à educação morando em Massachussets, Boston, Palo Alto, Stanford e a descoberta
dos cadernos da mãe e pai para resolver conflitos pessoais e religiosos. Foi aí que apareceram Pig Dreams: Scenes from the
Life of Sylvia, Candles in Babylon, Oblique Prayers: New Poems,
Breathing the Water e A Door in the Hive. Mudou-se para
Seattle para admirar apaixonadamente o Monte Rainier. Aposentou-se para
realizar leituras dos seus poemas pelos USA e Grã-Bretanha, protestando contra
os ataques ao Iraque. Surgem Evening Train
e A Door in the Hive / Evening Train. Um diagnóstico com linfoma e o sofrimento
com pneumonia e laringite aguda. Mesmo assim prosseguia com palestras e
conferências, ressaltando a beleza da linguagem e a feiura dos horrores da
guerra: a violência é uma válvula de escape... Por fim publica Sands
of the Well e, logo em seguida, a morte leva-a para sempre. Veja mais
abaixo & mais aqui e aqui.
DITOS &
DESDITOS - Um poeta que articule os medos e horrores do nosso tempo é necessário
para que os leitores entendam o que está acontecendo, realmente entendam, não
apenas saibam, mas sintam: e deve ser acompanhado por uma disposição por parte
daqueles que escrevem de tomar medidas adicionais para acabar com as grandes
misérias que registram... Todos os dias, todos os dias, ouço o suficiente para
preencher um ano de noites com dúvidas... Nada do que fazemos tem a rapidez, a
segurança, a inteligência profunda que viver em paz teria... Mas nós apenas
começamos a amar a terra. Nós apenas começamos a imaginar a plenitude da vida.
Como poderíamos nos cansar da esperança? - há tanta coisa em broto... Pensamento
da poeta britânica Denise Levertov (1923–1997), autora do famoso poema Como
eles eram?: O povo do Vietnã \ usava lanternas de pedra?\ Eles
realizavam cerimônias\ para reverenciar a abertura dos brotos?\ Eles eram
inclinados ao riso silencioso?\ Eles usavam osso e marfim,\ jade e prata, como
ornamento?\ Eles tinham um poema épico?\ Eles distinguiam entre fala e canto?\ Senhor,
seus corações leves se transformaram em pedra.\ Não se lembra se em jardins\ jardins
de pedra iluminavam caminhos agradáveis.\ Talvez eles se reunissem uma vez para
se deliciar com a flor,\ mas depois que seus filhos foram mortos\ não havia
mais brotos.\ Senhor, o riso é amargo para a boca queimada.\ Um sonho atrás,
talvez. O ornamento é para alegria.\ Todos os ossos foram carbonizados.\ não é
lembrado. Lembre-se,\ a maioria era camponesa; sua vida\ era em arroz e bambu.\
Quando nuvens pacíficas se refletiam nos arrozais\ e os búfalos de água pisavam
com segurança ao longo dos terraços,\ talvez os pais contassem histórias
antigas aos filhos.\ Quando as bombas quebravam aqueles espelhos,\ havia tempo
apenas para gritar.\ Ainda há um eco\ de sua fala que era como uma canção.\ Foi
relatado que seu canto lembrava\ o voo de mariposas ao luar.\ Quem pode dizer?
Está silencioso agora. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.
ALGUÉM FALOU: A alegria
é como um dia agitado; mas a paz divina é como uma noite tranquila... Veja como
o tempo faz toda a tristeza desaparecer. Os sonhos se tornam sagrados quando
colocados em ação; o trabalho se torna belo através do sonho estrelado, mas
onde cada um flui sem se misturar, ambos são infrutíferos e em vão...
Pensamento da poeta britânica Adelaide Anne Procter (1825-1864). Veja
mais aqui, aqui e aqui.
ALGUÉM MAIS FALOU:
Quem se entrega à tristeza renuncia à plenitude da
vida. Para sobreviver, planeje a esperança... Em tempos de incerteza e
desesperança, é essencial desenvolver projetos coletivos a partir dos quais
planear a esperança juntamente com outros... Pensamento do psiquiatra e psicanalista suiço Enrique Pichon
Rivière (1907-1977). Veja mais aqui.
