sexta-feira, fevereiro 05, 2016

FOLIA CAETÉ, ASCENSO, BACO, CHIQUINHA, TINHORÃO, NELSON FERREIRA, PUARAS, CIRCO, PERÓ ANDRADE & MUITO MAIS!!!



FOLIA TATARITARITATÁ: FOLIA CAETÉ (Imagem: Arte-vídeo da saudosa Derinha Rocha) Tenho o costume de caminhar. Faço caminhadas todos os dias. Lá pelos idos do ano 2000, numa dessas caminhadas pela orla marítima maceioense, comecei a refletir acerca da condição de ser brasileiro. E tive pra mim que para falar do povo brasileiro, não é só entender a mistura de brancos, negros e índios, e não só saber da estrutura montada num processo de colonização secular enraizada numa monarquia que possui reflexos até hoje nas relações e nas perspectivas canhestras tanto entre as pessoas como na própria perspectiva de desenvolvimento. As formas como se desenvolveram, por exemplo, as atividades açucarocratas recheadas de colossais remanescentes feudais que se alastraram na gestão dos latifúndios e nas formas de produção com básico teor na acumulação e na exploração, não diferente dos propósitos colonizadores da preação, dá pra visualizar, portanto, de que forma a nossa heterogeneidade se manifesta aguda e contraditoriamente individualista e que, apesar do forte teor de afetividade, não se vislumbra além da nossa índole festeira de compadrio e jeitinho. Com o olhar no presente, tenho a percepção de como podemos ser uma potência econômica pro mundo, enquanto paradoxalmente uma parcela considerável da população vive numa situação abaixo da linha da miséria. Afora isso, o que tem de neguinho grifado nos trinques de uma cueca só com um buraco no furico e meia com o dedão de fora, não está no gibi – daqueles que falam bonito, todavia, se aprofundar no amiudado, são vazios de num juntar direito coisa com coisa. Ah, mas a primeira impressão é a que fica, sem medrar de que nem tudo que brilha pode ser ouro, mas ouropel de última categoria. Apois tá. Caminhando no calçadão da praia posso ter a visualização dos suntuosos prédios da orla marítima, como também, de hipossuficientes – nome bonito e eufemista - de toda espécie, ou seja mendigos que buscam a caridade alheia para ter o que sustentar, contrariando aquela velha máxima cantada por Luís Gonzaga: Mas doutô uma esmola pra um homem que é são, ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão. Ou dente apressada dando salto solto no ar para cavar o ganha-pão, ou sabidos dando toque de arrodeio em alesados, falantes engalobando incultos, gente voyeur do boato, capítulos de novela, gol domingueiro e manchetes banalizadoras do aqui agora, maria-vai-com-as-outras, trampolineiros que se viram de toda sorte, assando e comendo e ainda arrotando ufana vivacidade de se sair bem por burlar tudo e todos. Gente que não tem saúde pública e nem onde cair morto, a não ser dos favores de políticos ou de interesseiros agiotas públicos ocasionais; que não tem educação porque a escola pública está falida fabricando débeis e marginais, enquanto a privada domestica pra fé e pra alienação do trabalho; que não tem segurança e sai escapando das duas violências graves que cerceiam a vida e mantém o temor do terror; que não tem cidadania apesar dos direitos fundamentais, mas que por temor de dar tudo errado sempre, se cala serviçal desde que nasceu; que não tem nada a não ser exibir suas arrogâncias umbigocentristas e seus ideais disfarçando sua frágil e desmoronada estrutura ética e psicológica, almejando ser sempre o que não é, agradando gregos e troianos – naquela do melhor ter amigo na praça do que dinheiro no banco, vez que brincar de amigo pra valer na hipocrisia é melhor do que ser tido por pobre de Jó -, só com o fito de se dar bem, nada mais. Por isso, compus o frevo Folia Caeté: Sou brasileiro, meu bem / De janeiro a janeiro / De ralar o ano inteiro / Pra ver se a vida um dia vai mudar / Pra um melhor fevereiro / Festa de carnaval / Pular, esbaldar festeiro / Pra ver se a minha vida vai mudar / Eu vou driblando as broncas / Pra gororoba chegar / Eu dou nó cego até no ar / Pra fazer meu direito valer / Feito gente adulta de ser / Respeite o cidadão que é de lei / Seja um, qualquer um, toda vez / Tenho a dizer / Moradia é lugar que se tem / A saúde é gozar muito bem / E saber que não deve minguar / E exercer / O respeito por todo alguém / Que é de todos não é de ninguém / O direito sagrado: viver / Cidadania vingar / Cantada bem pra valer / Viver feliz é o que se quer / Mesmo quem venha a nascer / Cidadania é viver / Na folia caeté. (Luiz Alberto Machado). Veja o videoclipe do frevo aqui e mais aqui.

