A arte do
pintor canadense Philip Guston (1913-1980)
A SOLIDÃO DE
PHILIP... – Filho de fugitivos do antissemitismo ucraniano, sua família migrou para
o Canadá. Depois foram para Los Angeles: a tragédia do suicídio do pai,
subempregado que lutava. Daí aprendeu sozinho a arte, sua história e política. Seu
irmão mais velho morre num acidente e um de seus murais foi vandalizado pelo
Esquadrão Vermelho da Polícia: não deveria nunca se meter contra a Ku Klux Klan.
Era um aviso. A injustiça, os desafios dos refugiados, os inquisidores espanhóis,
o fascismo italiano, a suástica nazista e outros malfeitores: A luta contra
o terrorismo. Seu interesse estava voltado para os quadrinhos, os
renascentistas italianos, os modernistas ousados, os muralistas mexicanos. E o autodidata
pintou murais e estabeleceu-se em New York entre os do Federal Art Project.
Incluiu-se entre os expressionistas abstratos que abandonaram a arte
representacional depois da tragédia da segunda grande guerra e do holocausto. De
Goldstein tornou-se Guston e o mascaramento dos eventos históricos, tudo
escondido em nome do terror. E a sua zombaria: É como se eu quisesse uma
máscara... A autotransformação diante da intuição e franqueza de seus
pares: Eu queria chegar a uma tela e ver o que aconteceria se eu apenas
pintasse... Isolou-se em Woodstock diante de tantas revoltas, assassinatos
e motins: Fiquei muito perturbado com a guerra e as manifestações. Elas se
tornaram meu assunto, e eu fui inundado por uma memória... Era o morticínio
no Vietnã. O sucesso, turbulências e o bufão Klansman encapuzado – o seu anti-herói
cômico, brutal e sombrio: São autorretratos... Eu me percebi estando atrás
do capuz... O escândalo na Marlborough Gallery, as críticas, Pintar,
fumar, comer... A Musa e o Ciclope, as dúvidas e as mudanças de estilo, a arte
confessional e apocalíptica, o seu escrutínio destemido e o verdadeiro assunto:
É a liberdade... E sucumbiu aos ataques cardíacos e à vida difícil. Veja
mais aqui e aqui.
DITOS &
DESDITOS - Em toda a minha infelicidade eu estava me movendo,
e de repente, esse movimento se tornou uma expressão, uma fala... Eu sabia que,
sem matar o humor criativo, eu tinha que manter o equilíbrio entre a minha
explosão emocional e a disciplina impiedosa de um controle super-pessoal,
submetendo-me assim a lei auto-imposta da composição de dança... Uma arte forte
e convincente nunca surgiu das teorias... Pensamento da bailarina, coreógrafa e
professora de dança alemã Mary Wigman (1886-1973). Veja mais aqui, aqui
& aqui.
ALGUÉM FALOU: A sociedade não
tem o direito de considerar a prevenção da maternidade relutante um crime que
justifique a prisão... Onde e com que direito o direito penal proíbe os
indivíduos de exercerem controle completo sobre si mesmos?... Pensamento
da feminista, pacifista, filósofa, escritora e jornalista alemã Helene
Stöcker (1869–1943).
