O CIS, O EFÊMERO & EU (Imagem: Em busca do efêmero, da série Coleta da
Neblina, da artista plástica Brígida
Baltar)– O tempo. Cada segundo, um triz, o cis e eu. E eu sou o que fui e
já estou sendo sem ser nada e tudo. Serei nada, mesmo. Já passou. Tudo pode
acontecer. E já foi. Um raio, eu vou e voo. Já não sou o mesmo. Fui. Serei,
posso ser. E não sou. Algo aconteceu e eu não vi. Algo está acontecendo e não
percebo. Os meus sentidos estão ativos, tudo sinto, nada vejo. Meus sentidos parecem
dormir para o não visível. Estou acordado, penso. Sei que está acontecendo algo,
isso é óbvio e não me dou conta. Apenas vejo o perceptível. Sinto o
imperceptível. Subjacentes a tudo que vejo outras muitas tantas coisas estão em
movimento contínuo. Não percebo. Não sei quando a digestão do meu estômago;
respiro, mas não sou nem sei como a respiração dos meus pulmões ocorre. Sinto e
não sinto. Sei que vivo, não sei como. Sei que nasci sem que saiba de onde
tenha vindo. Estou aqui sem que saiba exatamente o que deve ser feito e o que
fazer. Apenas faço o que sei e julgo, pelo que fui ensinado, que faço o certo.
Ou errado, não sei. Há algo que não consegui saber e que não está no que foi
ensinado. Algo mais profundo, como o desabrochar da rosa, como o parto de quem
nasce, como a lagarta vira borboleta. Algo mais sutil como o processamento da
fecundação. Algo mais denso que se encontra no vento e não percebo. Diante
disso o tempo é nada. E o espaço não só o que habito, há muito mais além do
horizonte. Só não sei. Nem sei se preciso saber disso, basto-me no que
compreendo. Cada qual a sua compreensão. O incompreensível é estranho, além do
que posso conceber. Se há algo além disso, eu não sei. Sinto que existe algo
mais, não apenas o sensível, o além disso. Se não vejo, não quer dizer que não
está ali. Apenas não vejo na minha cegueira objetiva. E sinto com o olho que
não vê e ouço como o que não ouve, e toco o que não é tocável, e saboreio sem o
sabor e cheiro o que não cheira. Algo que não existe pra quem pensa que tudo é
apenas o que está na objetividade. E eu sei que nisso há algo mais que se move,
se transforma e se realiza sem que se desconfie de nada disso. É como se fosse
eu e o que está acontecendo escondido estivesse comigo e se fazendo comigo o
tempo inteiro. E sinto que esse é um outro eu além de mim e que sou eu e todas
as coisas, porque sei que todas as coisas sou eu e são como eu sou. E isso eu
sei, não sei como, como não sei tantas outras coisas. Mas é um saber real e
belo e aprazível. E me dá prazer saber o que não sei: a descoberta de que posso
ser além do que imagino que sou. E isso é inexplicável. E é bom isso mesmo: não
se explica. Não há necessidade de explicação: basta sentir. E eu sinto você. (Luiz
Alberto Machado). Veja mais aqui.
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