quarta-feira, março 11, 2015

PIAZZOLLA, TASSO, BATAILLE, BERTOLUCCI, MOSÉ, GÁG & FECAMEPA!!!


FECAMEPA – Desde que me entendo por gente que ouço falar em crise! Crise disso, crise daquilo. Quando nasci logo veio o golpe militar de 64, fui crescendo com a luta pela redemocratização do país. Veio a Constituição Federal – e como tudo aqui é pra inglês ver, dessa vez foi pro francês, como diz o grande Roberto Da Matta. Aí veio o bigode de Sarney, a derrocada collorida, a solteirice de Itamar, a tentativa inseticida não vingada de Fegacê e o reino Lulista que a gente saboreia até hoje com a Dilma. Uma trajetória e tanto, hem? Pois bem. Mas foi com a lengalenga peessedebista do Fegacê que me deu base. Primeiro, inspirado no Sérgio Porto/Stanislaw Ponte Preta: Festival de Besteiras Assolando o País. Depois o vaticínio do dramaturgo Plínio Marcos: a gente vai morrer atolado na merda. Ora, ora. Juntando isso consegui descobrir que na verdade a gente é um Fabo – leia-se: fabricante de bosta – desde que os portugueses chegaram aqui na cagada e atrasados no século XVI, inaugurando mesmo um festival: o Festival de Cagadas Melando o País – Fecamepa! Um festival que se a gente botar os olhos na história desde então, acontece até hoje. Confira aqui.

Imagem: fotos da atriz, modelo e dançarina estadunidense Mary Louise Brooks (1906-1985) interpretando a desenhista, escritora e artista estadunidense Wanda Gág (1893-1946). Veja mais aqui, aqui e aqui.

Ouvindo Adios Nonino (1999) do bandoneonista e compositor argentino Ástor Piazzolla (1921-1992). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui

VIDA DA MINHA VIDA – O poeta latino Torquato Tasso (1544-1595) é autor de epopeias, a exemplo de Gerusaleme liberata (1581) que expressa o dualismo antiético do Barro que aí atinge formas quase paroxísticas, permitindo a coexistência dos sentimentos românticos do amor e da forma clássica de que se utilizou. É considerado um dos mais célebres poetas de toda a literatura universal, o ultimo grande clássico, comparado a Homero, Virgilio e Dante. O seu triste destino foi lamentado por Goethe na tragédia Torquato Tasso (1789) e por Lord Byron no poema The Lament of Tasso (1817). Dele destaco o poema Vida da minha vida: Vida da minha vida, / Tu me pareces azeitona pálida, / Ou bem uma rosa esquálida, / Mas de beleza és diva, / E em qualquer modo sempre me és querida, / Ou anelante, ou esquiva; / E quer fujas, quer sigas, / Suavemente me destróis e obrigas. Dele também esse magistral pensamento: O que o mundo chama de mérito e valor / são ídolos que têm apenas nome, mas nenhuma essência. / A fama que vos encanta, vós altivos mortais, / com um doce som, e que parece tão bela / é um eco, um sonho, melhor que um sonho, uma sombra, / que a cada sopro de vento se dispersa e desaparece. Veja mais aqui, aquiaqui.