O FOGO DA
PRÓXIMA VEZ - [...] Imagino que uma das razões
pelas quais as pessoas se apegam ao ódio com tanta teimosia é porque elas
sentem que, quando o ódio acaba, elas serão forçadas a lidar com a dor. [...] A vida é trágica simplesmente porque a Terra
gira e o sol inexoravelmente nasce e se põe, e um dia, para cada um de nós, o
sol se porá pela última, última vez. Talvez toda a raiz do nosso problema, o
problema humano, seja que sacrificaremos toda a beleza de nossas vidas, nos
aprisionaremos em totens, tabus, cruzes, sacrifícios de sangue, campanários,
mesquitas, raças, exércitos, bandeiras, nações, para negar o fato da morte, o
único fato que temos. Parece-me que se deve regozijar com o fato da morte —
deve-se decidir, de fato, ganhar a morte confrontando com paixão o enigma da
vida. Somos responsáveis pela vida: ela é o pequeno farol naquela escuridão aterrorizante de onde
viemos e para onde retornaremos. [...] O
amor tira as máscaras que tememos não poder viver sem e sabemos que não podemos
viver dentro delas. Eu uso a palavra "amor" aqui não meramente no
sentido pessoal, mas como um estado de ser, ou um estado de graça - não no
sentido americano infantil de ser feliz, mas no sentido duro e universal de
busca, ousadia e crescimento. [...]. Trechos extraídos da obra The Fire Next
Time (Vintage, 1992), do escritor estadunidense James Baldwin
(1924-1987), que no seu livro Another Country (Vintage, 1992), ele
expressou: […] As pessoas não têm
misericórdia. Elas rasgam você membro por membro, em nome do amor. Então,
quando você está morto, quando elas o mataram pelo que fizeram você passar,
elas dizem que você não tinha caráter. Elas choram lágrimas grandes e amargas -
não por você. Por elas mesmas, porque
perderam seu brinquedo. [...]. Também no seu Holt
McDougal Library, High School with Connections: Student Text The Fire Next Time
(Olt, Rinehart and Winston, 2000), ele expressou que: […] Por favor, tente lembrar que o que eles acreditam, bem
como o que eles fazem e fazem você suportar, não testemunha sua inferioridade,
mas sim a desumanidade deles. [...]. Veja mais aqui e
aqui.
TRILCE – No livro Trilce (1922 - Philobibliom, 1984), do poeta vanguardista e
dramaturgo peruano César Vallejo
(1892-1938), destaco o poema XXXV,
traduzido por Thiago de Mello: O encontro
com a amada, / tanto de uma vez, é um simples detalhe, / quase um programa
hípico violeta, / de tão comprido não se pode dobrar bem. / O almoço com ela
que servira / o prato que ontem estava tão gostoso / e se repete agora / só que
com um pouco mais de mostarda; / o garfo absorto, seu galanteio radiante / de
pistilo em maio, e seu pudor / de um centavo, por dá cá aquela palha, / e a
cerveja lírica nervosa / zalada por seus dois mamilos sem lúpulo, / e que não
se deve beber em demasia. / E os tantos outros encantos da mesa / que aquela
núbil companha borda / com suas próprias baterias germinais / que funcionaram
toda a manhã, / segundo me consta, a mim, / amoroso tabelião de suas
intimidades / e com as dez varinhas mágicas / de seus dedos pancreáticos. /
Mulher que, sem pensar em outra coisa, / solta o melro e começa a nos falar /
com palavras ternas ; como lancinantes alfaces recém-colhidas. / Outro copo e
me vou. E vamos, / agora sim, trabalhar. / Entretanto, ela se enfia / entre os
cortinados e, oh agulha dos meus dias / desgarrados!, senta-se à beira / de uma
costura, a me costurar as costas / as suas costas, / a pregar o botão dessa
camisa / que tornou a cair. Mas já se viu! Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
Imagem da pintora realista francesa Rosa Bonheur (1822-1899). Veja mais aqui.
Ouvindo o Recital (1995), do compositor clássico vienense Franz Joseph Haydn (1732-1809) pela mezzo-soprano espanhola Teresa Berganza, sob a regência de Raymond Leppard na Scottish Chamber Orchestra. Veja mais aqui, aqui & aqui.
SALVE DIONISO, EVOÉ BACO! – Imagem: O jovem Baco e seus seguidores (1885) do pintor acadêmico francês William-Adolphe Bouguereau (1825-1905) - Longe de ter uma visão sectária ou maniqueísta do mundo por entender que há dualidades que são, na verdade, unidades ou trindades que se tornam quartetos e outras multiformes e polimorfas expressões, e, também, para não mergulhar apenas no canhestra mundo apolíneo & Fabos & umbigocentristas, salve Dioniso, evoé Baco! Hoje, na mitologia greco-romana, é consagrado o primeiro dia do Bacanal, o Festival de Dioniso/Baco, deus do vinho, dos grãos, da fertilidade e da alegria. É a prova de que a vida prossegue. Poucos dias atrás estávamos sob o reino dionisíaco, o nosso maravilhoso carnaval: tudo alegria, paz, satisfação. Mal acabou a festa, já viramos panelaços, protestos, batendo no peito & mandando ver! Tudo isso no reino do Fecamepa! Vamos aprumar a conversa & tataritaritatá. Veja mais aqui.
