quinta-feira, fevereiro 04, 2016

AMOR IMORTAL, CARNAVAL, CARYBÉ, NAVA, BANDEIRA, GOLDONI, CACÁ, SPOKFREVO, CLAUDIA MAIA & MUITO MAIS!!!!


FOLIA TATARITARITATÁ: AMOR IMORTAL (Imagem: Arte-vídeo da saudosa Derinha Rocha) Tinha eu um mote: essa vida é uma passagem que só o amor torna imortal. Um achado. Por outro lado, devia um frevo pra Folia Caeté – do acordo de quatro, só tinha três prontos. E a premência, em cima da hora: estúdio reservado, músicos contratados, poucas horas para gravação. E agora? Já estava prestes pro dia amanhecer e nada. O desespero do compromisso e a inspiração fizeram-me agir intuitivamente. Daí por diante, queimando as pestanas e, durante o trajeto do hotel pro estúdio, rabisquei e escrevi de uma leva só. Quando cheguei lá, músicos e orquestra a postos, produção, técnicos, enfim: - Cadê a música? Todos os olhos pra minha banda. Entrei no estúdio de gravação, papel com a letra na estante e comecei a tocar no violão. Cantei estribilhos e refrão. E avisei: - Pronto, essa é a voz guia. Ainda terão três partes do estribilho que vou recitar. Todos, caras de interrogação: - Esse cara é louco! Onde já se viu recitar num frevo?! Doidice pura. Saí dali e fui tomar umas e outras. Enquanto isso os músicos da orquestra viravam o dia e a noite. Quando já dia amanhecido, Vavá me liga para colocar a voz. Fui pra lá depois de uma noite de respeitável cachaçada. Foi duma vez só. Ficou valendo. E pronta, nasceu Amor Imortal: No mar com um navio a navegar / Um arco, uma flecha e um alvo lá / No presente só momento / A vida a mil por cento / Com sabor de litoral. / Sendo assim minha canoa vou lançar / Com coragem no pavio pra remar / Do passado eu deixo disso / Pro futuro eu corro risco / E faço o nosso carnaval / No mar que é coisa bacana / Coisa melhor dessa terra alagoana / Se quer amor de coisa boa / Mulher bonita tem da muita em Alagoas / Fui brincar meu carnaval, eu fui brincar / Quando a moça me chamou na horagá / Engatei nos passos dela / Que flor, que coisa bela / Mais bonita do que há / Eu pisquei então pra ela e ela de lá / Fez sorriso de menina enfeitiçar / E depois picou sumiço / Por favor, não faça isso / Que eu tô doido para amar / No mar que é coisa bacana / Coisa melhor dessa terra alagoana / Se quer amor de coisa boa / Mulher bonita tem da muita em Alagoas / Atrás dessa danada / Saí de Pernambuco em marcha arretada / E na maior pisada / Finquei pé lá em Sergipe / E já no Pontal do Coruripe / Ela só céu e mar. / Fui de Roteiro a São Miguel / Fiquei mais pinel / Na Manguaba do Pilar. / Aí abufelei em cima / E não deixei a menor cisma / Nosso amor atrapalhar / No mar que é coisa bacana / Coisa melhor dessa terra alagoana / Se quer amor de coisa boa / Mulher bonita tem da muita em Alagoas / Nesse carnaval maravilhoso / Me liguei nesse colosso / De não mais largar / Montei casa aprumada / Pra deixar mobiliada / Toda nos trinques de ufanar. / Comprei de ferro a fogão / Numa valsa demoradeira / Até um daquele colchão / Pra fofar namoradeira / Sem reclamo do bom e do melhor / Ela me livrou do caritó / E eu só a bebemorar / No mar que é coisa bacana / Coisa melhor dessa terra alagoana / Se quer amor de coisa boa / Mulher bonita tem da muita em Alagoas / Hoje a gente freva todo dia / De tarde, de noite, na freguesia / Tudo a maior harmonia sem par / E sei: melhor que mulher não tem / Nem prêmio com bolada de vintém / Vale o tanto para amar. / Seja céu, seja mar, seja terra / Seja até no topo da maior guerra / Nada vale ou tem igual / Nesse frevo faço homenagem / Que essa vida, essa passagem / Só o amor faz imortal / Fui brincar meu carnaval, eu fui brincar / Quando a moça me chamou na horagá / Engatei nos passos dela / Que flor, que coisa bela / Mais bonita do que há / No mar que é coisa bacana / Coisa melhor dessa terra alagoana / Se quer amor de coisa boa / Mulher bonita tem da muita em Alagoas. (Luiz Alberto Machado). Veja o videoclipe da música aqui e mais aqui.

