Imagem da artista plástica Nina Kozoriz. Veja mais aqui.
HINO AO SOL.
Akhenaton
(Amenhotep ou
Amenófis IV)
Bela é a tua alvorada, oh Aton
vivo, Senhor da eternidade!
Tu és brilhante, tu és belo, tu és
forte!
Grande e profundo é o teu amor; os
teus raios cintilam nos olhos de todas as criaturas; a tua pele espalha a luz
que faz os nossos corações viver.
Tu encheste as Duas Terras com o
teu amor, oh belo Senhor, que a ti mesmo te criaste, que criaste a Terra
inteira e tudo o que nela se encontra: os homens, os animais, as árvores que
crescem no chão.
Levanta-te para lhes dar vida, pois
tu és a mãe e o pai de todas as criaturas.
Os seus olhos voltam-se para ti,
quando ascendes no firmamento.
Os teus raios iluminam toda a
Terra; o coração de cada um enche-se de entusiasmo, quando te vê, quando tu lhe
apareces como seu Senhor.
Quando te pões no horizonte
ocidental do céu, as tuas criaturas adormecem como mortos; obscurecem-lhes os
cérebros, tapam-se-lhes as narinas, até que de manhã se renova o teu brilho no
horizonte oriental do céu.
Então, os seus braços imploram o
teu Ka, a tua beleza acorda a vida e renasce-se!
Tu ofereces-nos os teus raios e
toda a Terra está em festa; canta-se, toca-se música, soltam-se gritos de alegria
no pátio do castelo do Obelisco , o teu templo de Akhenaton, a grande praça que
tanto te agrada, onde te oferecem alimentos como homenagem...
Tu és Aton, tu és Eterno...
Tu és Aton, tu és Eterno...
Tu criaste o longínquo céu para aí
te elevares e veres as coisas que criaste.
Tu és único e, no entanto, dás vida
a milhões de seres, é de ti que as narinas recebem o sopro da vida.
Quando vêem os teus raios, todas as
flores vivem, essas mesmas que crescem no chão e se abrem quando tu apareces.
Com a tua luz se embriagam.
Todos os animais se levantam de um
salto, os pássaros que estavam nos seus ninhos abrem as suas asas, para fazerem
preces a Aton, fonte da vida.
(Referência:
CHIANG, Sing. Nefertiti e os
mistérios sagrados do Egito. São Paulo: Conhecimento, 2006).
Ouvindo o álbum From the Full Moon
Story (Polydor, 1979), do compositor, músico e multi-instrumentista Kitaro. Veja mais aqui.
PROGRAMA BRINCARTE DO NITOLINO – Hoje é dia do Programa Brincarte
do Nitolino, a partir das 10hs, no blog do Projeto MCLAM, com apresentação
de Isis Corrêa Naves. Na programação Turma da Mônica, Sandra
Fayad, Turminha do Tio Marcelo, Meimei Corrêa, A criancinha que consertou o
homem e o mundo, As pererecas sapecas, Valores éticos e morais no contexto do
cotidiano das crianças, Patati & Patatá, Doutora July & muita música,
muita poesia, histórias e brincadeiras pra garotada. Logo
após a apresentação, acontece a programação do Domingo Romântico com reprise de
todos os programas da semana. E também é o momento de participar da promoção
Brincarte do Nitolino aqui. Para conferir o programa ao vivo e online é só ligar
aqui e aqui.
MANIFESTO PAU BRASIL – No Dia do Pau Brasil, nada mais justo
que trazer aqui o Manifesto Pau-Brasil
(Correio da Manhã, 1924), do escritor, ensaísta e dramaturgo do Modernismo
brasileiro, Oswald de Andrade (1890-1954):
A poesia existe nos fatos. Os casebres de
açafrão e de ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos
estéticos. O Carnaval no Rio é o acontecimento religioso da raça. Pau-Brasil.
