segunda-feira, março 16, 2015

JAMES BALDWIN, HELENE STÖCKER, PHILIP GUSTON, MARY WIGMAN & CÉSAR VALLEJO

A arte do pintor canadense Philip Guston (1913-1980)

 

A SOLIDÃO DE PHILIP... – Filho de fugitivos do antissemitismo ucraniano, sua família migrou para o Canadá. Depois foram para Los Angeles: a tragédia do suicídio do pai, subempregado que lutava. Daí aprendeu sozinho a arte, sua história e política. Seu irmão mais velho morre num acidente e um de seus murais foi vandalizado pelo Esquadrão Vermelho da Polícia: não deveria nunca se meter contra a Ku Klux Klan. Era um aviso. A injustiça, os desafios dos refugiados, os inquisidores espanhóis, o fascismo italiano, a suástica nazista e outros malfeitores: A luta contra o terrorismo. Seu interesse estava voltado para os quadrinhos, os renascentistas italianos, os modernistas ousados, os muralistas mexicanos. E o autodidata pintou murais e estabeleceu-se em New York entre os do Federal Art Project. Incluiu-se entre os expressionistas abstratos que abandonaram a arte representacional depois da tragédia da segunda grande guerra e do holocausto. De Goldstein tornou-se Guston e o mascaramento dos eventos históricos, tudo escondido em nome do terror. E a sua zombaria: É como se eu quisesse uma máscara... A autotransformação diante da intuição e franqueza de seus pares: Eu queria chegar a uma tela e ver o que aconteceria se eu apenas pintasse... Isolou-se em Woodstock diante de tantas revoltas, assassinatos e motins: Fiquei muito perturbado com a guerra e as manifestações. Elas se tornaram meu assunto, e eu fui inundado por uma memória... Era o morticínio no Vietnã. O sucesso, turbulências e o bufão Klansman encapuzado – o seu anti-herói cômico, brutal e sombrio: São autorretratos... Eu me percebi estando atrás do capuz... O escândalo na Marlborough Gallery, as críticas, Pintar, fumar, comer... A Musa e o Ciclope, as dúvidas e as mudanças de estilo, a arte confessional e apocalíptica, o seu escrutínio destemido e o verdadeiro assunto: É a liberdade... E sucumbiu aos ataques cardíacos e à vida difícil. Veja mais aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Em toda a minha infelicidade eu estava me movendo, e de repente, esse movimento se tornou uma expressão, uma fala... Eu sabia que, sem matar o humor criativo, eu tinha que manter o equilíbrio entre a minha explosão emocional e a disciplina impiedosa de um controle super-pessoal, submetendo-me assim a lei auto-imposta da composição de dança... Uma arte forte e convincente nunca surgiu das teorias... Pensamento da bailarina, coreógrafa e professora de dança alemã Mary Wigman (1886-1973). Veja mais aqui, aqui & aqui.

 

ALGUÉM FALOU: A sociedade não tem o direito de considerar a prevenção da maternidade relutante um crime que justifique a prisão... Onde e com que direito o direito penal proíbe os indivíduos de exercerem controle completo sobre si mesmos?... Pensamento da feminista, pacifista, filósofa, escritora e jornalista alemã Helene Stöcker (1869–1943).

 

O FOGO DA PRÓXIMA VEZ - [...] Imagino que uma das razões pelas quais as pessoas se apegam ao ódio com tanta teimosia é porque elas sentem que, quando o ódio acaba, elas serão forçadas a lidar com a dor. [...] A vida é trágica simplesmente porque a Terra gira e o sol inexoravelmente nasce e se põe, e um dia, para cada um de nós, o sol se porá pela última, última vez. Talvez toda a raiz do nosso problema, o problema humano, seja que sacrificaremos toda a beleza de nossas vidas, nos aprisionaremos em totens, tabus, cruzes, sacrifícios de sangue, campanários, mesquitas, raças, exércitos, bandeiras, nações, para negar o fato da morte, o único fato que temos. Parece-me que se deve regozijar com o fato da morte — deve-se decidir, de fato, ganhar a morte confrontando com paixão o enigma da vida. Somos responsáveis pela vida: ela é o pequeno farol naquela escuridão aterrorizante de onde viemos e para onde retornaremos. [...] O amor tira as máscaras que tememos não poder viver sem e sabemos que não podemos viver dentro delas. Eu uso a palavra "amor" aqui não meramente no sentido pessoal, mas como um estado de ser, ou um estado de graça - não no sentido americano infantil de ser feliz, mas no sentido duro e universal de busca, ousadia e crescimento. [...]. Trechos extraídos da obra The Fire Next Time (Vintage, 1992), do escritor estadunidense James Baldwin (1924-1987), que no seu livro Another Country (Vintage, 1992), ele expressou: […] As pessoas não têm misericórdia. Elas rasgam você membro por membro, em nome do amor. Então, quando você está morto, quando elas o mataram pelo que fizeram você passar, elas dizem que você não tinha caráter. Elas choram lágrimas grandes e amargas - não por você. Por elas mesmas, porque perderam seu brinquedo. [...]. Também no seu Holt McDougal Library, High School with Connections: Student Text The Fire Next Time (Olt, Rinehart and Winston, 2000), ele expressou que: […] Por favor, tente lembrar que o que eles acreditam, bem como o que eles fazem e fazem você suportar, não testemunha sua inferioridade, mas sim a desumanidade deles. [...]. Veja mais aqui e aqui.

