sexta-feira, julho 17, 2020

AMARÚ VANEGAS, ARNE QUINZE, ANÍSIO TEIXEIRA & LUNA VITROLIRA



DIÁRIO DE QUARENTENA – UMA: NO RASTRO DAS INCONFORMIDADES - Nestes dias de novidadeirices iterativas, logo dou uma escoimada nas redomas irredutíveis da rotina, sobrando nas minhas inquietações. Inheto, minha cabeça dá passos largos à procura do que talvez nem exista, alguma singularidade ou sei lá de perdido. Coisa que aprendi ouvindo George Gershwin: A vida é bem parecida com o jazz. É melhor quando você improvisa. Frequentemente ouço música no coração do barulho. Eu gosto de pensar na música como uma ciência emocional. É e inspirado, componho o meu blues: Agonizo devagar. Não tenho nada a dizer. Nada, absoluta catarse. Os meus pedaços se perderam de mim no labirinto da sobriedade de Cage. Devotei meu olhar a reinventar o muro à cabeça. Criei meu tautócrono com meus versos abstrusos. A loucura me cerca comunhão. Ah! Meu tormento Van Gogh, minha solidão Almafuerte, sempre instigado pela descrença diante da frivolidade das coisas. Ah, assim voo, o trâmite da solidão.

DUAS: DA VOZ & A PRECISÃODE VIVER - No meio das minhas inquietações, vêm à tona alguns segredos que sequer dou conta, nem existiam antes, ora, coisa da hora, do tipo Ingmar Bergman: Todos precisam aprender a viver. A cada dia, me esforço um pouquinho. A dificuldade principal está em saber quem eu sou e onde estou. É como procurar na escuridão. Se alguém me amasse como sou, talvez, finalmente, me pudesse encontrar. É preciso aprender a viver. Eu treino todos os dias. Aí abro o peito, rabisco a sussurrar: Minha voz é a coragem de amar no ultraje dos desencontros. Sou navio com rota esquecida e naufrágios muitos. Quando o nublado olhar pousa em meu rio é pressagio que paira no ventre de paixão. Quando minha vez é torrente de dor no exagero sombrio de uma canção, não é nada, é tempestade que passou e deixou danos. Quando minha voz é a coragem de amar, não é a sombra de um vendaval: é a sujeito de um eterno pavio que aceso nunca apagará.

TRÊS: AH, QUANDO É DIA DE SEXTA? - Ah, uma sexta dessa me deparei com uma coisa assim do Luís de Góngora: Flores dão às pessoas certos exemplos; que o jardim que estava ontem poderia ser estéril hoje. Ah, era sexta mesmo, no punho uma garatuja no papel: Não fosse a tarde ter o mormaço da vida, não teria eu tantos sentimentos nesta hora, sentimentos de dor e compaixão. Não fosse o amor o termômetro desta vida, não teria eu nada para dizer agora, vez que as palavras me escondem. Só quem me compreenderá, talvez, ingênuo, sonhador, a qualquer hora do entardecer, de longe a montanha ao sol-posto, de onde faz sombra esfriando o mormaço do meu coração: um reles mortal com monograma nos olhos, pela noite no mar da solidão. Nessa hora todas as evidências levam a nada para quem foi benzido de copas com a felicidade no descarte: o doce mel se derramou em grande profusão. Fui açoitado pelo ronco da onça suçuarana e por isso virei mundo no Rabicho da Geralda, mandei boas novas e escrevi aos familiares como se esperasse algum dia a remissão ou acaso louvado por vestais. Enterrei o trevo de paus na volta do cruzeiro e só pude ver o vencedor com um laço de fita no braço e uma salva de palmas. Ali, quantas imagens não eram labaredas desde que me tive por gente que vivo a morrer de sede. Deixo minha emoção no meu adeus. Até depois. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: Só existirá democracia no Brasil no dia em que se montar no país a máquina que prepara as democracias. Essa máquina é a da escola pública. Educar é crescer. E crescer é viver. Educação é, assim, vida no sentido mais autêntico da palavra. Como a medicina, a educação é uma arte. E arte é algo de muito mais complexo e de muito mais completo que uma ciência. A não existência de cooperação ou interação entre ciência e filosofia levou a chamada "ciência da educação" a não "ter" filosofia, o que corresponde realmente a aceitar a filosofia do status quo e a trabalhar no sentido da tradição escolar. Pensamento do jurista, educador e escritor Anísio Teixeira (1900-1971), refletindo sobre a educação brasileira. Dele ainda é possível destacar: A sabedoria é a subordinação do saber ao interesse humano e não ao próprio interesse do saber pelo saber e muito menos a interesses parciais ou de certos grupos humanos. No fim das contas, a teoria é a mais prática das coisas, porque, tendo sido resultado do estudo das coisas no aspecto mais geral possível, acaba por se tornar de utilidade universal. Veja mais aqui e aqui.