E veja mais:
ALVORADA

PICADINHO
Imagem: O Jovem Baco (1884), do pintor inglês Adolphe William Bouguereau (1825-1905), Veja mais aqui.

 Curtindo a coleção dos seis cds de Nelson Ferreira – Carnaval, sua história, sua glória (Revivendo, 2002), comemorativo de centenário do compositor Nelson Ferreira (19012-1976).

EPÍGRAFE – Ó abre alas que eu quero passar, Ó abre alas que eu quero passar, trecho da letra da música Abre alas (1899), da compositora, maestrina, abolicionista, feminista, audaciosa pioneira e pianeira de choro e boemia, Chiquinha Gonzaga (1847-1935). Veja mais aqui e aqui.

EVOÉ, BACO & ARIADNE (Imagem: Bachus et Ariane, by Agostino Carracci)– O deus Baco, o Liber Pater, é o nome adotado pelos romanos para o deus grego Dioníso, deus do vinho, da ebriedade, dos excessos sexuais e da natureza, que tinha por símbolos a pantera, o cântaro, a vinha e um cacho de uva. As festas em sua homenagem eram chamadas de bacanais. Conta a lenda que durante a gravidez de Sémele, ela pediu para que Júpiter se apresentasse com pai do seu filho. Com a presença do deus, ela fulminou se transformando em cinzas. Júpiter recolheu o feto das cinzas e o introduziu na barriga de sua perna para dar continuidade à gestação, nascendo, portanto, Baco. Ao tornar-se adulto ele se apaixona pela cultura da vinha e descobre a arte de extrair o suco da fruto. Por inveja de Juno, ele se torna louco a vagar pela Terra. Cibele então cura-o, ensinando-lhe a cultura da vinha. Ao chegar em Tebas, mulheres, crianças, velhos e jovens saúdam-no em clima de festa, daí seguindo para Naxos, sua terra natal, quando, no caminho, encontra Ariadne, a filha do rei de Creta, Minos e Parsífae. Ele traz folhas de louro e videira nos cabelos, um manto esvoaçante e demonstrando grande surpresa e encantamento por ver moça tão bonita que se encontra com manto azul drapeado, faixa vermelha, surpreendendo-se com o olhar do deus. Ela havia sido abandonada por Teseu, depois que ajudou a matar o Minotauro com o novelo que lhe deu para se safar do labirinto. Ao encontrar Baco, o amor aflorou imediatamente entre ambos. Ele lhe prometeu o céu para que ela aceitasse o casar-se com ele. E diante da afirmação dela, o deus pegou-lhe a coroa e lançou ao céu, se transformando numa constelação para confirmar o casamento entre ambos. Veja mais aqui.

