FOLIA
TATARITARITATÁ: AMOR IMORTAL (Imagem:
Arte-vídeo da saudosa Derinha Rocha)
– Tinha eu um mote: essa vida é uma
passagem que só o amor torna imortal. Um achado. Por outro lado, devia um frevo
pra Folia
Caeté – do acordo de quatro, só tinha três prontos. E a premência, em
cima da hora: estúdio reservado, músicos contratados, poucas horas para gravação.
E agora? Já estava prestes pro dia amanhecer e nada. O desespero do compromisso
e a inspiração fizeram-me agir intuitivamente. Daí por diante, queimando as
pestanas e, durante o trajeto do hotel pro estúdio, rabisquei e escrevi de uma
leva só. Quando cheguei lá, músicos e orquestra a postos, produção, técnicos,
enfim: - Cadê a música? Todos os olhos pra minha banda. Entrei no estúdio de
gravação, papel com a letra na estante e comecei a tocar no violão. Cantei estribilhos
e refrão. E avisei: - Pronto, essa é a voz guia. Ainda terão três partes do
estribilho que vou recitar. Todos, caras de interrogação: - Esse cara é louco!
Onde já se viu recitar num frevo?! Doidice pura. Saí dali e fui tomar umas e
outras. Enquanto isso os músicos da orquestra viravam o dia e a noite. Quando já
dia amanhecido, Vavá me liga para colocar a voz. Fui pra lá depois de uma noite
de respeitável cachaçada. Foi duma vez só. Ficou valendo. E pronta, nasceu Amor
Imortal: No mar com um navio a
navegar / Um arco, uma flecha e um alvo lá / No presente só momento / A vida a
mil por cento / Com sabor de litoral. / Sendo assim minha canoa vou lançar / Com
coragem no pavio pra remar / Do passado eu deixo disso / Pro futuro eu corro
risco / E faço o nosso carnaval / No mar que é coisa bacana / Coisa melhor
dessa terra alagoana / Se quer amor de coisa boa / Mulher bonita tem da muita
em Alagoas / Fui brincar meu carnaval, eu fui brincar / Quando a moça me chamou
na horagá / Engatei nos passos dela / Que flor, que coisa bela / Mais bonita do
que há / Eu pisquei então pra ela e ela de lá / Fez sorriso de menina
enfeitiçar / E depois picou sumiço / Por favor, não faça isso / Que eu tô doido
para amar / No mar que é coisa bacana / Coisa melhor dessa terra alagoana / Se
quer amor de coisa boa / Mulher bonita tem da muita em Alagoas / Atrás dessa
danada / Saí de Pernambuco em marcha arretada / E na maior pisada / Finquei pé
lá em Sergipe / E já no Pontal do Coruripe / Ela só céu e mar. / Fui de Roteiro
a São Miguel / Fiquei mais pinel / Na Manguaba do Pilar. / Aí abufelei em cima /
E não deixei a menor cisma / Nosso amor atrapalhar / No mar que é coisa bacana /
Coisa melhor dessa terra alagoana / Se quer amor de coisa boa / Mulher bonita
tem da muita em Alagoas / Nesse carnaval maravilhoso / Me liguei nesse colosso /
De não mais largar / Montei casa aprumada / Pra deixar mobiliada / Toda nos
trinques de ufanar. / Comprei de ferro a fogão / Numa valsa demoradeira / Até
um daquele colchão / Pra fofar namoradeira / Sem reclamo do bom e do melhor / Ela
me livrou do caritó / E eu só a bebemorar / No mar que é coisa bacana / Coisa
melhor dessa terra alagoana / Se quer amor de coisa boa / Mulher bonita tem da
muita em Alagoas / Hoje a gente freva todo dia / De tarde, de noite, na
freguesia / Tudo a maior harmonia sem par / E sei: melhor que mulher não tem / Nem
prêmio com bolada de vintém / Vale o tanto para amar. / Seja céu, seja mar,
seja terra / Seja até no topo da maior guerra / Nada vale ou tem igual / Nesse
frevo faço homenagem / Que essa vida, essa passagem / Só o amor faz imortal / Fui
brincar meu carnaval, eu fui brincar / Quando a moça me chamou na horagá / Engatei
nos passos dela / Que flor, que coisa bela / Mais bonita do que há / No mar que
é coisa bacana / Coisa melhor dessa terra alagoana / Se quer amor de coisa boa /
Mulher bonita tem da muita em Alagoas. (Luiz Alberto Machado). Veja o
videoclipe da música aqui e mais aqui.
