A SOLIDÃO DE NARCISA, A POETA DOS LIVRES… - Nascida em São João da Barra, aquela bela Ariana,
filha de poeta e duma professora, falava latim e francês, aprendendo retórica
com seu pai. Logo mudou-se para Resende e lá, ainda adolescente, se casou com
um artista mambembe. Não durou muito, separando-se. Ganhava, a partir de então,
a pecha de mulher separada. Refez-se e logo se ocupou em traduzir George Sand e
outros autores franceses. Traduziu não só contos, como também ensaios, até os
estudos do paleobotânico Gaston de Saporta. Veio, então, o Segundo casamento e,
pouco tempo depois, nova separação acompanhada de boatos nada alvissareiros. Aumentava
o peçonhento estigma de mulher separada, sendo fortemente difamada. Manteve-se
firme e publicou seu livro de poemas Nebulosas, com tanto sucesso e a
ponto de ser elogiado tanto por Machado de Assis, como pelo Pedro II. Lá estavam
seus versos exaltando a natureza, a patria e as lembranças da infância, além de
poemas intimistas, femininos e de cunho social na defesa da abolição da
escravatura. Por este livrou foi premiada com a Lira de Ouro e, em seguida, o
prêmio da Mocidade Acadêmica do Rio de Janeiro. Mas o seu sucesso não veio
sozinho e, com ele, tanta inveja nos ex-maridos, sendo atacada por eles com
difamações horrendas, inclusive, a acusação de que não era autora dos seus
poemas. Seguiu adiante contribuindo com o Novo Almanaque de Lembranças, fundando
o Gazetinha – folha dedicada ao belo sexo, um pequeno jornal quinzenal,
suplemento do Tymburitá. Manteve-se corajosamente em sua atividade, sensível
erudita engajada com as questões humanitárias e o universe feminino. Por fim, cansada
de tantos e sucessivos ataques, exilou-se voluntariamente em São Cristóvão,
abandonando a literatura, dedicando-se exclusivamente à prática de magistério. Assim
envelheceu pobre, com problemas de mobilidade, cega e esquecida, de nem se dar
conta do desaparecimento definitive da poeta dos livres. Veja mais abaixo e
mais aqui & aqui.
DITOS & DESDITOS - Eu
diria à mulher inteligente molha a pena no sangue do teu coração e insufla nas tuas
criações a alma enamorada que te anima. Assim deixarás como vestígio
ressonância em todos os sentidos... Pensamento da poeta, tradutora e jornalista Narciza
Amália de Campos (1852-1924), que na sua crônica A mulher no
século XIX (Democratema, 1882), expressou que: [...] A educação da
mulher! Mas tem a mulher por acaso necessidade de ser educada? Para quê?
Cautela! A mulher representa o gênio do mal sob uma forma mais ou menos
graciosa e cultivar a sua inteligência seria fornecer-lhe novas armas para o
mal. Procuremos antes torná-la inofensiva por meio da ignorância. Guerra, pois,
à inteligência feminil! Eis a palavra do século passado. O que diria a idade de
ouro da selvageria, quando o homem tinha o direito de vida e de morte sobre a
sua companheira? Quando a mulher carregava-lhe a bagagem na emigração, a
antílope morta – na caçada e roía os ossos em comum com os cães? Desprezada,
embrutecida, castigada e vendida, a mísera arrastava o longo suplício de sua
existência até que a morte viesse libertá-la e a pá de terra levantasse entre
ela e o seu opressor uma eterna barreira. Nada há que justifique essa
tenaz perseguição da mulher; e entretanto foi perpetuada de século a século! Na
Ásia, de rosto sempre velado, ignorante e submissa como um cão,
trabalhava, comia e chorava à vontade do senhor, sem que uma palavra de
simpatia jamais lhe dilatasse o coração; na Índia, levavam-na mais longe:
atiravam-na à fogueira no dia em que lhe expirava o marido! Em Babilônia era
vendida em praça pública; em Esparta, escolhida ao acaso; em Atenas,
circunscrita nos gineceus. Batida, aviltada e corrompida pelo homem, a mulher
romana, por sua vez, bate, avilta e corrompe o homem no filho. [...]. É
autor do poema Perfil de escrava:
Quando os olhos entreabro à luz que avança, \
Batendo a sombra e pérfida indolência,\ Vejo além da discreta transparência \ Do
alvo cortinando uma criança. \ Pupila de gazela - viva e mansa,\ Com sereno
temor colhendo a ardência\ Fronte imersa em palor...Rir de inocência,\ Rir que
trai ora angústia, ora esperança...\ Eis o esboço fugaz da estátua viva,\ Que -
de braços em cruz - na sombra avulta\ Silenciosa, atenta, pensativa! \ Estátua?