EXERCÍCIOS E JOGOS DO
TEATRO – No livro 200 exercícios e jogos para o ator e
não-ator com vontade de dizer algo através do teatro (Civilização
Brasileira, 1983), o dramaturgo, ensaísta e escritor brasileiro Augusto Boal (1931-2009), trata a
respeito da história do teatro Arena de São Paulo, abordando sobre jogos e
exercícios, aquecimento físico, ideológico, vocal e emocional; jogos de
integração do elenco, exercícios de máscaras e rituais; quebra da repressão,
exercícios gerais sem texto; ensaios de motivação com texto, sequencia e
ensaios pique-pique, entre outros assuntos. Da obra destaco: [...] começamos a estudar metodicamente os
trabalhos de Stanislawsky. A nossa primeira proposta foi esta: que a emoção
seja prioritária, que ela possa determinar, livremente a forma final. Mas como
poderíamos esperar que as emoções se manifestassem livremente através do corpo
do ator, se precisamente tal instrumento (o corpo) está mecanizado,
muscarlarmente automatizado e insensível em 90% das suas possibilidades? Uma
nova emoção descoberta corria o risco de ser canalizada pelo comportamento
mecanizado do ator. Por que é que o corpo do ator está mecanizado? Pela enorme
capacidade que têm os sentidos para registrar sensações, aliada a uma igual
capacidade para selecionar e hierarquizar essas emoções. [...] Quando começamos com os Laboratório de
Interpretação no Teatro Arena ainda não pensávamos nas máscaras sociais,
naquela época, a mecanização era entendida sob uma forma puramente física: ao
desenvolver sempre os mesmos movimentos, cada pessoa mecaniza o seu corpo para
melhor os efetuar, privando-se então de uma atuação original em cada
oportunidade. Podemos rir de mil maneiras diferentes, mas quando nos contam uma
piada não nos pomos a pensar num modo original de rir, portanto, fazemo-lo
sempre da mesma maneira. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
MÉTODO PERIGOSO – A psiquiatra e psicanalista russa Sabina Spielrein (1885-1942), tornou-se
uma personagem romanesca que adquiriu celebridade, vez que sua história é
singular e reveladora de todos os móbeis transferenciais do movimento
psicanalítico. Desde criança que ela apresentava problemas, sendo vitima de
alucinação por angustias e fobias, desordem mental, sentava-se nos calcanhares
a ponto de fechar o ânus impedindo a defecação por duas semanas seguidas,
entregou-se à masturbação, tudo durante a infância até aos oito anos de idade,
quando a situação piorou. Aos dezoito anos foi atingida por crises de
depressão, teve surtos psicóticos, passando a ser tratada na Suíça, por Jung
com um caso de histeria e que ficou finalmente curada. Esse tratamento resultou
em uma paixão incontrolável entre o terapeuta e a paciente. Simultaneamente
polígamo, sedutor e obcecado pelo pecado e a loucura, Jung sempre teve uma
atração particular pelo tipo de feminilidade encarnado por ela que foi
aconselhada por Freud e por seu pai a encontrar uma solução sozinha. O que ela
fez. Fez então estudos de medicina e orientou-se para a psiquiatria. Diplomada
em 1911 com uma tese sobre a esquizofrenia, trabalhou depois com intensidade,
apresentando uma exposição da sua tese sobre a pulsão de destruição, na qual
Freud se inspiraria para escrever Muito além do princípio do prazer. Ao mesmo
tempo paciente e estudante de psiquiatria, ela participou do debate sobre
esquizofrenia no início do século XX. Depois experimentou o principio da
transferência e do tratamento pelo amor, tornando-se a testemunha privilegiada
da ruptura de Jung e Freud. O primeiro, seu amante e analista, o segundo, seria
o seu mestre. Mais tarde inventou a noção de pulsão destrutiva e sádica, da
qual nasceria a pulsão de morte. Enfim, atravessou as duas grandes tragédias: o
genocídio dos judeus na Europa e a transformação do comunismo em stalinismo na
Rússia. Durante dez anos ela continuou seus trabalhos e atividades clínicas na
Alemanha, na Suíça e na Áustria, tendo por aluno Jean Piaget (1896-1980). Seus
últimos artigos foram destinados aos temas da linguagem infantil, à afasia e a
origem das palavras papai e mamãe, ocupando-se na Rússia de pedologia,
afirmando ser capaz de curar Lenin de sua doença. Em 1935 foi apanhada, com
toda a sua família, pela engrenagem do sistema totalitário. Seu marido morreu
de infarto e seus dois irmãos levados pelos expurgos e desaparecendo no Gulag.
