DIÁRIO DE QUARENTENA – UMA: NO RASTRO DAS
INCONFORMIDADES - Nestes
dias de novidadeirices iterativas, logo dou uma escoimada nas redomas irredutíveis
da rotina, sobrando nas minhas inquietações. Inheto, minha cabeça dá passos
largos à procura do que talvez nem exista, alguma singularidade ou sei lá de
perdido. Coisa que aprendi ouvindo George Gershwin:
A vida é bem parecida com o
jazz. É melhor quando você improvisa. Frequentemente ouço
música no coração do barulho. Eu gosto de pensar na música como uma ciência
emocional. É e inspirado, componho o meu blues: Agonizo devagar. Não tenho nada a dizer. Nada,
absoluta catarse. Os meus pedaços se perderam de mim no labirinto da sobriedade
de Cage. Devotei meu olhar a
reinventar o muro à cabeça. Criei meu tautócrono com meus versos abstrusos. A
loucura me cerca comunhão. Ah! Meu tormento Van Gogh, minha solidão Almafuerte, sempre instigado pela descrença
diante da frivolidade das coisas. Ah, assim voo, o trâmite da solidão.
DUAS: DA VOZ & A PRECISÃODE VIVER - No meio das minhas
inquietações, vêm à tona alguns segredos que sequer dou conta, nem existiam
antes, ora, coisa da hora, do tipo Ingmar Bergman: Todos precisam aprender a
viver. A cada dia, me esforço um pouquinho. A dificuldade principal está em
saber quem eu sou e onde estou. É como procurar na escuridão. Se alguém me
amasse como sou, talvez, finalmente, me pudesse encontrar. É preciso aprender a
viver. Eu treino todos os dias. Aí abro o peito, rabisco a sussurrar: Minha
voz é a coragem de amar no ultraje dos desencontros. Sou navio com rota
esquecida e naufrágios muitos. Quando o nublado olhar pousa em meu rio é
pressagio que paira no ventre de paixão. Quando minha vez é torrente de dor no
exagero sombrio de uma canção, não é nada, é tempestade que passou e deixou
danos. Quando minha voz é a coragem de amar, não é a sombra de um vendaval: é a
sujeito de um eterno pavio que aceso nunca apagará.
TRÊS: AH, QUANDO É DIA DE SEXTA? - Ah, uma sexta dessa me
deparei com uma coisa assim do Luís de Góngora: Flores dão às pessoas certos
exemplos; que o jardim que estava ontem poderia ser estéril hoje. Ah, era
sexta mesmo, no punho uma garatuja no papel: Não fosse a tarde ter o mormaço da
vida, não teria eu tantos sentimentos nesta hora, sentimentos de dor e
compaixão. Não fosse o amor o termômetro desta vida, não teria eu nada para dizer
agora, vez que as palavras me escondem. Só quem me compreenderá, talvez,
ingênuo, sonhador, a qualquer hora do entardecer, de longe a montanha ao
sol-posto, de onde faz sombra esfriando o mormaço do meu coração: um reles
mortal com monograma nos olhos, pela noite no mar da solidão. Nessa hora todas
as evidências levam a nada para quem foi benzido de copas com a felicidade no
descarte: o doce mel se derramou em grande profusão. Fui açoitado pelo ronco da
onça suçuarana e por isso virei mundo no Rabicho da Geralda, mandei boas novas
e escrevi aos familiares como se esperasse algum dia a remissão ou acaso louvado
por vestais. Enterrei o trevo de paus na volta do cruzeiro e só pude ver o vencedor
com um laço de fita no braço e uma salva de palmas. Ali, quantas imagens não
eram labaredas desde que me tive por gente que vivo a morrer de sede. Deixo minha
emoção no meu adeus. Até depois. © Luiz Alberto
Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS: Só
existirá democracia no Brasil no dia em que se montar no país a máquina que
prepara as democracias. Essa máquina é a da escola pública. Educar é crescer. E
crescer é viver. Educação é, assim, vida no sentido mais autêntico da palavra. Como
a medicina, a educação é uma arte. E arte é algo de muito mais complexo e de
muito mais completo que uma ciência. A não existência de cooperação ou
interação entre ciência e filosofia levou a chamada "ciência da
educação" a não "ter" filosofia, o que corresponde realmente a
aceitar a filosofia do status quo e a trabalhar no sentido da tradição escolar. Pensamento
do jurista, educador e escritor Anísio Teixeira (1900-1971), refletindo
sobre a educação brasileira. Dele ainda é possível destacar: A sabedoria é a subordinação do saber ao
interesse humano e não ao próprio interesse do saber pelo saber e muito menos a
interesses parciais ou de certos grupos humanos. No fim das contas, a teoria é
a mais prática das coisas, porque, tendo sido resultado do estudo das coisas no
aspecto mais geral possível, acaba por se tornar de utilidade universal.