Wagner submerge ante os cordões de Botafogo. Bárbaro e nosso. A formação étnica
rica. Riqueza vegetal. O minério. A cozinha. O vatapá, o ouro e a dança. Toda a
história bandeirante e a história comercial do Brasil. O lado doutor, o lado
citações, o lado autores conhecidos. Comovente. Rui Barbosa: uma cartola na
Senegâmbia. Tudo revertendo em riqueza. A riqueza dos bailes e das frases
feitas. Negras de Jockey. Odaliscas no Catumbi. Falar difícil. O lado doutor.
Fatalidade do primeiro branco aportado e dominando politicamente as selvas
selvagens. O bacharel. Não podemos deixar de ser doutos. Doutores. País de
dores anônimas, de doutores anônimos. O Império foi assim. Eruditamos tudo.
Esquecemos o gavião de penacho. A nunca exportação de poesia. A poesia anda
oculta nos cipós maliciosos da sabedoria. Nas lianas da saudade universitária. Mas
houve um estouro nos aprendimentos. Os homens que sabiam tudo se deformaram
como borrachas sopradas. Rebentaram. A volta à especialização. Filósofos
fazendo filosofia, críticos, critica, donas de casa tratando de cozinha. A
Poesia para os poetas. Alegria dos que não sabem e descobrem. Tinha havido a
inversão de tudo, a invasão de tudo : o teatro de tese e a luta no palco entre
morais e imorais. A tese deve ser decidida em guerra de sociólogos, de homens
de lei, gordos e dourados como Corpus Juris. Ágil o teatro, filho do
saltimbanco. Agil e ilógico. Ágil o romance, nascido da invenção. Ágil a
poesia. A poesia Pau-Brasil. Ágil e cândida. Como uma criança. Uma sugestão de
Blaise Cendrars : - Tendes as locomotivas cheias, ides partir. Um negro gira a
manivela do desvio rotativo em que estais. O menor descuido vos fará partir na
direção oposta ao vosso destino. Contra o gabinetismo, a prática culta da vida.
Engenheiros em vez de jurisconsultos, perdidos como chineses na genealogia das
idéias. A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A
contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos. Não há
luta na terra de vocações acadêmicas. Há só fardas. Os futuristas e os outros. Uma
única luta - a luta pelo caminho. Dividamos: Poesia de importação. E a Poesia
Pau-Brasil, de exportação. Houve um fenômeno de democratização estética nas
cinco partes sábias do mundo. Instituíra-se o naturalismo. Copiar. Quadros de
carneiros que não fosse lã mesmo, não prestava. A interpretação no dicionário
oral das Escolas de Belas Artes queria dizer reproduzir igualzinho... Veio a
pirogravura. As meninas de todos os lares ficaram artistas. Apareceu a máquina
fotográfica. E com todas as prerrogativas do cabelo grande, da caspa e da
misteriosa genialidade de olho virado - o artista fotógrafo. Na música, o piano
invadiu as saletas nuas, de folhinha na parede. Todas as meninas ficaram
pianistas. Surgiu o piano de manivela, o piano de patas. A pleyela. E a ironia
eslava compôs para a pleyela. Stravinski. A estatuária andou atrás. As
procissões saíram novinhas das fábricas. Só não se inventou uma máquina de
fazer versos - já havia o poeta parnasiano. Ora, a revolução indicou apenas que
a arte voltava para as elites. E as elites começaram desmanchando. Duas fases:
1º) a deformação através do impressionismo, a fragmentação, o caos voluntário.
De Cézanne e Malarmé, Rodin e Debussy até agora. 2º) o lirismo, a apresentação
no templo, os materiais, a inocência construtiva. O Brasil profiteur. O Brasil
doutor. E a coincidência da primeira construção brasileira no movimento de
reconstrução geral. Poesia Pau-Brasil. Como a época é miraculosa, as leis
nasceram do próprio rotamento dinâmico dos fatores destrutivos. A síntese O
equilíbrio O acabamento de carrosserie A invenção A surpresa Uma nova
perspectiva Uma nova escala. Qualquer esforço natural nesse sentido será bom.
Poesia Pau-Brasil O trabalho contra o detalhe naturalista - pela síntese;
contra a morbidez romântica - pelo equilíbrio geômetra e pelo acabamento
técnico; contra a cópia, pela invenção e pela surpresa. Uma nova perspectiva. A
outra, a de Paolo Ucello criou o naturalismo de apogeu. Era uma ilusão ética.