A CONFISSÃO DE SIMONE E A MISSA DE SIR EDMOND – No livro Historia do Olho (Cosac Naify, 2003), do escritor francês Georges Bataille (1897-1962) estão temas como erotismo, transgressão e o sagrado, recorrente temas de suas obras que envolvem a Literatura, Antropologia, Filosofia, Sociologia e História da Arte. Da obra destaco o seguinte fragmento: Não é difícil imaginar o meu espanto. Simone, atrás da cortina, ajoelhou-se. Enquanto ela cochichava, eu aguardava com impaciência os efeitos dessa travessura. O ser sórdido, cismava eu, pularia para fora de sua caixa, precipitando-se sobre a sacrílega. Nada de semelhante aconteceu. Simone falava baixinho, sem parar, diante da janelinha gradeada. Troquei com Sir Edmond alguns olhares carregados de interrogações quando, por fim, as coisas se esclareceram. Pouco a pouco, Simone foi acariciando a coxa, afastando as pernas. Agitava-se, mantendo apenas um joelho no estrado. Levantou completamente o vestido enquanto prosseguia com suas confissões. Parecia que ela se masturbava. Avancei nas pontas dos pés. Simone realmente se masturbava, colada contra as grades, o corpo tenso, as coxas afastadas, os dedos remexendo os pentelhos. Consegui tocá-la, minha mão alcançou o buraco entre as nádegas. Nesse momento, ouvi-a claramente pronunciar: - Padre, ainda não disse o pior. Seguiu-se um silencio. - O pior, padre, é que estou me masturbando enquanto falo com o senhor. Mais alguns segundos, agora de cochichos. Finalmente, quase em voz alta: - Se não acredita, possa lhe mostrar. E Simone se levantou, abrindo-se diante do olho da guarita, masturbando-se, em êxtase, com a mão segura e rápida. - E então, padreco - berrou Simone golpeando violentamente o armário – O que é que você está fazendo no seu barraco? Batendo punheta também? Mas o confessionário permanecia mudo. – Então, eu vou abrir! Lá dentro, o visionário sentado, de cabeça baixa, enxugava a testa encharcada de suar. A moça apalpou a batina: ele não reagiu. Ela arregaçou a imunda saia preta e tirou para fora um pau comprido, rosado e duro: ele se limitou a inclinar a cabeça para trás, com um trejeito e um zunido entre os dentes. Deixou Simone agir, e esta meteu a verga bestial na boca. Sir Edmond e eu tínhamos ficado imóveis de espanto. O assombro me paralisava. Eu não sabia o que fazer, quando o enigmático inglês se aproximou. Afastou Simone com delicadeza. Depois, segurou o verme pelo pulso, arrancou-o para fora do buraco e o estendeu nas lajes, a nossos pés: o desprezível sujeito jazia feito morto pelo chão e a baba lhe escorria pela boca. O inglês e eu o transportamos, nos braços, para a sacristia. De braguilha aberta, pau murcho, o rosto lívido, ele não ofereceu resistência, respirando com dificuldade; nós o jogamos numa poltrona de forma arquitetural. - Senhores - proferiu o miserável -, vocês acham que sou um hipócrita! – Não - disse Sir Edmond, num tom categórico. Simone perguntou-lhe: - Como é o seu nome? - Don Aminado - respondeu. Simone esbofeteou a carcaça sacerdotal. Com o golpe, a carcaça enrijeceu novamente. Ele foi despido; Simone, de cócoras sobre as roupas jogadas no chão, mijou feito uma cadela. Em seguida, Simone masturbou o padre e o chupou. Eu enrabei Simone. Sir Edmond contemplava a cena com uma expressão característica do hard labour. Inspecionou a sala onde tínhamos nos refugiado. Achou uma pequena chave pendurada num prego. - De onde é essa chave? - perguntou o inglês a Don Aminado. Vendo a angústia que contraiu o rosto do padre, ele concluiu ser a chave do santuário [...]. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

REVELAÇÃO & TUDO QUE VEJO - A poeta, filósofa, psicóloga e psicanalista capixaba, Viviane Mosé, é autora de diversas obras, entre elas Stela do Patrocínio - Reino dos bichos e dos animais é o meu nome, publicado pela Azougue Editorial e indicado ao prêmio Jabuti de 2002, na categoria psicologia e educação. Publicou em 2005, sua tese de doutorado, Nietzsche e a grande política da linguagem, pela editora Civilização Brasileira. Da sua lavra destaco primeiro Revelação: Eu queria dizer uma coisa que eu não posso sair dizendo por aí. É um segredo que eu guardo, é uma revelação Que eu não posso sair dizendo por aí. É que eu tenho medo de que as pessoas se desequilibrem delas mesmas. Que elas caiam quando eu disser. É que eu descobri que a palavra não sabe o que diz. A palavra delira. A palavra diz qualquer coisa. A verdade é que a palavra, ela mesma, em si própria, não diz nada. Quem diz é o acordo estabelecido entre quem fala e quem ouve. Quando existe acordo existe comunicação, Mas quando esse acordo se quebra ninguém diz mais nada, Mesmo usando as mesmas palavras. Também merece destaque Tudo que vejo: Era tarde nas janelas da sala, Um gosto de tarde que eu queria lamber. Tenho vontade de lamber as coisas que gosto, Mesmo as que não gosto costumo lamber sem querer. Às vezes com a língua mesmo. Molhada e escorrida. Outras vezes uso a língua da palavra, Quando tem cheiros ruins Ou asperezas estranhas ao paladar de minha pessoa, Ou por nada mesmo por gosto Passo a língua nas coisas que vejo E passo as coisas que vejo pra língua. Veja mais dela aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aquiaqui.

LA LUNA – O filme La Luna (1979), do cineasta e roteirista italiano Bernardo Bertolucci, com música de Ennio Morricone e roteiro do próprio diretor com Clare Peplie e Giuseppe Bertolucci, conta a história da grande cantora de ópera Caterina, vivido pela atriz Jill Clayburhg, que enviuvara e resolvera viajar com seu filho adolescente em turnê pela Itália. Ela fica chocada ao descobrir o filho viciado em heroína, solitário e problemático, o que a faz lutar desesperadamente para salvá-lo das drogas, tornando-se uma relação incestuosa em uma triangulação entre pai-mãe-filho. É quando a lua passa a exercer um papel no cenário na situação de um filho infeliz e neurótico. Um filme denso e belo. Destaque também para a belíssima atriz Dominique Sanda. Veja mais aqui.

 


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