Veja mais aqui e aqui.
A POESIA
DE AMARÚ
VANEGAS
ENTÃO AMOR - Desejo de monstro / transformando
o amante em seu próprio carrasco. / Submissão, / roupas de plástico com o ferro
ganho; /a mordida / suculento, / cicatriz expectante / machucado à beira da
vergonha. / Bem-vindo a pegada fervendo na carne, / uma peça ilusória / untar
as dobradiças das portas proibidas, / suas fechaduras. / Nós valemos o abjeto,
/ perversão, / novas falhas. / Entao amor.
SEGREDOS - Transparência cruzada:
sozinha, / Sem pés. / Beije o corpo / antes de fechar o caixão. / Entortar a
ressurreição. / Cubra com sedas. / Nas cinzas do piano / a sombra move os dedos
/ despindo o maior silêncio. / É sentido, apenas.
DESEJO - Você tentou roubar minha palavra / como o fogo
dos deuses. / Pobre, / não sabias. / Palavra / é algo que ninguém tem na boca,
/ nem no peito. / O meu está no desejo.
AMARÚ VANEGAS - Poemas da premiada escritora, engenheira, atriz, diretora
e produtora de teatro e cinema venezuelana, Amarú Vanegas, que é Magister Scientiae em literatura latino-americana e
caribenha, fundadora do Catharsis Theatre e da Purple Cultural Foundation. Ela publicou
o monólogo teatral Mortis (Venezuela,
2001) e a coleção de poesia El canto del
pez (Venezuela, 2007). Veja mais aqui.
A ARTE DE ARNE
QUINZE
Habitação, por definição, não é apenas um fato, consiste em uma miríade
de visões. Todo mundo pensa que encontrou o modus vivendi ideal, mas
eventualmente todos nós estamos enraizados em estruturas específicas. Estou
sempre curioso sobre como os outros definem viver. Vivemos em espaços fechados
com medo de abrir nossas janelas e portas.
ARNE QUINZE - A arte
do pintor, escultor, desenhista, grafiteiro e artista conceitual belga Arne
Quinze, mais conhecido por suas grandes obras nas ruas, muitas vezes
controversas. Veja mais aqui.
PERNAMBUCULTURARTES
Sou uma mulher que tem corações / Cada um em seu próprio ritmo / pulsando
em lugares diferentes / nos meus olhos / no meu
riso / nos meus dedos / no meu umbigo / e se você for descendo / descendo / descendo
/ descendo um pouco mais / encontra mais um / onde começa o infinito.
A arte da poeta e performer Luna Vitrolira, autora
do livro Aquenda, o amor às vezes é isso
(finalista do Prêmio Jabuti de Literatura 2019, na categoria Poesia).
&
A obra do
poeta, tradutor, critico literário e de arte, Manuel Bandeira
(1886-1968) aqui, aqui & aqui.
Crônicas, do poeta, radialista e compositor Antônio
Maria (1921-1964) aqui.
Cultura
afrodescendente, carnaval & Célia Labanca aqui.
José
Durán y Durán & As Noites da Cultura Palmarense aqui.
A música
do cantor e compositor Lucas Kallango
aqui.
Passando a limpo aqui.
&