VAMOS
APRUMAR A CONVERSA? – Há
muito tempo que deveríamos ter aprumado a conversa sobre o andamento da
construção de um país melhor paratodos. E bote tempo nisso. Já se foram décadas
e décadas. E apesar da coisa seguir na base do efeito da gangorra, uma hora
vira onda, outra vira mesmice de calmaria; tem horas até que parece virar
terremoto, mas foi só uma crise solitária, tadinha, vixe! Está mais que no
momento da gente tomar conta de vez a respeito disso: o Brasil vira um país de
verdade ou a gente quer essa zona pro resto da vida? Tá na hora de encarar em
riba da fivela! Principalmente agora com o paroxismo de despropositais propostas
de plantão - daquelas do tipo em tempo de iminência, do vai ou racha, ou fode
tudo ou nada, vai que cola -, aliadas a coprólitos mentais de retorno à
ditadura militar e desarranjo emergencial de uma classe política que não sabe
nunca o que fazer além de paliativos salvadores de pátria, está aí a prova de
que precisamos botar a coisa nos eixos. E bastam, pra começo de conversa, algumas
ações individuais que já daremos alguns passos, por exemplo: não dar toco a
funcionário público para resolver nossas pendengas, não vender o voto, não ir
na conversa do primeiro político que aparecer, não ser fura-fila, não usar de
carteirada, respeitar os sinais de trânsito, tomar ciência de que o vizinho
também pode se incomodar e se lembrar que o umbigo é o centro do corpo e não do
universo. Eita! Isso mesmo! Esses os passos iniciais pra gente começar a
aprumar a conversa. Nunca é tarde! E aprume aqui.
Imagem: The Seasons, do pintor estadunidense Jasper Johns.
Curtindo o álbum Jequibau (Tratore, 2012), do Quaternaglia, formado pelos violonistas Chrystian Dozza, Fabio Ramazzina, Paola Picherzky, Thiago Abdalla e Sidney Molina.
HERZOG – O livro Herzog (Companhia das Letras, 2011), do escritor judeu canadense e
Prêmio Nobel de Literatura de 1976, Saul
Bellow (1915-2005), conta a história do vacilo de sanidade do pensador e
professor universitário Moses Herzog, depois que foi traído pela esposa na meia
idade e em crise com a profissão. Da obra destaco o trecho inicial: [...] Se estou louco, tudo bem para mim, pensou Moses
Herzog. Algumas pessoas achavam que ele não estava regulando bem e por um tempo
ele mesmo tinha questionado sua sanidade. Mas agora, embora continuasse se
comportando estranhamente, sentia‑se confiante, animado, clarividente, forte. Em
estado de graça, estava escrevendo cartas para todo mundo sob o sol. Estava tão
agitado por essas cartas que, desde o final de junho, ia de um lugar para o
outro com uma valise cheia de papéis. Tinha carregado essa valise de Nova York
a Martha’s Vineyard, mas voltara de Vineyard imediatamente; dois dias depois
voou para Chicago, e de Chicago foi para um vilarejo no oeste de Massachusetts.
Escondido no campo, escreveu incessantemente, fanaticamente, aos jornais, a
pessoas na vida pública, a amigos e parentes e, por último, para os mortos,
para seus próprios mortos obscuros e finalmente para os mortos famosos. Era o
auge do verão nos Berkshires. Herzog estava sozinho no velho casarão.
Normalmente cheio de caprichos em matéria de comida, agora ele comia pão de
fôrma Silvercup, feijão enlatado e queijo americano. De quando em quando colhia
framboesas no jardim coberto de mato, erguendo os ramos espinhentos sem muito
cuidado. Quanto ao sono, dormia num colchão sem lençóis — era sua cama de casal
abandonada — ou na rede, coberto por seu casaco. Capim barba‑de‑bode bem alto e mudas de
alfarrobeira e de bordo se espalhavam pelo terreno em volta. Quando abria os
olhos à noite, as estrelas estavam próximas como corpos espirituais. Fogos,
evidentemente; gases — minerais, calor, átomos, mas eloquentes às cinco da
manhã para um homem numa rede, enrolado em seu casaco. Quando algum novo
pensamento se apossava do seu coração, ele ia para a cozinha, seu quartel‑general, para passa‑lo para o papel. [...]. Veja mais aqui.
ICH – A noveleta Ich
(Eu, 1927), do dramaturgo austríaco Arthur
Schnitzler (1862-1931), traz o sentimento de perplexidade e alívio que o
protagonista vivencia constante diante do funcionamento da sua própria língua,
retratando a relação entre o autor e Sigmund Freud, o criador da Psicanálise.
