terça-feira, julho 14, 2020

ALBA DE CÉSPEDES, WELLS, GARABOMBO DE SCORZA, GIGES & PLATÃO, HERSCH, MARIANI FERREIRA, MARY VIEIRA & DÉA FERRAZ



DIÁRIO DE QUARENTENA – UMA: IH, ARANZEL DE PLATITUDES & CIRCUNLÓQUIOS POR AÍ - A coisa enfeiou de vez! Faz tempo que o inútil e desconveniente se instalaram entre os loquazes no figurino das recepções e relações. Tanto é que, para onde me viro, só dou de cara com palanfrórios: se não avultar com o confete incensador de falsidade, vai aviltar com mangação para tapiar o menosprezo ou preconceito, tudo enrolação. Destá. Pois é, se não é indignação esdrúxula de ofendido arrazoado, é logomaquia para engalobar broco que apareça. Maior farra da hipocrisia e assim é conversa mole jogada fora, mungangas e tergiversações. Deu as costas, aos farrapos e punhaladas, uns aos outros, mutuamente reduzindo-se às blasfêmias ou insignificâncias, tudo pelo irrisório. Tem outra? Já dizia Amedeo Modigliani: Com um olho procure o mundo exterior, enquanto com o outro olhe para dentro de si mesmo. Seu dever na vida é salvar seu sonho. É tudo muito doloroso, quase até nem saio de casa, só vez em quando e saúdo a todos, nem me dando conta do que dizem ou fazem. Vou e volto entre outras e outros.

DUAS: NEM ERA PRA SER, MAS É! - Foi aí que o vetusto individualismo possessivo se revelou agora para lá de umbigocêntrico, tornando invisível, quando não descartável, o outro e tudo o mais fora do interesse. Eita! Por isso o questionador GregNews, do Gregorio Duvivier, me trouxe uma indagação: para quê mesmo cuidar, hem, se a tônica é cada um por si e quem não aguentar que vá para o raio que o parta! É aquela de ganhar não é para principiantes! Vou Henry Thoureau: As coisas não mudam; nós é que mudamos. Nunca é tarde para abrirmos mão dos nossos preconceitos. Nada, quantos patéticos não chafurdam seus desesperos nas ostentações miseráveis até o pescoço. Quem há de, digo de vida, não de ganhos. Apenas olho, milágrimas.

TRÊS: MEU CORAÇÃO PLANETÁRIO DE TODOS OS SERES, CORES, TONS & COISAS – Grosso modo, agora que são outros quinhentos! O desumano reina no pedaço: ou é negócio ou piada; afora isso, nada serve. Se estão todos pirados com a ganância pela sedução dos artefatos suntuosos dos seus ouropéis inflacionados, estou noutra e quase nem sei qual serventia. Sei de Gustav Klimt: A arte é uma linha em volta de seus pensamentos. Só sei o coração com todas as coisas, é isso o que me faz viver. Até amanhã. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: A coragem não consiste em prever um fim fatal, mas, sabendo e não sabendo que é nosso, fazendo todo o possível para preservar a esperança até o último suspiro. Pensamento da filósofa suíça Jeanne Hersch (1910-2000), organizadora da obra O direito de ser homem (Conquista, 1972), além de refletir sobre grandes problemas de sociedade, como a responsabilidade da ciência, a eutanásia, interrupção da gravidez e os direitos humanos no seu estudo Tolerância: entre a verdade e a liberdade (Berghahn – Providence Oxford, 1996), sobretudo no que concerne à tolerância verdadeira que cresce à medida que se discute valores, critérios e significados que constituem a verdade para o ser humano, uma narrativa mais profunda capaz de adicionar novas linhas narrativas para as deliberações iterativas. Ela destaca dois aspectos, o primeiro que a demanda fundamental da intolerância é fazer do outro um igual a si-mesmo ou igual a maioria, esvaziando, esquecendo e emudecendo a voz narrativa do outro que deixa de ser integrada à deliberação, em que a alteridade do outro e a particularidade de sua perspectiva são engolidas por um pretenso sujeito narrativo geral que determina a priori a decisão a ser tomada em cada circunstância. Em segundo, ela assinala que: [...]~o imperialismo da intolerância está baseado na exclusiva opinião da própria pessoa em oposição ao que o outro pode pensar, acreditar, fazer ou ser. [...].