E veja mais:

PICADINHO
Imagem:Carnaval (1986), do pintor, pesquisador, historiador e jornalista brasileiro nascido na Argentina, Carybé (1911-1997). Veja mais aqui.

Curtindo Passo de Anjo Ao Vivo (Biscoito Fino, 2008), da SpokFrevo Orquestra. Veja mais aqui.

EPÍGRAFE[...]. Quem cai no passo / Não quer mais parar... / Adeus, meu bem, eu vou / no frevo me espalhar, / Não precisa ter cuidado / Nem tampouco me esperar, / Compre fiado  / se o dinheiro não chegar, / Tome conta dos meninos  / Quarta-feira eu vou voltar!, trecho do frevo-canção Bom danado, do cantor e compositor Luís Bandeira (1923-1998). Veja mais aqui.

CARNAVAL – O carnaval é o período de três dias que precedem a quarta-feira de cinzas, dedicados às festas populares. Teve sua origem no Egito há mais de dois mil anos antes de Jesus. Nesse período os gregos festejavam Dioniso. Na Roma antiga, no dia 15 de fevereiro, realizam-se danças em honra de Pã, uma festa ao deus Baco, chamadas lupercais. Primitivamente, os cristãos começavam as festas do carnaval a 25 de dezembro, compreendendo os festejos do natal, Ano Bom e o de Reis. Jogos e disfarces predominavam nestas festas. No começo do cristianismo, a igreja deu nova orientação a essas festividades, punindo severamente aos que nelas se excediam. Na Gália tais foram os abusos, que Roma proibiu por longo tempo o carnaval. Na Idade Média reaparece em Veneza, Turim e Nice, festejado com delirante alegria e excitação popular. Os bailes de máscaras datam da corte de Carlos VI, numa dessas festas, esse rei foi assassinado por motivos políticos, quando se achava fantasiado de urso. O tempo carnavalesco começava com a festa de Santo Estêvão, em 26 de dezembro. Afirma-se que em festas religiosas como a de Epifania, se usavam máscaras. Em Veneza e Florença, no século XVIII, as damas elegantes fizeram delas instrumento de sedução. No Brasil, esses festejos tornaram-se os mais animados do mundo, tendo sua fama atraído as mais célebres personalidades cinematográficas e outras, que aqui vêm, a fim de assistirem e compartilharem da alegria que contagia a todos. Veja mais aqui.

CARNAVAL II – No livro Baú de Ossos: memórias, (Sabiá, 1972), do escritor e médico brasileiro Pedro Nava (1903-1984), encontro o texto: Água não era só de chuva e de enchente. Mais abundante era a dos entrudos. Carnaval. Passavam uns escassos mascarados, dominós de voz fina, diabinhos com que o Benjamim Rezende se divertia arrancando o rabos, quebrando os chifres. O Paulo Figueiredo, encantando minha avó com seu Pierrot recamado de lantejoulas. Os primeiros lança-perfumes — Vlan e o Rodo. Mas o bom mesmo era o entrudo. Havia instrumentos aperfeiçoados para jogar água, como os relógios, assim chamados porque esses recipientes imitavam a forma de um relógio fechado, com dois tampo metálicos flexíveis que, quando apertados, deixavam cair um delicado esguicho de água perfumada. Havia de todos os tamanhos, desde os pequeninos, que vinham no bolso, aos enormes, que ficavam no chão e eram acionados com o pé. Havia os revólveres — seringas que imitavam a forma da arma — cano metálico e o cabo de borracha que se apertava, apontando quem se queria molhar. Os limões de todos os tamanhos e de todas as cores que eram preparados com semanas de antecedência e em enorme quantidade. Continham água de cheiro, água pura, água colorida, mas os que caíam da sacada do Barão vinham cheios de água suja, de tinta, de mijo podre. Desciam ao mesmo tempo que as cusparadas das moças. Além dos relógios, dos revólveres, dos limões, eram mobilizadas todas as seringas de clister e improvisados seringões com gomos de bambu. Todos os pontos estratégicos da casa eram ocupados com jarras, baldes, latas e bacias para esperar os atacantes. Porque havia os assaltos de porta a porta. Éramos investidos pelos Pinto de Moura e depois do combate, já encharcados, confraternizávamos, para atacar a casa dos Gonçalves.  Logo depois já era um grupo maior que avançava sobre as fortalezas fronteiras dos Couto e Silva e do tio Chiquinhorta, onde nos esperavam valorosamente o Antonico e o Mário Horta. Meu pai comandava a refrega protegido nas dobras de um vasto macfarlane, cujas asas davam-lhe gestos de pássaro gigante. Acabava tudo numa inundação de vinho-do-porto, para rebater e cortar o frio. À noite meu Pai penava com asma… Veja mais aqui e aqui.

