ED’NANCY, POETA, MULHER... - Aquela pisciana era Edna e, quando
não, Nancy, ela própria duas e outras, pois pelo acréscimo de santidade ao seu
nome, porque seu tio fora salvo com anúncio de seu nascimento queria ser Vincent.
E nisso insistia com o entusiasmo das leituras da mãe divorciada em cada canto que
chegasse. E era o que mais apetecia. Foi na casa da tia de Camden que viveu depois
de muitas andanças e o que levou a escrever seus primeiros versos. A firmeza
veio junto com as reprimendas escolares. Foi no liceu de lá que estreou na
revista The Megunticook, e alguns de seus poemas na infantil St.
Nicholas, no jornal Camden Herald e na antologia Current
Literature. Nem havia debutado ainda e a poeta trilhou seu caminho para
fama com o seu aplaudidíssimo Renascence. Não foi poupada de
controvérsias e escândalos, até ser surpreendida numa exibição performática ao
piano, e premiada pela simpatia de uma ricaça financiadora de seus estudos no
Vassar College. Depois de concluir os estudos foi para New York até ser
contemplada com a Frost Medal. Aventuras amorosas de sua inusitada sexualidade desde
o colegial levaram-na à Paris para casar-se em Austerlitz. Seus recitais
fascinavam: Euclid Alone Has Looked on Beauty Bare. Depois
The Ballad of the Harp-Weaver. Era o jazz e a boêmia, a Aria da Capo.
E vieram as peças teatrais em versos: Two Slatterns and a King, The
Lamp and the Bell e a ópera The King's Henchman. Certa noite ouviu-se First Fig: A minha vela arde nas duas pontas; \ Não vai durar
a noite inteira; \ Mas ah!, meus inimigos, e oh!, meus amigos-- \ A sua luz é
tão prazenteira!... Era a sua vela no
Romany Marie. A última entre sonetos que emergiram aos seus tantos amantes, até ser encontrada morta ao fundo das
escadas para o Caminho dos Poetas. Veja mais abaixo e aqui e aqui.
DITOS & DESDITOS - Eu amo a
humanidade, mas odeio as pessoas. A infância não é desde o nascimento até uma
certa idade e em uma certa idade. A criança cresce e guarda as coisas infantis. A infância é o reino onde ninguém morre. Serei a
coisa mais feliz sob o sol! Tocarei em cem flores e não colherei nenhuma. Fico feliz por ter prestado
tão pouca atenção aos bons conselhos; se eu tivesse obedecido, poderia ter sido salva de alguns dos meus erros
mais valiosos... Dizem que quando você sente falta de alguém, provavelmente
essa pessoa está sentindo o mesmo, mas não acho que seja possível... Não é
verdade que a vida seja uma coisa atrás da outra; é uma maldita coisa repetidas vezes. Eu sei que
sou apenas verão para o seu coração, e não as quatro estações completas do
ano... Onde você costumava estar, há um buraco no mundo, pelo qual eu ando
constantemente durante o dia e caio à noite. Tenho muitas saudades tuas... Veja, eu sou uma
poeta e não estou muito bem da cabeça, querido. É só isso... Pensamento da poeta e dramaturga estadunidense
Edna St. Vincent Millay (1892-1950), também conhecida por obras
assinadas como Nancy
Boyd. Veja mais aqui e
aqui.
ALGUÉM FALOU: Só vá aos feiticeiros quando não
houver mais nada... Pensamento da médica e ativista haitiana Yvonne
Sylvain (1907-1989).
POR QUE AS ZEBRAS NÃO TÊM ÚLCERAS - [...] Se eu tivesse
que definir uma depressão grave em uma única frase, eu a descreveria como um
“distúrbio genético/neuroquímico que requer um forte gatilho ambiental, cuja
manifestação característica é a incapacidade de apreciar o pôr do sol. [...] Em um nível incrivelmente simplista, você pode pensar que a
depressão ocorre quando seu córtex tem um pensamento abstrato e consegue
convencer o resto do cérebro de que isso é tão real quanto um estressor físico.