 

DITOS & DESDITOS

Quanto melhor me conheço, mais perdida fico... Com o passar dos anos, percebo que minha mãe, quando falava da vida da mulher e dizia coisas que me irritavam, no fundo tinha sempre razão. Dizia que uma mulher não deve nunca ter tempo, não deve jamais ficar ociosa, porque do contrário logo começa a pensar no amor... Sei que minhas reações aos fatos que escrevo em detalhes me levam a me conhecer mais intimamente a cada dia...

Pensamento da escritora e dramaturga ítalo-cubana

Alba de Céspedes (Alba Carla Lauritai de Céspedes y Bertini – 1911-1977). Veja mais aqui & aqui.

 

O ANEL DE GIGES & A REPÚBLICA DE PLATÃO

[...] A permissão a que me refiro seria especialmente significativa se eles recebessem o poder que teve outrora, segundo se conta, o antepassado de Giges, o Lídio. Este homem era pastor a serviço do rei que naquela época governava a Lídia. Cedo dia, durante uma violenta tempestade acompanhada de um terremoto, o solo fendeu-se e formou-se um precipício perto do lugar onde o seu rebanho pastava. Tomado de assombro, desceu ao fundo do abismo e, entre outras maravilhas que a lenda enumera, viu um cavalo de bronze oco, cheio de pequenas aberturas; debruçando-se para o interior, viu um cadáver que parecia maior do que o de um homem e que tinha na mão um anel de ouro, de que se apoderou; depois partiu sem levar mais nada. Com esse anel no dedo, foi assistir à assembleia habitual dos pastores, que se realizava todos os meses, para informar ao rei o estado dos seus rebanhos. Tendo ocupado o seu lugar no meio dos outros, virou sem querer o engaste do anel para o interior da mão; imediatamente se tomou invisível aos seus vizinhos, que falaram dele como se não se encontrasse ali. Assustado, apalpou novamente o anel, virou o engaste para fora e tomou-se visível. Tendo-se apercebido disso, repetiu a experiência, para ver se o anel tinha realmente esse poder; reproduziu-se o mesmo prodígio: virando o engaste para dentro, tomava-se invisível; para fora, visível. Assim que teve a certeza, conseguiu juntar-se aos mensageiros que iriam ter com o rei. Chegando ao palácio, seduziu a rainha, conspirou com ela a morte do rei, matou-o e obteve assim o poder. Se existissem dois anéis desta natureza e o justo recebesse um, o injusto outro, é provável que nenhum fosse de caráter tão firme para perseverar na justiça e para ter a coragem de não se apoderar dos bens de outrem, sendo que poderia tirar sem receio o que quisesse da ágora, introduzir-se nas casas para se unir a quem lhe agradasse, matar uns, romper os grilhões a outros e fazer o que lhe aprouvesse, tornando-se igual a um deus entre os homens. Agindo assim, nada o diferenciaria do mau: ambos tenderiam para o mesmo fim. E citar-se-ia isso como uma grande prova de que ninguém é justo por vontade própria, mas por obrigação, não sendo a justiça um bem individual, visto que aquele que se julga capaz de cometer a injustiça comete-a. Com efeito, todo homem pensa que a injustiça é individualmente mais proveitosa que a justiça, e pensa isto com razão, segundo os partidários desta doutrina. Pois, se alguém recebesse a permissão de que falei e jamais quisesse cometer a injustiça nem tocar no bem de outrem, pareceria o mais infeliz dos homens e o mais insensato àqueles que soubessem da sua conduta; em presença uns dos outros, elogiá-lo-iam, mas para se enganarem mutuamente e por causa do medo de se tomarem vítimas da injustiça. Eis o que eu tinha a dizer sobre este assunto. [...]