O FREVO - No livro Pequena história da música popular: da modinha à canção de protesto (Vozes, 1975), do jornalista, crítico musical e pesquisador José Ramos Tinhorão, encontro que o frevo é uma das mais originais criações dos mestiço da baixa classe média urbana brasileira, no campo da música e da dança. Para o autor: [...] Criação de músicos brancos e mulatos, na sua maioria instrumentistas de bandas militares tocadores de marchas e dobrados, ou componentes de grupos especialistas em música de dança do fim do século XIX (polcas, tangos, quadrilhas e maxixes), o frevo fixou sua estrutura numa vertiginosa evolução da música das bandas de rua, de inícios da década de 1880 até aos primeiros anos do século XX. [...]. Por conta disso, tornou-se o frevo a principal atração do carnaval pernambucano consolidando-se em 1935, com o Clube de Vassourinhas, quando passou a ser identificado como a dança de rua e de salão, caracterizada pelo ritmo sincopado e frenético, tem como coreografia o baile de multidão de maneira curiosa, sendo ao mesmo tempo dança individual, livre e improvisada, e põe a ferver o povo com desfile dos clubes de frevo, em que se exibem porta-estandarte, passistas isolados e passistas em cordão. Veja mais aqui.

MARACATU – No livro Catimbó (1927), reunido no livro Poemas de Ascenso Ferreira (Nordestal, 1981), do poeta Ascenso Ferreira (1895-1965), encontro o poema Maracatu: Zabumbas de bombos / estouros de bombas / batoques de ingonos, / cantigas de banzo, / rangir de ganzás... / — Loanda, Loanda, aonde estás? / Loanda, Loanda, aonde estás? / As luzes crescentes / de espelhos luzentes, / colares e pentes, / queixares e dentes / de maracajás... / — Loanda, Loanda, aonde estás? / Loanda, Loanda, aonde estás? / A balsa no rio / cai no corrupio, / faz passo macio, / mas toma desvio / que nunca sonhou... / — Loanda, Loanda, aonde estou? / Loanda, Loanda, aonde estou? Veja mais aqui e aqui.

TEATRO & CARNAVAL – As relações entre o teatro e o carnaval surgem com o Pierrô, o Arlequim e a Colombina, que são personagens da Commedia dellArte, nascida na Itália do século XVI. Integrantes de uma trama cheia de sátira social, os três papéis representam serviçais envolvidos em um triângulo amoroso: Pierrô ama Colombina, que ama Arlequim, que, por sua vez, também deseja Colombina. O Pierrô originalmente se chamava Pedrolino, mas foi batizado, na França do século XIX, como Pierrot e assim ganhou o mundo. O Arlequim era servo de Pantaleão, espertalhão preguiçoso e insolente, que tentava convencer a todos da sua ingenuidade e estupidez. E Colombina uma criada de uma filha do patrão Pantaleão, mas tão bela e refinada quanto sua ama, era também o pivô de um triângulo amoroso que ficaria famoso no mundo todo - de um lado, o apaixonado Pierrô; do outro, o malandro Arlequim. Para despertar o amor desse último, a romântica serviçal cantava e dançava graciosamente nos espetáculos. Veja mais aqui e aqui.

DIAS DE MOMO – O documentário Dias de Momo (2013), mostra o carnaval de Recife e Olinda, destacando o frevo como patrimônio imaterial a humanidade. O filme conta com depoimento de Alceu Valença e de vários artistas pernambucanos, numa realização do Sindicato Nacional dos Analistas-Tributários da Receita Federal do Brasil (Sindireceita), durante a campanha Viva a originalidade: Pirata, tô fora!, com o objetivo de mostrar que ao valorizar as ideias, os produtos, a música, o artesanato e as manifestações culturais toda a sociedade ganha. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
Fotos do bloco palmarense As Puaras, comemorando no carnaval deste ano 35 anos de história.

DEDICATÓRIA
 A edição de hoje é dedicada à Peró Batista Andrade & Sua Excelência O Circo. Veja aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA 
 Veja aqui.

 Veja as homenageadas aqui.

E veja mais William Burroughs, Henfil, Charlotte Rampling, O Porteiro da Noite, Ernest Chausson, Paulo Dalgalarrondo, Liliana Cavani & muito mais aqui.


PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

  Imagem: Foto AcervoLAM . Ao som do show Transmutando pássaros (2020), da flautista Tayhná Oliveira .   Lua de Maceió ... - Não era ...