O FASCÍNIO DA MAMA KILLA - Nasceu no Titicaca a filha do criador de
todas as coisas, ela me vigiava e eu não sabia. Ali perto morava Ka-Ata-Killa,
eu sabia, vez em quando a via e seus olhos refletiam uma luz magnífica além de
toda imaginação, como se deles emergisse um metal huaca, um artefato letal
e divino a iluminar o meu andino céu noturno. Pela luz dela eu navegava até bem
longe e da janela dela ela me via pescador errante pelas noites e dias. Numa curva
do rio, do nada, ela a mim se revelou. E veio com todo esplendor pra me fazer Endymion
na sua nudez Selene de todos os céus e o reino de todas as águas.
E na sua boca a delícia da felação de todas as mais gulosas apaixonadas, dos seus
seios a oferta e amparo de todos os pomares e jardins, de suas pernas todos os
caminhos pra seguir, de suas coxas todas as rotas dos prazeres e da felicidade.
Estava assustado porque havia me levado pro templo nas profundezas da selva,
mas dali não arredei nem dela quis fugir. Enganou-se comigo porque não resisti
nem a rejeitei, ela assim pensou e me sequestrou. Em seu espelho mágico insistia
em me perguntar: Você me ama? E não podia mentir nem esconder minha verdadeira
natureza. Apesar de temeroso a desejava e temeu que mentisse e enlouquecesse, tão
desesperada soltou seus raios e um cataclisma quase me fez sucumbir, como se
fosse atacada por um ente celestial ou
um espírito maligno e desmaiei.
Ao despertar estava no alto do céu diante da Mãe da lua que me fez Inti, irmão
e marido, na corte celestial, e compreendia todos os meus desejos e temores. A Tríplice
deusa no Templo do Sol, deu-me amparo nas nevadas altitudes do Andes e se fez Mama
Killa, a bela
mulher, mãe do firmamento a dar-me
toda prosperidade do Tawantinsuyu.
E se fez Mama Ocllo toda lua
cheia e do seu ventre o fervor de todas as mulheres casadas e virgens, viúvas e
solitárias, que teciam o destino atravessando o tempo e todos os meus espaços
no eclipse da nossa comunhão auspiciosa e temível no festival do meu sacrifício
por todos os seus domínios e
atributos. E se fez Mama Cocha,
a ordem após o caos, e do seu gozo a grandeza dos orgasmos de todas as fiéis
seguidoras no culto ao Sapa Inca pelos ciclos de destruição e renascimento do
mundo. E feito Capéi me fez Selenito amparado indefeso em seu
corpo nu. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui, aqui e
aqui
FALEI EQUIDADE: A equidade é o reino do outro na
heterogeneidade, porque o outro do outro sou eu, assim comungamos, assim
vivermos (LAM). Já dizia Paulo Freire: Se nossa opção é
progressista, \ se estamos a favor da vida e não da morte, \ da equidade e não
da injustiça, \ do direito e não do arbítrio, \ da convivência com o diferente
e não de sua negação, \ não temos outro caminho senão viver plenamente a nossa
opção. \ (Nossas escolhas). Veja mais aqui e aqui.
DITOS & DESDITOS - A pobreza não é
apenas uma condição econômica, mas também uma privação de oportunidades. A
economia deve centrar-se na melhoria do bem-estar das pessoas e não apenas no
crescimento do PIB. A igualdade de gênero é crucial para o desenvolvimento e o
progresso económico. A pobreza não é inevitável nem
imutável, pode ser erradicada. A educação é a arma mais poderosa para quebrar o
ciclo da pobreza. Pensamento da economista francesa Esther
Duflo, co-fundadora e diretora do Laboratório de Ação contra a Pobreza
Abdul Latif Jameel e professora de Economia da Alívio à Pobreza e Desenvolvimento
no Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Veja mais aqui, aqui e aqui.
ALGUÉM FALOU: Empatia e compaixão são a base
de uma sociedade justa e equitativa. O respeito pelos outros é essencial para
uma coexistência pacífica e harmoniosa. O amor e a amizade são elementos
fundamentais na vida humana e devemos cuidar deles e cultivá-los. A arte e a
literatura nos ajudam a desenvolver nossa imaginação e compreensão dos outros. A
educação é o motor do progresso social e pessoal. Pensamento da filósofa
estadunidense Martha Nussbaum.