Trecho extraído de A República, do filósofo e matemático grego Platão (428/427 Atenas – 349/347 a.C.). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

O HOMEM INVISÍVEL, DE WELLS

[...] Todos os homens, por mais educados que sejam, conservam algumas intuições supersticiosas. [...] Sozinho — é maravilhoso o quão pouco um homem pode fazer sozinho! Roubar um pouco, machucar um pouco, e pronto. [...] Eu me debrucei sobre as coisas que um homem considera desejáveis. Sem dúvida, a invisibilidade tornou possível obtê-las, mas tornou impossível apreciá-las quando as obtivemos [...] Fazer tal coisa seria transcender a magia. E eu contemplei, sem a sombra de dúvidas, uma visão magnífica de tudo o que a invisibilidade pode significar para um homem — o mistério, o poder, a liberdade. Não vi desvantagens. Basta pensar! E eu, um manifestante miserável, miserável e confinado, ensinando tolos em uma faculdade provinciana, poderia de repente me tornar — isto. [...] Eu me senti incrivelmente confiante — não é particularmente agradável lembrar que eu era um idiota [...] Ideias grandiosas e estranhas que transcendem a experiência muitas vezes têm menos efeito sobre homens e mulheres do que considerações menores e mais tangíveis. [...] Ambição — de que adianta ter um lugar de destaque quando você não pode aparecer lá? De que adianta amar uma mulher quando seu nome precisa ser Dalila? [...] Há coisas extraordinárias nos livros [...] Desperdicei forças, tempo, oportunidades. Sozinho — é maravilhoso o quão pouco um homem pode fazer sozinho! Roubar um pouco, machucar um pouco, e aí está o fim [...] Ele era certamente um homem intensamente egoísta e insensível, mas a visão de sua vítima, sua primeira vítima, ensanguentada e lamentável a seus pés, pode ter liberado uma fonte de remorso há muito reprimida que por um tempo pode ter inundado qualquer plano de ação que ele tivesse arquitetado. [...].

Trechos extraídos da obra The Invisible Man (Dover, 1992), do escritor britânico H.G. Wells (Herbert George Wells – 1866-1946). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

GARABOMBO, DE SCORZA

[...] Distintíssimo Capitão: Meu Cápi: O senhor é justo, honrado e nunca aceita presentes [...].Por que é que não está preso o presidente da Corte Suprema? Há julgamentos no Peru que duram 400 anos. Há comunidades que reclamam suas terras há um século. Quem liga para elas? Por que não está preso o juiz Montenegro? E, sobretudo, por que o senhor não está preso? Guarda Cabrera: o senhor não é sequer um homem inferior, é um vegetal superior. [...] sua cara se gretou, ele ficou vesgo, as faces caíram, os dentes recuperaram seu musgo. [...] A chuva desbotou o terno novo azul, manchou a camisa, avariou sua pele. [...] Perdeu-se capengando [...] - Se Garabombo dirigir a sublevação [...] Se o invisível reunir o povo, Huachos concorda [...] Por que morremos? Acaso roubamos? Abusamos de alguém? Mentimos? [...] Outrora havia sido transparente para as autoridades, hoje seria invisível para todos os homens! [...] O erro de sua ignorância seria a arma de sua lucidez. Chinche acreditara durante anos que ele era invisível. [...] Essa força venceria o desânimo! Seria invisível! [...].