 

TRILCE – No livro Trilce (1922 - Philobibliom, 1984), do poeta vanguardista e dramaturgo peruano César Vallejo (1892-1938), destaco o poema XXXV, traduzido por Thiago de Mello: O encontro com a amada, / tanto de uma vez, é um simples detalhe, / quase um programa hípico violeta, / de tão comprido não se pode dobrar bem. / O almoço com ela que servira / o prato que ontem estava tão gostoso / e se repete agora / só que com um pouco mais de mostarda; / o garfo absorto, seu galanteio radiante / de pistilo em maio, e seu pudor / de um centavo, por dá cá aquela palha, / e a cerveja lírica nervosa / zalada por seus dois mamilos sem lúpulo, / e que não se deve beber em demasia. / E os tantos outros encantos da mesa / que aquela núbil companha borda / com suas próprias baterias germinais / que funcionaram toda a manhã, / segundo me consta, a mim, / amoroso tabelião de suas intimidades / e com as dez varinhas mágicas / de seus dedos pancreáticos. / Mulher que, sem pensar em outra coisa, / solta o melro e começa a nos falar / com palavras ternas ; como lancinantes alfaces recém-colhidas. / Outro copo e me vou. E vamos, / agora sim, trabalhar. / Entretanto, ela se enfia / entre os cortinados e, oh agulha dos meus dias / desgarrados!, senta-se à beira / de uma costura, a me costurar as costas / as suas costas, / a pregar o botão dessa camisa / que tornou a cair. Mas já se viu! Veja mais aqui, aqui, aqui, aquiaqui.

Imagem da pintora realista francesa Rosa Bonheur (1822-1899). Veja mais aqui.

Ouvindo o Recital (1995), do compositor clássico vienense Franz Joseph Haydn (1732-1809) pela mezzo-soprano espanhola Teresa Berganza, sob a regência de Raymond Leppard na Scottish Chamber Orchestra. Veja mais aqui, aqui & aqui.

 


SALVE DIONISO, EVOÉ BACO! – Imagem: O jovem Baco e seus seguidores (1885) do pintor acadêmico francês William-Adolphe Bouguereau (1825-1905) - Longe de ter uma visão sectária ou maniqueísta do mundo por entender que há dualidades que são, na verdade, unidades ou trindades que se tornam quartetos e outras multiformes e polimorfas expressões, e, também, para não mergulhar apenas no canhestra mundo apolíneo & Fabos & umbigocentristas, salve Dioniso, evoé Baco! Hoje, na mitologia greco-romana, é consagrado o primeiro dia do Bacanal, o Festival de Dioniso/Baco, deus do vinho, dos grãos, da fertilidade e da alegria. É a prova de que a vida prossegue. Poucos dias atrás estávamos sob o reino dionisíaco, o nosso maravilhoso carnaval: tudo alegria, paz, satisfação. Mal acabou a festa, já viramos panelaços, protestos, batendo no peito & mandando ver! Tudo isso no reino do Fecamepa! Vamos aprumar a conversa & tataritaritatá. Veja mais aqui.

