DIÁRIO DE QUARENTENA – UMA: QUASE UM
CLAUSTRÔMANO, EITA! - Desde que me entendo por gente, ouço do
perigo a nos espreitar: olha a tuia de aerólitos e cometas ameaçando cair! Molejo
de cintura e espinhaço, lá vem bala perdida! Tirou fino, raspão! Ande na linha
e se ligue no trem, ora! O raio torra, prestenção no desmantelo, tanto mata sapo
como espalha merda, se avie! Vixe, o estrupício! E por aí vai, peibufe etc e
coisa e tal. Até aquela da Cartomante
de Ivan/Martins: Nos dias de hoje é bom
que se proteja... Não ande nos bares, esqueça os amigos, Não pare nas praças,
não corra perigo. Não fale do medo que temos da vida... Há quanto tempo a
gente ligado para escapar na hora do revestrés! E a vida segue: quem teme não
vive! Vou de Oduvaldo Vianna Filho: Não estamos atrás de novidades.
Estamos atrás de descobertas. Não somos profissionais do espanto. Para achar a
água, é preciso descer terra adentro, enchacar-se no lodo. Mas há os que
preferem olhar os céus e esperar pelas chuvas. Em tempos de pandemia, para quem não é claustrofóbico, nem como eu que ando
meio agorafóbico ou demofóbico, fica em casa, pega um livro e dá uma lida boa,
ou ouve uma música daquelas bem grandonas, ou assiste um filme daqueles de
empenar o juízo e deixar você pensando um bocado de tempo no que o diretor
queria dizer, enfim, é isso que faço e adorando ficar em casa.
DUAS: DAS ESCORREGADAS & LIÇÕES DA VIDA – Ah, se a gente for se engasgar com os temores
que nos metem na vida, a gente não vive. Minha vó costumava dizer que cobra que
não anda, não engole sapo: morre de fome. Eu que sempre fui presepeiro, nunca
deixei de me arriscar, mesmo quando me sentia altamente seguro. Afinal, só em
viver, corre o risco de qualquer forma: para morrer basta estar vivo. Tanto é
que um dia desses numa aula de Neuropsicologia, do professor Nicolaas Grosse
Vale, dei de cara com essa do Alexander Luria: os anos de desastre
nos proporcionaram a maior oportunidade no avanço da ciência. Conversar é um milagre. Comigo foi assim
mesmo: tagarela que só, dos tropeços e quedas, tudo que havia para aprender.
TRÊS: DAS QUEDAS, OS IDEAIS – Quase sempre vou dormir nos
escombros e, dia seguinte, depois de uma boa noite de sono, acordo pronto para
dar o pontapé na estaca zero como se estivesse renascendo a cada dia. Escoriações
duram alguns dias, passa. Numa dessas, estava eu condoído das lapadas
ocasionais, no curso de Jornalismo assistindo uma palestra do saudoso Barbosa Lima Sobrinho, quando
ele encerrou dizendo: Não
posso renegar o sacrifício de lutar e defender os ideais de toda a minha vida.
A luta dá razão à vida. Eita! Injeção de ânimo dessa, levantei na
hora para aplaudir, nem lembrava mais de dor nem de nada, queria era agir,
assim viver. E vamos nessa! Até amanhã, depois conto outra. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja
mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] Queremos
identificar as variantes genéticas de risco e aquelas protetoras. Como temos
grande interesse em descobrir os genes protetores, vamos focar nos superidosos [...] As pessoas me perguntam como um centenário conseguiu sobreviver ao coronavírus. E eu respondo que é exatamente por ser um
centenário. Em algumas famílias temos casos de pessoas que suportam inúmeras
situações adversas do ambiente. [...]. Trechos da entrevista O que explica resistência de superidosos ao
coronavírus? (Boas Novas, 2020), da bióloga molecular e geneticista Mayana Zatz, que sobre os estudos ela
explicou: Essa pesquisa começou em março
e nós já estamos coletando amostras de voluntários. A gente quer entender por
que algumas pessoas se infectam com o novo coronavírus e desencadeiam um quadro
mais grave, enquanto outros convivem de perto com pessoas infectadas e não
desenvolvem nenhum sintoma. Nós acreditamos que isso é devido à genética. Temos
as pessoas assintomáticas e existem outros que não possuem sintomas e que os
exames dão todos negativos – estas, são chamadas de pessoas resistentes.
Portanto, temos um interesse enorme em entender como isto funciona e qual a
frequência destas pessoas na população. Atualmente, estima-se que as que têm
anticorpos são aquelas que foram expostas e são assintomáticas, mas não sabemos
quantos não possuem anticorpos e podem ser resistentes. E arremata: O mundo não será mais o mesmo
pós-coronavírus. Por conclusão, ela diz que: Sempre há resistência quando a ciência avança. Veja mais aqui & aqui.