Os objetos distantes não diminuíam. Era uma lei de aparência. Ora, o momento é
de reação à aparência. Reação à cópia. Substituir a perspectiva visual e
naturalista por uma perspectiva de outra ordem: sentimental, intelectual,
irônica, ingênua. Uma nova escala: A outra, a de um mundo proporcionado e
catalogado com letras nos livros, crianças nos colos. O redame produzindo
letras maiores que torres. E as novas formas da indústria, da viação, da
aviação. Postes. Gasômetros Rails. Laboratórios e oficinas técnicas. Vozes e
tics de fios e ondas e fulgurações. Estrelas familiarizadas com negativos
fotográficos. O correspondente da surpresa física em arte. A reação contra o
assunto invasor, diverso da finalidade. A peça de tese era um arranjo
monstruoso. O romance de idéias, uma mistura. O quadro histórico, uma
aberração. A escultura eloquente, um pavor sem sentido. Nossa época anuncia a
volta ao sentido puro. Um quadro são linhas e cores. A estatuária são volumes
sob a luz. A Poesia Pau-Brasil é uma sala de jantar domingueira, com
passarinhos cantando na mata resumida das gaiolas, um sujeito magro compondo
uma valsa para flauta e a Maricota lendo o jornal. No jornal anda todo o
presente. Nenhuma fórmula para a contemporânea expressão do mundo. Ver com
olhos livres. Temos a base dupla e presente - a floresta e a escola. A raça
crédula e dualista e a geometria, a algebra e a química logo depois da
mamadeira e do chá de erva-doce. Um misto de "dorme nenê que o bicho vem
pegá" e de equações. Uma visão que bata nos cilindros dos moinhos, nas
turbinas elétricas; nas usinas produtoras, nas questões cambiais, sem perder de
vista o Museu Nacional. Pau-Brasil. Obuses de elevadores, cubos de arranha-céus
e a sábia preguiça solar. A reza. O Carnaval. A energia íntima. O sabiá. A
hospitalidade um pouco sensual, amorosa. A saudade dos pajés e os campos de
aviação militar. Pau-Brasil. O trabalho da geração futurista foi ciclópico.
Acertar o relógio império da literatura nacional. Realizada essa etapa, o
problema é outro. Ser regional e puro em sua época. O estado de inocência
substituindo o estada de graça que pode ser uma atitude do espírito. O
contrapeso da originalidade nativa para inutilizar a adesão acadêmica. A reação
contra todas as indigestões de sabedoria. O melhor de nossa tradição lírica. O
melhor de nossa demonstração moderna. Apenas brasileiros de nossa época. O
necessário de química, de mecânica, de economia e de balística. Tudo digerido.
Sem meeting cultural. Práticos. Experimentais. Poetas. Sem reminiscências
livrescas. Sem comparações de apoio. Sem pesquisa etimológica. Sem ontologia. Bárbaros,
crédulos, pitorescos e meigos. Leitores de jornais. Pau-Brasil. A floresta e a
escola. O Museu Nacional. A cozinha, o minério e a dança. A vegetação.
Pau-Brasil. Veja mais aqui.