Da obra destaco o texto inicial: Até aquele dia fora um homem absolutamente normal.
Às sete da manhã, levantava-se o mais silenciosamente possível, para não
perturbar a esposa que gostava de dormir até mais tarde; bebia uma xícara de
café, beijava o filho – que tinha de ir à escola – na testa e, com um suspiro,
dizia jocosamente à Marie, que tinha seis anos: “Pois é, no ano que vem vai ser
a sua vez.” Enquanto ele ainda brincava com a menina, a esposa costumava
entrar; seguiase uma conversa inofensiva, às vezes até alegre e sempre
tranquila, pois o casamento deles era bom, sem mal-entendidos e sem infelicidade,
sem acusações recíprocas. À uma hora regressava da loja para casa, até não
muito cansado porque o que ele tinha de fazer não era um trabalho nem cansativo
nem repleto de responsabilidade – era chefe de departamento, o assim chamado
chefe de Rayon em uma loja de departamentos de qualidade mediana
na Währingerstrasse18. Depois vinha um almoço simples, bem-feito; os filhos,
bonzinhos e arrumados, sentavam-se com ele à mesa; o menino contava da escola;
a mãe, do passeio que fizera com a filha antes de buscar o pequeno na escola; e
o pai falava de mil acontecimentos insignificantes na loja, de novas criações,
dos artigos que lhes foram expedidos de Brno, na República Checa; contava do
chefe preguiçoso que, na maioria das vezes, aparecia na loja só por volta do
meio-dia; falava de um cliente estranho, de um homem elegante que sabe Deus por
qual razão acabou indo parar na loja e que, no início, comportara-se um pouco
presunçosamente, mas depois ficou até entusiasmado com a estampa de uma gravata
qualquer; contava da Fräulein Elly que outra vez tinha um novo admirador – se
bem que isso não era da sua conta, dado que ela era vendedora no departamento
de calçados femininos. [...] Veja mais aqui.
POESÍAS – No livro Poesías
(1866), do escritor e dramaturgo espanhol Ventura
de la Vega (1807-1865), destaco o poema sem título: Ele é sem graça e eu odeio mui / Que tem
pouca graça, / -Se em
um canto / Seja palha tolo. /
É um dado em golpe vaga, / É uma falsa porra, / É
fornicar-se, / É uma farsa, uma farsa. / Mas fazê-la tocar
/ Para a mão delicada / Uma menina bonita, / peito nu e para
trás, / Isso já é muito diferente, / E ele merece aplaudir; /
Porque uma palha bem-feito / Quase equivalente a um pódice. / Podice,
da parte traseira / Eles são de tal magnificência, / Não há
nenhuma maneira de foder / Tem cada vez mais adeptos. / A esposa
do burro ré / Ele apresenta orifícios, / Para escolher o cipote
/ Que você vê o ajuste. / Acima ou abaixo, / Dois dedos
afastados, / Enfim bainha / Como já foi dito, é excelente. / ...
Esta forma de inferno, / Que por si só é recomendado / Eu
aconselho com louvor / Um jovem honesto. / ... Não seja
negligência, mulheres, / A ocasião é calvo; /Abra suas pernas / Antes
Esse homem é distraído. / Se não, você ver como logo / Heck gasto em
vão / Todas as munições / Eles têm no coldre. / Ostentada
em seus olhos / Suas graças suave / Quando você quiser fornicar
/ e palha não é feito. / ... Não foder professores / Que
jogaria um pod / À beira de uma cimitarra / Ou na ponta de uma
lança. / Uma vez (lembrança agradável!) / Eu forniquei com uma
garota / Sentado num banco de pedra / Com as pernas levantadas,
/ Eu coloquei em seus ombros que: / Ele está ajoelhando-se diante
dela, pressionado; / E assim eu mandei o negócio / Na cadeira,
sofá ou cama. Veja mais aqui.
LOLA – O drama Lola (1981), do cineasta alemão Rainer Werner Fassbinder (1945-1982), faz parte do terceiro filme
da trilogia Milagre Economico Alemão, contando a história ocorrida entre os
anos 1957-58, na cidade de Coburg, na Alemanha Oriental, no período de
reconstrução do país, envolvendo um empresário e empreiteiro de obras que
enriquece como corruptor e proxeneta de uma prostituta. Destaque para a
performance da premiada atriz alemã Barbara
Sukowa. Veja mais aqui.