Não, que essa cadeia estulta\ Há de quebrar-se, mísera, cativa,\ Este afeto de
mãe, que a dona oculta!.
ALGUÉM FALOU: O poder de uma mente livre consiste em confiar em sua própria mente para
fazer as perguntas que precisam ser feitas e em sua própria capacidade de
descobrir as estratégias que você precisa para obter respostas a essas
perguntas. Com o tempo, isso requer a construção de comunidades que tornem esse
tipo de trabalho intelectual e político possível… O conhecimento sem sabedoria é adequado para os poderosos, mas a
sabedoria é essencial para a sobrevivência dos subordinados… Opressão
descreve qualquer situação injusta em que, sistematicamente e durante um longo
período de tempo, um grupo nega a outro grupo o acesso aos recursos da
sociedade… Pensamento da socióloga estadunidense Patricia Hill
Collins, autora da obra Black Sexual Politics:
African Americans, Gender, and the New Racism (Routledge, 2006), no qual expressou que: [...] A mente
do homem e a mente da mulher são as mesmas, mas esse negócio de viver faz com
que as mulheres usem suas mentes de maneiras que os homens nem precisam pensar.
[...] sob
a ideologia daltônica do novo racismo, a negritude deve ser vista como
evidência da alegada cegueira de cor que aparentemente caracteriza a
oportunidade econômica contemporânea. [...] Assim, a ideologia de
gênero não só cria ideias sobre feminilidade, mas também molda concepções de
masculinidade. […] Grupos privilegiados
rotineiramente assumem que todos os americanos merecedores vivem em moradias
decentes, frequentam escolas seguras com professores atenciosos e serão
recompensados por seu trabalho duro com
oportunidades de faculdade e bons empregos. Eles acreditam que negros e latinos
indignos que permanecem presos em cidades do interior em deterioração recebem o que merecem e não merecem programas sociais que
lhes mostrarão um futuro. Essa porta de oportunidade fechada associada à
hipersegregação cria uma situação de redução de oportunidades e negligência.
Esse é o clima exato que gera uma cultura de violência que é um componente
crescente da "cultura de rua" em bairros negros pobres e de classe
trabalhadora. [...] Suprimir o conhecimento produzido por qualquer grupo oprimido
torna mais fácil para os grupos dominantes governarem porque a aparente
ausência de dissidência sugere que os grupos subordinados colaboram
voluntariamente em sua própria vitimização. [...].
AURORA NASCENTE – O livro Aurora nascente (Die Morgenröte im Aufgang, 1612) do filósofo e místico alemão Jacob Boehme (1575-1624), é uma das
mais importantes obras do Ocidente na visualização do esplendor do conhecimento
divino, apresentando os reais fundamentos das ciências filosóficas,
astrológicas e teológicas sob a perspectiva do metacosmo. A cosmologia
apresentada pelo autor permite o alcance do estado original de inocência e
harmonia que permite ao ser humano atingir uma nova autoconsciência pela
interação entre o homem e o universo. Da obra destaco os seguintes trechos: Benevolente leitor, eu comparo toda a
Filosofia, a Astrologia, a Teologia, juntamente com a fonte de onde elas
derivam, a uma bela árvore que cresce num soberbo jardim de delícias. [...]
A qualidade boa opera e trabalha
continuamente com grande atividade para [fazer a árvore] dar bons frutos, nos
quais o Espírito Santo domina, e ela dá para isso sua seiva e vida. A qualidade
má compele e se empenha também com todo o seu poder para dar sempre maus
frutos, e o domínio lhe fornece para isso sua seiva e sua chama infernal.
[...] Estas duas coisas [ou espécies de
qualidades] estão agora na árvore da natureza; e os homens são formados desta
árvore e vivem no meio de uma ou de outra qualidade neste mundo, nesse jardim,
em grande perigo, exposto ora ao ardor do sol, ora à ‘chuva’, ora ao ‘vento’ e
à ‘neve’. Mas como o homem tem tendência para ambas as qualidades [ou seja,
tende tanto à natureza má quanto boa], pode ligar-se à que lhe apraz, porque
vive entre uma e outra neste mundo; e as duas qualidades, boa e má, estão nele.
