sábado, maio 23, 2015

LAGERKVIST, STRINDBERG, SAINT-SAËNS, TORQUATO NETO, BLOCH, NYMAN, LUCY GORDON & WALTRAUD MEIER.


VAMOS APRUMAR A CONVERSA? – EM MIM: Estou com o sentimento do mundo porque tudo translada tudo está em mim querendo explodir as larvas magnas da criação. Já não tenho nada meu em mim “sou todo coração” e vivo todo transluz que o clímax de viver emite; Sou todos os rostos em mim; Sou todos os acenos alegres e tristes, todo enterro e toda festa, todo frêmito e toda decepção. Já não sou individual, sou eu e um milhão de gente dentro de mim clamando gemendo gritando sorrindo cantando as muitas existências e já não sigo só. Em mim as vozes ecoam. E minha sombra não está embaixo do meu sapato. Está no espetáculo da vida. (Primeira reunião – Bagaço, 1992). Vamos aprumar a conversa? Aprume aqui ou aqui.

Imagem: Woman at her Toilette (1882), do pintor dinamarquês Carl Heinrich Bloch (1834-1890)

Curtindo Samson et Dalila, Op. 47 (1877 – EMI, 1993), do compositor francês Camille Saint-Saëns (1835-1921), com a mezzo soprano alemã Waltraud Meier & Myung-Wha Chung/Orchestre et choeurs de l'Opéra-Bastille

O ANÃO – O livro O anão (1944 – Antígona, 2013), do escritor sueco e Prêmio Nobel de 1951, Pär Lagerkvist (1891-1974), conta a história de um anão na corte italiana renascentista, que foi rejeitado pela mãe e vendido por ela ao príncipe para servir de bobo da corte, assim atuando com seu desprezo pela espécie humana. Da obra destaco os seguintes trechos: Tenho vinte e seis polegadas de altura, mas sou perfei­tamente constituído e proporcionado, salvo no que res­peita à cabeça, que é um pouco grande. Os meus cabelos são ruivos, em vez de negros como os da maior parte das pessoas, e além disso muito espessos e crespos; uso‑os repuxados para trás nas fontes e ao alto da testa, que se evidencia mais pela largura do que pela altura. O meu rosto é imberbe; afora isso, parece‑se com o de todos os homens. As minhas sobrancelhas unem‑se. Tenho uma força física considerável, sobretudo se me enco­lerizo. Quando me obrigaram a lutar com Josaphat, alcei‑o sobre as minhas costas, ao fim de vinte minutos, e estrangulei‑o. Desde então, sou o único anão da corte. [...] O meu destino é odiar as criaturas da minha espécie. A minha própria estirpe é-me execrável.Mas também me odeio a mim mesmo. Devoro a minha carne embebida de fel. Bebo o meu sangue envenenado. Sombrio bispo do meu povo, cumpro todos os dias o meu riso solitário. [...] Tenho notado que por vezes inspiro temor. Mas cada um sente sobretudo medo de si próprio. Os homens supõem sem razão que é por minha causa que andam inquietos. O que na realidade os aterroriza é o anão que se esconde neles, a caricatura humana de rosto simiesco que ergue por vezes a cabeça fora das profundezas do seu ser. Sentem-se tanto mais horrorizados quanto ignoram a sua existência. Espanta-os ver surgir à superfície esse desconhecido que lhes parece nada ter de comum com a sua verdadeira vida. Quando nada aparece acima dos esconsos, sentem a alma em paz. Seguem, de cabeça alta, impassíveis, com rostos lisos, sem expressão. Mas há sempre neles qualquer coisa de diferente, que fingem ignorar; podem viver diversas vidas ao mesmo tempo sem o saber. São estranhamente reservados e incoerentes. E são disformes, embora isso não seja visível. [...] Ser homem é uma coisa grande e maravilhosa, mas deveremos regozijar-nos por sê-lo? Ser homem é uma coisa destituída de sentido, mas deveremos afligir-nos, cheios de desespero? Como responder a tais perguntas? [...] Louco de excitação, contemplava os resultados inauditos da minha obra. Assim, eu exterminara aquela raça execrável, que só merecia ser destruída. Assim, a minha arma poderosa e vingadora, exigindo uma punição completa, sem piedade os ceifava. Assim, eu enviava-os para as chamas do Inferno por toda a eternidade. Pudessem eles arder lá todos! Todos aqueles seres que a si mesmos dão o nome de homens e nos enchem de nojo! Porque existem eles? Porque se fartam de risos e de amor e reinam tão orgulhosamente sobre a Terra? Sim, porque existem eles, esses hipócritas e esses charlatães, esses seres lascivos, sem sombra de vergonha, cujas virtudes são piores que os vícios? Possam todos arder no Inferno! Eu sentia-me como o próprio Satanás, rodeado pelos espíritos infernais que eles invocavam nas suas reuniões noturnas e que nesse momento, voltando para eles a cara trocista, arrebatavam dos seus corpos as almas ainda quentes e nauseabundas, para as levar para o reino da morte. Com uma volúpia que jamais experimentara antes e cuja violência quase me fez perder os sentidos, eu saboreava o meu poder sobre a Terra. [...]. Veja mais aqui.