Trechos extraídos da obra Garabombo, o invisível (Civilização Brasileira, 1975), do escritor romancista peruano Manuel Scorza (1928-1983), descrevendo o combate entre o Peru e os sobreviventes de uma revolta camponesa andina, num humorado testemunho de mitos e fantasias, denunciando o que os historiadores não registraram do terror e da atrocidade do combate. O protagonista é um líder da utopia como potencial revolucionário que convence o povoado a reagir contra as adversidades, no qual o malogro da revolva torna-se uma promessa da morte por renascimentos numa quarta-feira de cinzas. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

O CINEMA DE MARIANI FERREIRA
Lançar um filme é muito difícil. É elitizado, burocrático. Sinto que, quando falamos sobre a segunda mulher negra a assinar um longa-metragem, se apaga um pouco da história de outras mulheres negras que vieram antes de mim.
MARIANI FERREIRA - A arte da cineasta, jornalista, roteirista, produtora e diretora que milita no audiovisual, Mariani Ferreira, e estreou com o premiado roteiro e a direção do curta-metragem Leo (2014). Depois ela produziu o documentário O Caso do Homem Errado (Existe Homem Certo?) que fala do jovem negro operário Júlio Cesar "confundido" com bandido e, por isso, morto pela Brigada Militar em 1987, e roteirista e co-roteirista das séries Filhos da Liberdade e Ayiti e dos longas Janeiro e A Marca do Grilhão, além de ser a roteirista da série Necrópolis. Ela é formada em Jornalismo pela Universidade Luterana do Brasil, em 2011, atuando como curadora do FRAPA e da Mostra Ela na Tela. Veja mais aqui.

A ESCULTURA MARY VIEIRA
A sociedade industrial mudou o conceito de arte, oferecendo aos artistas novos materiais e meios técnicos aperfeiçoados, aptos a traduzir as novas concepções de espaço, movimento e tempo. A estética industrial transformando o conceito de arte decorativa em conceito de desenho industrial, permite ao artista aplicar também à função da vida cotidiana, os seus conceitos de função essencial, bela, de essencialidade funcional estética.
MARY VIEIRA - A arte da escultora e professora Mary Vieira (1927-2001), que produziu Polivolumes, estruturas de caráter abstrato-geométrico, que combinam uma parte sólida com segmentos móveis: placas ou círculos concêntricos que giram em torno de um eixo fixo. Essas peças assumem múltiplas configurações ao ser manuseadas pelo observador, representando inúmeras possibilidades plásticas contidas em uma só forma, criando esculturas multiplicáveis não sob a forma de exemplares idênticos, mas sob a forma de peça única em que estão contidas várias outras. Veja mais aqui.

PERNAMBUCULTURARTES
Todas as frases que estão no filme são frases que eu já ouvi na minha vida. O desejo era fazer pensar sobre os discursos naturalizados da violência. São frases naturalizadas, que vão passando pelo senso comum. São pensamentos violentos, que enquadram a gente numa ideia de mulher e de feminino.
O cinema da premiada diretora e roteirista Déa Ferraz, que é formada em jornalismo com especialização em documentários pela Escuela Internacional de Cine y TV (EICTV), de San Antonio de los Baños – Cuba, mestranda em Comunicação pela UFPE. Ela possui na sua trajetória curtas, médias e longas apresentados em diversos festivais no país e no exterior, diretora do longa- metragem Câmara de espelhos (2016), Modo de produção (2017) e Mateus (2019).
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Educação e mudança, do educador, pedagogista e filósofo Paulo Freire (1921-1997) aqui.
Poesias Completas, do poeta, dramaturgo, engenheiro civil, desenhista, professor e editor Joaquim Cardozo (1897-1978) aqui, aqui & aqui.
Assuntos pernambucanos, do jornalista, advogado, escritor, historiador e ensaísta Barbosa Lima Sobrinho (1897-2000) aqui.
Marsa e SeuPereira & Coletivo401 aqui.
Imaginautas & Estação do Bem aqui.
&
A noite do Recife aqui.


ASTRID ROEMER, AMANDA MONTELL, CRISTINA RIVERA GARZA, CUMADI FULOZINHA & ARTE DA ESCOLA

  Imagem: Acervo ArtLAM . [...] a questão-chave investigada nesta pesquisa diz respeito a desconstruções estéticas vocais - com foco na m...