[...] A maioria das pessoas que pratica muito exercício, especialmente na
forma de atletismo competitivo, tem, para começar, personalidades não
neuróticas, extrovertidas e otimistas. (Os corredores de maratona são exceções a isso.) [...] Os genes raramente tratam da inevitabilidade, especialmente quando
se trata de humanos, do cérebro ou do comportamento. Tratam de vulnerabilidade, propensões, tendências. [...].
Trechos extraídos da obra Why Zebras Don't Get Ulcers (Holt Paperbacks, 2004), do cientista e
escritor estadunidense Robert Sapolsky, que na obra A
Primate's Memoir: A Neuroscientist's Unconventional Life Among the Baboons
(Scribner, 2002)
expressa que: […] Vivemos bem o suficiente para podermos nos dar ao luxo de adoecer devido ao
estresse puramente social e psicológico [...] e no livro The Trouble with Testosterone and Other
Essays on the Biology of the Human Predicament (Scribner, 1998)
expressa que: […] Não estou preocupado se os cientistas explicarem
tudo. Isto ocorre
por uma razão muito simples: um impala correndo pela Savana pode ser reduzido à
biomecânica, e Bach pode ser reduzido ao contraponto, mas isso não diminui nem
um pouco a nossa capacidade de tremer enquanto experimentamos impalas saltando
ou Bach trovejando. Só podemos ganhar e crescer com cada descoberta de que existe uma estrutura
subjacente aos níveis mais acessíveis de coisas que nos enchem de admiração.
Mas há uma razão ainda mais forte pela qual não tenho medo de que os cientistas
inadvertidamente expliquem tudo – isso nunca acontecerá. Embora em certos domínios possa ser que a ciência
possa explicar qualquer coisa, ela nunca explicará tudo. Como deveria ficar óbvio depois de todas essas
páginas, como parte do processo científico, para cada pergunta respondida, uma
dúzia de perguntas mais novas são geradas. E geralmente são muito mais intrigantes e desafiadores do que os problemas
anteriores. Isto foi afirmado maravilhosamente numa citação de um geneticista chamado
Haldane, no início do século: "A vida não é apenas mais estranha do que
imaginamos, é mais estranha do que podemos imaginar." Nunca teremos nossas chamas extintas pelo
conhecimento. O propósito da ciência não é curar-nos do nosso sentido de mistério e
admiração, mas sim reinventá-lo e revigorá-lo constantemente. [...].
TODOS OS ANIMAIS DECENTES - [...] Quando ela não
consegue dormir, ela escreve. Tudo o que ela lembra são as palavras dele. Logo amanhecerá, com cavalos alimentados pelo fogo
trovejando ao som dos grilos no céu. Eu vou ver você correr. E eu vou correr com você. Naquela manhã, enquanto Ata comia uma manga pingando na pia, ela o sentiu
se aproximar por trás dela e tocar suas costas, leve como uma corrente de ar. Ele beijou a lateral do pescoço dela, inalou o
vapor do cacau amargo, fervendo com folhas de louro, canela e noz-moscada, e
disse que isso o lembrava de sua infância. “Você é das ilhas”, disse ela. Mas então ele se foi [...]. Trecho extraído da obra All Decent Animals (Farrar,
Straus and Giroux; 2013), da
escritora guianesa Oonya Kempadoo, que na obra Tide Running (Farrar, Straus and Giroux, 2003), expressou que: [...] Apenas vindo
de Trinidad, nunca poderíamos ter visto a escuridão desta ilha. A força disso dominou e silenciou você. Só depois de se mudar para cá a calma se tornou
perturbadora. Traços de ressentimento brilhando sob a pele de rostos orgulhosos, no andar
de corpos móveis. A casa, nosso refúgio de férias da vida na cidade de Trinidad, nos seduziu
em seu ventre, prometendo paz de espírito, uma vida livre de crime e o azul do
Mar do Caribe. Assim que o trabalho de Peter em Trinidad terminou, nos mudamos. E agora o refúgio nos protegia de coisas
desconhecidas e profundas. Sempre maternal, dando espaço para erros e meditação, zelando pelo nosso
sono. [...].