Imagem: Acervo ArtLAM.
A cor muda com cada modulação, mas a cor
dominante é a da tonalidade em que a peça é escrita. Não acontece sempre que
tocas ou ouves música e não ajuda necessariamente a memorizar a música, mas é,
no entanto, uma coisa bonita de experimentar...
Pensamento ao som do álbum Water (Deutsche Grammophon, 2016), da pianista francesa, Hélène Grimaud (Hélène
Rose Paule Grimaud), com peças de piano de autores como Berio, Ravel, Liszt,
Debussy, Fauré, Albéniz, Janácek, Toru Takemitsu, Nitin Sawhney, entre outros.
Ela é fundadora do Wolf Conservation Center, de New York, e autora dos livros Variations sauvages (Robert Laffont, 2003), Leçons
particulières (Robert Laffont, 2005) e Retour à Salem (Albin Michel,
2013). Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.
Pavoa real, o
arco-íris de plumas...
- Céu azul de muitas nuvens na brisa da tarde e a lua
quarto crescente na boca da mata: era a ilha de João Ubaldo. O arco-íris de Rubem Braga em confronto na relva: a Pavoa diante de uma cobra-de-veado sibilando
freneticamente. A réptil poiquilotérmica armou-se como uma naja, tal atroz
inimiga atiçando-a sarcástica, como na fábula de La Fontaine das queixas
à Juno Hera. A insolência da rastejante fê-la inchar o papo
colorido proeminente do Anambé-preto, com o canto grave do grande Pavó, no
pescoço vermelho do Jacu-touro, no bico azul-claro do Jacupiranga. E assim
invocava os poderes mágicos do sagrado Pavão Celestial para enfrentar todos os
monstros míticos, todos os dilemas éticos, rios caudalosos, florestas densas e montanhas
magistrais. A ave vaidosa deixou-se envolver pela sinistra, enroscando-se pelas
escamas grossas de suas patas, como se olvidasse Paracelso: a ousada venenosa
era seu alimento predileto, ofiófaga – não sabia dela o anjo Melek Taus, que
criou todas as coisas e disso se arrependeu a chorar por 7 mil anos, para que suas
lágrimas enchessem 7 jarras na extinção do inferno; muito menos de Tawûsê Melek,
dos presentes de Salomão e de Oxum. A serpente agarrou-se ao tronco dela, quem
perdoaria a picada e o pecado mortal do golpe píton. A emplumada bípede então piou
de novo e os italianos disseram: era a voz do demônio na plumagem de anjo. E inflou
incorporando em si o que era azul indiano, o verde asiático, o congolês, o
Spalding, o leucístico, o papa-moscas do Pará, o arlequim, o dos ombros negros,
brancos e albinos, até o de Taubaté. Assim abriu a cauda grave, recolorida e,
penas arqueadas, suas garras longas e afiadas, velozes e ágeis, por trás da
cabeça da víbora, a sacudí-la vigorosamente e cada bicada a dilacerá-la, até
matá-la e digeri-la. Assim, um homem mata outro e quantos predadores devoram
suas presas. A cena se repetia, a mesma de zis outras, revistas, repassadas. E
quem testemunha sonhou como num filme em cartaz, deleite da plateia, divertido
passatempo. Mas quem incrédulo presenciou o triunfo de vê-la ao Natyadharmi,
guardando os seus 100 olhos de Argos Panoptes num poema de Ovídio. Viu-me
ali e abriu o coração com o mantra da compaixão do Bodisatva: Om mani padme
hūṃ, Avalokiteshvara. Fez
o ritual do acasalamento na dança de Krishna, enquanto transmudava na guerreira
Kaumari, girando para mostrar-se deusa Santoshi, e sucessivamente era Yashumin,
era Lakshmi, enfim Iemanjá com a sua paz de jardim do éden. Aproximou-se
para me levar sonâmbulo à Cachoeira dos Andrades, no Vale do Mucuri. Chegando lá
me levou à formosa Pedra do Lambuza e já era mais de meia noite, lua cheia de
sexta pela Lagoa do Come Calado, pulsante refulgia e o ser alado levitava ao
meu lado. Acomodou-me no seu privado valhacouto, com a profusão de seus
insondáveis abismos na dignidade do silêncio e em mim fez um mundo povoado de
lembranças secretas. Até mais ver.
Cecília Meireles: Adestrei-me com o vento e minha festa é a tempestade... Há pessoas que nos falam e nem as escutamos, há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam, mas há pessoas que simplesmente aparecem em nossas vidas e nos marcam para sempre... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
Anne Sexton: Cuidado com o intelecto,
porque ele sabe tanto que não sabe nada e te deixa de cabeça para baixo,
balbuciando conhecimento enquanto seu coração cai da sua boca... Aproxime o
ouvido da sua alma e ouça com atenção... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui
& aqui.
Erika Mann: As ações podem ser
julgadas de acordo com o tempo e o lugar, e seus valores podem mudar; mas o
estilo e a linguagem (além do conteúdo) são cristalizados no momento em que são
criados... Veja mais aqui & aqui.