O PEDANTE NOS ENSAIOS – O jurista, filósofo, escritor e
humanista francês Michel Eyquem de Montaigne (1533-1592) inventou os ensaios pessoais ao conceber suas obras sob a
denominação Ensaios (Abril Cultural,
1987) analisando as opiniões, instituições e costumes, bem como sobre os dogmas
da sua época e observando a generalidade da humanidade como objeto de estudo. Dele
destaco Pedantismo, no capítulo XXXV,
do Livro I dos seus Ensaios: [...] Dionísio
caçoava dos astrólogos que cuidavam de saber das desgraças de Ulisses mas
ignoravam as próprias; dos músicos que afinam suas flautas mas não os seus
costumes; dos oradores que estudam para discutir a justiça mas não a praticam.
Se a sua alma não se aperfeiçoa, se seus juízos não se tornam mais lúcidos,
melhor fora que o estudante gastasse o tempo a jogar péla, pois ao menos o
corpo ele o teria mais ágil. Observai-o de volta após quinze ou dezesseis anos:
nada se fará dele; o que trouxe a mais é o grego e o latim, que o fizeram mais
tolo e presunçoso do que quando deixou a casa paterna. Devia voltar com o
espírito cheio e voltou balofo; incharam-no e continuou vazio. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
MEU POVO, MEU POEMA – Uma das maiores personalidades vivas
da poesia brasileiro é, sem dúvida, o premiado e aplaudidíssimo poeta, crítico
de arte, tradutor e ensaísta maranhense Ferreira Gullar que foi um dos
fundadores do Neoconcretismo e ocupante da cadeira 37 na Academia Brasileira de
Letras. No seu livro Dentro da noite veloz (José Olympio, 1975), destaco Meu
povo, meu poema: Meu povo e meu poema
crescem juntos / como cresce no fruto / a árvore nova / No povo meu poema vai
nascendo / como no canavial / nasce verde o açúcar / No povo meu poema está
maduro / como o sol / na garganta do futuro / Meu povo em meu poema / se reflete
/ como a espiga se funde em terra fértil / Ao povo seu poema aqui devolvo /
menos como quem canta / do que planta. Veja mais aqui, aqui e aqui.
A IMPORTÂNCIA DE SER
PRUDENTE – A comédia A importância de ser prudente (1895 - Aguilar,
1975), é a obra prima do escritor e dramaturgo britânico de origem irlandesa, Oscar Wilde (1854-1900), apresentando uma
sátira da sociedade vitoriana nos seus estertores. Foi adaptada diversas vezes
para o cinema, sendo a mais recente transformada em uma comédia romântica de
2002, dirigida por Oliver Parker, com título em português de Armadilhas do
Coração. Do texto destaco os seguintes fragmentos em diálogos: [...] L. BRA. É satisfatório. Entre os deveres que
esperam a gente no transcurso da vida e os deres que exigem da gente depois da
morre, a terra deixou de ser, em todo caso, um benefício ou um prazer. Ela nos
dá posição e nos impede de mantê-la. É tudo quanto se pode dizer a respeito de
terras. JOÃO. Tenho uma casa de campo com algumas terras a ela anexas, é claro,
cerca de mil e quinhentos acres, creio eu. Mas minha verdadeira renda não porém
disto. De fato, pelo que tenho podido comprovar, os caçadores furtivos são as
únicas pessoas que tiram alguma coisa dela. [...] ALGERNON. É um
trabalho terrivelmente duro não fazer nada. Mas não me importo de trabalhar
duramente, contanto que não haja objetivo definido. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
PERDAS E DANOS – Um inesquecível filme, principalmente
pela sempre maravilhosíssima atuação da atriz francesa Juliette Binoche, é o drama britânico-francês Perdas & Danos (Damage,
1992), dirigido pelo cineasta Louis
Malle (1932-1995), com roteiro de David Hare e baseado no romance de Josephine
Hart. A dupla Binoche e Jeremy Irons
vive um envolvimento entre nora e sogro, bem ao gosto do diretor de sempre
trazer temas polêmicos e críticos dos valores burgueses, expressando as
angustias sociais humanas com temática como suicídio, liberação feminina,
pedofilia, incesto, entre outros. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

































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