RASGA
CORAÇÃO DE VIANNINHA
[...] MANGUARI: O que significa ser espontâneo num mundo de três bilhões de
pessoas, não somos o clube dos quinhentos... que é ser espontâneo? LUCA: Chi,
ele nem sabe mais o que é ser espontâneo [...] LUCA: Verdade que quase 70 por cento das mulheres nunca tiveram prazer
sexual? [...] E o capitalismo também
é culpado? MANGUARI: Acho que é... claro que é... LUCA: Na Rússia como é? Cinco
coitos por quinquênio? MANGUARI: ... primeiro, parece que foi amor livre,
depois... acho que teve um Sexpol - é política sexual... agora, parece que é
muito moralista... o proletariado é moralista... LUCA: Por quê? Ele não é a
vanguarda revolucionária? [...] LUCA:
... gás S02, brometos, DDT, 40 toneladas de corante, é isso que as pessoas
comem! Vocês estão comendo coisas mortas, fúnebres, e isso é que explode dentro
do sangue de vocês! Hein? E para fugir desta morte, hein? Essa ansiedade! Pra
afogar essa ansiedade vocês resolveram fazer o reino da fartura e pulam em cima
da natureza, querem domá-la à porrada e comem morte e engolem carnes, bloqueiam
o corpo, os poros, sobra o cérebro pensando incendiado em descobrir um jeito de
não viver e a tensão toma conta de tudo e vocês só parem guerras, as guerras
pela justiça, pela liberdade, dignidade e nada descarrega a tensão, o cheiro de
podre vem de dentro, o sexo entra pelas frestas, sobra o sexo nas noites
solitárias martelando, então mais guerra e napalm e guerras... [...]. LUCA: ... Já foram encontrados pinguins com
inseticida no corpo, a Europa já destruiu todo seu ambiente natural, diversas
espécies de animais só existem nos jardins zoológicos, as borboletas estão
acabando, vocês vivem no meio de fezes, gás carbônico, asfalto, ataques
cardíacos, pílulas, solidão... essa civilização é um fracasso, quem fica nela e
se interessa por ela, essas pessoas é que perderam o interesse pela vida... eu
é que devia te chamar pra largar tudo isso... é na pele a vida, é dentro da
gente, vocês não sabem mais se maravilhar! Eu não estou largado pai, ontem
estive na porta de uma fábrica de inseticida, fui explicar pros operários que
eles não podem produzir isso... [...].
RASGA
CORAÇÃO DE VIANNINHA - Trecho do texto teatral Rasga coração (SNT, 1979), do dramaturgo, ator e diretor de teatro
e televisão, Oduvaldo Vianna Filho (1936-1974), o Vianinha, que sobre a peça
teatral escreveu: Rasga Coração é uma homenagem ao lutador anônimo político,
aos campeões das lutas populares; preito de gratidão à velha guarda, à geração
que me antecedeu, que foi a que politizou em profundidade a consciência do país…
Em segundo lugar, quis fazer uma peça que estudasse as diferenças entre o novo
e o revolucionário. O revolucionário nem sempre é novo e o novo nem sempre é
revolucionário. Veja mais aqui,
aqui e aqui.
A FOTOGRAFIA DE EADWEARD
MUYBRIDGE
A arte do fotógrafo inglês Eadweard Muybridge (1830-1904), inventor do zoopraxiscópio que detectava o
movimento na projeção de retratos, precursor da película de celuloide com seus
experimentos. Veja mais aqui, aqui & aqui.
PERNAMBUCULTURARTES
Como pode o gesto artístico funcionar como chave de acesso a modos de
existência e de pensamento de um ‘ser ou tornar-se mulher’ como potência e
ação? Como compreender as sutis dinâmicas de poder que os imaginários de
masculinidades e feminilidades reproduzem para além das cenas e movimentos nos
palcos?
O Dossiê Feminilidade é um projeto
desenvolvido pela professora Lady
Selma Albernaz (UFPE), a performer Rebeca Gondim (Coletivo Rua das Vadias) e a atriz, pedagoga
e ativista Mayza Dias de Toledo
(Coletivo Flor do Mangue Recife) que levam a pensar o espaço da arte tanto como
reprodutor de violências relacionadas a gênero e ao feminino quanto como
potência para formação de novos olhares sobre essas questões.
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Cana
Caiana - Poemas de Ascenso Ferreira, do poeta modernista Ascenso Ferreira
(1895-1956) aqui & aqui.
Sobrados
e mocambos: decadência do patriarcado rural e desenvolvimento do urbano, do sociólogo Gilberto Freyre (1900-1987) aqui.
Bando de mônadas, de Vital Corrêa de Araújo aqui.
Frevo –
Uma apresentação coreológica, da historiadora e pesquisadora doutora em
Dança pela University of Surrey, Maria
Goretti Rocha de Oliveira aqui.
Vulvas Livres aqui.
Lampioa & Zé Bunito aqui.
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