IMAGEM DO DIA
A premiadíssima cantora lírica e soprano alemã Dorothea Röschmann.
Veja mais sobre:
Primeiro de maio, Os sete pecados sociais de Mahatma Gandhi, O trabalho e os
dias de Hesíodo, o pensamento de Karl Marx, Adam Smith & David Ricardo, a
pintura de Tarsila do Amaral, a música de Chico Buarque & Milton
Nascimento, Esopo & o Dia da Literatura Brasileira
aqui.
E mais:
Salmo da cana, Os doze trabalhos de Peisândro de
Rodes, Germinal de Émile Zola, O operário em construção de Vinicius de Moraes,
O trabalho de Hesíodo, a pintura de Cândido Portinari, Informe de Brodie de
Jorge Luis Borges, Tempos modernos de Charlie Chaplin, a escultura de Auguste
Rodin, a música de Chico Buarque, o teatro de Nelson Rodrigues, a arte de Magda
Mraz, Infância, imagem & literatura aqui.
O trabalho & a sua organização aqui.
Cidadania na escola, o pensamento de George Wald, Carta de
Sêneca, a música de Antonio Carlos Nóbrega, a poesia de Nauro Machado, o teatro
de Newton Moreno, o cinema de Philippe Garrel & Clotilde Hesme, a pintura
de Elizabeth Boott Duveneck, Distanásia, A administração pública & os
crimes contra a administração pública aqui.
O trabalho: escravidão, subordinação e
desemprego aqui.
O trabalho da mulher aqui.
O trabalho de 8 a 80 aqui.
O trabalho, a organização, a psicologia e
o comportamento humano aqui.
Educação Profissional aqui.
Movimento sindical no Brasil aqui.
O queijo e os vermes de Carlo Ginzburg, O
cortiço de Aluísio de Azevedo, a música de Arrigo Barnabé, a pintura de Otto
Lingner, Acontece Curitiba & Claudia Cozzella, o cinema de Francisco
Pereira da Silva & Ítala Nandi, a fotografia de Robert Doisneau, a arte de
Mano Melo & Programa Tataritaritatá aqui.
Literatura Infantil, a pintura de Leonardo da Vinci, a
música de John McLaughlin & John Cage, O suicídio de Émile Durkheim, a
literatura de Henry James, o cinema de Mel Smith & Emma Thompson, a arte de
Luiz Fernando Veríssimo, Padre Bidião: Toumal & a Mulher de Bushman aqui.
Damaianti,
A sede dos deuses de Anatole France, Manifesto dadaísta de Tristan Tzara, O
grande ditador de Charlie Chaplin, O Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci, a
pintura de Henri Fantin-Latour, a música de Edson Natale & Tons & Sons aqui.
Recomeçar do que vai e vem, A arte da poesia de Ezra Pound,
Trajetória da juventude de Miriam Abramovay, Carta ao poeta de Rui Knopfli, a
pintura de Aleksandr Gerasimov, a música de Tanita Tikaram, a arte de Annette
Kellerman & Luciah Lopez aqui.
Direitos de toda mulher, A gravidade e a graça de Simone Weil, Declaração dos direitos da mulher de Olympe de
Gouges, a poesia de Magdalena Isabel Monteiro, a pintura de Jose Higuera, a
música do Quarteto Radamés Gnattali, a escultura de Bruno Giorgi & a
fotografia de Arne Jakobsen aqui.
Minha nossa, quanta poluição, A teia da vida de Fritjof Capra, a
poesia de António Gedeão, Máquinas e seres vivos de Humberto Maturana &
Francisco Varela, a pintura de Patricia Awapara, a
música de Sarah Brightman, a fotografia de Stefan Kuhn & a arte de Kézia
Talisin aqui.
Tudo é Brasil, A colonização do imaginário de Serge
Gruzinski, a literatura de Hermilo Borba Filho, Literalmente de Pasquale Cipro
Neto, a escultura de Emilio Fiaschi, a música de Jamiroquai & a fotografia
de Jennifer Nehrbass aqui.
E lá vou eu noutras voltas, Variações do corpo de Michel Serres, a literatura
de Antonio Tabucchi & Vianna Moog, a música de Mundo Livre S/A &
Ataulfo Alves, a pintura de Aja-ann Trier, a fotografia de Raoul
Hausmann & a arte de Matthew Guarnaccia
aqui.
As mulheres mandam ver nas olimpíadas & a arte de Hubert B. W. Ru aqui.
&
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Art by Ísis
Nefelibata
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra:
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.
VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
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