SONHO DE UMA TERÇA-FEIRA GORDA – No livro Carnaval (Jornal do Commercio, 1919), do poeta, tradutor, critico literário e de arte, Manuel Bandeira (1886-1968), destaco o poema Sonho de uma terça-feira gorda: Eu estava contigo. Os nossos dominós eram negros, / e negras eram as nossas máscaras. / Íamos, por entre a turba, com solenidade, / Bem conscientes do nosso ar lúgubre / Tão contrastado pelo sentimento felicidade / Que nos penetrava. Um lento, suave júbilo / Que nos penetrava... Que nos penetrava como / uma espada de fogo... / Como a espada de fogo que apunhalava as santas / extáticas. / E a impressão em meu sonho era que estávamos / Assim de negro, assim por fora inteiramente negro, /— Dentro de nós, ao contrário, era tudo claro / e luminoso! / Era terça-feira gorda. A multidão inumerável / Burburinhava. Entre clangores de fanfarra / Passavam préstitos apoteóticos. / Eram alegorias ingênuas, ao gosto popular, em cores cruas. / Iam em cima, empoleiradas, mulheres de má vida, / De peitos enormes — Vênus para caixeiros. / Figuravam deusas — deusa disto, deusa daquilo, já tontas e seminuas. / A turba, ávida de promiscuidade, / Acotevelava-se com algazarra, / Aclamava-as com alarido. / E, aqui e ali, virgens atiravam-lhes flores. / Nós caminhávamos de mãos dadas, com solenidade, / O ar lúgubre, negro, negros... / mas dentro em nós era tudo claro e luminoso! / Nem a alegria estava ali, fora de nós. / A alegria estava em nós. / Era dentro de nós que estava a alegria, / — A profunda, a silenciosa alegria... Veja mais aqui e aqui.

ARLEQUIM – Em 2003 tive a oportunidade de assistir no Teatro das Artes, em São Paulo, à montagem da peça Arlequim: servidor de dois patrões, do dramaturgo veneziano Carlo Goldoni (1707-1793), com direção de Luiz Arthur Nunes, contando as peripécias de Arlequim Batocchio, que não perde a oportunidade de trabalhar em Veneza para dois patrões diferentes, em troca de salário e comida em dobro, e à custa de quiprocós para não ser descoberto. Os desencontros de dois casais e outros personagens arquitipicos completam a comédia. O destaque do espetáculo fica por conta da atriz Ana Paula Bouzas. Veja mais aqui e aqui.

QUANDO O CARNAVAL CHEGAR – O filme musical Quando o carnaval chegar (1972), dirigido por Cacá Diégues e com roteiro do diretor em parceria com Hugo Carvana e Chico Buarque, conta a história de um empresário de um grupo mambembe de cantores, que viaja pelo país num antigo ônibus dirigido por um certo motorista chamado Cuíca. Com a proximidade do Carnaval, o empresário consegue um contrato para o grupo e também Cuíca, para se apresentarem no evento "A festa do rei" (que depois se revela como Frank Sinatra, numa suposta viagem ao Rio). Mas uma série de desavenças e discussões internas, provocadas pelos romances inesperados entre eles, põe em risco o cumprimento do contrato para desespero de empresário, que avisa que o contratante é o chefão do crime organizado – um bicheiro que os ameaçará de diversas formas. A trilha sonora do filme é composta, em sua maior parte, por Chico Buarque, contando com a participação de Maria Bethânia, Nara Leão, entre outros grandes nomes da música brasileira, além Ana Maria Magalhães, José Lewgoy, Elke Maravilha, Wilson Grey, Luiz Alves, Odete Lara, Scarlet Moon, Joaquim Mota, Zeni Pereira, entre outros. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
Niños em carnaval, da artista plástica salvadorenha Tatiana Cañas.

DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à advogada, funcionária pública e Secretária Executiva do Conselho Municipal de Saúde de Maceió na empresa, Claudia Maia.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA 
Veja aqui.

TODO DIA É DIA DA MULHER
Veja as homenageadas aqui.

E veja mais Sônia Mello, Paz, Jacques Prévert, Milton Hatoum, Monica Bellucci, Eric Fischl, Jonathan Larso, Madhu Maretiore & muito mais aqui.



PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

  Imagem: Foto AcervoLAM . Ao som do show Transmutando pássaros (2020), da flautista Tayhná Oliveira .   Lua de Maceió ... - Não era ...