MEDEIA – A tragédia Medeia (431aC), poeta trágico grego Eurípedes (480-460aC), foi apresentada nas Grandes Dionísias, apresenta
uma história que se passa em Corinto, trazendo o retrato psicológico de uma
mulher na condição de esposa repudiada e estrangeira perseguida que rejeita o
conformismo tradicional, a ponto de matar os filhos para vingar-se do marido
infiel que se casa com Glauce, a filha de Creonte, o rei de Corinto. Dessa peça
teatral destaco o trecho a seguir: (Entra Medeia.) Medeia: Saí de casa, ó mulheres de
Corinto, para que nada me censurei. Porque eu sei que muitos dentre os mortais
são arrogantes, uns longe da vista, outros à porta de casa; outros,
atravessando a vida com passo tranqüilo, hostil fama ganharam de vileza. Porque
não há justiça aos olhos dos mortais, se alguém antes de bem conhecer o íntimo
do homem, o odeia só de o ver, sem ter sido ofendido. Força é que o estrangeiro
se adapte à nação; tampouco louvo do cidadão que é acerbo para os outros, por
falta de sensibilidade. Sobre mim este feito inesperado se abateu, que a minha
alma destruiu. Fiquei perdida e tenho de abandonar as graças desta vida para
morrer,, amigas. Aquele que era tudo para mim (ele bem o sabe) no pior dos
homens se tornou - o meu esposo. De quanto há aí dotado de alma e de razão,
somos nós, mulheres, a mais mísera criatura. Nós, que primeiro temos de
comprar, à força de riqueza, um marido e de tomar um déspota do nosso corpo -
dói mais ainda um mal do que o outro. E nisso vai o maior risco, se o tomamos
bom ou mau. Pois a separação para a mulher é inglória, e não pode repudiar o
marido. Entrada numa raça e em lei novas, tem de ser adivinha, sem ter
aprendido em casa, de como deve tratar o companheiro de leito. E quando o
conseguimos com os nossos esforços, invejável é a vida com um esposo que não
leva o jugo à força; de outro modo antes a morte. O homem, quando o enfadam os
da casa, saindo, liberta o coração do desgostos. Para nós, força
é que contemplemos uma só pessoa. Dizem: como nós
vivemos em casa uma vida sem risco, e ele a combater com a lança. Insensatos!
Como eu preferiria mil vezes estar na linha de batalha a ser uma só vez mãe! Mas a vós e a mim não serve a
mesma argumentação. Vós tendes aqui a vossa cidade e a casa paterna, a posse do
bem-estar e a companhia dos amigos. E eu, sozinha, sem pátria, sou ultrajada
pelo marido, raptada duma terra bárbara, sem ter mãe, nem irmão, nem parente,
para me acolher desta desgraça. Apenas isto de vós quero obter: se alguma
solução ou processo eu encontrar para fazer pagar ao meu marido a pena deste
ultraje, guardai silêncio. Aliás, cheia de medo é a mulher, e vil perante a
força e à vista do ferro. Mas quando no leito a ofensa sentir, não há aí outro
espírito que penda mais para o sangue. Coro: Assim farei. Com justiça castigarás o
teu marido, ó Medeia. Não me admiro que deplores a tua sorte. Mas vejo também
Creonte, o príncipe desta terra, que se aproxima, mensageiro de novas
deliberações. Veja mais aqui, aqui e aqui.
BELFAGOR, O ARQUIDIABO – O conto Belfagor, o arquidiabo (1549), do escritor, filósofo, historiador e
dip0lomata italiano Nicolau Maquiavel
(1469-1527), conta as desventura do diabo mandado à terra como ser humano para
verificar o matrimônio, criticando a corrupção dos costumes e defendendo a
liberdade com a visão do autor da sociedade medieval. Da obra destaco o trecho:
[...] foi-se
Belfagor ao mundo e, devidamente provido de cavalos e acompanhantes, entrou ele
em Florença com o maior aparato. Escolhera esta cidade para domicílio, entre
todas as demais, por lhe parecer a mais plausível para quem quisesse viver
empregando o seu dinheiro em negócios. Fez-se chamar Rodrigo de Castela e
alugou uma casa no bairro de Todos os Santos [Ognissanti]. Para que não pudessem descobrir-lhe os
antecedentes, disse ter partido da Espanha ainda criança; dali fora à Síria e a
Alepo, onde ganhara tudo o que possuía; de lá viajara para a Itália, a fim de
se casar num lugar mais humano e mais conforme à vida civilizada e à sua
própria índole. Era Rodrigo um moço formoso, que aparentava trinta anos. Em
poucos dias demonstrara ele quantas riquezas tinha e dera provas da sua
liberalidade e humanidade; logo vários cidadãos nobres, providos de muitas filhas
e pouco dinheiro, lhe ofereceram os seus préstimos. Entre todas, Rodrigo
escolheu uma belíssima donzela chamada Honesta, filha de Américo Donati, que
tinha mais três filhas, quase em idade de se casar, e três filhos já adultos.