Em 1942, ela foi massacrada com as suas duas filhas na ravina de Viga da
Serpente, em meio a cadáveres coberto de sangue. O seu envolvimento amoroso com
Jung virou tema da peça teatral The talking cure, de Cristopher Hampton,
e transformada pro cinema num drama e suspense dirigido por David Cronenberg, A Dangerus Method (Um método perigoso,
2011), destacando-se o papel da atriz e modelo inglesa Keira Knightley. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
Veja mais sobre:
Pablo Neruda, Modigliani, Björk, Teixeira
Coelho, Zinaida Evgenievna Serebriakova, Elsa Zylberstein, Rubens da Cunha
& Uma mulher por cem cabeças de gado aqui.
E mais:
Com quantos desaforos se faz uma eleição, Howard Chandler & Luciah Lopez aqui.
A poesia de Valéria Tarelho aqui.
Primeira Reunião, Patativa do Assaré, Heitor Villa-Lobos
& Turíbio Santos, Cicero Dias, Rosa Luxemburg, Pier Paolo Pasolini, Bárbara
Sukowa, Rubem Braga & José Geraldo Batista aqui.
Lev Vygotsky, Gabriel García Marquez,
Flora Purim, Elizabeth Barrett Browning, Cyrano de Bergerac, Andrzej Wajda,
Michelangelo & Anna Mucha aqui.
É pra ela – Crônica de amor por ela, Carlos Gomes & Silviane Bellato,
Neila Tavares, Heloneida Studart, Giuseppe Tornatore, Piet Mondrian, Edwin
Landseer, Maria Esther Maciel, Monica Bellucci & A lenda Mundurucu Quando
mandavam as mulheres aqui.
Crônica de amor por ela, Sylvia Plath, Safo, Helena Blavatsky,
Maria Bonita, Eurípedes, Carole Bayer Sager, Andrômaca & As troianas,
Antonio Maria Esquivel, Mulheres no Mundo & O espelho em que os rostos se
dividem aqui.
Crônica de amor por ela – poemas &
canções, Juana de
Ibarbourou, Camille Claudel, A Literatura Ocidental de Otto Maria Carpeaux,
Ornette Coleman, Juliette Binoche, Johann Kaspar Füssli & Iacyr Anderson
Freitas aqui.
Mil sonhos na cabeça e o amanhã nas mãos, João Cabral de Melo Neto, Omar Ortiz, Sean Seal& Gary Jackson aqui.
A vida em risco e o veneno à mesa, Amartya Kumar Sem, Roberto Fernandez
Balbuena & Kadee Glass aqui.
Aos quatro cantos e ventos minha vida, Jacob Boehme, Esther Scliar, Tamara de Lempicka, Jo Ansell,
Jonathan Charles & Dene Ramos aqui.
Solilóquio na viagem noturna do sol, Educação no Brasil, Maria Esther Pallares,
Paula Águas, Sêneca, Terry Miura & Amenaide Lima aqui.
História da mulher: da antiguidade ao
século XXI aqui.
Palestras: Psicologia, Direito &
Educação aqui.
A croniqueta de antemão aqui.
Livros Infantis do Nitolino aqui.
&
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.