DELA
Já me falaram
dela. \ Como ela sempre, sempre. \ Como ela nunca, nunca. \ Eu observei e ouvi,
\ mas ainda assim me apaixonei por ela, \ como ela sempre, sempre. \ Como ela
nunca, nunca. \ Na pequena noite corajosa, seus lábios, momentos de borboleta. \
Tentei pegá-la e ela riu uma gargalhada tão alta \ que me partiu em duas, \ mas
então me contaram sobre ela, \ como ela sempre, sempre. \ Como ela nunca,
nunca. \ Nós duas ouvimos o vento. \ Nós duas galopamos a passos largos. \ Nós
duas, para cima e para longe, \ para longe, para longe. \ E agora ela se foi,
como disse que iria. \ Mas então me falaram sobre ela \ – como ela sempre,
sempre iria.
Poema extraído da
obra Life Mask (Bloodaxe, 2005), da escritora e dramaturga britânica Jackie
Kay (Jacqueline Margaret Kay), autora de obras
como Other Lovers (1993), Trumpet (1998) e Red Dust Road
(2011). Veja mais aqui.
O PRIORADO DA ÁRVORE LARANJA - [...] Podemos ser pequenos e
jovens, mas abalaremos o mundo por nossas crenças. [...] Não consigo dormir porque tenho medo não
só dos monstros que estão à minha porta, mas também dos monstros que a minha
própria mente consegue criar. Aqueles que vivem dentro de mim. [...] Quando
a história não consegue esclarecer a verdade, o mito cria a sua própria versão.
[...] Algumas verdades são mais seguras quando enterradas. Alguns castelos
são melhores quando permanecem no céu. Há esperança em histórias que ainda não
foram contadas. [...] Mas quando o coração fica muito cheio, ele
transborda. E o meu, inevitavelmente, transborda para uma página. [...]. Trechos extraídos da
obra The Priory of the Orange Tree (Bloomsbury
Publishing , 2020), da escritora inglesa Samantha Shannon, autora de obras
como The Song Rising (2017), The Mime Order (2015) e The Bone
Season (2013).
EM
TEMPOS CATASTRÓFICOS: RESISTINDO À BARBÁRIE QUE SE APROXIMA - [...] Ao
escrever este livro, situo-me entre aqueles que querem ser herdeiros de uma
história de lutas travadas contra o estado de guerra perpétuo que o capitalismo
impõe. É a questão de como herdar essa história hoje que me faz escrever. […] Esse ato primordial que torna o homem genuinamente ele mesmo
precede todas as ações individuais; mas imediatamente após ser posto em
liberdade exuberante, esse ato afunda na noite da inconsciência. Não se trata
de um ato que possa acontecer uma vez e depois cessar; é um ato permanente, um
ato sem fim e, consequentemente, nunca mais poderá ser trazido à consciência.
Para que o homem conheça esse ato, a própria consciência teria que retornar ao
nada, à liberdade ilimitada, e deixaria de ser consciência. Esse ato ocorre uma
vez e imediatamente afunda novamente nas profundezas insondáveis; e a natureza
adquire permanência precisamente por meio dele. Da mesma forma, essa vontade,
posta uma vez no início e então conduzida para o exterior, deve imediatamente
afundar na inconsciência. Só assim é possível um começo, um começo que não
deixa de ser um começo, um começo verdadeiramente eterno. Pois também aqui é
verdade que o começo não pode se conhecer. Esse ato, uma vez feito, é feito por
toda a eternidade. A decisão de que de alguma forma deve realmente começar não
deve ser trazida de volta à consciência; não deve ser revogada, pois isso
equivaleria a ser retomada. Se, ao tomar uma decisão, alguém retém o direito de
reexaminar sua escolha, nunca dará um passo adiante. […] É a barbárie
que hoje é tristemente previsível. Mas o teste aqui é, mais uma vez, abandonar
sem nostalgia nem desencanto o estilo épico e sua grande narrativa de
emancipação, na qual o Homem aprende a pensar por si mesmo, sem precisar mais
de próteses artificiais. Essa grande narrativa nos envenenou, não porque nos
tivesse atraído com a perspectiva ilusória da emancipação humana, mas porque
nos deu uma versão degradada dessa emancipação, marcada pelo desprezo por
aqueles povos e civilizações que nossas categorias julgaram muito antes de nos
comprometermos a trazer-lhes, com seu consentimento ou pela força, nossa
iluminação. Não nos reconhecemos em seus rituais, suas crenças, seus fetiches,
essas próteses artificiais das quais fomos capazes de nos libertar? […]. Trechos extraídos da obra In
Catastrophic Times. Resisting the Coming Barbarism ( Open
Humanities Press
2015), da filósofa e historiadora belga Isabelle Stengers. Veja mais aqui, aqui & aqui.
A
ARTE NAIF DE VAL MARGARIDA
A
arte da artista e professora Val Margarida, que participou do Festival
Internacional de Guarabira (FIAN); expôs na Feira de Arte de Goiás (Fargo) e
foi selecionada para participar do Encontro Nacional de Arte Naif do
Centro-Oeste-E BANCO/2019. Veja mais aqui.
ITINERARTE –
COLETIVO ARTEVISTA MULTIDESBRAVADOR:
Veja mais sobre
MJ Produções, Gabinete de Arte & Amigos da Biblioteca aqui.