A POESIA DE AMARÚ VANEGAS
ENTÃO AMOR - Desejo de monstro / transformando o amante em seu próprio carrasco. / Submissão, / roupas de plástico com o ferro ganho; /a mordida / suculento, / cicatriz expectante / machucado à beira da vergonha. / Bem-vindo a pegada fervendo na carne, / uma peça ilusória / untar as dobradiças das portas proibidas, / suas fechaduras. / Nós valemos o abjeto, / perversão, / novas falhas. / Entao amor.
SEGREDOS - Transparência cruzada: sozinha, / Sem pés. / Beije o corpo / antes de fechar o caixão. / Entortar a ressurreição. / Cubra com sedas. / Nas cinzas do piano / a sombra move os dedos / despindo o maior silêncio. / É sentido, apenas.
DESEJO - Você tentou roubar minha palavra / como o fogo dos deuses. / Pobre, / não sabias. / Palavra / é algo que ninguém tem na boca, / nem no peito. / O meu está no desejo.
AMARÚ VANEGAS - Poemas da premiada escritora, engenheira, atriz, diretora e produtora de teatro e cinema venezuelana, Amarú Vanegas, que é Magister Scientiae em literatura latino-americana e caribenha, fundadora do Catharsis Theatre e da Purple Cultural Foundation. Ela publicou o monólogo teatral Mortis (Venezuela, 2001) e a coleção de poesia El canto del pez (Venezuela, 2007). Veja mais aqui.

A ARTE DE ARNE QUINZE
Habitação, por definição, não é apenas um fato, consiste em uma miríade de visões. Todo mundo pensa que encontrou o modus vivendi ideal, mas eventualmente todos nós estamos enraizados em estruturas específicas. Estou sempre curioso sobre como os outros definem viver. Vivemos em espaços fechados com medo de abrir nossas janelas e portas.
ARNE QUINZE - A arte do pintor, escultor, desenhista, grafiteiro e artista conceitual belga Arne Quinze, mais conhecido por suas grandes obras nas ruas, muitas vezes controversas. Veja mais aqui.

PERNAMBUCULTURARTES
Sou uma mulher que tem corações / Cada um em seu próprio ritmo / pulsando em lugares diferentes / nos meus olhos / no meu riso / nos meus dedos / no meu umbigo / e se você for descendo / descendo / descendo / descendo um pouco mais / encontra mais um / onde começa o infinito.
A arte da poeta e performer Luna Vitrolira, autora do livro Aquenda, o amor às vezes é isso (finalista do Prêmio Jabuti de Literatura 2019, na categoria Poesia).
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A obra do poeta, tradutor, critico literário e de arte, Manuel Bandeira (1886-1968) aqui, aqui & aqui.
Crônicas, do poeta, radialista e compositor Antônio Maria (1921-1964) aqui.
Cultura afrodescendente, carnaval & Célia Labanca aqui.
José Durán y Durán & As Noites da Cultura Palmarense aqui.
A música do cantor e compositor Lucas Kallango aqui.
Passando a limpo aqui.
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Venturosa aqui & aqui.