E veja mais:
PICADINHO
Imagem:Carnaval (1986), do pintor, pesquisador,
historiador e jornalista brasileiro nascido na Argentina, Carybé (1911-1997). Veja mais aqui.
Curtindo Passo de Anjo Ao Vivo (Biscoito Fino, 2008), da SpokFrevo Orquestra. Veja mais aqui.
EPÍGRAFE – [...]. Quem
cai no passo / Não quer mais parar... / Adeus, meu bem, eu vou / no frevo me
espalhar, / Não precisa ter cuidado / Nem tampouco me esperar, / Compre
fiado / se o dinheiro não chegar, / Tome
conta dos meninos / Quarta-feira eu vou
voltar!, trecho do frevo-canção Bom
danado, do cantor e compositor Luís
Bandeira (1923-1998). Veja mais aqui.
CARNAVAL – O carnaval é o período de três dias
que precedem a quarta-feira de cinzas, dedicados às festas populares. Teve sua
origem no Egito há mais de dois mil anos antes de Jesus. Nesse período os
gregos festejavam Dioniso. Na Roma antiga, no dia 15 de fevereiro, realizam-se
danças em honra de Pã, uma festa ao deus Baco, chamadas lupercais. Primitivamente, os cristãos começavam
as festas do carnaval a 25 de dezembro, compreendendo os festejos do natal, Ano
Bom e o de Reis. Jogos e disfarces predominavam nestas festas. No começo do
cristianismo, a igreja deu nova orientação a essas festividades, punindo
severamente aos que nelas se excediam. Na Gália tais foram os abusos, que Roma
proibiu por longo tempo o carnaval. Na Idade Média reaparece em Veneza, Turim e
Nice, festejado com delirante alegria e excitação popular. Os bailes de
máscaras datam da corte de Carlos VI, numa dessas festas, esse rei foi
assassinado por motivos políticos, quando se achava fantasiado de urso. O tempo
carnavalesco começava com a festa de Santo Estêvão, em 26 de dezembro.
Afirma-se que em festas religiosas como a de Epifania, se usavam máscaras. Em
Veneza e Florença, no século XVIII, as damas elegantes fizeram delas
instrumento de sedução. No Brasil, esses festejos tornaram-se os mais animados
do mundo, tendo sua fama atraído as mais célebres personalidades
cinematográficas e outras, que aqui vêm, a fim de assistirem e compartilharem
da alegria que contagia a todos. Veja mais aqui.
CARNAVAL
II – No livro Baú de Ossos: memórias, (Sabiá,
1972), do escritor e médico brasileiro Pedro Nava (1903-1984), encontro
o texto: Água não era só de chuva e de
enchente. Mais abundante era a dos entrudos. Carnaval. Passavam uns escassos
mascarados, dominós de voz fina, diabinhos com que o Benjamim Rezende se
divertia arrancando o rabos, quebrando os chifres. O Paulo Figueiredo,
encantando minha avó com seu Pierrot recamado de lantejoulas. Os primeiros
lança-perfumes — Vlan e o Rodo. Mas o bom mesmo era o entrudo.
Havia instrumentos aperfeiçoados para jogar água, como os relógios, assim
chamados porque esses recipientes imitavam a forma de um relógio fechado, com
dois tampo metálicos flexíveis que, quando apertados, deixavam cair um delicado
esguicho de água perfumada. Havia de todos os tamanhos, desde os pequeninos,
que vinham no bolso, aos enormes, que ficavam no chão e eram acionados com o
pé. Havia os revólveres —
seringas que imitavam a forma da arma — cano metálico e o cabo de borracha que
se apertava, apontando quem se queria molhar. Os limões de todos os tamanhos e
de todas as cores que eram preparados com semanas de antecedência e em enorme
quantidade. Continham água de cheiro, água pura, água colorida, mas os que
caíam da sacada do Barão vinham cheios de água suja, de tinta, de mijo podre.
Desciam ao mesmo tempo que as cusparadas das moças. Além dos relógios, dos
revólveres, dos limões, eram mobilizadas todas as seringas de clister e
improvisados seringões com gomos de bambu. Todos os pontos estratégicos da casa
eram ocupados com jarras, baldes, latas e bacias para esperar os atacantes.
Porque havia os assaltos de porta a porta. Éramos investidos pelos Pinto de
Moura e depois do combate, já encharcados, confraternizávamos, para atacar a
casa dos Gonçalves. Logo depois já era um grupo maior que avançava sobre
as fortalezas fronteiras dos Couto e Silva e do tio Chiquinhorta, onde nos esperavam valorosamente o Antonico e o
Mário Horta. Meu pai comandava a refrega protegido nas dobras de um vasto macfarlane, cujas asas davam-lhe
gestos de pássaro gigante. Acabava tudo numa inundação de vinho-do-porto, para
rebater e cortar o frio. À noite meu Pai penava com asma… Veja mais aqui e
aqui.