De família muito nobre e tido em bom conceito em Florença, era no entanto muito
pobre, levando-se em conta a sua numerosa prole e a sua condição. Rodrigo
celebrou as suas núpcias com esplendor e grandeza, não descuidando de nada que
seja necessário em tais circunstâncias, pois entre as obrigações que lhe foram
impostas ao sair do Inferno, estava a de sujeitar-se a todos os caprichos
humanos; assim, logo passou a deleitar-se com as honrarias e pompas do mundo e
a gostar de ser louvado entre os homens, coisas que o levaram a grandes gastos.
Por outro lado, não tardou muito a apaixonar-se perdidamente por sua D. Honesta
e quase não conseguia viver quando a encontrava triste ou aborrecida. Com a sua
nobreza e formosura, a senhora Honesta levara consigo para a casa de Rodrigo um
orgulho tão desmesurado que mesmo Lúcifer não o tivera igual. Rodrigo, que
podia comparar um e outro, considerava o da sua mulher infinitamente superior,
e consta que ainda chegou a ser maior quando percebeu o amor que seu marido
sentia por ela. Imaginando ser por todas as maneiras a dona absoluta, dava as
suas ordens sem consideração ou piedade, e se ele relutasse a fazer as suas
vontades, desatava em recriminações e injúrias, o que era para o pobre Rodrigo
motivo de viva pena e aflição. Sem dúvida, por consideração ao seu sogro, aos
seus cunhados e demais parentes, por respeito aos deveres do casamento e pelo
amor que dedicava à esposa, sofria os seus males com a maior paciência. Quero
passar em silêncio sobre os grandes gastos a que era obrigado para contentá-la,
vestindo segundo os novos costumes e as modas mais recentes, que a nossa cidade
varia por hábito natural; nem lembrarei que, para ela o deixar em paz, teve ele
de ajudar o sogro a casar as outras filhas, o que lhe fez despender também
considerável importância. Depois, querendo manter-se em boa paz com a mulher,
consentiu em mandar um dos irmãos dela ao Oriente com casimira, e outro para o
Ocidente levando sedas, ao passo que para o terceiro irmão abriu em Florença
uma oficina de ourives, em que despendeu a maior parte do dinheiro que possuía.
Além disso, nas festas de Carnaval e de S. João, celebradas pela cidade inteira
segundo tradição antiga, quando grande número de cidadãos nobres e ricos se
honravam uns aos outros com magníficos banquetes, D. Honesta, para não ficar
atrás de outras damas, queria que o seu Rodrigo superasse a todos os demais com
as suas festas. Tudo isto, suportava-o Rodrigo pelos motivos supracitados;
apesar de gravíssimas, nem graves as teria achado se houvessem introduzido a
paz em sua casa, permitindo-lhe aguardar em sossego o momento de sua própria
ruína. Mas foi o contrário o que aconteceu, pois a índole insolente da esposa,
além das despesas insuportáveis, carrearam-lhe inúmeros aborrecimentos. Nenhum
criado a aguentava, não digo por muito tempo, mas nem sequer por alguns dias.
Para Rodrigo era o mais duro dos incômodos não possuir um criado que tivesse
amor à sua casa. Os próprios diabos que trouxera consigo como domésticos
preferiram voltar aos fogos do Inferno a viver no mundo sob as ordens daquela
mulher [...]. Veja mais aqui.