Naquela em que se move, dela será imediatamente revestido: ou da força santa,
ou da força infernal. Veja mais aqui, aqui & aqui.
A TEORIA QUÂNTICA - O físico alemão e ganhador do Prêmio
Nobel de Física de 1918, Max Planck
(1959-1947) foi quem desenvolveu a teoria da física quântica, uma revolução que
revelou que o comportamento de pequenos sistemas obedecem regras que não podem
ser explicadas pelas leis das teorias clássicas, vez que o mundo atômico e
subatômico não obedeceriam as regras do mundo do dia-a-dia, sendo necessária
novas interpretações as quais a intuição não se aplicava mais. Com isso,
tornou-se um dos mais importantes físicos do século XX, tratando sobre a
radiação de corpo negro, radiações eletromagnéticas e a hipótese da discretização
das energias de partícula vibrando, chegando a afirmar que: "O
mundo externo é algo independente do homem, algo absoluto, e a procura pelas
leis que se aplicam a este absoluto mostram-se como a mais sublime busca
científica na vida!". Veja mais aqui, aqui & aqui.
A MEGERA DOMADA – A comédia em cinco atos A megera domada (1594), do poeta,
dramaturgo e ator inglês William
Shakespeare (1564-1616), conta a história de Catarina, Petruchio e
Hortênsio. Da peça destaco a cena II do Ato V, na tradução de Millôr Fernandes:
(Aposento na casa de Lucêncio. Entram
Batista, Vincêncio, Grêmio, o Professor, Lucêncio, Bianca, Petrúquio, Catarina,
Hortênsio e sua viúva, Trânio, Biondello e Grúmio. Os criados e Trânio trazem
o banquete.) LUCÊNCIO: Por fim, depois de tanto tempo, se afinam as nossas
notas dissonantes. E o momento, agora, acabada a batalha furiosa, de sorrir a
perigos e ameaças passadas. Minha bela Bianca, dá a meu pai as boas-vindas,
que, com a mesma ternura, me dirijo ao teu. Irmão Petrúquio, Catarina irmã, e
tu, Hortênsio, com a viúva amada, é meu prazer que se divirtam ao máximo: sejam
bem-vindos a esta casa. Um bom banquete aquecerá o nosso estômago, arrematando
a nossa alegre festa. Sentem-se, por favor. Sentados podemos conversar mais à
vontade ¾
sem deixar de comer. (Sentam-se.) PETRÚQUIO: Não
se faz outra coisa ¾
é sentar e sentar e comer e comer. BATISTA: São os prazeres de viver em Pádua,
meu Petrúquio. PETRÚQUIO: Filho de Pádua só nos traz prazeres. HORTÊNSIO: Por
nós ambos, Petrúquio, gostaria que fosse verdadeiro o que tu dizes. PETRÚQUIO:
Ai, por minha vida, Hortênsio tem receio da viúva. VIÚVA: Então jamais confie
em mim, se meto medo. PETRÚQUIO:
Criatura tão sensível e não percebeu o meu sentido. Eu quis dizer que Hortênsio
receia por você. VIÚVA: Quem está gira diz que o mundo gira. PETRÚQUIO: É uma
resposta louca. CATARINA: Senhora,
que pretende dizer com essa frase? VIÚVA: É a concepção que tenho dele.
PETRÚQUIO: Concebe de mim? Oh, que dirá Hortênsio? HORTÊNSIO: Minha viúva quis
dizer que concebeu um conceito a seu respeito. PETRÚQUIO: Muito bem remendado.
Boa viúva, ele merece um beijo. CATARINA: Quem é gira diz que o mundo gira. Lhe
perguntei o que pretende dizer com essa frase. VIÚVA: Que seu marido, torturado
por viver com uma megera, pensa que meu marido sofre igual desdita. Já sabe
agora a minha intenção. CATARINA: Intenção de ferir. VIÚVA: Referir... a você.