SOCIEDADE DO CANSAÇO - [...] A reclamação do indivíduo depressivo “Nada
é possível” só pode ocorrer numa sociedade que pensa: “Nada é impossível”. [...] A aceleração
da vida contemporânea também desempenha um papel nesta falta de ser. A sociedade do
trabalho e da realização não é uma sociedade livre. Gera novas
restrições. Em última análise, a dialética entre
senhor e escravo não produz uma sociedade onde todos sejam livres e também
capazes de lazer. Pelo contrário, conduz a uma sociedade de
trabalho em que o próprio senhor se tornou um escravo trabalhador. Nesta sociedade de
compulsão, todos carregam dentro de si um campo de trabalho. Este campo de
trabalho é definido pelo facto de se ser simultaneamente prisioneiro e guarda,
vítima e perpetrador. A pessoa se explora. Significa que a
exploração é possível mesmo sem dominação. [...] A sociedade de hoje não é mais
o mundo disciplinar de Hospitais, hospícios, prisões, quartéis e fábricas de
Foucault. Há muito que foi substituído por outro regime, nomeadamente uma sociedade
de estúdios de fitness, torres de escritórios, bancos, aeroportos, centros
comerciais e laboratórios genéticos. A sociedade do século XXI já não é uma
sociedade disciplinar, mas sim uma sociedade de realizações
[Leistungsgesellschaft]. Além disso, seus habitantes não são mais
“sujeitos de obediência”, mas “sujeitos de realização”. Eles são
empreendedores de si mesmos. [...] Nas redes sociais, a função dos
“amigos” é principalmente aumentar o narcisismo, concedendo atenção, como
consumidores, ao ego exibido como uma mercadoria. [...] Se o sono
representa o ponto alto do relaxamento corporal, o tédio profundo é o auge do
relaxamento mental. Um Rush puramente agitado não produz nada
de novo. Reproduz e acelera o que já está disponível. [...] A violência
da positividade não priva, ela satura; não exclui, esgota [...] A depressão
– que muitas vezes culmina em esgotamento – decorre de uma autorreferência
excessiva, superexcitada e excessiva que assumiu características destrutivas. O
sujeito exausto e depressivo da realização se desgasta, por assim dizer. Está
cansado, exausto por si mesmo e em guerra consigo mesmo. Totalmente incapaz de
dar um passo para fora, de ficar fora de si mesmo, de confiar no Outro, no
mundo, ele trava suas mandíbulas sobre si mesmo; paradoxalmente, isso leva o eu
ao vazio e ao esvaziamento. Ele se desgasta em uma corrida desenfreada que corre
contra si mesmo. [...]. Trechos
extraídos da obra Müdigkeitsgesellschaft - The Burnout Society (Matthes
& Seitz Berlin, 2010), do filósofo e ensaísta sul-coreano Byung-Chul Han.
Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
UMA VIDA NO CINEMA - [...] Admiro a nudez e gosto de sexo, assim como
muitas pessoas na década de trinta. Mas, para mim, a superexposição embota a
diversão... O sexo como algo belo pode desaparecer em breve. Uma vez que era uma
faca tão finamente afiada, o fio ficava invisível até ser tocado e então cortar
profundamente. Agora é tão rombudo que apenas machuca e
deixa marcas feias. A nudez é aceitável na privacidade do meu
quarto com o parceiro apropriado. Ou para um modelo em aula de vida na
escola de artes. Ou conforme retratado em pedra e tinta. Mas não gosto que
seja usado como piada ou para excitar. Ou seja tão franco sobre isso. [...]. Trecho extraído da obra A
Life On Film (Bantam Doubleday Dell, 1972), da
atriz estadunidense Mary Astor (Lucile Vasconcellos Laghanke -
1906-1987), que também se expressa: Nunca admita nada para ninguém. Honestidade não é a
melhor política... Veja mais aqui e aqui.
É PRECISO AGIR - Primeiro levaram os negros \ Mas não me importei com isso\ Eu não era
negro\ Em seguida levaram alguns operários\ Mas não me importei com isso\ Eu
também não era operário\ Depois prenderam os miseráveis\ Mas não me importei
com isso\ Porque eu não sou miserável\ Depois agarraram uns desempregados\ Mas
como tenho meu emprego\ Também não me importei\ Agora estão me levando\ Mas já
é tarde.\ Como eu não me importei com ninguém\ Ninguém se importa comigo. Poema do
dramaturgo, encenador e poeta alemão Bertolt
Brecht (1898-1956). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui,
aqui e aqui.
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