AOS HOMENS DA INGLATERRA – No livro Complete Poetical Works (1901), da poeta, tradutora e ensaísta do
Romatismo inglês Percy Bysse Shelley
(1792-1822), destaco o poema Aos homens da Inglaterra: Homens da Inglaterra, por que arar / para os senhores que vos mantêm na
miséria? / Por que tecer com esforço e cuidado / as ricas roupas que vossos
tiranos vestem? / Por que alimentar, vestir e poupar / do berço até o túmulo, /
esses parasitas ingratos que / exploram vosso suor – ah, que bebem vosso
sangue? / Por que, abelhas da Inglaterra, forjar / muitas armas, cadeias e
açoites / para que esses vagabundos possam desperdiçar / o produto forçado de
vosso trabalho? / Tendes acaso ócio, conforto, calma, / abrigo, alimento, o
bálsamo gentil do amor? / Ou o que é que comprais a tal preço / com vosso
sofrimento e com vosso temor? / A semente que semeais, outro colhe. / A riqueza
que descobris, fica com outro. / As roupas que teceis, outro veste. / As armas
que forjais, outro usa. / Semeai – mas que o tirano não colha. / Produzi
riqueza – mas que o impostor não a guarde. / Tecei roupas – mas que o ocioso
não as vista. / Forjai armas – que usareis em vossa defesa. Veja mais aqui.
FUNDADOR – O romance Fundador (Labor, 1976), da escritora Nélida Piñon, envolve uma narrativa labiríntica e investigativa
sobre religião, filosofia, história e acontecimentos do personagem Fundador e
Monja, no qual destaco o trecho: [...] Ptolomeu analisou aquele rosto. O semblante de Johanus e Fundador. O
mesmo hábito de reclamar ou proclamar a inconsistência. A história avançando em
suas feições. Quase Ptolomeu lhe confessando que devia, sim, partir
imediatamente, também fundar sua cidade, ou descobrir as razões do sangue
débil e impreciso. Morrer toma tempo, pensou Ptolomeu apressado. Joe
movimentou-se para partir. Reservava com o mais alto dos poderes a imagem do
amigo. Esquivando-se a contatos mais comoventes. Receava a precipitação dos
sentimentos albergados tanto tempo. Bem podiam viver sem eles. Acompanhou-o à
porta. Olharam-na então. Ptolomeu convencia-se da frágil vitória. Estivera
certo por tempo demasiado, e merecia agora silêncio. – Johanus chegou onde eu
quis, disse o velho, mais parecendo delirar. – Johanus? De quem se trata? Joe
contraía-se, como se aceitasse o malogro de toda ação futura. – Eu lhe prometi
Jerusalém, agora sei que conseguiu chegar. Joe tomou-o pelos ombros,
insistente. Convertendo em caricia o gesto inicialmente mais forte. Mas,
Ptolomeu esquivava-se. Embora com amizade. Não pretendia transbordar a taça. –
Cansaço, apenas, murmurou débil. E se desligou. Joe ainda o viu entrando na
loja. Começava a fechar a primeira das três portas. Veja mais aqui.
AURÉLIO: O PAI DOS BURROS - No eu tempo de ginásio, eu gritava na
sala de aula: - Dá meu Pai dos Burros, cara! E era de todos os tamanhos: meu
pai comprou um Aurelião pra ele, um Aurélio pra mim e um Aurelinho que era
revezado por minhas irmãs – uma estudava de manhã; a outra, de tarde. Eu mesmo
surrupiava o Aurelião dele e impava de empáfia desfilando rua acima e entre as
bancas da escola. Brincava até de caçar palavras, quando encontrava alguém e pedia para que dissesse uma bem estrambólica, do tipo daquelas bem estranhas que eu pinçava quando, com 10 anos de idade, virei copista no cartório e transcrevia as sentenças do juiz num livro denominado Tombo de Registro de Sentenças. Eu me deleitava quando flagrava uma que eu não sabia e corria lá folheando pra saber o significado. Era bom demais saber o que os doutos falavam. Findei ficando com o Aurelião pra mim, ainda hoje o tenho na
estante. Essa minha homenagem ao dicionarista, lexicógrafo, filólogo e ensaísta
Aurélio Buarque de Hollanda Ferreira
(1910-1989). Veja mais aqui.
LES QUATRE CENTS COUPS – O premiado drama Les quatre cents coups (Os incompreendidos, 1959), do cineasta
francês e fundador da Nouvelle Vague François
Truffaut (1932-1984), foi um dos filmes que mais assisti na minha adolescência,
quando eu mandava ver pintando o sete. Trata-se de uma história quase
autobiográfica e inspirada na experiências da infância e adolescência do
cineasta, contando a história de um garoto que se rebela contra o autoritarismo
da escola e o desprezo de sua mãe e padrasto. Sentindo-se rejeitado, ele passa
a gazear aulas, frequentando cinemas e conversando com amigos (ôpa, essa
história é minha!). Daí, então, ele passa a vivenciar descobertas e cometendo
pequenos delitos até ser preso num reformatório como punição dos próprios pais.