OS ÚLTIMOS DIAS DE PAUPÉRIA – Do livro Os últimos dias de paupéria: do lado de dentro (M. Limonad, 1982), do poeta, jornalista, letrista e experimentador da contracultura, Torquato Neto (1944-1972), destaco inicialmente o poema O Poeta é a mãe das armas: O Poeta é a mãe das armas / & das Artes em geral — / alô, poetas: poesia no país do carnaval; / Alô, malucos: poesia / não tem nada a ver com os versos / dessa estação muito fria. / O Poeta é a mãe das Artes / & das armas em geral: / quem não inventa as maneiras do corte no carnaval / (alô, malucos), é traidor / da poesia: não vale nada, lodal. / A poesia é o pai da artimanha / de sempre: quente / ura no forno quente / do lado de cá, no lar / das coisas malditíssimas; / alô poetas: poesia! / poesia poesia poesia poesia! / O poeta não se cuida ao ponto / de não se cuidar: quem for cortar meu cabelo / já sabe: não está cortando nada / além da MINHA bandeira ////////// = / sem aura nem baúra, sem nada mais pra contar. / Isso: ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. / Ar: em primeiríssimo, o lugar. / poetemos pois. Também o poema A rua: A rua / Toda rua tem seu curso / Tem seu leito de água clara / Por onde passa a memória / Lembrando histórias de um tempo / Que não acaba / De uma rua, de uma rua / Eu lembro agora / Que o tempo, ninguém mais / Ninguém mais canta / Muito embora de cirandas / (Oi, de cirandas) / E de meninos correndo / Atrás de bandas / Atrás de bandas que passavam / Como o rio Parnaíba / O rio manso / Passava no fim da rua / E molhava seus lajedos / Onde a noite refletia / O brilho manso / O tempo claro da lua / Ê, São João, ê, Pacatuba / Ê, rua do Barrocão / Ê, Parnaíba passando / Separando a minha rua / Das outras, do Maranhão / De longe pensando nela / Meu coração de menino / Bate forte como um sino / Que anuncia procissão / Ê, minha rua, meu povo / Ê, gente que mal nasceu / Das Dores, que morreu cedo / Luzia, que se perdeu / Macapreto, Zé Velhinho / Esse menino crescido / Que tem o peito ferido / Anda vivo, não morreu / Ê, Pacatuba / Meu tempo de brincar já foi-se embora / Ê, Parnaíba / Passando pela rua até agora / Agora por aqui estou com vontade / E eu volto pra matar esta saudade / Ê, São João, ê, Pacatuba / Ê, rua do Barrocão. Veja mais aqui.

