DIÁRIO DE QUARENTENA – UMA: SOMBRA DAS PRIMEIRAS
HORAS DE TERÇA - A semana começou ontem, nem havia me dado
conta: não sei mais de horas nem dias. Sonho tal Hemingway pelas calçadas: Mesmo
quando estava entre a multidão, estava sempre sozinho. Depois da primeira
esquina, sei a quantas o mundo gira, como se fosse sonho de amor em Bucareste nos
versos de um poema de Vasile Alecsandri:
Deste mundo todo o sorriso... A
flor se extingue, a vida esvai. Não há
como ignorar, tantos se foram, muitos se esvaindo, impossível fazer de conta. E
Philippe Ariès avisa grave: Esquecer-se da morte e dos mortos é prestar
um péssimo serviço à vida e aos vivos. Não há mesmo como manter-me distante,
o peito espremido, olhos às cachoeiras. Alguém me chama. Juro, não foi nada! Tudo é somenos, só não tem jeito pra morte, mas isto
é outra coisa.
DUAS: QUANDO O VENTO FAZ A CURVA, HÁ QUEM SOPRE NA JANELA - Depois do feriado de ontem, nem foi pra mim tão sem calendário:
ensaios do deus ludens de Huizinga. Brinco de viver, não há outro
modo, mesmo com a severidade das palavras de Roberto Cardoso de Oliveira: Que não se olha impunemente, que não se ouve impunemente e muito menos
se escreve impunemente. Meu intuito era mostrar um pouco essa relação, essa
dinâmica desses três atos fundadores do exercício da antropologia. Sei,
de nada sou impune, rastros me denunciam, errâncias de quem persevera.
TRES: FIZ UMA CANÇÃO, QUANDO TE VI – Menino em festa naquela
noite e ela, sensual Charlotte Gainsborg
na dança, a canção, entre um passo e
outro, ao meu ouvido: Um diretor que
escolhe você para um papel sente um desejo. E todo intérprete, seja homem ou
mulher, usa todos os seus encantos para entrar nesse jogo. O que é inaceitável
e o que é terrível é que se torne uma luta pelo poder e uma vontade de
submissão. Nem ouvia, beijava-a e a mim se entregou de vez. A língua desenhava
a imensidão do universo na minha carne para que o Tao fosse pleno no meu gozo. O
coração da palavra, o poema no sexo para que chova a vida em mim, até não sei
quando ou depois. © Luiz Alberto Machado. Direitos
reservados. Veja mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] Nos últimos anos,
questões relacionadas ao desempenho e a sua avaliação têm recebido maior proeminência
acadêmica e social. [...]
O crescente interesse na prática da avaliação
também se manifesta em estudos sobre a desigualdade e a meritocracia: nas sociedades
industriais avançadas, pais de classe média apresentam maior propensão a
preparar seus filhos para um mundo de competição mais acirrada, e para isso, investem
recursos significativos em educação suplementar e em atividades extracurriculares
que consideram essenciais para garantir a reprodução de suas posições de classe
[...] Na verdade, a coexistência de
matrizes múltiplas de avaliação é uma condição significativa para uma maior
resiliência social (associada a uma melhor distribuição de recursos),
especialmente em um contexto como o dos Estados Unidos onde um número cada vez
menor de indivíduos pode almejar alcançar os padrões de sucesso socioeconômicos
que são associados ao mito nacional e dominante do Sonho Americano [American Dream] [...]. Trechos extraídos do estudo Em direção a uma sociologia comparativa da
valoração e da avaliação (Norus, 2013), da socióloga canadense Michèle
Lamont.
O CINEMA
DE YASMIN THAYNÁ
No dia da minha transição capilar, pela primeira vez consegui me olhar
no espelho e me sentir segura. Precisamos criar um outro imaginário sobre o
negro no Brasil. O cinema e a TV têm papel fundamental nisso.
YASMIN THAYNÁ - A arte
da cineasta, roteirista e diretora Yasmin Thayná, que realizou os curtas-metragens
Kbela (2015), Batalhas (2016) e Fartura (2019). Ela é estudante de
comunicação social da PUC-Rio, passou pela Escola Livre de Cinema de Nova
Iguaçu, fez cursos de audiovisual, integrou o Coletivo Nuvem Negra e é fundadora
do Afroflix, plataforma online que disponibiliza produções audiovisuais com
pelo menos uma área de atuação técnica/artística assinada por uma pessoa negra.
Atualmente trabalha como pesquisadora em política pública e comunicação, na
Diretoria de Análises de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas
(FGV-DAPP). Veja mais aqui.
A ARTE DE KATE MACDOWELL
Sou escultora em tempo integral há cerca de cinco anos. Trabalho em
argila de porcelana construída à mão, e meu trabalho frequentemente explora nosso
relacionamento problemático com o ambiente natural. Comecei a estudar cerâmica
nas aulas noturnas da escola de arte local e da faculdade comunitária logo
depois de voltar de viver e viajar para o exterior na Índia e na Europa. Tenho
mestrado em ensino de literatura inglesa e, no passado, produzi sites para
empresas de alta tecnologia, ensinei inglês no ensino médio e trabalhei em um
centro de retiro de meditação na Índia.
KATE MACDOWELL – A arte da escultora estadunidense Kate MacDowell, que trabalha com porcelana
conceitual, fascinada em transformar o belo e o grotesco. Suas peças exploram a
relação tensa e cada vez mais catastrófica entre a humanidade e a natureza,
retratando o impacto sobre o meio ambiente, poluição tóxica e transgênicos. Ela
leva o conceito destas questões ambientais e os funde com mitos, história da
arte e outras referências culturais para alcançar essas peças de porcelana
marcantes. Seu trabalho foi publicado em livros e periódicos, incluindo The New
York Times, Sunday Magazine, Hi-Fructose, American Craft, Ceramics Monthly,
Beautiful Bizarre, OK Periodicals (NL), Creative Review and Rooms (UK) e Hey!
(Paris) entre outros. Seu trabalho foi apresentado no CD e na capa do álbum de
Erasure, “Tomorrow's World”, e ela pode ser vista esculpindo em stop motion no
áudio-vídeo oficial de uma música do álbum 'III' de Miike Snow. Veja mais aqui.
PERNAMBUCULTURARTES
O premiado
drama e suspense Aquarius (2016), de
Kleber Mendonça Filho, conta com a atriz Sonia Braga no papel principal, contando a história de uma jornalista aposentada que
defende seu apartamento, onde viveu a vida toda, do assédio de uma construtora.
O plano é demolir o edifício Aquarius e dar lugar a um grande empreendimento. O
filme é dividido em três capítulos: "O cabelo de Clara", "O amor
de Clara" e "O câncer de Clara".
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A poesia de Margarida de
Mesquita aqui.
A série de aquarelas Palmares, da poeta, artista visual e blogueira Luciah Lopez aqui.
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