CATARINA: Sou megera, em verdade; mas em comparação, quem sabe? PETRÚQUIO: A
ela, Cata! HORTÊNSIO: Nela, viúva! PETRÚQUIO: Cem marcos, como minha mulher
fica por cima. HORTÊNSIO: Eh, é minha essa função! PETRÚQUIO: Ao funcionário.
(Bebe.) BATISTA: Então, Grêmio, que acha dessa gente de cabeça ágil? GRÊMIO:
Acho, senhor, que estão trocando boas cabeçadas. BIANCA: Boas cabeçadas. Certas
cabeças lutariam melhor se tivessem os chifres que merecem. VINCÊNCIO: Oh, a
bela noiva; a discussão acordou-a! BIANCA: Ligeiramente. Torno a dormir.
PETRÚQUIO: Não torne não. Agora que entrou, prepare-se para flechadas mais
certeiras. BIANCA: Sou seu passarinho? Pertenço ao seu viveiro? Pois vou mudar
de bosque. E quem tiver bom arco me persiga. Sejam bem-vindos, todos. (Saem Bianca,
Catarina e a viúva.) PETRÚQUIO: Oh, perdi a mira! Aqui, senhor Trânio, ao
pássaro que alvejou e não feriu. À saúde de todos que atiram e falham. TRÂNIO:
Oh, senhor, Lucêncio usou-me como um perdigueiro que corre muito, mas, quando
apanha a caça, é para o dono. PETRÚQUIO: Boa comparação; e bem ligeira; mas um
tanto canina. TRÂNIO: Quanto ao senhor, fez bem em perseguir a própria caça; dizem,
porém, que a corça que persegue mantém sua distância. BATISTA: Eh, oh,
Petrúquio! Trânio acertou uma! LUCÊNCIO: Agradeço a estocada, amigo Trânio.
HORTÊNSIO: Confessa, confessa que ele te acertou! PETRÚQUIO: Confesso, me
arranhou um pouco. Mas, como o golpe pegou-me de raspão, posto dez por um que
atingiu em cheio vocês dois. BATISTA: Agora, bom Petrúquio, falo a sério; acho
que a mais megera é mesmo a que te coube. PETRÚQUIO: Não discuto; vamos
verificar. Cada um de nós manda chamar a esposa. Aquele cuja esposa for mais
obediente, vindo assim que chamada, ganhará o prêmio que nós combinarmos.
HORTÊNSIO: De acordo! Qual é o prêmio? LUCÊNCIO: Vinte coroas. PETRÚQUIO: Vinte
coroas! Isso eu aposto em meu falcão ou em meu cão de caça. Em minha esposa
aposto vinte vezes. LUCÊNCIO: Cem coroas, então. HORTÊNSIO: De acordo.
PETRÚQUIO: O jogo está fechado. HORTÊNSIO: Quem começa? LUCÊNCIO: Eu começo.
Vai, Biondello, e diz a minha esposa que venha até aqui. BIONDELLO: Já vou.
(Sai.) BATISTA: Meu filho, fico com metade da aposta. Bianca vem. LUCÊNCIO:
Nada de sócio. Vou ganhar sozinho. (Entra Biondello.) Então. então? Que aconteceu?
BIONDELLO: Patrão, sua senhora manda dizer que está ocupada e que não pode vir.
PETRÚQUIO: Olá, está ocupada e não pode vir! Isso é resposta? GRÊMIO: Sim, e
por sinal, gentil. Peça a Deus, senhor, que não lhe mande uma pior. PETRÚQUIO:
Melhor, melhor! HORTÊNSIO: Biondello, seu tonto, corre e roga a minha esposa
que venha ter comigo, por favor. (Sai Biondello.) PETRÚQUIO: Ah, eh! Rogando,
bem, pode ser que ela venha. HORTÊNSIO: Acho, senhor, que a sua, nem rogando
vem. (Entra Biondello.) Então, onde está minha esposa? BIONDELLO: Disse para o
senhor deixar de brincadeira. Disse que não vem; se o senhor quiser pode ir lá.
PETRÚQUIO: Cada vez pior: se o senhor quiser pode ir lá! Absurdo, vergonhoso,
intolerável! Grúmio, vá procurar sua patroa e diga-lhe que lhe ordeno vir aqui!
(Sai Grúmio.) HORTÊNSIO: Já sei a resposta. PETRÚQUIO: Qual é? HORTÊNSIO: Não
vem. PETRÚQUIO: Tanto pior minha sorte. Ai, o fim. BATISTA: Por Nossa Senhora,
lá vem Catarina! (Entra Catarina.) CATARINA: Que deseja, senhor, pra que me chama?