A MAIS FORTE – A peça teatral A mais forte (1888), do dramaturgo, escritor e ensaísta sueco August Strindberg (1849-1912), conta a história na qual a paixão, amor, ódio e medo se confundem, formando um enredo em que cada olhar; cada gesto tem um significado muito mais profundo do que deixa transparecer. Na peça, cabe ao espectador resolver, com sua imaginação e história pessoal, o desentrelaçar do drama. Através de um conflito aparentemente trivial, vivido por duas mulheres que disputam o amor do mesmo homem, o espectador é levado a se indagar sobre os fatos que são ou não são importantes na vida ou quando se escolhe um caminho a seguir. Da obra destaco o trecho: Cenário: uma casa de chá, duas mesas de canto, uma sofá forrado de veludo vermelho, várias cadeiras. Miss Y sentada no canto do café à sua frente uma garrafa vazia ale (espécie de cerveja). Ela lê uma revista, que mais tarde troca por outras. Mrs. X entra vestida com roupas de inverno, chapéu, capote, carregando uma sacola de compras, de desenho estranho. Mrs X: Amélie querida, como vai? O que é isto? Sentada ai sozinha, numa noite de Natal. Até parece uma solteirona. Miss Y: (olha-a sobre a revista, cumprimentando-a com a cabeça e para de ler). Mrs.X: Ora, não gosto de vê la aqui, tão só, e como se não bastasse, logo numa noite de Natal. Faz-me sentir tão mal, como no dia em que assisti uma festa de casamento num restaurante de Paris: a noiva lia histórias em quadrinhos, enquanto o noivo jogava bilhar com os outros convidados. Uf, então pensei: se no primeiro dia é assim,o que lhes espera no futuro? Ele, jogando bilhar na sua noite de núpcias e ela, sentada, lendo aquele jornalzinho. Que me diz disto? Bem, a comparação não foi das melhores, não é? Entra uma garçonete com uma xícara de chocolate e coloca-a em cima da mesa, em frente a Mrs. X. Mrs X: Sabe, Amelie, acho que teria sido melhor para você, se tive se casado com ele...Lembra-se bem quando insisti com você para desculpa-lo? Lembre-se? Hoje, poderia ser sua esposa, ter seu próprio lar...Recorda-se de como você se gabava de gostar da vida domestica, desejando, verdadeiramente, abandonar sua carreira teatral? Sim, Amélie querida – depois do teatro – a melhor coisa é um lar, crianças, você sabe...Não, acho que não entenderia isto! Miss Y: (expressando desdém). Mrs X: (prova algumas colheradas de chocolate, abre a sacola de compra e tira alguns presentes de Natal) – Ah, deixe-me mostrar-lhe o que comprei para meus filhos. (Mostra uma boneca) Olhe só, que graça! É para Lisa...Veja como fecha os olhos e vira a cabeça! Vê? E esta espingarda é para Maja (Arma a espingarda e atira em direção de Miss Y). Miss Y: Faz um gesto medroso. Mrs. X: Não me diga que a assustei! Não pensou que eu fosse realmente atirar, pensou? Há? Nossa, pelo visto acho que sim! Se você quisesse atirar em mim, eu não ficaria surpresa. Afinal, eu me intrometi na sua vida – e acho que jamais se esquecerá disto – mesmo assim, não tive culpa...Ainda acredita que contribui para o seu afastamento do Grande Teatro – não é mesmo? Pode pensar o que quiser, mas não tive nada a ver com aquilo! No entanto, vejo que não importa o que diga, ainda assim você imaginará sempre que a responsabilidade foi toda minha! (Tira um par de chinelos da sacola). E estes são para minha cara metade. Eu mesma os enfeitei – com tulipas. Eu as detesto, sabe, mas meu marido tem quer ter tulipas em tudo que é seu. Miss Y: (Olha sobre a revista, com curiosidade e ironia) [...] Veja mais aqui e aqui.

GAINSBOURG – O filme Gainsbourg: o homem que amava as mulheres (2010), do diretor Joann Sfar, retrata a vida do músico, cantor e compositor francês Serge Gainsbourg (1928-1991), uma biografia que conta desde suas aptidões para as artes, como o desenho e música, sua imaginação fértil retratando personagens com variações de sua própria personalidade, até se tornar um doas artistas mais populares da França. O destaque desse filme é da saudosa atriz e modelo britânica qie foi encontrada enforcada cometendo suicídio antes do lançamento da película, Lucy Gordon (1980-2009) que interpretou a atriz e cantora Jane Birkin. Veja mais aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA
Hoje é dia da atriz sueca de teatro e cinema Lena Nyman (1944-2011)


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