O filme ganhou o prêmio de melhor direção no Festival de Cannes (1959). Veja
mais aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
Water Nymph (1856) do pintor alemão Otto
Lingner (1856-1917).
Veja mais aqui.
Veja mais sobre:
Maria Esperantina, orgasmo de uma noite
& nunca mais, a
poesia de Ascenso Ferreira, O sexo na história de Reay Tannahill, a literatura
de Ulrike Marie Meinhof, Oropa, França & Bahia de Alceu Valença, Trem das
Alagoas de Guazzelli & a arte de Xenia Hausner aqui.
E mais:
A função do orgasmo de Wilhelm Reich, La
rebelión de las masas de José Ortega y Gasset, a poesia de Ascenso
Ferreira, a música de Alexander Scriabin, a pintura de Renato Alarcão, a arte
de Pablo Garat, Orgazmo & O orgasmo de Esperantina aqui.
O suicídio de Karl Marx, As caçarolas de
Tolinho & Bestinha, A primavera de Ginsberg & Padre Bidião aqui.
Salmo da Cana, Os doze trabalhos de Peisândro de
Rodes, Os trabalhos e os dias de Hesíodo, Germinal de Émile Zola, O operário em
construção de Vinicius de Moraes, a gravura de Cândido Portinari, O informe de
Brodie de Jorge Luis Borges, a escultura de Auguste Rodin, a música de Chico
Buarque, o teatro de Nelson Rodrigues, Tempos modernos de Chaplin, a arte de
Magda Mraz & Infância, Imagem e Literatura: uma experiência psicossocial na
comunidade do Jacaré – AL aqui.
Quando ela dança tangará no céu azul do
amor, A condição
pós-moderna de Jean-François Lyotard, A estética da desaparição de Paul
Virilio, a música de Anna-Sophia Mutter, a pintura de Eloir
Junior & Alex Alemany, David Peterson, Luciah
Lopez, a arte de Carlos Zemek & Magnum Opus de Isabel Furini aqui.
Elucubrações das horas corrida, O pensamento comunicacional de Bernard Miège, O outro por si mesmo de Jean Baudrillard, a
pintura de Vicente Romero Redondo & Edilson Viriato, a
coreografia de Doris Uhlich, a arte de Efigênia
Rolim, Meu delírio de Érica Christieh, a música de Sarah
Brasil, a arte de David Lynch & Sandra Hiromoto aqui.
Se não vai de um jeito, vai de outro, A marcha da insensatez de Barbara
Tuchman, A educação com carinho de Lidia Natalia Dobrianskyj Weber, a música de
Kyung-Wha Chung, a pintura de Joan Miró & Eugène Leroy, a arte de Anna Dart & Eugene J. Martin,
Remando no éden de Bárbara Lia, a fotografia de Faisal Iskandar, Revista
Poética Brasileira & Mhario Lincoln aqui.
Palco da vida, A terceira mulher de Gilles Lipovetsky,
A vida mística de Jesus de Harvey Spencer Lewis, Toda palavra de Viviane Mosé,
a música de Andersen Viana, a pintura de Maria Szantho
& Maxime des Touches, a arte de Katia
Kimieck & Vavá Diehl, Roseli Rodrigues & Balé
Teatro Guaíra aqui.
Do raiar do dia aos naufrágios
crepusculares, A
metafísica da realidade virtual de Michael R. Heim, História
dos hebreus de Flavio Josefo, a música de Milton Nascimento & Fernando
Brant, a poesia de Helena Kolody, a fotografia de André
Brito, a arte de Rollandry Silvério, a pintura de George Grosz & Fernando Rosa, Estilhaços da catarse de Carla Torrini aqui.
&
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra:
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.
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Veja detalhes aqui.