SONHO
DE UMA TERÇA-FEIRA GORDA
– No livro Carnaval (Jornal do
Commercio, 1919), do poeta,
tradutor, critico literário e de arte, Manuel Bandeira (1886-1968),
destaco o poema Sonho de uma terça-feira gorda: Eu estava contigo. Os nossos dominós eram negros, / e negras eram as
nossas máscaras. / Íamos, por entre a turba, com solenidade, / Bem conscientes
do nosso ar lúgubre / Tão contrastado pelo sentimento felicidade / Que nos
penetrava. Um lento, suave júbilo / Que nos penetrava... Que nos penetrava como
/ uma espada de fogo... / Como a espada de fogo que apunhalava as santas / extáticas.
/ E a impressão em meu sonho era que estávamos / Assim de negro, assim por fora
inteiramente negro, /— Dentro de nós, ao contrário, era tudo claro / e
luminoso! / Era terça-feira gorda. A multidão inumerável / Burburinhava. Entre
clangores de fanfarra / Passavam préstitos apoteóticos. / Eram alegorias
ingênuas, ao gosto popular, em cores cruas. / Iam em cima, empoleiradas,
mulheres de má vida, / De peitos enormes — Vênus para caixeiros. / Figuravam
deusas — deusa disto, deusa daquilo, já tontas e seminuas. / A turba, ávida de
promiscuidade, / Acotevelava-se com algazarra, / Aclamava-as com alarido. / E,
aqui e ali, virgens atiravam-lhes flores. / Nós caminhávamos de mãos dadas, com
solenidade, / O ar lúgubre, negro, negros... / mas dentro em nós era tudo claro
e luminoso! / Nem a alegria estava ali, fora de nós. / A alegria estava em nós.
/ Era dentro de nós que estava a alegria, / — A profunda, a silenciosa alegria...
Veja mais aqui e aqui.
ARLEQUIM – Em 2003 tive a oportunidade de
assistir no Teatro das Artes, em São Paulo, à montagem da peça Arlequim: servidor de dois patrões, do dramaturgo veneziano Carlo Goldoni (1707-1793),
com direção de Luiz Arthur Nunes, contando as peripécias de Arlequim Batocchio,
que não perde a oportunidade de trabalhar em Veneza para dois patrões
diferentes, em troca de salário e comida em dobro, e à custa de quiprocós para
não ser descoberto. Os desencontros de dois casais e outros personagens
arquitipicos completam a comédia. O destaque do espetáculo fica por conta da
atriz Ana Paula Bouzas. Veja mais
aqui e aqui.
QUANDO
O CARNAVAL CHEGAR
– O filme musical Quando o
carnaval chegar (1972),
dirigido por Cacá Diégues e com roteiro do diretor em parceria com Hugo Carvana
e Chico Buarque, conta a história de um empresário de um grupo mambembe de
cantores, que viaja pelo país num antigo ônibus dirigido por um certo motorista
chamado Cuíca. Com a proximidade do Carnaval, o empresário consegue um contrato
para o grupo e também Cuíca, para se apresentarem no evento "A festa do rei"
(que depois se revela como Frank Sinatra, numa suposta viagem ao Rio). Mas uma
série de desavenças e discussões internas, provocadas pelos romances
inesperados entre eles, põe em risco o cumprimento do contrato para desespero
de empresário, que avisa que o contratante é o chefão do crime organizado – um
bicheiro que os ameaçará de diversas formas. A trilha sonora do filme é
composta, em sua maior parte, por Chico Buarque, contando com a participação de
Maria Bethânia, Nara Leão, entre outros grandes nomes da música brasileira,
além Ana Maria Magalhães, José Lewgoy, Elke Maravilha, Wilson Grey, Luiz Alves,
Odete Lara, Scarlet Moon, Joaquim Mota, Zeni Pereira, entre outros. Veja mais
aqui.
IMAGEM DO DIA
Niños em carnaval, da artista plástica salvadorenha Tatiana Cañas.
DEDICATÓRIA
A edição de hoje é dedicada à advogada,
funcionária pública e Secretária Executiva do Conselho Municipal de Saúde de
Maceió na empresa, Claudia Maia.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
TODO
DIA É DIA DA MULHER
E veja mais Sônia Mello, Paz, Jacques
Prévert, Milton Hatoum, Monica Bellucci, Eric Fischl, Jonathan Larso, Madhu
Maretiore & muito mais aqui.