domingo, fevereiro 07, 2016

ESTER NAOMI PERQUIN, MARIA RITA KEHL, CHANTAL THOMAS, LINDA MAMMANA, GALO DA MADRUGADA & FOLIA TATARITARITATÁ


O RECIFE DO GALO DA MADRUGADA

Luiz Alberto Machado

O Recife é magia no Galo da Madrugada de braços abertos pra minha volta enfeitiçada de Vassourinhas. Eu voltei Dioniso na Santa Folia dos braços dela, e ela Alvorada da Folia Caeté se faz Ariadne ensolarada pra de tarde me fazer de seu Baco sereno na alegria do Amor Imortal. E quando vier noite adentro eu sou seu Pã todo estrelado, lavado nos sonhos da sua Lagoa Manguaba, reamanhecendo pra felicidade de todo nosso amanhã. É nela que todo dia é pra ela e eu sou folia, mais que seu folião.

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DITOS & DESDITOSUma: sinal verde, pode passar tranquilo. Amarelo, êpa! Não seja metido à besta, melhor precaução, cuidado. Vermelho! Ei, não vá dá uma de cavalo do cão! Vixe! E num é que foi? Teibei. Num disse! Oxe, parece mais que esse povinho é daltônico mesmo! Outra: Se nessa não deu, que é que tem? Não adianta amarrar o bode todo jururu! O pencó vai só apertar de quase torar tudo na emenda; mas, destá, depois vem outra, aí, quem sabe, né? (LAM)

HOMENS & MULHERES – [...] No caso das pequenas diferenças entre homens e mulheres, parecem ser os homens os mais afetados pela recente interpenetração de territórios – e não só porque isso implica possíveis perdas de poder, como argumentaria um feminismo mais belicoso, e sim porque coloca a própria identidade masculina em questão. Sabemos que a mulher encara a conquista de atributos “masculinos” como direito seu, reapropriação de algo que de fato lhe pertence e há muito lhe foi tomado. Por outro lado, a uma mulher é impossível se roubar a feminilidade: se a feminilidade é máscara sobre um vazio, todo atributo fálico virá sempre incrementar essa função. Já para o homem toda feminização é sentida como perda – ou como antiga ameaça que afinal se cumpre. Ao homem, interessa manter a mulher à distância, tentando garantir que este “a mais” inscrito em seu corpo lhe confira de fato alguma imunidade. A aproximação entre as aparências, as ações, os atributos masculinos e femininos são para o homem mais do que angustiantes. É de terror e de fascínio que se trata, quando um homem se vê diante da pretensão feminina de ser também homem, sem deixar de ser mulher. Bruxas, feiticeiras, possuídas do demônio, assim se designavam na antiguidade essas aberrações do mundo feminino que levavam a mascarada da sua feminilidade até um limite intolerável. Só a morte, a fogueira ou a guilhotina seriam capazes de põr fim à onipotência dessas que já nasceram “sem nada a perder”. [...]. Trechos extraídos da obra A mínima diferença: masculino e feminino na cultura (Imago, 1996), da poeta, psicanalista, jornalista, ensaísta e crítica literária Maria Rita Kehl. Veja mais aqui.

LIBERDADE - [...] a liberdade nem sempre está na evidencia de uma muralha a ser derrubada, de um direito a ser conquistado. Não está necessariamente na violência de um enfrentamento e na exaltação que ele suscita. Ela está também, numa exigência interior, no ideal de uma invenção da própria vida, numa atenção ativa, aguda, participante em todos os seus episódios, numa vigilância que nos leva a recursar os compromissos, os papeis de figuração em imagens de felicidade pre-construidas. [...] A liberdade continua sendo no entanto um desafio essencial, a mercer todos os nossos cuidados. Se o esquecemos ou o desdenhamos, ainda nos arriscamos a morrer, de outro modo, não nos transes de uma impossível façanha, mas sem brilho, amordaçados pelo conformismo e o tédio, embrutecidos pelas preocupações, sobrecarregados de tarefas, entropecidos por falatórios telefônicos, alucinados por um mundo que nos escapa, dia após dia. Anestesiados. [...].
Trechos da obra Somos dignos de ser livres? (Zahar, 1999), da escritora francesa Chantal Thomas.

BEM-VINDO DE VOLTA - Sei como eles passam o portão à noitinha. / As mãos ainda côncavas de acariciarem / as cabeças dos filhos, as costas dobradas. / Trazem na roupa o exterior e cheiros a comida, / pêlos de cão, cerveja, o cheiro a mulher quente e / últimos cigarros juntos, lençóis enxovalhados. / Olho para os homens a lavarem-se / deixando para trás sabão, pó e saudades. / Sei que as mulheres ficam junto aos portões. / Os casacos abotoados até ao pescoço, / As mãos nos bolsos, cabeças curvadas. / Como os homens avançam em silêncio. Poema da premiada poeta holandesa Ester Naomi Perquin. Veja mais aqui e aqui.

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