PETRÚQUIO: Onde está tua irmã e a mulher de Hortênsio? CATARINA: Conversam,
senhor, junto à lareira do salão. PETRÚQIJIO: Vai buscá-las; se recusarem vir,
podes bater-lhes com vontade, desde que venham ter com os maridos. Vai, anda;
que venham sem demora! (Sai Catarina.) LUCÊNCIO: Se existem milagres, acabo de
ver um. HORTÊNSIO: Milagre é; não sei é o que anuncia. PETRÚQUIO: Ora, anuncia
a paz, o amor, a vida calma, respeito a quem se deve, justa supremacia. Para
ser breve, tudo que traz prazer, felicidade. BATISTA: Que tudo de bom te
aconteça, meu Petrúquio! A aposta é tua e junto mais vinte mil libras ao que os
dois perderam; é um outro dote para outra filha. Está tão mudada que não é mais
a mesma. PETRÚQUIO: Não, quero ganhar melhor a minha aposta mostrando outros
sinais de sua obediência. Obediência; essa virtude que aprendeu agora. Vejam,
lá vem ela, trazendo pela mão as duas mulheres geniosas, prisioneiras de sua
atual convicção. (Entra Catarina, com Bianca e a viúva.) Catarina, não te
assenta esse chapéu que trazes. Bota fora e pisa essa besteira. (Ela obedece.)
VIÚVA: Meu Deus, não me dê jamais o infortúnio de padecer semelhante
humilhação! BIANCA: Que vergonha! Isso é uma obediência estúpida. LUCÊNCIO:
Gostaria que tua obediência fosse igualmente estúpida, formosa Bianca. Pois tua
obediência sábia já me custou cem coroas. BIANCA: Pois mais estúpido é você que
aposta em minha obediência. PETRÚQUIO: Catarina, encarrego-te de dizer a essas
senhoras cabeçudas as obrigações que têm para com seus maridos e senhores.
VIÚVA: Vamos, vamos, está zombando. Não queremos sermão. PETRÚQUIO: Estou
mandando, vamos; e começa com ela. VIÚVA: Não o fará. PETRÚQUIO: Fará: e começa
com ela. CATARINA: Tem vergonha! Desfaz essa expressão ameaçadora e não lança
olhares desdenhosos para ferir teu senhor, teu rei, teu soberano. Isso corrói
tua beleza, como a geada queima o verde prado, destrói tua reputação como o
redemoinho os botões em flor; e não é nem sensato nem gracioso. A mulher
irritada é uma fonte turva, enlameada, desagradável de aspecto, ausente de
beleza. E enquanto está assim não há ninguém, por mais seco e sedento, que
toque os lábios nela, que lhe beba uma gota. O marido é teu senhor, tua vida,
teu protetor, teu chefe, e soberano. É quem cuida de ti, e, para manter-te,
submete seu corpo a trabalho penoso seja em terra ou no mar. Sofrendo a
tempestade à noite, de dia o frio, enquanto dormes no teu leito morno, salva e
segura, segura e salva. E não exige de ti outro tributo senão amor, beleza,
sincera obediência. Pagamento reduzido demais para tão grande esforço. O mesmo
dever que prende o servo ao soberano prende, ao marido, a mulher. E quando ela
é teimosa, impertinente, azeda, desabrida, não obedecendo às suas ordens
justas, que é então senão rebelde, infame, uma traidora que não merece as
graças de seu amo e amante? Tenho vergonha de ver mulheres tão ingênuas que
pensam em fazer guerra quando deviam ajoelhar e pedir paz. Ou procurando poder,
supremacia e força quando deviam amar, servir, obedecer. Por que razão o nosso
corpo é liso, macio, delicado, não preparado para a fadiga e a confusão do
mundo, senão para que o nosso coração e o nosso espírito tenham delicadeza
igual ao exterior? Vamos, vamos, vermes teimosos e impotentes. Também já tive
um gênio tão difícil, um coração pior. E mais razão, talvez, pra revidar
palavra por palavra, ofensa por ofensa. Vejo agora, porém, que nossas lanças
são de palha. Nossa força é fraqueza, nossa fraqueza, sem remédio. E quanto
mais queremos ser, menos nós somos. Assim, compreendido o inútil desse
orgulho, devemos colocar as mãos, humildemente, sob os pés do senhor. Para esse
dever, quando meu esposo quiser, a minha mão está pronta. PETRÚQUIO: Sim, eis
uma mulher! Vem, dá-me um beijo. Cata. LUCÊNCIO: Vai, segue teu caminho, amigo;
chegaste onde querias. VINCÊNCIO: É agradável ouvir a juventude em tão belo
momento. LUCÊNCIO: Mas mulheres teimosas, meu Deus, que abatimento! HORTÊNSIO:
Vai, segue teu caminho; domaste uma megera brava. LUCÊNCIO: Permita-me dizer; é
um assombro que esteja assim domada. PETRÚQUIO: Estamos os três casados, mas
vocês dois, vencidos! Como vencedor, porém, eu peço a Deus que lhes favoreça
uma boa noite! E agora, Catarina, para a cama! (Saem.).
Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
BIOPOESIA: O TOQUE DA FAUSTOSA
PORNÓGRAFA – A escritora,
advogada, professora e pesquisadora humanista e revolucionária Silvia Mota, é mestre
em Direito Civil pela UERJ, cônsul dos Poetas Del Mundo para Cabo Frio (Rio de
Janeiro), associada à Rede de Escritoras Brasileiras (REBRA), membro Efetivo da
Academia Virtual Brasileira de Letras e membro da Sociedade Brasileira de
Bioética e da Associação Brasil Soka Gakkai Internacional. Ela milita na área de música, poesia e
pintura, atuando na área do biodireito e da arte ecolologia, bem como reúne no
sítio Silvia Mota diversos siteblogs que compreendem suas múltiplas atividades. Além disso,
ela é a criadora e coordenadora do Portal Sociocultural Interdisciplinar Poetas e Escritores do Amor e da Paz: saber com dignidade, ética e respeito, já participou
das mais diversas antologias, possuindo um currículo invejável que a
caracteriza como uma intelectual atuante. Entre os seus poemas, primeiramente
destaco o seu Toque: Não falarei de rosas
ou crisântemos nesse mundo devastado pela chuva, onde tropeço em esqueletos
alinhados no chão. Chamo corrupção a esse mal insano cortado em róseas auréolas
mastigadas a sangue frio bem à frente dos meus olhos, na mesma rua onde moro.
Seja qual for meu protesto contra as histórias sem futuro, assisto bocas sem
dentes que sorriem ao falso riso. Chamo incultura aos sonhos obesos plantados
em terra de fins lucrativos, mas cortados prematuramente ao surgir do novo
amanhecer por cimitarras desprovidas de ética. Lembram-se – ao menos – daqueles
que tocaram? Também merece destaque o seu Faustosa pornógrafa: Ensaiei obscenidades e ocultos fetiches.
Fiz-te meretriz enferma e pintei teus lábios de sangue na ânsia de abafar de
mim tua ridícula anemia. Ensaiei obsessões e cenas de canibalismo. Como se
fosse numa zona do cais lavei-te os perfumes naturais e ao afã de injuriar-te
salpiquei cheiros estranhos no teu chão. Depois, num ato insano, rameira
perfumada, permiti que homens estúpidos a deflorassem sob meus olhos
concupiscentes... Foi assim, Orbe Terra, foi assim, que ao roubar tua juventude
explorei teus encantos e joguei-te indigente aos meus pés... quase morta...
Veja mais aqui.
BOWLING FOR COLUMBINE – O premiadíssimo filme documentário Bowling for Columbine (Tiros em Columbine, 2002), do cineasta,
documentarista e escritor estadunidense Michael
Moore toma como base o massacre do instituto Columbine, investigando a
violência, o extermínio dos indígenas, a militarização e segurança nacional, o
política armamentista, o racismo, a cultura de que a maior defesa é o ataque, a
publicidade das armas de fogo e os crimes violentos, para defender a sua tese
que a taxa de homicídios no seu país se deve à sociedade violenta e não ao
comércio das armas de fogo. O filme ganhou o Oscar , o Festival de Cannes e o
Prêmio Cesar de cinematografia francesa, todos em 2003. Veja mais aqui, aqui e aqui.

semi-reclining-female-nude.jpg)