EXERCÍCIOS E JOGOS DO TEATRO – No livro 200 exercícios e jogos para o ator e não-ator com vontade de dizer algo através do teatro (Civilização Brasileira, 1983), o dramaturgo, ensaísta e escritor brasileiro Augusto Boal (1931-2009), trata a respeito da história do teatro Arena de São Paulo, abordando sobre jogos e exercícios, aquecimento físico, ideológico, vocal e emocional; jogos de integração do elenco, exercícios de máscaras e rituais; quebra da repressão, exercícios gerais sem texto; ensaios de motivação com texto, sequencia e ensaios pique-pique, entre outros assuntos. Da obra destaco: [...] começamos a estudar metodicamente os trabalhos de Stanislawsky. A nossa primeira proposta foi esta: que a emoção seja prioritária, que ela possa determinar, livremente a forma final. Mas como poderíamos esperar que as emoções se manifestassem livremente através do corpo do ator, se precisamente tal instrumento (o corpo) está mecanizado, muscarlarmente automatizado e insensível em 90% das suas possibilidades? Uma nova emoção descoberta corria o risco de ser canalizada pelo comportamento mecanizado do ator. Por que é que o corpo do ator está mecanizado? Pela enorme capacidade que têm os sentidos para registrar sensações, aliada a uma igual capacidade para selecionar e hierarquizar essas emoções. [...] Quando começamos com os Laboratório de Interpretação no Teatro Arena ainda não pensávamos nas máscaras sociais, naquela época, a mecanização era entendida sob uma forma puramente física: ao desenvolver sempre os mesmos movimentos, cada pessoa mecaniza o seu corpo para melhor os efetuar, privando-se então de uma atuação original em cada oportunidade. Podemos rir de mil maneiras diferentes, mas quando nos contam uma piada não nos pomos a pensar num modo original de rir, portanto, fazemo-lo sempre da mesma maneira. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

MÉTODO PERIGOSO – A psiquiatra e psicanalista russa Sabina Spielrein (1885-1942), tornou-se uma personagem romanesca que adquiriu celebridade, vez que sua história é singular e reveladora de todos os móbeis transferenciais do movimento psicanalítico. Desde criança que ela apresentava problemas, sendo vitima de alucinação por angustias e fobias, desordem mental, sentava-se nos calcanhares a ponto de fechar o ânus impedindo a defecação por duas semanas seguidas, entregou-se à masturbação, tudo durante a infância até aos oito anos de idade, quando a situação piorou. Aos dezoito anos foi atingida por crises de depressão, teve surtos psicóticos, passando a ser tratada na Suíça, por Jung com um caso de histeria e que ficou finalmente curada. Esse tratamento resultou em uma paixão incontrolável entre o terapeuta e a paciente. Simultaneamente polígamo, sedutor e obcecado pelo pecado e a loucura, Jung sempre teve uma atração particular pelo tipo de feminilidade encarnado por ela que foi aconselhada por Freud e por seu pai a encontrar uma solução sozinha. O que ela fez. Fez então estudos de medicina e orientou-se para a psiquiatria. Diplomada em 1911 com uma tese sobre a esquizofrenia, trabalhou depois com intensidade, apresentando uma exposição da sua tese sobre a pulsão de destruição, na qual Freud se inspiraria para escrever Muito além do princípio do prazer. Ao mesmo tempo paciente e estudante de psiquiatria, ela participou do debate sobre esquizofrenia no início do século XX. Depois experimentou o principio da transferência e do tratamento pelo amor, tornando-se a testemunha privilegiada da ruptura de Jung e Freud. O primeiro, seu amante e analista, o segundo, seria o seu mestre. Mais tarde inventou a noção de pulsão destrutiva e sádica, da qual nasceria a pulsão de morte. Enfim, atravessou as duas grandes tragédias: o genocídio dos judeus na Europa e a transformação do comunismo em stalinismo na Rússia. Durante dez anos ela continuou seus trabalhos e atividades clínicas na Alemanha, na Suíça e na Áustria, tendo por aluno Jean Piaget (1896-1980). Seus últimos artigos foram destinados aos temas da linguagem infantil, à afasia e a origem das palavras papai e mamãe, ocupando-se na Rússia de pedologia, afirmando ser capaz de curar Lenin de sua doença. Em 1935 foi apanhada, com toda a sua família, pela engrenagem do sistema totalitário. Seu marido morreu de infarto e seus dois irmãos levados pelos expurgos e desaparecendo no Gulag. Em 1942, ela foi massacrada com as suas duas filhas na ravina de Viga da Serpente, em meio a cadáveres coberto de sangue. O seu envolvimento amoroso com Jung virou tema da peça teatral The talking cure, de Cristopher Hampton, e transformada pro cinema num drama e suspense dirigido por David Cronenberg, A Dangerus Method (Um método perigoso, 2011), destacando-se o papel da atriz e modelo inglesa Keira Knightley. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aquiaqui e aqui



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